Capítulo 1
A escuridão silenciosa e fria da Ala Hospitalar da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts nas madrugadas não costumava ser quebrada: Madame Pomfrey tinha um estilo de vida parecido com Olho-Tonto Moody, de vigilância constante. Ela dormia em sua sala ao lado e poderia escutar qualquer movimentação preocupante a ponto de ela ter que acordar.
A enfermeira, entretanto, não possuia olhos tão experientes quanto os do diretor da escola, o que costumava deixar as coisas mais fáceis a um trio famoso que tinha uma certa capa, quase tão famosa quanto eles...
- Não! Não, Ron! Não, não! Ron! - uma voz feminina aflita se ouvia, como um sussurro.
Um garoto acordou num susto, sua mão direita sendo apertada por outra que estava presa a um braço que parecia flutuar. A voz continuou a reclamar e, ao reconhecê-la, ele entendeu: ela estava ali, coberta sob a capa de invisibilidade.
A julgar pelo tom de voz dela, estava tendo um pesadelo: ele precisava acordá-la.
- Por favor, não... Ron...
Ele tirou a capa de cima dela e falou baixinho:
- Hermione... Hermione, acorda!
A garota acordou aterrorizada e, assim que viu o rosto de Ron a encarando, desabou em lágrimas, com as mãos no rosto.
- Mione, não fica assim... Foi só um pesadelo. Vem cá. - ele disse e a puxou, para um abraço, fazendo a jovem sentar ao seu lado, na cama.
O rapaz acariciava a cabeça da garota com a maior delicadeza que poderia, ao se considerar os braços e mãos grandes que possuía, e aproveitava para aspirar o perfume tão familiar dos cabelos cheios, o perfume com o qual ele mesmo a presenteara no Natal do ano anterior.
- Ron, eu... - ela tentou conter o choro - Eu fiquei com tanto medo. Medo de perder você pra sempre.
- Você não vai me perder. Estou aqui. Está tudo meio confuso na minha cabeça, não sei como exatamente eu vim parar aqui. Não que isso seja novidade... - acrescentou, fazendo a garota rir um pouco.
- Você comeu um bombom cheio de poção do amor, o Harry te levou até o Prof. Slughorn, que te deu o antídoto, vocês resolveram comemorar com um pouco de hidromel, só que ele estava envenenado. - Hermione relatou rapidamente e de uma só vez - Bom, foi isso o que me contaram.
- Eles também beberam?
- Não, parece que você bebeu antes de terminar o brinde, então Harry enfiou benzoar pela sua garganta e salvou a sua vida. Espera dez segundos, já te explico melhor.
Ela soltou o abraço e foi enfeitiçar a porta da sala da Madame Pomfrey, para que a enfermeira não despertasse, - eles estavam com muita sorte de ela ainda não ter acordado - acendeu o lampião ao lado da cama de Ron e sentou-se novamente ao lado do rapaz, voltando a relatar o ocorrido com todos os detalhes que conhecia.
- Bom, pelo menos nisso você tem admitir que o Príncipe, seja lá quem for, ajudou.
A garota revirou os olhos:
- Era só prestar atenção nas aulas, Ron! O professor Snape nos ensinou isso no primeiro dia!
- E você acha que alguma pessoa normal lembraria disso?
- Você está me chamando de anormal, Ronald Weasley?
- Não, Hermione, você sempre me interpreta mal porque eu não tenho tanto cuidado com as palavras quanto você. - ele não parecia zangado, só constatou um fato - Só o que eu quis dizer é que a maioria das pessoas não é tão ligada nas aulas assim... E isso não é defeito seu: sem você, acho que nem eu, nem o Harry estaríamos vivos hoje e tampouco seríamos sextanistas.
Ela sentiu seu rosto mais quente, tinha certeza que corara:
- Desculpe, Ron, não quero começar outra briga. Só de pensar que você poderia...
- Não pense nisso, já passou.
- Não há como não pensar. Eu não teria a oportunidade de fazer as pazes, de dizer o quanto eu foi boba...
- Boba? Eu posso te dar vários adjetivos: inteligente, perfeccionista, atenciosa, leal, teimosa, corajosa, bonita... Mas, boba? De jeito nenhum. Eu sou o idiota da vez, como sempre. Fui eu quem estragou tudo, agindo por um impulso imbecil de me agarrar com a primeira que se oferecesse e perdi uma ótima noite de Natal contigo. Desculpa ter feito você passar por isso.
A franqueza dele a deixou pasma por alguns instantes e a única reação que teve foi voltar a abraçá-lo, dessa vez por seu próprio impulso. O garoto se sentiu aliviado pela luz do lampião ser tênue, não deixando evidentes suas orelhas vermelhas.
- Ron, por que nós não convivemos como pessoas civilizadas?
- Você me vê jantando todos esses anos e ainda tem esperança de que eu me torne civilizado? - Hermione afundou seu rosto no peito do garoto para rir sem acordar os outros estudantes doentes. - Senti muito a sua falta, Mione. Não me deixe mais agir como um canalha: se isso, futuramente, acontecer, te dou a permissão de gritar e até bater em mim. E eu espero que você entenda que eu me sinto a pior pessoa do mundo toda vez que faço isso contigo. Não que isso seja desculpa...
