Capítulo Único



  O cricrilar dos grilos vinham de toda parte e enchiam a bela noite de inicio de primavera que cobria o silêncio entre duas tão costumeiras figuras que desciam distraídas o jardim bem cuidado dos terrenos de Hogwarts fora do horário devidamente permitido pelas regras da escola.



- Hagrid? – sugeriu Hermione incerta. Harry apenas assentiu.



   Estava tudo planejado para deixarem Hogwarts na noite do dia seguinte. Hermione havia lutado juntamente com Rony para impedir que Harry abandonasse Hogwarts em seu último ano para ir atrás das Horcruxes, porém já haviam suportado meio ano de deveres e regras excessivas sem que pudessem ter um tempo sequer a sós para discutir a guerra que estava acontecendo lá fora. Harry fazia parte dessa guerra, havia uma profecia e ele não podia se esconder dentro das quatro seguras paredes de Hogwarts.



   Harry estendeu a mão e desfez as medidas de segurança contra intrusos. Hermione entregou a chave a ele e não demorou para que a porta coberta de musgos da cabana rangesse dando espaço para que os visitantes entrassem. Ambos passaram a girar suas varinhas ordenando aos lampiões que eles se acendessem. Canino apareceu soltando um latido alto enquanto vinha abanando o rabo. Hermione agachou-se para recebê-lo enquanto Harry passava os olhos pela cabana abandonada.


- Por que Rony não veio? – Hermione tentou parecer indiferente em sua pergunta enquanto conjurava água e comida para o cão.


- Ele disse que vai passar a noite com uma das garotas dele. – respondeu Harry enquanto recostava-se na bancada da cozinha.


   Hermione revirou os olhos contorcendo sua cara numa de nojo enquanto se sentava no sofá empoeirado observando Canino matar desesperadamente sua fome.


- As garotas de Rony estão com ele só para chegarem até você. – contou ela o que não era novidade.


   Harry soltou um riso fraco pelo nariz enquanto cruzava os braços.


- Eu percebi. – falou ele. – Mas não conte isso a ele.


- Eu não seria louca. – ela apressou-se a dizer.


   O silêncio veio novamente. Era bom apreciá-lo embora naquela noite ele parecesse incomodo. Desde a morte de Dumbledore o peso da profecia caíra sobre Harry como um fardo cada dia mais pesado e isso mudara o clima entre o trio, tudo parecia mais frio, mais sério, e o sétimo ano não parecia ajudar com as pilhas de tarefas acumuladas. Harry parecia cada vez mais distante e Hermione se preocupava.


   Ela se levantou com cuidado e caminhou graciosa até ele. Suspirou e parou a sua frente o obrigando a olhá-la.


-Harry, é melhor irmos. Não foi uma boa idéia virmos aqui.


- Canino precisava comer.


- Eu poderia ter feito isso sozinha como sempre faço.


   Harry desviou seu olhar do de Hermione, desencostou-se da bancada e passou por ela que simplesmente murchou os ombros desanimada.


- Eu estou bem, Hermione. – ele disse sentando-se na poltrona predileta de Hagrid.


- Não está, Harry! – ela se virou indo novamente atrás do amigo. – Você olha essa cabana como se lembrasse de quando vínhamos aqui visitar Hagrid animados pra contar a ele alguma aventura nova que andava se metendo. Olha pra ela como se sentisse falta daquele tempo onde tudo era só mais uma aventura e mais uma curiosidade. Por favor, eu olho pra você nesses últimos meses e vejo você definhando em silêncio porque isso tomou uma proporção que você não esperava que tomasse. Isso me mata!


   Ele não a olhou. Apenas ficou em silêncio acabando com a esperança de Hermione de receber alguma resposta que viesse confortá-la. Ela jogou-se no sofá desapontada.


- Hagrid deve estar sentindo falta desse lugar. – Harry cortou o silêncio depois de longos minutos num comentário que para Hermione soou mais para ele do que para ela.


- Harry! – ela o chamou e ele continuou não a encarando. Ela respirou impaciente. – Você me preocupa. Eu queria saber o que se passa em sua mente, eu queria confortá-lo porque desde a morte de Dumbledore parece que tudo clareou para você rápido demais. Parece que finalmente você pode perceber o peso da profecia e o que você significa para essa guerra.


   Ele assentiu e a encarou.


- Sim, Hermione. Você está certa. Mas eu queria só essa noite poder não me lembrar disso. Queria que hoje, esse única noite de uma longa estrada que eu tenho pela frente eu pudesse tirar essa fardo das minhas costas respirar e... – ele voltou a encarar a cabana e suspirou. – Eu só queria me esquecer por algumas horas de tudo isso, porque eu não sei o que vem pela frente. Lá fora não vai ser mais seguro como aqui dentro. Nós vamos parar de ler as noticias e nós vamos participar delas, isso é perigoso. Tenho medo de perder você ou Rony ou mais alguém. Quando deixarmos Hogwarts não vamos ter mais um momento como esse onde eu vou estar aqui sentado e você aí como se não existisse horas. Eu só queria esquecer isso e aproveitar algumas horas como alguém normal. Eu queria por algumas horas não ser o-menino-que-sobreviveu!


   Hermione mordeu os lábios e sentiu seu coração apertar por não poder ajudar o amigo.


- Harry... – ela soltou o ar desapontada. – Eu sinto muito.


   Ele assentiu.


- Eu sei que sente. – concluiu e novamente o silêncio, porém dessa vez ele não durou muito. Harry se levantou e passou pela amiga que o acompanhava com os olhos. – Vamos. – ele a chamou já ao pé da porta.


   Hermione levantou-se sem escolha, apagou os lampiões e seguiu o amigo porta a fora refazendo os feitiços de segurança e recebendo de volta a chave de Harry. Num silêncio desapontador suas mãos se encontraram e se enlaçaram casualmente enquanto ambos seguiram o caminho de volta para o castelo.


   Ela levantou o olhar observou a beleza das luzes do castelo sendo refletidas na superfície quieta do lago. Por um segundo quis que aquele momento parasse para que pudesse se despedir de sua vida de estudante. Assim como Harry, ela também tinha receio do que vinha pela frente e sabia que os tempos que se sentavam para jogar conversa fora agora ficariam só na lembrança. Seu peito ardeu de raiva por saber que Rony estava estragando a última noite que eles teriam essa chance. Parou de acompanhar seus passos com o de Harry e ele logo a imitou sendo impedido de continuar pela sua mão que ainda estava atada a dela.


- O que foi? – ele perguntou tentando procurar com seus olhos para onde os dela estavam fixos.


- Veja como o lago fica lindo refletindo as luzes do castelo. – ela parecia em transe .


 


   Harry virou seu rosto para encarar o da amiga sendo iluminado pela luz da lua. Por segundos ele se desligou e apenas estudou o perfil da outra. O desenho de seus cílios, a linha de seu nariz a curva de seus lábios... Não era a primeira vez que a observava em silêncio. Se orgulhava por Hermione ter crescido, ela estava se tornando uma mulher e tanto e vez ou outra sua beleza lhe chamava a atenção. Harry apenas se orgulhava.


 


   Ela virou-se para ele e sorriu. Harry tirou foto daquele momento guardando mais um dos sorrisos da garota em sua memória. Ele pode ver os olhos âmbar dela brilharem como não brilhavam a tempos. Reconheceu aquele olhar vasculhando um passado bem antigo que estava ocultamente escondido em suas lembranças.


 


- Hermione... – ele conseguiu dizer estreitando os seus verdes.


 


   Ela apenar riu segurando mais firme a mão do amigo e voltando a andar num passo mais apertado embora dessa vez não fosse para o castelo e sim para onde ele estava sendo refletido. Harry a seguiu sem opção e assim que chegaram a beira do lago ele precisou recuar um passo. Hermione tornou a encará-lo porém dessa vez ele viu nela um olhar desafiador.


 


- Vamos. – ela sugeriu num sorriso sapeca e ele teve que rir alto da loucura da outra. Ela revirou os olhos. – Harry, você mesmo quem disse que queria se esquecer de toda loucura que está vivendo! Eu também quero esquecer, nem que seja por alguns minutos. – ela mordeu os lábios contendo seu sorriso. – Vamos Harry! Você está em Hogwarts! É nossa última noite aqui!


 


   Ele riu enquanto observava o sorriso animado que ela detinha nos lábios. Hesitou encarando o lago calmo a frente deles. Ele realmente poderia deixar de lado toda loucura que sua vida era e por uns minutos apenas respirar como se fosse livre. Ele riu pra ela.


 


- Você é insana... – disse enquanto começava a se ocupar em desabotoar os botões de sua blusa.


 


   Hermione sorriu vencedora e passou a tirar seus sapatos mas foi distraída assim que Harry se livrou de sua blusa e passava a fazer o mesmo com os sapatos. Uau! Então era aquilo que Harry Potter escondia debaixo de sua blusa?  Ela se esforçaria em obrigá-lo a fazer aquilo mais vezes depois dessa noite.


 


- Vai ficar pra trás? – ele a acordou com um sorriso maroto estampado nos lábios quando já folgava o sinto de sua calça.


 


   Ela apenas riu em resposta desviando o olhar e passando a soltar os botões que prendiam seu vestido nas costas. Não demorou e eles já escorregavam pelo seu corpo em direção ao chão. Quando voltou a encarar Harry ele havia acabado de se livrar de sua calça e tinha seus olhos quase que em transe voltados para ela. Logo que ele notou o olhar dela sobre ele limitou-se a sorrir e dar de ombros enquanto erguia e abaixava as sobrancelhas num ar de impressionado.


 


- Belo corpo, Granger. – ele disse, correu e saltou no lago fazendo-a gritar divertida em protesto pela água que havia espirrado nela.


