Capítulo I
Os dias não passam rapidamente aqui dentro. Não se vê luz alguma, exceto pela iluminação dos patronos de bruxos que em determinadas ocasiões passam sussurrando por aqui.
Eu não saberia dizer o que traz uma pessoa a este lugar, mas acredite quando eu digo que essas paredes guardam muito mais do que dor e sofrimento. Só se tem o direito de saber o porquê de estar aqui e quando irá sair – se um dia sair – com exceção dessas informações não se sabe em que dias se vive, nem quando é claro ou escuro. A sujeira se torna tão natural qual é respirar, você se esquece de todas as vaidades e aqui o berro é um instinto que demonstra a perda de sanidade.
Não sinto pena dos outros prisioneiros. Isso é algo natural em mim. Na prisão todos são inocentes e o horror é capaz de transformar o mais orgulho dos grifos em um unicórnio muito bem comportado. Sei das minhas culpas e não tenho costume de praticar a auto-indulgência. O ponto é que sei o que devo fazer e farei.
Não poderia deixar de expressar nessas páginas que o meu desespero está crescente esses dias. Dementadores andam cercando a minha cela e isso me causa náuseas, mas uma voz quase morta dentro de mim diz que algo bom vai acontecer – ou quase isso. Essa minha sonhadora teoria se confirma pelo fato dessas criaturas não se contentarem com tristeza, apesar de sua natureza sombria. Elas gostam de nos sugar o bem.
Eu sou um especialista nessas criaturas das sombras, tanto na teoria como na prática, como se pode observar. Foram-se anos de estudos dedicados as Artes das Trevas, mais alguns em serviço daquele departamento esquecido do Ministério e agora mais uns poucos dentro desse lugar sem luz. O que nos prepara a morte?
Sempre fui solitário e conversa não me faz falta. Mas em algo esse lugar contribui. Minha mente está mais próxima do horror agora, atrevo-me a dizer que estou acostumado ao escuro. Sou um bruxo, como todos que estão aqui, e em horas de agonia a magia tenta se fazer presente, mas Azkaban é protegida magicamente e além de tudo, nossos corpos ficam fracos devido a má alimentação. Quantos pensamentos já me ocorreram, quantas idéias de explodir essas grades. Mas fraco desse jeito nem mesmo com a minha varinha.
Não é incomum encontrar pessoas jogadas ao chão, aparentemente sem vida. Mas é mais ou menos isso mesmo, sem vida. Os que gritam, geralmente, são recém chegados que ainda preservam um pouco de energia. Com o passar dos dias eu sinto um nó se desfazendo dentro de mim. Eu diria que o sentimento no qual me encontro é bom, mas eu só diria isso se eu não estivesse onde estou. São muitas controvérsias, mas lembre-se que não tenho como corrigir o que escrevo e nem mesmo posso desperdiçar os papéis – pois estes são minhas únicas companhias.
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