Não sem algum esforço, ela soltou o abraço e o encarou:
- Bem, não posso dizer que te entendo por completo, mas, de alguma forma, eu entendo. A convivência com você é uma terapia pra mim. - ele ficou confuso e a garota explicou - Sempre tentei esconder meus sentimentos das pessoas, com medo de não ser compreendida ou de ser magoada... Mas eu não consigo fazer isso com você. Qualquer coisa que eu sinto por sua causa costuma ficar bem nítida. Às vezes, nítida demais. Posso ter contar um segredo? - o rapaz assentiu e ela se aproximou de seu ouvido para falar - Na maioria das vezes, quando eu grito de raiva, a raiva é por eu não conseguir te odiar. Pode parecer ridículo, mas é verdade. Eu...
Eles se olharam de modo profundo, como nunca haviam feito antes, e a garota esqueceu-se completamente o que estava prestes a falar. Ron se inclinou, diminuindo a proximidade entre os dois, logo um já podia sentir levemente a respiração do outro...
- Srta Granger! - Madame Pomfrey exclamou, segurando um copo grande de Essência de Arruda - O que faz aqui às três da manhã? Só porque são namorados, não significa que a senhorita tenha passe livre pra perambular na madrugada!
Os dois se afastaram num susto e não havia como saber quem ficou mais constrangido, mas nenhum deles ousou corrigir a enfermeira.
- Perdão, eu... Eu... - ela gaguejou, sem saber o que falar. Então, a sinceridade pareceu uma boa saída. - Eu realmente não deveria estar aqui, mas eu não ia conseguir dormir enquanto não tivesse certeza de que estava tudo bem.
- Eu entendo, querida, nenhum de nós consegue relaxar com esses ataques, mas tire uma lição do que aconteceu com o Sr. Weasley: não é seguro andar a essa hora por aí. Além do mais, ele precisa descansar, apesar de que eu vejo agora que esse rapazinho já se recuperou muito bem. Vá dormir, meu bem, antes que eu seja obrigada a levá-la à diretora da sua Casa...
- Sim, senhora, eu já vou. - ela disse e se dirigiu ao rapaz - Bom... Boa noite, Ron.
Ele a beijou na bochecha e sorriu:
- Boa noite, Mione. Não se preocupe mais comigo, estou ótimo.
E o garoto realmente estava, ainda que tenha perdido completamente o sono naquela noite.
A escuridão silenciosa e fria da Ala Hospitalar da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts nas madrugadas não costumava ser quebrada: Madame Pomfrey tinha um estilo de vida parecido com Olho-Tonto Moody, de vigilância constante. Ela dormia em sua sala ao lado e poderia escutar qualquer movimentação preocupante a ponto de ela ter que acordar.
A enfermeira, entretanto, não possuia olhos tão experientes quanto os do diretor da escola, o que costumava deixar as coisas mais fáceis a um trio famoso que tinha uma certa capa, quase tão famosa quanto eles...
- Não! Não, Ron! Não, não! Ron! - uma voz feminina aflita se ouvia, como um sussurro.
Um garoto acordou num susto, sua mão direita sendo apertada por outra que estava presa a um braço que parecia flutuar. A voz continuou a reclamar e, ao reconhecê-la, ele entendeu: ela estava ali, coberta sob a capa de invisibilidade.
A julgar pelo tom de voz dela, estava tendo um pesadelo: ele precisava acordá-la.
- Por favor, não... Ron...
Ele tirou a capa de cima dela e falou baixinho:
- Hermione... Hermione, acorda!
A garota acordou aterrorizada e, assim que viu o rosto de Ron a encarando, desabou em lágrimas, com as mãos no rosto.
- Mione, não fica assim... Foi só um pesadelo. Vem cá. - ele disse e a puxou, para um abraço, fazendo a jovem sentar ao seu lado, na cama.
O rapaz acariciava a cabeça da garota com a maior delicadeza que poderia, ao se considerar os braços e mãos grandes que possuía, e aproveitava para aspirar o perfume tão familiar dos cabelos cheios, o perfume com o qual ele mesmo a presenteara no Natal do ano anterior.
- Ron, eu... - ela tentou conter o choro - Eu fiquei com tanto medo. Medo de perder você pra sempre.
- Você não vai me perder. Estou aqui. Está tudo meio confuso na minha cabeça, não sei como exatamente eu vim parar aqui. Não que isso seja novidade... - acrescentou, fazendo a garota rir um pouco.
- Você comeu um bombom cheio de poção do amor, o Harry te levou até o Prof. Slughorn, que te deu o antídoto, vocês resolveram comemorar com um pouco de hidromel, só que ele estava envenenado. - Hermione relatou rapidamente e de uma só vez - Bom, foi isso o que me contaram.
- Eles também beberam?
- Não, parece que você bebeu antes de terminar o brinde, então Harry enfiou benzoar pela sua garganta e salvou a sua vida. Espera dez segundos, já te explico melhor.