 


   Certo. Era o que ela estava constantemente repetindo em sua cabeça embora aquilo tudo fosse bem errado. Eles estavam ali somente com suas roupas intimas pulando num lago proibido e tudo parecia bem normal. Ela sorriu.


 


- Como está a água? – ela quis saber.


 


- Está hesitando, Hermione? – ele gritou em resposta provocando-a.


 


   Ela estreitou os olhos e no segundo seguinte ela tornava a agitar a água do lago.


 


   Eles brincaram como duas crianças. Fizeram como que o quieto lago passasse a suportar seus gritos e sim, por aqueles minutos eles se esqueceram dos deveres de uma guerra, do peso da profecia, dos perigos, dos medos, era como simplesmente descobrir o mundo mágico e suas maravilhas novamente. Ver um ao outro rir distraidamente e sem aquele peso que sempre os trazia de volta pra realidade trouxe paz fazendo com que eles aproveitassem ao máximo pois ambos sabiam que quando saíssem daquele lago não ouviriam aquele som nem provariam daquela imagem novamente até que todo o desespero da guerra acabasse.


 


   Ele gargalhou quando ela se gabou de ter escapado de sua armadilha para afogá-la segundos atrás e foi pega de surpresa pelo jato de água que ele lançou. Ela iria revidar se ele não tivesse detido o pulso da garota com sua mão e a puxado contra ele. Hermione bateu seu corpo no dele e em sua mente lhe veio a imagem de Harry livre daquela blusa. Por uns segundos apenas seus rostos estiveram próximos demais assustando ambos que simplesmente se afastaram num impulso e ignoraram o fato quase que num ato automático. Ela riu pouco esperta e passou as pernas ao redor do tronco do outro que limitou-se a rir e passar seus braços em torno de sua cintura fazendo com que aquele momento intimo e novo se tornasse o mais cômodo possível. A verdade é que ele viera também automático como uma desculpa por terem ignorado a proximidade que estiveram segundos antes.


 


- Leu a reportagem que eu deixei dentro do seu livro de História da Magia? – ela começou.


 


   Ele sorriu.


 


- Aquela que Rita escreveu sobre nós dois na última edição do Semanário? – ele indagou e ela assentiu fazendo-o rir. – Queria saber de onde tiram tanta criatividade para escreverem sobre nós! Rita escreveu aquilo só por causa da repercussão daquela nossa foto entrando no trem de Hogwarts de mãos dadas. Se soubessem que você não me soltava com medo de que eu fosse fugir acabaria com toda a alegria deles.


 


   Hermione riu alto.


 


- Viu que ela escreveu como se nos conhecesse e fossemos melhores amigos dela. – ela disse fazendo Harry revirar os olhos. – Ela fez todo o mundo bruxo torcer por nós na época do Torneio Tribruxo.


 


- Tenho certeza que é por isso que Krum nunca foi com a minha cara. – brincou Harry.


 


   Foi a vez de Hermione revirar os olhos e Harry riu.


 


- Harry, acha mesmo que damos tantos motivos para os comentários?


 


   Ele abriu a boca para defender a amizade dos dois, porém conteve-se na metade do caminho voltando a fechá-la e analisando a situação ao qual se encontravam.


 


- Sim, eu acho que damos muitos motivos. – disse sua conclusão. Ela franziu o cenho e ele teve que ficar em silêncio para forçá-la a encarar a situação. Não demorou para que ela percebesse. Porém nada parecia incomodo. – Hermione nós praticamente tiramos a roupa um na frente do outro e olha como estamos agora. E se não percebeu nós quase nos beijamos a segundos atrás.  – ele riu e ela não ficou para trás.


 


- Não acredita ser estranho o fato de não nos incomodarmos com nada disso? – ela indagou passando os braços ao redor do pescoço do amigo.


 


- Acredito, mas acho descartável. – ele sorriu e desceu suas mãos pela cintura da outra até chegar em suas pernas puxando-a para mais junto dele. Abriu um sorriso maroto e voltou a abraçá-la pela cintura. – Acho até que poderíamos fazer coisas piores que isso e não nos incomodaríamos. – brincou ele sedutor.


 


- Você sabe ser sexy, Potter. – ela entrou na brincadeira.


 


- Espere para ver mais, Granger! – piscou para ela que gargalhou alto


 


   Eles se encararam sorrindo bobamente pela brincadeira. Nem se lembravam da última vez que estiveram tão descontraídos e sorrindo tão naturalmente. Aquilo estava sendo uma terapia.


 


   Hermione escondeu seu rosto no pescoço do amigo descansando a cabeça em seu ombro e eles deixaram que o lago se acalmasse novamente. Enquanto Harry a abraçava docemente.


 


- Acha que seriamos um bom casal? – ela indagou distraída quebrando o silêncio entre eles.


 


   Harry abriu um fino sorriso pela pergunta da amiga por perceber que não havia sido pego de surpresa. Ele já havia discutido mentalmente isso quando o trio começou a crescer o suficiente para pensar nessas questões.


 


- Acho que seriamos um casal perfeito. – ele disse. – Eu já pensei sobre isso. Parece que fomos feitos um na medida do outro. Nós sabemos nos entender de um jeito só nosso. Eu sei te olhar e saber o que os seus olhos dizem, do mesmo jeito que você me olha e sabe o que há comigo. Nós não temos mentiras um com o outro, nós somos sinceros um com o outro, nós somos melhores amigos e sabemos não ser orgulhosos um com o outro. Nos conhecemos como nenhum outro casal de amigos se conhece. Eu sei todas as suas manias, todos as suas preferências, todas as suas expressões, todos os seus olhares, assim como você também sabe de todos os meus. Sempre procuramos não ser agressivos um com o outro e estamos sempre sendo compreensíveis. Você me ensina a ser menos impulsivo e eu te ensino a ser menos perfeita. – ela riu abafado contra o pescoço dele. - Nós somos tão completos que nós somos previsíveis demais.


 


   Hermione ergueu novamente sua cabeça e focou os olhos de Harry por um longo segundo ao qual processou as palavras do outro.


 


- Eu já havia pensado o mesmo, mas escutar isso faz parecer tão deprimente o fato de gostarmos de outras pessoas. – ela sussurrou como se estivesse falando mais para ela do que para ele.


 


- É verdade. – ele teve que concordar.


 


   O silêncio caiu sobre eles duramente enquanto se encaravam. Harry descrevera o relacionamento dos dois de um modo que fez com que ambos acordassem e ficassem surpresos pelo fato de não serem um casal.


 


- Por que nunca nos preocupamos um com o outro em relação a isso? – ela começou confusa. – Sempre estivemos com outras pessoas, procurando outros amores, e nós mesmos tínhamos um relacionamento perfeito. Por que nunca nos preocupamos com nós quanto a isso?


 


   Ele ponderou mas não chegou a conclusão alguma.


 


- Não sei, Hermione. – ele desviou seus olhos do dela tentando de alguma forma responder as perguntas dela que eram as mesmas suas. – Não sei... Talvez nunca me preocupei com você com relação a isso porque acho que no fundo minha mente estava acomodada com o fato de que você sempre foi minha. – ele tornou a encará-la.


 


   Ela abriu um sorriso e mordeu os lábios.


 


- Você disse isso e meu coração pulou. – ela contou.


 


   Ele riu.


 


- Eu não sabia que guardava esse tipo de pensamento em mim quanto a você.


 


   O silêncio dessa vez veio confuso. Era como se ambos esperassem que um deles falasse algo que pudesse concluir toda essa história. Hermione desviou seus olhos âmbar por um momento dos verdes dele e deixou seu pensamento fluir. Toda aquela conversa havia saído tão naturalmente, tão sincera que eles sequer haviam acordado para o peso das palavras e para a gravidade do que aquilo poderia acarretar. Hermione sequer se preocupava com isso, ela só queria a resposta para as milhões de perguntas que haviam de repente despertado em sua mente assim como sabia que haviam sido despertadas na dele. Ela tornou a encará-lo. Ele estava tão confuso quanto ela.


 


- Eu quero te beijar. – ela disse calmamente.


 


   Ele se assustou e por um momento milhões de palavras vieram desconexas a sua mente para respondê-la mas nenhuma delas saiu de sua boca.


 


- O que? – foi o que conseguiu indagar com a voz rouca obrigando-o a pigarrear.


 


- Você tem razão em dizer que nunca realmente nos esforçamos um com o outro porque no fundo nós sabíamos que éramos um do outro! – Ela começou e em seus olhos havia o brilho da satisfação de conseguir tornar claro as indagações confusas de ambos. -  Isso nos acomodou, nos fez procurarmos em outras pessoas o que já havia em nós...


 


- O que já havia em nós? – ele a cortou.


 


   Ela abriu a boca porém de lá não saiu nada. Ela tornou a fechá-la enquanto hesitava em realmente terminar sua conclusão.


 


- Amor. – ela sussurrou finalmente. – Entre nós já havia amor. – concluiu.


 


   O silêncio veio e dessa vez já não existiam mais o turbilhão de perguntas que os atormentavam, e na cabeça de ambos havia apenas uma pergunta. Apenas uma que talvez um beijo pudesse clarear a ambos a conclusão.


 


   Harry sempre se julgara irresponsável e sempre tivera Hermione para corrigi-lo, mas ali naquele momento a Hermione que deveria corrigi-lo estava aflita e a um passo da solução daquele caso. Ela não se moveu quando ele emergiu uma de suas mãos da água e tocou o rosto dela como se fosse feita de vidro. Seus olhos brilharam diferentes um para o outro. Um olhar novo com um brilho novo.


 


   Ele pensou que fosse ser difícil, mas quando estavam próximos o suficiente para sentir a respiração quente um do outro ele teve realmente o desejo de provar aquela boca, um desejo que nunca sentira em sua vida por nenhuma outra garota, não era nada desesperador, era apenas um desejo calmo que parecia estar ali desde sempre aguardando o momento certo para ser saciado.


