Cap. Único
Um clarão verde. Um grito.
E então ela morre...
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- Nome?
- Líllian Evans.
- Idade?
- Vinte e cinco anos.
- Sexo?
- Feminino.
- Você se lembra de como morreu?
Líllian abaixou a cabeça devagar e deixou seu olhar vagar por entre as lembranças das quais possuía, tentando se lembrar do que realmente tinha acontecido. Lembrava-se de um clarão verde e intenso que vinha em sua direção. A luz era forte e assustadora, o que a deixava maravilhada e encantada, como se a hipnotizasse. Por um momento, ela se permitiu maravilhar com a luz. Seus olhos percorreram toda a extenção do clarão. Sabia que alguém o tinha conjurado, mas não tentava enxergar quem. E antes que o clarão chegasse até ela, Líllian gritava palavras das quais não se lembrava.
- Não. - ela respondeu. - Mas eu tento entender desde que aconteceu.
- Doeu muito?
Ela, ainda com a cabeça abaixada, tentou entender o porque de ter gritado tanto, afinal, a luz era tão bonita. O clarão verde vagou elegantemente - e com rapidez - pelo vácuo até penetrar no peito dela e atravessá-lo como se fosse de papel. Mas ela não tinha sentido nada.
- Não. - ela respondeu. - Mas eu tento sentir desde que aconteceu.
- Porque você morreu?
A mulher levantou os olhos, mas não havia para o que olhar, por isso voltou a abaixá-los. Qual o motivo de sua morte? Porque, afinal, a haviam matado? O que ela fez de tão errado que merecia pena de morte? Pensou e por um momento tentou se lembrar de algo que não fosse sua existência mútua em um espaço cheio de luz. Líllian se perguntou o porque de iluminarem um lugar em que não havia nada para ver. E questionou a si mesma o fato de a morte ser clara em vez de escura, como muitos chegaram a conjecturar.
- Não sei. - ela respondeu. - Mas eu tento me lembrar desde que aconteceu.
- Quem estava lá com você?
Líllian fechou os olhos e imaginou quem estaria lá consigo na hora em que foi morta. Mas não se lembrava. Sua memória conseguira apagar tudo o que não fosse o clarão verde. Na hora em que morreu, a única coisa que restava era ela e o clarão verde, tão bonito, da cor de seus olhos.
- Não havia ninguém. - ela respondeu. - Mas eu gostaria que houvesse desde que aconteceu.
- Onde você estava?
Ela abriu os olhos. O clarão verde invadiu de novo sua mente, até ser substituido pela claridade do local onde se encontrava, vazendo-a tentar relacionar tal luz às poucas lembranças das quais dispunha. Nada lhe veio à mente, mas ela não sentiu frustração. A claridade lhe lembrava a escuridão na qual se encontrava quando morreu. Um era o reverso do outro e Líllian permitiu divertir-se com aquilo. Como a claridade podia lhe lembrar a escuridão?
- Não sei. - ela respondeu. - Mas eu gostaria de estar em algum lugar desde que aconteceu.
- Quem te matou?
A mulher sentiu seus olhos se encherem de lágrimas sem sentido. Tentou sorrir, mas não conseguiu. Tentou lembrar-se, mas não tinha memórias. Tentou esquecer, mas nada havia para que o fizesse. Lembrava-se de que o clarão a atravessou e que depois ela já estava morta.
- Não sei. - ela respondeu. - Mas eu gostaria de saber desde que aconteceu.
- Do que exatamente você se lembra?
Líllian sorriu e as lágrimas acumuladas finalmente caíram.
- Do clarão verde atravessando meu peito...
- O que mais?
- Do vácuo que era o lugar onde eu me encontrava...
- Continue.
- A vida se esvaindo do meu corpo.
Líllian deixou o sorriso morrer aos poucos.
- Mais alguma coisa?
- Não. - ela respondeu. - Mas eu gostaria que houvesse desde que aconteceu.
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N/A: uma pequena prévia do que vem passando pela minha cabeça nos últimos tempos.
{visitem minha fic: Um Estranho No Espelho}
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