Ela soltou o abraço e foi enfeitiçar a porta da sala da Madame Pomfrey, para que a enfermeira não despertasse, - eles estavam com muita sorte de ela ainda não ter acordado - acendeu o lampião ao lado da cama de Ron e sentou-se novamente ao lado do rapaz, voltando a relatar o ocorrido com todos os detalhes que conhecia.
- Bom, pelo menos nisso você tem admitir que o Príncipe, seja lá quem for, ajudou.
A garota revirou os olhos:
- Era só prestar atenção nas aulas, Ron! O professor Snape nos ensinou isso no primeiro dia!
- E você acha que alguma pessoa normal lembraria disso?
- Você está me chamando de anormal, Ronald Weasley?
- Não, Hermione, você sempre me interpreta mal porque eu não tenho tanto cuidado com as palavras quanto você. - ele não parecia zangado, só constatou um fato - Só o que eu quis dizer é que a maioria das pessoas não é tão ligada nas aulas assim... E isso não é defeito seu: sem você, acho que nem eu, nem o Harry estaríamos vivos hoje e tampouco seríamos sextanistas.
Ela sentiu seu rosto mais quente, tinha certeza que corara:
- Desculpe, Ron, não quero começar outra briga. Só de pensar que você poderia...
- Não pense nisso, já passou.
- Não há como não pensar. Eu não teria a oportunidade de fazer as pazes, de dizer o quanto eu foi boba...
- Boba? Eu posso te dar vários adjetivos: inteligente, perfeccionista, atenciosa, leal, teimosa, corajosa, bonita... Mas, boba? De jeito nenhum. Eu sou o idiota da vez, como sempre. Fui eu quem estragou tudo, agindo por um impulso imbecil de me agarrar com a primeira que se oferecesse e perdi uma ótima noite de Natal contigo. Desculpa ter feito você passar por isso.
A franqueza dele a deixou pasma por alguns instantes e a única reação que teve foi voltar a abraçá-lo, dessa vez por seu próprio impulso. O garoto se sentiu aliviado pela luz do lampião ser tênue, não deixando evidentes suas orelhas vermelhas.
- Ron, por que nós não convivemos como pessoas civilizadas?
- Você me vê jantando todos esses anos e ainda tem esperança de que eu me torne civilizado? - Hermione afundou seu rosto no peito do garoto para rir sem acordar os outros estudantes doentes. - Senti muito a sua falta, Mione. Não me deixe mais agir como um canalha: se isso, futuramente, acontecer, te dou a permissão de gritar e até bater em mim. E eu espero que você entenda que eu me sinto a pior pessoa do mundo toda vez que faço isso contigo. Não que isso seja desculpa...
Não sem algum esforço, ela soltou o abraço e o encarou:
- Bem, não posso dizer que te entendo por completo, mas, de alguma forma, eu entendo. A convivência com você é uma terapia pra mim. - ele ficou confuso e a garota explicou - Sempre tentei esconder meus sentimentos das pessoas, com medo de não ser compreendida ou de ser magoada... Mas eu não consigo fazer isso com você. Qualquer coisa que eu sinto por sua causa costuma ficar bem nítida. Às vezes, nítida demais. Posso ter contar um segredo? - o rapaz assentiu e ela se aproximou de seu ouvido para falar - Na maioria das vezes, quando eu grito de raiva, a raiva é por eu não conseguir te odiar. Pode parecer ridículo, mas é verdade. Eu...
Eles se olharam de modo profundo, como nunca haviam feito antes, e a garota esqueceu-se completamente o que estava prestes a falar. Ron se inclinou, diminuindo a proximidade entre os dois, logo um já podia sentir levemente a respiração do outro...
- Srta Granger! - Madame Pomfrey exclamou, segurando um copo grande de Essência de Arruda - O que faz aqui às três da manhã? Só porque são namorados, não significa que a senhorita tenha passe livre pra perambular na madrugada!
Os dois se afastaram num susto e não havia como saber quem ficou mais constrangido, mas nenhum deles ousou corrigir a enfermeira.
- Perdão, eu... Eu... - ela gaguejou, sem saber o que falar. Então, a sinceridade pareceu uma boa saída. - Eu realmente não deveria estar aqui, mas eu não ia conseguir dormir enquanto não tivesse certeza de que estava tudo bem.
- Eu entendo, querida, nenhum de nós consegue relaxar com esses ataques, mas tire uma lição do que aconteceu com o Sr. Weasley: não é seguro andar a essa hora por aí. Além do mais, ele precisa descansar, apesar de que eu vejo agora que esse rapazinho já se recuperou muito bem. Vá dormir, meu bem, antes que eu seja obrigada a levá-la à diretora da sua Casa...
- Sim, senhora, eu já vou. - ela disse e se dirigiu ao rapaz - Bom... Boa noite, Ron.
Ele a beijou na bochecha e sorriu:
- Boa noite, Mione. Não se preocupe mais comigo, estou ótimo.
E o garoto realmente estava, ainda que tenha perdido completamente o sono naquela noite.
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