 


   Ele a viu fechar os olhos e sentiu seu coração pular quando fez o mesmo com os seus. Aproximou-se e já podia sentir as áurea elétrica dos lábios dela que aguardavam os dele relaxados e esperançosos.


 


   O minuto em que seus lábios se encontraram Harry se esqueceu de que ela era sua melhor amiga, ele apenas sabia que ela era Hermione, uma garota fantástica. Assim que seus lábios começaram a brincar um com o do outro seus corpos gritaram para ambos um ‘finalmente’ que parecia estar ali entalado havia muito tempo clareando aos dois a vontade que sentiam um do outro escondida dentro deles mesmos.


 


   Seus lábios dançaram quase que coreografados e sem que um ou o outro tomasse a iniciativa eles começaram a provar o sabor daquele beijo. Estavam no mesmo ritmo, era paciente, cada segundo parecia uma descoberta nova enquanto exploravam um ao outro ali. Foi como se já tivessem feito isso antes, ou melhor, foi como se seus corpos de alguma forma no silêncio oculto de cada encontro de olhar que eles tiveram durante todos aqueles anos o ensaio desse momento tivesse acontecido com cuidado para que quando realmente acontecesse tudo já tivesse sido preparado nos mínimos detalhes sem que eles pudessem perder nada que um poderia oferecer para o outro.


 


   Nem um, nem mesmo o outro apartou aquele beijo. Ele simplesmente acabou naturalmente. Depois de um longo minuto ele simplesmente acabou deixando nos dois a medida certa de vontade para que não demorasse o próximo. Eles descansaram apoiando a testa um no outro. Hermione sorriu bobamente e Harry se afastou abrindo os olhos a tempo de vislumbrar aquele sorriso. Ela era incrivelmente linda e parecia ser ainda mais agora que conseguia a enxergar com outros olhos.


 


   Ela abriu seus olhos e eles finalmente se encararam depois daquele beijo. Não precisava de palavras. Aquela simples troca de olhares já resumia a conclusão de toda aquela história. Estava claro, não havia mais perguntas, neles, naquele olhar e naquele beijo já estavam todas as respostas. Ele e Hermione pareciam ter vivido o que sempre esperaram viver embora nunca soubessem disso.


 


   Porém por sorte, ou por má talvez, foi naquele exato momento que a realidade caiu dura sobre Harry. Ele era O Eleito. A profecia, a guerra, seus receios e os perigos todos voltaram a assolar sua mente fazendo seus olhos escurecerem e no segundo seguinte o sorriso de Hermione sumir como quem tira o oxigênio do fogo.


 


   Seu erro! Esse foi o dedo da culpa que apontou para Harry e o fez sentir como se alguém apertasse forte seu coração e tirasse seu fôlego. Seu erro! Ele não poderia ter um relacionamento com Hermione! Não com sua vida daquele jeito! A profecia dizia ou um ou outro e ele sequer sabia se viveria. Além de aumentar o risco de perigo sobre a vida dela ele perderia totalmente o foco de sua missão. Se havia algo que o ensinara a agir com responsabilidade e não por sentimentos era o fato de Dumbledore estar a alguns metros dali enterrado e morto. Aquilo lhe gerava calafrios. O medo. Se havia algo em sua vida que deveria ser mantido como ultima prioridade era sua vida sentimental.


 


- Hermione... – ele começou e viu ela temer pelo que ele fosse dizer. Ele sabia que ela já havia visto aquele Harry sobre o peso de suas responsabilidades retornar e via pela cor de seus olhos âmbar que ela estava passando pelo processo de aceitação que tentava acreditar que ele ainda estava sendo o Harry que estava rindo e brincando a minutos atrás. – Não foi uma boa idéia termos esquecido do que vem pela frente...


 


- Harry! – ela o cortou e ele viu ainda pelo olhar dela que ela ainda exigia que aquele Harry de minutos atrás fizesse algum comentário doce sobre a grande descoberta de ambos.


 


   Ele não poderia escapar sem lhe dar uma resposta. Desviou seu olhar do dela e suspirou afrouxando seus braços da cintura dela.


 


- Eu não te amo. – conseguiu dizer depois de muito repetir para si mesmo mentalmente.


 


   O silêncio. Ele não ousava encará-la mas sabia que ela ainda não havia passado pelo processo de aceitação. Sentiu as pernas dela abandonarem seu tronco e o água gelada o informou que estava só.


 


- Por que está mentindo? – ela sussurrou insistente. Ele conseguiu encarar seus olhos novamente e ali havia a dor da negação. Ela sofria de uma forma que ele nunca havia visto antes nela, nem mesmo quando a vira chorar por Rony. Seu coração sofreu ainda mais por ver a dor dela.


 


- Não estou. – conseguiu dizer tendo que engolir em seco. Estava decidido. Não podia renegar o fardo que era obrigado a carregar. O mundo dependia dele e quantas pessoas que amava já havia perdido por querer viver a vida que queria ao mesmo tempo que tinha que viver a vida que era obrigado. Ele tinha que separar suas prioridades e viver cada uma em seu tempo certo!


 


   O silêncio e dessa vez ele viu aos poucos os olhos de Hermione encherem-se de lágrimas ao mesmo tempo em que eles clareavam enxergando o porque Harry estava se esforçando em sua mentira. Ele era novamente o Harry frio e sério que ela fora apresentada depois da morte de Dumbledore. Fungou forçando-se a não deixar suas lágrimas pularem dos olhos e se afastou.


 


- Tem razão, Harry. – sua voz saia baixa para não denunciar o nó que havia em sua garganta. – Não foi uma boa idéia termos nos distraído do foco.


 


   Ela deu as costas e saiu do lago. Harry a imitou e em silêncio a observou se secar e se vestir novamente enquanto ele fazia o mesmo. Ela em nenhum momento o encarou. Apenas pediu que ele a ajudasse a fechar os três botões de seu vestido. Ele os fechou em silêncio e sem pressa analisando a sua pele lisa e o tendão de seu pescoço inclinado que a ajudava a manter seus cachos longe. Harry tocou seu ombro com carinho e ela suspirou fechando os olhos.


 


- Me desculpe, Hermione...


 


- Nós podemos nos obliviar, se fizermos isso ao mesmo tempo...


 


- Eu não quero esquecer isso! – ele a cortou certo de suas palavras.


 


   Ela hesitou e então finalmente se virou obrigando-o a encará-la. Ele viu que ela também não queria esquecer.


 


- Fico feliz que esse Harry que você está se tornando por causa de suas responsabilidades não seja tão impulsivo. – ela falou e forçou um sorriso que apareceu e sumiu tão rápido quanto o piscar de seus olhos. – O Harry impulsivo fazia muita besteira. – ela disse isso e ele viu a dor em seus olhos a consumir. Ele tocou o rosto dela com carinho e ela logo cobriu a mão dele com a sua fechando os olhos e suspirando demoradamente. Segurou a mão dele e a tirou de seu rosto devolvendo-a ao lugar de onde saíra. – Está tudo bem, Harry. – ela sussurrou sem o encarar. – Nada nunca afetou nossa amizade.


 


   Subiram novamente para o castelo em silêncio. Suas mãos estavam longe uma da outra dessa vez, mas antes que eles passassem pela porta do castelo elas já estavam atadas novamente assim como antes do lago. Não importava os deveres e os medos, as responsabilidade e os perigos que os afastavam, de alguma forma eles eram um do outro.


 


**


 


- PORQUE DEIXOU QUE ELA PEGASSE AS ESMERALDAS? – Harry sentiu todo o ar de seus pulmões vazarem ao expressar sua raiva e ao mesmo tempo sua surpresa.


 


- EU NÃO SABIA QUE ELAS IRIAM FAZER ISSO A HERMIONE! – Rony gritou de volta.


 


- É A ÚNICA COISA QUE PODE DESTRUIR A ÚLTIMA HORCRUX, RONY! O QUE VOCÊ ESPERA?


 


   Harry a encarou novamente. Aquilo doía, doía mais do que a sua cicatriz que começara a arder novamente.


 


- Ela o chamou. – Rony conseguiu murmurar incrédulo para si mesmo. – Hermione chamou Voldemort. – ele tremeu. - NÃO! – gritou em desespero e mancou até ela segurando seus ombros e pondo-se a sacudi-la. Ela apenas mantinha-se calada com seu olhar de desprezo para Rony e seu sorriso desdém e vencedor, aqueles que costumeiramente era aberto pelos comensais de Voldemort. – ME DÊ AS ESMERALDAS, HERMIONE! ME DÊ!


 


- Ele está vindo. – Harry foi obrigado a vacilar. Ainda não podia encará-lo. Ele ainda era imortal. Olhou a taça em suas mãos. O lugar das cinco esmeraldas estava vazio. Ele levou seus olhos para Hermione com as cinco muito bem guardadas em sua mão. Não sabia do que ela seria capaz tomada pelos maus feitiços de Voldemort. Caminhou até ela e olhou fundo em seus olhos aproveitando enquanto a dor em sua cicatriz ainda não forçava sua visão. – Hermione. – olhou fundo em seus olhos quando ela desviou os dela de Rony para ele. – Hermione, por favor. As esmeraldas. – ele estendeu a taça para ela.


 


   Ela abriu novamente aquele sorriso desdém.


 


- Eu devo proteger as esmeraldas. – ela disse e seu tom de voz parecia assustador. – Eu sou quem deve proteger as esmeraldas de agora em diante. Ninguém nunca tocará nelas a não ser o meu mestre que virá aniquilar aqueles que estão tentando tirá-las de mim. – ela olhou fundo nos olhos de Harry. – Ninguém tocará nelas. – repetiu.


 


- Harry... – Rony sussurrou. – O céu...


 


   Harry ignorou. Encarou Hermione e manteve seus olhos fixos nos dela.


