Cap. Único



Um clarão verde. Um grito.
E então ela morre...
 
********************************************************************


 - Nome?


 - Líllian Evans.


 - Idade?


 - Vinte e cinco anos.


 - Sexo?


 - Feminino.


 - Você se lembra de como morreu?


 Líllian abaixou a cabeça devagar e deixou seu olhar vagar por entre as lembranças das quais possuía, tentando se lembrar do que realmente tinha acontecido. Lembrava-se de um clarão verde e intenso que vinha em sua direção. A luz era forte e assustadora, o que a deixava maravilhada e encantada, como se a hipnotizasse. Por um momento, ela se permitiu maravilhar com a luz. Seus olhos percorreram toda a extenção do clarão. Sabia que alguém o tinha conjurado, mas não tentava enxergar quem. E antes que o clarão chegasse até ela, Líllian gritava palavras das quais não se lembrava.


 - Não. - ela respondeu. - Mas eu tento entender desde que aconteceu.


 - Doeu muito?


 Ela, ainda com a cabeça abaixada, tentou entender o porque de ter gritado tanto, afinal, a luz era tão bonita. O clarão verde vagou elegantemente - e com rapidez - pelo vácuo até penetrar no peito dela e atravessá-lo como se fosse de papel. Mas ela não tinha sentido nada.


 - Não. - ela respondeu. - Mas eu tento sentir desde que aconteceu.


 - Porque você morreu?


 A mulher levantou os olhos, mas não havia para o que olhar, por isso voltou a abaixá-los. Qual o motivo de sua morte? Porque, afinal, a haviam matado? O que ela fez de tão errado que merecia pena de morte? Pensou e por um momento tentou se lembrar de algo que não fosse sua existência mútua em um espaço cheio de luz. Líllian se perguntou o porque de iluminarem um lugar em que não havia nada para ver. E questionou a si mesma o fato de a morte ser clara em vez de escura, como muitos chegaram a conjecturar.


 - Não sei. - ela respondeu. - Mas eu tento me lembrar desde que aconteceu.


 - Quem estava lá com você?


 Líllian fechou os olhos e imaginou quem estaria lá consigo na hora em que foi morta. Mas não se lembrava. Sua memória conseguira apagar tudo o que não fosse o clarão verde. Na hora em que morreu, a única coisa que restava era ela e o clarão verde, tão bonito, da cor de seus olhos.


 - Não havia ninguém. - ela respondeu. - Mas eu gostaria que houvesse desde que aconteceu.


 - Onde você estava?


 Ela abriu os olhos. O clarão verde invadiu de novo sua mente, até ser substituido pela claridade do local onde se encontrava, vazendo-a tentar relacionar tal luz às poucas lembranças das quais dispunha. Nada lhe veio à mente, mas ela não sentiu frustração. A claridade lhe lembrava a escuridão na qual se encontrava quando morreu. Um era o reverso do outro e Líllian permitiu divertir-se com aquilo. Como a claridade podia lhe lembrar a escuridão?


 - Não sei. - ela respondeu. - Mas eu gostaria de estar em algum lugar desde que aconteceu.


 - Quem te matou?


 A mulher sentiu seus olhos se encherem de lágrimas sem sentido. Tentou sorrir, mas não conseguiu. Tentou lembrar-se, mas não tinha memórias. Tentou esquecer, mas nada havia para que o fizesse. Lembrava-se de que o clarão a atravessou e que depois ela já estava morta.


 - Não sei. - ela respondeu. - Mas eu gostaria de saber desde que aconteceu.


 - Do que exatamente você se lembra?


 Líllian sorriu e as lágrimas acumuladas finalmente caíram.


 - Do clarão verde atravessando meu peito...


 - O que mais?


 - Do vácuo que era o lugar onde eu me encontrava...


 - Continue.


 - A vida se esvaindo do meu corpo.


 Líllian deixou o sorriso morrer aos poucos.


 - Mais alguma coisa?


 - Não. - ela respondeu. - Mas eu gostaria que houvesse desde que aconteceu.


*******************************************



 N/A: uma pequena prévia do que vem passando pela minha cabeça nos últimos tempos.
 {visitem minha fic: Um Estranho No Espelho}
 Comentem!

 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.