 


- Hermione, nenhum feitiço pode ir contra a vontade que você tem de me dar essas esmeraldas. – disse com cuidado. – Isso não é uma maldição imperius. Nada foi lançado em você. É apenas uma azaração poderosa que não pode vencer você se realmente lutar contra isso. – Ele a viu vacilar por alguns segundos porém ela ainda manteve a postura. – Ele está vindo, Hermione! Eu sei que não quer me ver morrer. – ele estendeu a taça novamente. – Coloque-as aqui. – Sua cicatriz queimou e ele cambaleou. – Eu sei que não quer me ver morrer, Hermione. – conseguiu repetir com a voz fraca. Sua visão ficou turva e ele conseguiu ver através dos olhos de Voldemort. Ele já estava pronto para invadir a velha casa. Quando voltou novamente a enxergar Hermione a sua frente ela já estava com o punho fechado sobre a boca da taça estendida. Suas mãos tremiam e seus dentes estavam cerrados e ao mesmo tempo que seus olhos estavam cheios de ódio uma lágrima de desespero escorria pelo seu rosto.


 


- Não vou dá-las a você. – ela disse pausadamente com a voz ofegante.


 


- Harry! – Rony exclamou concentrado na pequena janela a altura do teto do sótão em que se encontravam. – Ele está aqui!


 


- Tem que lutar, Hermione! – Harry exclamou para Hermione.


 


   O punho dela se abriu e ele escutou o som das cinco pedrinhas baterem contra o fundo da taça. O silêncio durou menos de um segundo antes do barulho estrondoso da casa sendo lançada pelo ares assustá-los avisando a chegada de Voldemort. Harry sentiu a taça escapar de suas mãos e antes que pudesse raciocinar o teto de madeira desgastada caiu sobre eles.


 


   Foram enterrados pelos escombros da madeira, porém lúcido Harry ainda pode ser incomodado pela dor cruciante de sua cicatriz. Voldemort agitou sua varinha e fez os escombros voarem pelos ares assim como havia feito anteriormente com a casa.


 


   Harry abriu os olhos a tempo de ver o rosto ofídico de Voldemort contorcer-se num misto de surpresa e ódio. Ele gritou algo como se isso pudesse fazer com que a taça que brilhava erguida no ar parasse de encaixar as esmeraldas nos devidos espaços vazios pertencentes a ela. Quando a última tomou seu lugar a taça intensificou-se num brilho cegante e o ar ficou quente quando o barulho da explosão ecoou fazendo Harry se arrastar pelo piso do sótão.


 


   A dor em sua cicatriz não deixou que ele sentisse quando o osso da costela da antiga guardiã das esmeraldas cortou sua perna. Assim que o clarão desapareceu a primeira coisa que viu novamente foi Voldemort que tinha sua raiva loucamente explicita e expressa em seus olhos de cobra. Seus comensais começavam a aparecer um por um logo atrás dele.


 


   Ele escutou a voz de Rony gritar seu nome e virou-se num ato automático vendo ele que tinha o rosto coberto de sangue com Hermione desmaiada em seus braços. Viu Rony jogar a arma que guardara da última conturbada ida ao centro de Londres. Harry a pegou cegamente e mesmo sem saber se estava mirando para o ponto certo seu dedo puxou com força a alavanca do gatilho.


 


   O som ecoou seco e em menos de dois segundo ele sentiu o alivio em sua cicatriz. Sua visão se abriu a tempo de ver seu pior inimigo arrastar-se fracamente pelo chão do sótão. Os comensais começaram a duelar e a fugir loucamente assim que os membros da Ordem iam chegando de surpresa. A arma escorregou de sua mão e a última visão que teve antes de tudo ficar escuro foram os olhos de Hermione se abrindo no colo de Rony e se encontrando com os verdes dele a poucos metros de distância.


 


**


 


   Hermione respirou fundo e abriu os olhos. Olhou-se no espelho e deixou que um fino sorriso aparecesse em seus lábios. Ela tinha que admitir que estava linda.


 


- Você está linda, Hermione! – Gina exclamou com um sorriso elétrico. Ela arrumou a calda do vestido branco da amiga e a encarou novamente através do espelho. Seu sorriso murchou para uma careta. – É uma droga que meu relacionamento nunca vai sair de onde está se eu não tomar uma posição. Sempre sou eu! – a ruiva se abriu e Hermione limitou-se a abrir um sorriso amarelo para a amiga. Gina revirou os olhos e bateu na própria testa. – Me desculpe, Hermione! Esse é o seu dia e eu estou aqui contando meus problemas pra você. – ela riu. – É que está todo mundo uma pilha de nervos. Não é todo dia que se tem o prazer de um casamento. – Hermione riu nervosamente. – Acho que eu não estou ajudando.


 


- Gina. É melhor você ir ver se Luna não está aprontando nada. – Hermione a lembrou e ela arregalou os olhos repreendendo-se mentalmente por ter se esquecido.


 


- Sim! Luna! Ah, céus! – ela deu as costas a amiga. – Espero que ela não tenha mudado a cor do vestido dela de novo!


 


   A ruiva preparou-se para deixar o quarto, mas ambas se focaram estáticas e confusas quando o som de uma discussão brava atravessou a porta do quarto. Apesar das vozes estarem falando alto e todas ao mesmo tempo, elas foram capazes de saber que eram Harry, a Sra. Weasley e a mãe de Hermione e Harry estava loucamente tentando convencer as duas de deixarem ele entrar no quarto.


 


- É Harry... – Hermione sussurrou para que sua voz não interferisse na tentativa das duas em entender a discussão. Deu um passo em direção a porta e logo parou. – Gina, é Harry!


 


- Eu sei! – ela disse assustada e encarou a amiga. – O que ele está fazendo aqui?


 


- Deixe ele entrar! – Hermione exclamou.


 


- Hermione, não! Você sabe que dá má sorte...


 


- Ele não é o noivo, Gina! – Hermione a cortou.


 


   A ruiva hesitou, porém o olhar que Hermione lhe lançou a fez se apressar para abrir a porta. A discussão cessou e Gina logo partiu para acalmar as mães aborrecidas do lado de fora.


 


- Tudo bem! Hermione quer vê-lo! – Gina disse.


 


- Gina, me deixe a sós com ela. – Hermione escutou a voz profunda de Harry chegar aos seus ouvidos.


 


- O que está acontecendo? Por que quer vê-la? Não é um momento muito apropriado, Harry! – Gina insistiu.


 


   Hermione viu a imagem de um Harry impaciente controlar sua loucura.


 


- Apenas, me deixe a sós com ela, Gina! – Harry tornou a dizer porém dessa vez sua voz saiu mais ríspida.


 


   Gina não ousou retrucar. Hermione a viu abandonar a maçaneta da porta irritada dando espaço para que o outro pudesse passar. Assim que Harry entrou o coração dela pulou ao vê-lo. No mesmo instante ele travou enquanto a olhava de cima a baixo.  O silêncio acomodou-se novamente entre eles enquanto ele simplesmente a admirava.


 


- Deus do céu, Hermione... – ele murmurou enquanto a encarava quase em transe. – Deus do céu... – sussurrou enquanto fechava a porta sem tirar os olhos dela. – Chega a ser uma ofensa dizer que você está linda.


 


   Ela quis sorrir mas dessa vez não conseguiu. Todos quando a viam diziam que estava linda e ela simplesmente enchia seu ego, mas escutar de Harry era quase como levar uma facada.


 


- O que faz aqui, Harry? – ela perguntou embora estivesse receosa pelo que fosse escutar.


 


   Harry precisou de um momento para se compor enquanto aceitava o fato de que tornaria a agir como aquele Harry que abandonara em Hogwarts. Ele se aproximou dela enquanto lutava para não deixar seus olhos desviarem do dela.


 


- Quero que diga pra mim que ama Rony. – ele finalmente pediu.


 


   Hermione manteve seus olhos fixos nos dele enquanto processava suas palavras em silêncio. No segundo seguinte ela apenas forçou um riso confuso.


 


- Harry, eu já disse isso milhões de vezes...


 



 


 


- Não, Hermione! – ele a cortou e ela se retraiu pela voz forte do homem. Se havia algo que chamava mais atenção em Harry além de seus olhos e toda aquela masculinidade que ele exalava era sua voz. - Eu quero que olhe pra mim e diga pra mim que ama outro homem.



 



   Ela precisou apenas de um meio minuto exato, precisou apenas desse meio minuto para finalmente reagir a surpresa que Harry estava lhe fazendo. Seus olhos se estreitaram e ela sorriu incrédula.



 


- Inacreditável, Harry... – ela murmurou dando um passo para trás. Ele a olhou confuso esperando que ela pudesse esclarecer sua reação. – Inacreditável... – ela tornou a rir daquele mesmo jeito desviando os olhos dele balançando a cabeça de um lado para o outro. – Três anos desde o dia que você matou Voldemort e agora que eu estou me casando com Rony você vem correr atrás do prejuízo?


 


   Harry soltou o ar cansado e esfregou a testa desconfortável.


 


- Hermione... – começou. – Tem que entender...


 


- Tenho que entender? – ela o cortou e dessa vez foi a vez dele se retrair com o tom exaltado que ela começara a usar. – Eu sempre tenho que entender! Sempre tive que entender! – ela o encarou e abriu seus olhos mostrando a dor que ela guardava há anos escondido ali dentro. – Eu nunca te questionei quando suas decisões me feriam porque eu sempre te entendi, Harry! Mas acho que sempre te entendi errado, porque quando matou Voldemort nós continuamos exatamente do mesmo jeito e eu vi que todo o tempo que eu te esperei foi em vão! – ela sentiu o nó subir em sua garganta assim que lembrou dos dias em que o esperou e nada simplesmente aconteceu. – Um ano e meio pra nos livrarmos de Voldemort e quando isso aconteceu eu pensei que havia me esquecido, que havia conseguido esquecer daquele dia no lago... – ela parou e teve que parar de encará-lo. – Eu lembrei de quando me disse aquela noite que não me amava. Quando me disse aquilo eu vi em seus olhos que estava mentindo, mas então eu acreditei que talvez eu pudesse ter me enganado. Talvez realmente não me amasse e eu esperei por você bobamente.


 


- Merlin, Hermione! Você sabe que eu menti! – ele apressou-se a dizer. – Como eu poderia não te amar! – ele exclamou. – Aquela noite isso ficou claro pra mim e pra você e nós não precisamos nem falar um para o outro. Mas foi só uma noite! Só um beijo, Hermione. Foram só alguns minutos que fomos um para o outro mais do que amigos. Naquela noite nós sabíamos que você gostava de Rony e que eu estava dando um tempo com Gina. Quando matei Voldemort ela já estava esperando por mim e Rony já estava louco por você! – ele pausou esperando que ela fosse dizer alguma coisa mas ele apenas a viu ficar em silêncio. – Lembro que aquela noite nós conseguimos entender que nunca nos esforçamos realmente um com o outro porque de alguma forma nós sabíamos que já éramos um do outro. – ele viu ela desviar seu olhar do dele. – Eu via que você era minha quando nos olhávamos, quando nos tocávamos de algum jeito, quando trocávamos palavras. Você era minha e isso me confortava embora você estivesse cada vez mais distante de mim em seu relacionamento com Rony. Eu pensava que estávamos tentando de algum jeito nos livrarmos deles para ficarmos juntos, mas hoje de manhã eu acordei e percebi que seu casamento com Rony poderia dar certo e se desse... – o medo que o invadira pela manhã tornava a bater forte contra ele fazendo com que ele tivesse que pausar e respirar fundo. – Se der certo eu vou te perder, Hermione. – disse finalmente. – Não exatamente te perder porque sempre será minha, mas vou perder a chance de estar com você e é isso que eu quero. Eu quero você comigo! Quero que os outros saibam que é minha, quero mostrar meu amor por você a todos! Quero estar com você quando eu acordar, quando eu chegar do trabalho, quando eu for dormir, quero conversar com você durante o jantar, quero te aninhar de noite, quero que você seja minha mulher, quero filhos, eu quero o meu futuro com você, Hermione.


 


   Ele a viu soluçar e quando ela tornou a olhá-lo seus olhos estavam contendo as milhões de lágrimas que estavam prestes explodir. Ela levou os dedos trêmulos para cobrir sua boca. Fechou os olhos e as lagrimas rolaram pela sua bochecha.


 


- Eu também quero, Harry. – ela disse com sua voz fraca e embora seu tom tivesse sido sincero em seus olhos havia uma dor aparentemente insuportável. – Isso foi tudo que eu sempre quis desde aquela noite no lago. – ela deu as costas a ele e chorou.


 


   Harry se aproximou cuidadosamente por trás da mulher e tocou seu ombro descoberto com carinho sentindo sua pele fria contra a quente dele.


 


- Eu tenho uma casa no norte da Escócia. – ele começou com a voz tênue. – Se vier comigo agora podemos ficar lá até os ânimos se acalmarem por aqui. – ela negou com a cabeça ainda incapaz de falar. Ele murchou os ombros e soltou o ar cansado. – Hermione, isso é tudo que nós queremos. Nós dois sozinhos, vivendo juntos, sem perigos, sem Voldemort, apenas desfrutando do nosso amor, da nossa amizade íntima, do nosso relacionamento perfeito. Se lembra? Nós seriamos um casal perfeito...


 


- Harry, não! – ela quase gritou tornando a virar-se ao mesmo tempo que procurava manter-se distante. – Pare de por mais vida nos meus desejos que com tanta dificuldade eu luto para enterrar! – ela disse e ele a encarou confuso. – Você mesmo que disse que depois de Voldemort Rony e Gina impediu que você viesse até mim! Estava certo, isso era o mínimo que poderia fazer! Eles se colocaram em risco e sacrificaram tantas coisas para te ajudar a derrotar Voldemort! Eu apenas fui idiota de não te compreender mais uma vez! Mas não pode mudar isso agora, Harry! Quer que eu vá embora com você e abandone Rony no altar? Eu estou me casando, Harry! Quer ir embora comigo e deixar pra trás uma Gina apaixonada que sonha com o dia que você vai pedi-la em casamento? - Ela disse e Harry apenas manteve-se calado enquanto percebia como seria desumano fazer o que queria que ela fizesse. – Harry, se há algo que eu não quero que sejamos é egoístas e se pra ficarmos juntos temos que trair as pessoas que sempre nos ajudaram, nos amaram nos deram abrigo por muitas e muitas vezes e correram perigo para te ajudar, eu vou me esforçar para agüentar a dor de ficarmos separados. Nós sobrevivemos todo esses tempo separados. Podemos fazer isso pelos nossos amigos.


 


   Harry apertou o queixo e engoliu em seco enquanto era obrigado a concordar com a mulher. Deu as costas a ela e andou desnorteado pelo quarto até se jogar no pequeno sofá próximo a janela apoiando os cotovelos sobre os joelhos e enterrando o rosto em suas mãos.


 


- É tarde demais para nós dois? – ele perguntou mais para ele do que para ela enquanto enfiava seus dedos nos cabelos negros.


 


   Hermione mordeu os lábios, fechou os olhos e fungou.


 


- Creio que nunca teve um momento certo para nós dois, Harry. – ela conseguiu fazer com que suas palavras doessem não só nela mas também nele. O silêncio veio como sempre, mas foi tão doloroso que Hermione teve de se esforçar para não mantê-lo por muito tempo. Se aproximou do amigo receosa e fungou novamente. – Rony me faz bem... – foi o que conseguiu dizer esperando que aquilo fosse confortador, mas assim que disse soube que não fora uma idéia saudável.


 



 


 


- Meu erro. – ele murmurou para si mesmo antes de erguer a cabeça e tornar a trazer a amiga para o seu campo de visão. – Me desculpe te fazer passar por isso no dia do seu casamento. – ele se levantou. – Você está certa. Eu fui impulsivo... – ele parou e relaxou os ombros. Aproximou-se da outra e tocou seu rosto com carinho olhando fundo em seus olhos. – Você precisa fazer com que esse casamento dê certo, eu sei. Você é Hermione Granger e apostou nisso, eu te conheço. Precisa fazer ele dar certo. – ele disse e a frustração em seus olhos era clara. – Eu sou quem precisa pelo menos uma vez te entender e não questionar quando alguma decisão sua me ferir.



 



   Ela não pode deixar de abrir um sorriso triste para o amigo.



 


- Não faça a besteira de me esperar assim como eu fiz com você. – ela tocou seu ombro. – Vai ser menos doloroso. E se tentar nos esquecer, embora isso seja impossível. – ela sorriu. – Nos esquecer é impossível. – comentou a parte. – Apenas tente, por alguns minutos você poderá ter sucesso e até de vez enquanto vai conseguir abrir um sorriso.


 


   Ele a olhava sem conseguir esconder o sofrimento de estar abrindo mão dela e a entregando na mão de outro. Logo ele que achava que depois de Voldemort sua vida finalmente seria como ele queria que fosse, mas havia hesitado em magoar Gina, havia esperado um bom momento para ter Hermione e quando foi que esse tempo todo a levou a um casamento? Ele mal conseguia se lembrar de que haviam de passado três anos! Eles havia esperando pelo momento certo por três anos? Por que sempre fazia estupidez?


 


- Eu amo você, Hermione. Quero que saiba disso. – ele disse acariciando sua bochecha. – E isso nunca vai mudar porque eu nunca não te amei e não sei não te amar.


 


   Ela sorriu sonhadora e fechou os olhos por um momento saboreando e guardando as palavras de Harry no mais seguro baú de seu coração. Tornou a abri-lo e encarou os verdes dele.


 


- Eu amo você, Harry. – ela disse. – Só você. – concluiu.


 


   Ele beijou a testa da outra e desceu querendo sentir depois de tantos anos os lábios dela que ainda estavam gravados em sua memória, porém a proximidade ao qual ficaram já denunciara o perigo do egoísmo ao qual Hermione mencionara. Ele era melhor amigo de Rony e Gina era dama de Hermione. Afastaram-se dolorosamente um do outro e sem que dissessem mais nada Harry deslizou sua mão para longe do rosto da amiga assim como ela fez com a dela para longe do ombro de Harry. Ele deu as costas e caminhou em direção a porta.


 


- Harry! – ela o chamou e ele parou com a mão na maçaneta. – Nós ainda somos um do outro.


 


   Ele sorriu e assentiu tristemente ainda de costas para ela.


 


- Queria que todos soubessem.


 


- Todos sabem de alguma forma.


 


   Ele virou-se para ela e abriu a porta.


 


- Parabéns, Hermione. Espero que seja feliz... – ele parou, suspirou e concertou. – Eu só quero que seja feliz.


 


   Ela não sorriu. O viu passar pela porta e a fechar com cuidado. Ela desabou sobre o sofá e se encarou no espelho. Já não parecia tão bonita assim. Ela sabia com quem seria feliz, mas ela não seria capaz de abandonar Rony.


 


- Você é louca, Hermione. – disse para si mesma enquanto via sua própria fisionomia triste no espelho.


 


   Havia abandonado sua felicidade com Harry para não destruir o coração de Rony. Ela mordeu os lábios e sentiu sua garganta queimar enquanto as lagrimas embaçavam sua visão. Ela havia abandonado sua felicidade com o homem que realmente amava simplesmente pelo orgulho de ser Hermione e não poder fazer algo errado uma vez em sua vida. Por um momento ela quis rasgar aquele vestido e correr atrás de Harry, ir para aquela casa na Escócia e nunca mais voltar pois sabia que a poeira nunca abaixaria, mas no momento que se seguiu Gina escancarou a porta fazendo-a pular no sofá.


 


- Vamos! – a ruiva dizia eufórica – Está na hora de você entrar! Deus do céu! O que Harry te fez? Eu sabia que não era uma boa idéia. – Ela segurou os braços da amiga forçando-a a se levantar. – Vamos, tem que passar por cima. Tenho certeza que não é nada tão importante! Hoje é seu casamento. – ela sorriu elétrica animando a outra. – Vamos, está na sua hora! Rony está uma pilha de nervos também! Precisa de ver o sorriso sonhador que ele tem estampado na cara!


 


   Ela simplesmente não podia deixar Rony.


 


**


 


- Eu não vou reformar A Toca! – a Sra. Weasley bateu o pé decidida enquanto colocava com atenção a gigantesca panela de sua sopa sobre a mesa comprida do jantar.


 


- Mas mamãe! – Rony insistiu. – É só para darmos uma aparência melhor...


 


- Já chega, Ronald! – ela o cortou ríspida limpando as mãos em seu avental e voltando a alisar o forro da mesa fazendo Harry, que até então apenas presenciava aquela discussão sentando em uma poltrona afastada na sala rir alto. A Sra. Weasley levantou os olhos esperançosos para o filho e juntou as mãos encostando animada os indicadores sobre a ponta de seu queixo gordo. – Guarde seu dinheiro em gringotes para pagar Hogwarts para os meus netinhos! – ela disse e Rony quase engasgou com a própria saliva. – Quando você e Hermione vão me dar o prazer de ter mais netinhos?


 


- Mãe! – ele exclamou envergonhado ao ver Fred e Jorge em um canto da mesa tirarem sarro de sua cara pelo comentário da mãe. – Ainda não faz nem um ano que me casei com Hermione!


 


- Mas faz quase! – ela disse sentando-se no sofá ao lado de Fleur e passando as mãos carinhosamente pelos cabelos loiros do garotinho em seus braços. – Você não pensa em ter mais alguns, querida? – perguntou esperançosa.


 


   Nesse exato momento Hermione e Gina irromperam pela porta da sala conversando animadamente. O sorriso de Gina murchou ao ver que Harry já havia chegado e estava sentado em sua poltrona preferida. Hermione sequer o olhara, apenas pegou a direção de onde o marido se encontrava e postou-se ao lado dele que simplesmente cercou a cintura dela com um de seus braços.


 


- Luna acabou de nos contar que quer passar o natal a sós com seu pai. – Gina informou a todos.


 


- Estranho. – Rony apenas comentou.


 


- Ela adorava estar conosco. – Hermione completou o comentário do marido.


 


   Lupin e Tonks chegaram com os trigêmeos que preencheram a casa com a energia exclusiva dotada apenas a filhos de lobisomem fazendo com que Fred e Jorge encontrassem cobaias para os novos produtos da loja de Zonkos. Todos se entrosavam e trocavam seus círculos de conversa de minuto em minuto. Carlinhos, Gui e Percy discutiam sobre política enquanto logo ao lado Tonks e Fleur trocavam experiências de mães de primeira viagem. Em outro canto afastado da sala a Sra. Weasley explicava a Sra. Granger como o relógio na parede de sua cozinha a ajudara a criar sete filhos sem que ela precisasse se desgastar tanto, já em outro o Sr. Weasley mantinha uma animada conversa sobre trouxas com o Sr. Granger. Gina procurava mostrar que estava se divertindo ao assistir Jorge e Fred entreter os trigêmeos com suas invenções e Harry apenas limitava-se a ficar calado enquanto observava de longe Rony e Hermione que conversavam entre eles. Aparentemente Rony havia comentado o fato da mãe estar exigindo netos e Hermione parecia se divertir com a idéia do marido estar apavorado.


 


   Harry teve que apertar os dentes e engolir em seco ao ver a castanha rir alto de um comentário do ruivo, ficar sobre as pontas dos pés e lhe estalar um beijo rápido nos lábios. Gina a chamou e ela se virou a tempo de poder rir do tamanho da orelha das três pobres crianças. Rony abraçou a esposa por trás e encostou seu queixo no topo de sua cabeça deixando a Harry a visão do olhar perdido que ele lançou sobre o nada, mas o que lhe chamou a atenção foi quando os olhos âmbar de Hermione voltaram-se para os seus verdes. Os lábios dela se esticaram num sorriso amoroso que ele não teve como não retribuir. Ela empurrou com carinho os braços de Rony e se livrou de seu abraço caminhando em direção ao amigo que se mantinha isolado. Ela logo acomodou-se num dos braços da poltrona quando chegou nele.


 


- Vocês dois parecem felizes. – ele logo partiu para o comentário.


 


   Ela riu e revirou os olhos.


 


- Quem vê pensa, não é mesmo? – ela fez uma careta divertida. – Nós brigamos antes de sair de casa e eu pedi para ele não fazer show na frente de nossas famílias como faz em casa. – ela olhou em direção ao marido que agora tinha as mãos dentro dos bolsos da calça e mostrava estar em outro mundo enquanto via a diversão dos gêmeos. – Também pedi para que ele não importunasse a Sra. Weasley novamente com essa história de reformar a Toca, mas claro, ele não me escutou! Você também o conhece e sabe como ele é orgulhoso. – ela comentou sorrindo.


 


   Harry riu.


 


- Assim como você!


 


   Ela estreitou os olhos e voltou a encará-lo.


 


- Assim como você! – retrucou divertida. Eles se encararam em silêncio e não demorou para que o sorriso dela morresse juntamente com o dele. Ela suspirou e passou uma de suas mãos pelos cabelos negros do homem. – Ah, Harry... – ela sussurrou. – Te ver só mexe numa dor que eu escondo em mim.


 


- Eu estou bem, Hermione. – ele apressou-se a dizer.


 


   Ela negou com a cabeça.


 


- Por que terminou com Gina?


 


   Harry teve de suspirar como se estivesse cansado das pessoas perguntarem isso a ele, porém finalmente ele teria a chance de dizer a verdade.


 


- Eu estava embaçando a vida de Gina. – ele começou. – Ela quer casar, quer ter filhos, quer ter uma família. Ela merece amar e ser amada, Hermione, ela é uma mulher incrível! Eu não poderia dar isso a ela, eu não sei o que é viver uma família, cresci sendo excluída de uma! Eu só me sentiria seguro em construir uma com apenas uma única pessoa.


 


   Hermione desviou o olhar quase que imediatamente.


 


- Não acho que vá encontrar alguém melhor do que Gina para construir uma família. – ela apressou-se.


 


   Harry soltou um riso fraco pelo nariz enquanto levava seus olhos em direção a Gina que se divertia com os gêmeos e lançava olhares perdidos vezes ou outra para Harry.


 


- Hermione, fique tranqüila. – ele começou. – Eu vou encontrar alguém para jogar o mesmo jogo que você joga com Rony. Gina merece ser amada, ela se sacrificou muito por mim quando Voldemort ainda era vivo.


 


      Hermione o olhou rispidamente.


 


- Não fale do meu casamento com essa irônia.


 


   Ele suspirou percebendo seu erro cobriu a mãos dela com a sua.


 


- Me desculpe...


 


- Harry. – ela o cortou. – Nós temos que parar de nos metermos nesse assunto sempre que começamos a ser sinceros demais... – ela pausou. – Nós estamos tentando... – pausou novamente. – Você sabe! – terminou.


 


   Harry suspirou.


 


- Tem toda razão. – ele disse enquanto soltava a mão dela, desviou o olhar, ponderou e sorriu. – Sabe que você sempre soube lhe dar com as situações melhor do que eu, por isso está com Rony e lutando contra nós enquanto eu ainda procuro lhe dar com isso embora vacile muitas vezes. Você sabe como as coisas funcionam comigo. Mas você sabe que eu sempre consigo no final mesmo sendo de algum jeito desajeitado. – ele disse e ela não deixou de sorrir.


 


   Gina chamou por Hermione e ela ergueu o olhar para a ruiva dizendo a ela que já estava indo. Rony passou por eles em direção a cozinha e Hermione o acompanhou com o olhar enquanto se levantava da poltrona de Harry.


 


- Ele está assim faz dias. – Hermione disse a Harry tratando sobre o Rony que passara por eles distante e perdido. – Por favor converse com ele.


 


   Harry fez uma careta a ela como se não estivesse muito a fim. Hermione apenas lançou a ele um olhar para que ele parasse de besteira e se apressasse. Ele por sua vez revirou os olhos e levantou-se da poltrona a contra gosto tendo que ir atrás do outro. Hermione foi até Gina enquanto ele dava as costas, passava pelo hall da escada e entrava na cozinha a tempo de ver Rony abrir a tampa de uma cerveja amanteigada.


 


- Ah, Harry. É você... – ele disse quando percebeu a presença do amigo depois de muito tempo que ele já havia entrado. – Quer uma cerveja?


 


- Por favor...


 


   Rony pegou outra e passou para Harry que a abriu e tomou um longo gole demorado.


 


- Hermione me contou de sua missão na Rússia. Vai quando? – perguntou o ruivo sentando-se numa cadeira velha de madeira.


 


- Amanhã. – Harry respondeu recostando-se na bancada da pia e cruzando os braços.


 


- Cedo assim? – perguntou Rony erguendo as sobrancelhas surpreso.


 


- Sim! Preciso ficar longe da Grã-Bretanha por um tempo. A imprensa está cada vez pior! Eles não param de me seguir, de tirar fotos, de inventar histórias. Conseguiram um jeito de enviar solicitações ao meu patrono para tentarem se comunicar comigo que deixou minha varinha simplesmente louca! Se não fosse por Hermione eu certamente teria a perdido!


 


   Rony sorriu.


 


- Espero que não demore, cara.


 


- Não vou. Estarei de volta no início do ano.


 


- Isso é bom.


 


   O silêncio caiu sobre eles e Harry notou que Rony não ousava fixar muito seu olhar no dele como se tivesse algo para esconder que poderia ser revelado em seu olhar. Embora Harry gostasse do amigo, sentia que poderia destruir aquela bela cara com seu punho a qualquer momento e não era pela inveja de saber que Hermione era sua mulher já que isso realmente nunca o fizera sentir vontade de socar Rony.


 


- Estranho, não acha? – ele começou escondendo o tom de sua malícia.


 


   Rony ergueu o olhar intrigado.


 


- Estranho o que?


 


- O fato de Luna desistir de passar o natal conosco.


 


   O ruivo desviou o olhar tratando de se ocupar rapidamente em beber sua cerveja.


 


- É. – concordou ele. – Estranho.


 


   O silêncio. Harry viu que Rony não falaria nada até que ele fosse mais direto.


 


- Você ficou outra pessoa quando Gina disse isso a todos. – ele tentou novamente.


 


   Rony franziu o cenho.


 


- Está vendo coisas... – o ruivo murmurou.


 


   Harry suspirou cansado.


 


- Rony você não me enga...


 


- Certo, Harry! – o outro quase gritou fazendo Harry parar. Rony se levantou incomodado e Harry o viu soar frio deixando a garrafa de cerveja sobre a pia da mesa. – Eu dormi com Luna. – Rony sussurrou alto o suficiente para que somente Harry escutasse.


 


   Ah, não! Era pior do que ele imaginava! Harry sentiu seus dedos tremerem e teve que controlar seus punhos. Fechou os olhos e respirou fundo contando até cinco para manter sua raiva controlável. Os abriu e percebeu que seus olhos verdes pegavam fogo de ódio. Bateu a cerveja contra a pia e a deixou lá fazendo com que o barulho sobressaltasse o ruivo. Ele se aproximou do outro e começou com os dentes cerrados, a voz rouca e as unhas dolorosamente cravadas sobre a palma da mão:


 


- Como tem coragem de tocar Hermione, se casar com ela, dizer que a ama, dormir com outra mulher e voltar para a casa?


 


   Rony o olhava espantado.


 


- Tudo bem Harry, não é pra tanto...


 


- Não é pra tanto? Você está traindo Hermione, Rony!


 


   O ruivo olhou desesperado para a porta.


 


- Cala a boca, Harry! Alguém pode escutar!


 


- Bem que todos poderiam escutar! – Harry elevou o tom de voz e Rony suou frio.


 


- Por favor, cara! Não conte a ninguém!


 


   Harry soltou um riso irônico, deu as costas enfiou a mão nos cabelos e soltou forte o ar virando-se de uma vez e socando com força a bancada da pia. Rony deu um passo para trás.


 


- Droga, Rony! – Harry exclamou – Tem noção do quanto Hermione se esforça por esse casamento? Tem noção das coisas que ela abriu mão pra estar com você? Ela é Hermione, Rony! Esse casamento é um desafio pra ela e se de alguma forma isso falhar ela vai levar a culpa pra sempre mesmo ela sendo toda sua! Você vai destruí-la! – Ele se aproximou novamente do outro que sequer ousou recuar embora estivesse com medo da reação do amigo. – Se não tem consideração pela sua própria mulher, aquela que você leva pra cama e depois trai com outra, por favor, se lembre da amizade que tinham e vê se pelo menos por ela você consegue um pouco de respeito por Hermione. – Ele deu as costas para sair da cozinha mas antes que pudesse fazer isso voltou-se para Rony novamente e apontou o dedo em direção a ele tornando a vociferar. – E não ouse ficar encostando muito nela quando sair dessa cozinha porque toda vez que eu ver essa sua mão imunda tocá-la meu punho vai coçar pra tentar te destruir!


 


   Rony engoliu em seco e Harry deu as costas a ele tomando o rumo da saída.


 


- Não sabe como eu me culpo todos os dias por ter feito isso a ela, Harry...


 


- Não é o suficiente! – ele o cortou parando antes de sair da cozinha. – Hermione abriu mão de coisas muito fortes por você, por respeito a você e aos seus sentimentos! Ela se privou de muitos sonhos pra estar com você e faz isso a ela agora? – ele se virou e Rony estranhou ao ver que nos olhos do amigo havia dor. – Eu confiei ela a você quando se casaram!


 


- Diz como se ela fosse sua...


 


- Ela é minha! – exclamou Harry e logo se calou ao perceber que estava indo longe demais.


 


   Uma longa pausa fez com que suas respirações ecoassem pela cozinha silenciosa.


 


- Vou concertar o meu erro... – Rony murmurou não ousando contradizer o amigo.


 


- É o mínimo que pode fazer!


 


   Foi a última coisa que Harry disse antes de deixar o ruivo sozinho.


 


**


 


   Harry escutava Rony enquanto era guiado da sala para a cozinha, mas pouco dava importância em realmente compreender o que dizia o amigo. Era a primeira vez que estava se aventurando em ir a casa de Rony e Hermione e apreciava cada detalhe, não podia deixar de ver que em cada mínima coisa havia o toque de Hermione.


 


   Era um simples apartamento sobre alguns comércios na rua detrás do centro do Beco Diagonal, um tanto quanto pobre em salubridade mas bem cuidado com o toque vintage e inglês que provavelmente Hermione procurava manter em cada parede e móvel. Era o suficiente para que Harry pudesse saber que aquele era o lugar exato onde Hermione não gostaria de morar.


 


- ...Então eu disse que onde eu morava não havia garagem e acredite ou não Harry, ele me mostrou um que se compactava a um modelo em miniatura! – exclamou Rony no ápice de sua alegria enquanto puxava uma gaveta e pegava uma cerveja amanteigada. Perguntou se o amigo queria e ele negou. – E se não bastasse... – ele continuou - ...o carro tinha piloto automático para qualquer lugar da Grã-Bretanha, voava a velocidades acima de sete mil quilômetros por hora além de ficar invisível, ter o porta-malas com tamanho regulável, banheiro e ainda converter todo o painel para o modelo trouxa caso você resolva dar uma volta pelo mundo deles! – o ruivo praticamente jogou-se sobre a cadeira da cozinha. – Precisava de ver Harry, era um carro e tanto!


 


- Mas você não precisa de um carro agora. – Disse Harry recostando-se na bancada da pia e cruzando os braços. – Vocês moram na rua atrás do centro. Tem uma entrada para o ministério a menos de cem passos da porta desse apartamento! Além do mais, tudo que vocês precisam está no Beco Diagonal e ele está logo ali.


 


   Rony fez uma careta.


 


- Foi exatamente o que Hermione disse! Ela disse que só teríamos um carro caso fossemos viajar para algum lugar fora da Inglaterra. – o ruivo tomou um gole de sua cerveja. – E sinceramente, viajar com Hermione é a última coisa que eu quero agora!


 


   Foi a vez de Harry fazer uma careta.


 


- Por que? Ela é sua esposa! Deveria ter prazer em ficar com ela.


 


   Rony soltou um riso irônico pelo comentário do amigo. Suspirou e tomou mais um gole demorado de sua cerveja desviando o olhar do outro.


 


- Sabe como é... – ele começou. – As coisas não são as mesmas desde de Luna...


 


- Não me lembre dessa história, Rony! – Harry o cortou rispidamente.


 


   Rony se levantou e deu as costas ao outro.


 


- Ah cara! Se soubesse como foi mágico estar com ela. – ele abaixou a cabeça – E ela nem quer me ver agora.


 


- Você a seduziu! Sabe que ela se sente culpada por trair a amizade de Hermione.


 


- Eu sei! Eu sei que é exatamente por isso! – ele passou as mãos pelos cabelos andando de um lado para o outro.


 


- Não ouse abandonar Hermione, Rony...


 


- Eu sei! Eu sei! – ele virou para Harry. – Eu sei! Prometi amar, respeitar, blábláblá! – ele se recostou ao lado de Harry na bancada. Soltou outro suspiro e tomou mais um gole. – Gosto de Hermione, Harry! Gosto muito! Eu a amo. Mas não é mágico com ela como foi com Luna. Estar com ela me fez repensar tantas coisas. Foi como estar tão livre... – ele ponderou. – Mas eu escolhi Hermione primeiro e é ela quem eu devo respeitar e amar! Hermione é linda e boa, não é tão difícil. Mas me diga. – ele tentou mudar logo o assunto. – Terminou mesmo com Cho de novo?


 


   Harry ficou agradecido por ele ter trocado o foco da conversa. Sempre que escutava o nome de Luna sair da boca de Rony tinha vontade lhe cortar a língua.


 


- A verdade é que ela terminou comigo. – informou Harry e Rony ficou surpreso. – Tê-la encontrado na Rússia foi quase um presente da vida. Eu pensei que talvez ela fosse a mulher certa pra estar comigo, mas a verdade é que ela continua sendo a mesma Cho que era no nosso quinto ano. Ela disse que o tempo que moramos juntos desde que voltamos da Rússia mostrou a ela que eu nunca seria capaz de amá-la. Disse que eu não era “presente” em nosso relacionamento e que nada daria certo enquanto só ela se esforçasse para que nós ficássemos juntos. – Harry suspirou sabendo que havia perdido a única mulher que merecia suportar sua companhia apenas para que ele não fosse um homem sozinho. – Mas talvez tenha sido bom que ela tenha ido. Algo a menos pra me preocupar porque eu realmente me esforçava em tentar agradá-la, mas nunca estava dando tudo de mim, nunca conseguiria dar tudo de mim... – ele queria terminar explicando que não a amava, mas percebeu que não estava falando sozinho e sim com Rony. Limpou a garganta e concluiu. – Bem... o que eu passo em minha vida quanto a mulheres é um tanto complicado.


 


   Rony riu.


 


- Você sempre teve problemas com mulheres. – disse o ruivo e Harry riu falsamente. Claro, ele sempre pertencera a apenas uma.


 


   A porta da sala se abriu e Hermione passou por ela tirando o sobretudo e o cachecol pendurando-os no cabideiro ao lado da porta. Ela ergueu o olhar cansado e o passou pela sala até chegar a cozinha. Abriu um sorriso curioso. Ele podia ver naquele sorriso e em todo outro qualquer que ela lhe lançava o amor por ele que ela escondia. Hermione se aproximou fazendo a madeira ranger ao descer os poucos degraus que davam para o ambiente dos dois homens.


 


- Harry? – ela fez soar aquela voz amável e ele apreciou aquele doce momento que só acontecia para eles quando se dirigiam um ao outro. – Nunca veio aqui.


 


   Ele deu de ombros descruzando os braços e enfiando as mãos no bolso da calça.


 


- Rony quase ajoelhou no meio de todo o departamento de aurores implorando para que eu viesse. - o tom que ele usou foi divertido.


 


   Foi a vez de Rony receber o olhar e o sorriso curioso de Hermione. Ela se aproximou do ruivo e ele a cercou pela cintura. Deram um beijo rápido que fez Harry ter que desviar os olhos ao se sentir desconfortável.


 


- O que você está aprontando, Rony? – ela indagou soltando-se do homem.


 


- O que tem de mais em trazer meu amigo para casa pra bebermos um pouco e conversarmos?


 


   Hermione cerrou os olhos e pôs as mãos na cintura passando-os de Harry para Rony e de Rony para Harry.


 


- Não sei não... – ela comentou baixo. – Conheço vocês dois!


 


   Harry não deixou de sorrir por ver ali a Hermione-sabe-tudo de Hogwarts. A viu balançar a cabeça de um lado para o outro, dar as costas, subir novamente os degraus e sumir pelo curto corredor que estava ligado a sala.


 


 - Hermione tem razão em desconfiar que você está aprontando alguma coisa? – perguntou Harry receoso. Rony engasgou-se com a cerveja fazendo ser a vez de Harry cerrar os olhos. – Me tire dessa história, Rony!


 


- Não, você está fora dela! – Rony partiu-se para explicar. – É que com você aqui eu talvez possa me livrar do sermão que...


 


- O que está aprontando afinal? – cortou Harry.


 


   O ruivo revirou os olhos e voltou a se sentar na cadeira da cozinha.


 


- Se lembra de quando eu disse que queria fazer testes para goleiro? - começou Rony receoso.


 


   Harry ergueu as sobrancelhas surpreso.


 


- Por Deus, Rony! Você sabe que Hermione jamais...


 


- Eu sei! – cortou o outro. – Mas eu realmente quero lutar pelo...


 


- RONALD WEASLEY! – o berro de Hermione veio abafado do quarto. Harry viu Rony estremecer e não demorou para que a mulher voltasse marchando para a cozinha. – Harry! Nos deixe as sós! – havia raiva em seus olhos.


 


- Nem pense em sair por aquela porta! – exclamou Rony assim que viu o amigo desencostar-se da bancada.


 


- Fora, Harry! – Hermione foi clara.


 


- Nem pense! – tornou a exclamar Rony. Ele se levantou deixando a cerveja sobre a mesa. – Pare de esconder dos outros quem realmente somos, Hermione! Você sempre quer vender a imagem de que somos um casal perfeito! Principalmente para Harry! Principalmente pra alguém que sabe como nós realmente somos!


 


   Hermione recebeu o baque da direta e Harry quis repreender o amigo por ter dito aquilo. Ela se abalou, mas não foi por muito tempo. Logo ela voltava a cerrar os olhos.


 


- Não venha jogar a culpa em mim, Rony! Eu me mato por esse casamento dia pós dia e você me aparece com isso! – ele levantou o papel que tinha em suas mãos na altura dos olhos azuis do outro.


 


- Não é pra tanto, Hermione! Nós já conversamos sobre isso...


 


- Nós não conversamos, nós brigamos! Aliás, - ela se corrigiu. – VOCÊ brigou! Eu tentei ser amável e compreensiva, dando as devidas justificativas para o quanto isso seria prejudicial ao nosso casamento, mas você NUNCA me escuta, Ronald Weasley! Eu estou farta e agora é a MINHA vez de brigar!


 


   Rony forçou um riso alto.


 


- Pois brigue! Brigue e mostre a Harry que nós nunca mudamos, que continuamos sendo o mesmo tipo de casal da época de...


 


- PARE DE MUDAR O FOCO DA DISCUSSÃO! – Hermione o fez parar e ele a olhou assustado. – Eu não sou idiota, Rony! Você trouxe Harry aqui pra mostrar a exata cena que ele está vendo nesse momento pra que você possa justificar o porque de estar me traindo com Luna!


 


   Rony e Harry ergueram as sobrancelhas no mesmo instante e o ruivo logo procurou o amigo para acusá-lo, mas ao ver o mesmo olhar surpreso do seu ele teve a certeza de que Harry não havia contado nada. Até porque ele sabia que Harry não iria agüentar ver a decepção da amiga depois de defendê-la do jeito que a defendeu quando contou ao amigo sobre ele e Luna.


 


- H-Hermione... – Rony gaguejou sem ter uma reação. – C-Como...?


 


   Ela olhou de Harry para Rony.


 


- Eu não sou idiota! – repetiu veementemente. – Parece até que não cresceram comigo! – Parou seu olhar sobre os azuis do ruivo e os manteve ali por um bom tempo enquanto lutava para que sua raiva escondesse a dor da decepção. Seus olhos marejaram involuntariamente e ela sentiu sua garganta queimar. – Por que me pediu em casamento mesmo sabendo que o nosso relacionamento era desgastante? – ela disse com a voz fraca. – Estou começando a pensar que a forma como me tratava antes de nos casarmos era apenas um jeito de me manipular emocionalmente, Rony. Quando foi que você se tornou tão orgulhoso? Será que foi quando eu comecei a pedir perdão pelas nossas discussões quando antes eles vinham sempre de você? Será que eu te acomodei tanto assim? Te acomodei ao ponto de você me trair com Luna e ainda querer arrumar uma desculpa para estar constantemente longe de casa? – ela jogou o papel sobre a mesa. – Pois se quiser aceitar essa convocação, Rony, vá! Pode ir! – ela sorriu tristemente. – Não sabe o quanto eu vou ficar feliz por estar livre!


 


   Somente Harry foi capaz de perceber o tom leve com que ela havia dito suas últimas palavras. Hermione deu as costas e tornou a sumir pelo corredor. Rony desmoronou sobre a cadeira novamente fechando os olhos e bufando alto. Harry se sentiu desconcertado. Foi como presenciar novamente as pequenas discussões de Rony e Hermione em Hogwarts que os deixavam sem se falar por dias.


 


- Bem... – Harry cortou o longo silêncio. – Creio que vocês dois tenham muito o que conversar. – ele começou a tomar a direção da sala.


 


- Não Harry! – Rony o fez parar. Harry se virou para retrucar irritado a insistência do outro de mantê-lo ali, mas Rony tomou a fala antes. – Por favor, vá falar com Hermione.


 


- Falar o que? – Harry guinchou. – Te defender e dizer que ela está matando o seu sonho? Eu poderia dizer que você já matou muitos dela também!


 


- Não, Harry! – Rony apressou-se. – Ela está devastada por eu ser tão egoísta, e você a conhece muito melhor do que eu! Você sabe exatamente o que dizer para fazê-la ficar melhor, eu sei Harry! Vocês dois tem aquela coisa perfeita de fazerem bem um ao outro... – Rony disse fazendo uma careta e gesticulando com as mãos. – Fale com ela, por favor.


 


- Isso é algo que deve ser feito por você, Rony. Você é quem deve fazer bem a ela! Eu não sou o marido dela!


 


- Eu sei... – ele disse pesaroso enquanto abaixava a cabeça. – Mas as besteiras que eu faço não são reparadas assim tão facilmente. – ele pegou o papel sobre a mesa e o encarou pesaroso. – Não vou. – murmurou baixo. – Não posso fazer isso a Hermione. – ele amassou o papel e suspirou. – Vou contar a ela tudo sobre Luna. Dizer que não vou aceitar a intimação e nós vamos ficar bem. Hermione tem me perdoado por muitas besteiras minha só para que o nosso casamento não morra e eu estou sendo egoísta. Por mais que eu esteja me sentindo sufocado foi uma decisão minha se casar com ela. Ela vai me perdoar e eu prometo nunca mais fazer mal a ela e finalmente lutar por esse casamento assim como ela luta. Se fizermos isso juntos será mais fácil.  – ele sorriu tristemente. – Mas agora ela não vai querer me ver nem pintado.


 


   Harry sentiu-se mole. Eles eram Rony e Hermione, por mais que discutissem sempre arrumavam um jeito de se perdoarem. Uma hora eles sempre abriam mão do orgulho e se rendiam ao afeto que tinham.


 


- Não acho que se eu fosse falar com Hermione agora eu faria bem a ela.


 


- Você sempre faz bem a Hermione, Harry! – Rony insistiu. – Vá, por favor! Diga a ela que eu não tenho mais nada com Luna, que foi só uma noite e que desisti dela pelo meu casamento. É uma porta no final do corredor. Ela sempre vai pra lá quando brigamos. Por favor!


 


   Harry hesitou. Hesitou apenas por estar evitando conversar com Hermione porque sabia que assim que o fizesse a magoaria. Mas talvez a situação estivesse conveniente embora ele soubesse que seria doloroso. Respirou fundo e seguiu pelo pequeno corredor até chegar a porta fechada logo ao fim dele. Hesitou novamente, porém logo ergueu a mão e deus duas leves batidas na porta.


 


- Hermione? – nada  – Sou eu, Harry.


 


   Não houve resposta, mas ele sabia que era bem vindo. Era como sentir ela gritar seu nome do outro lado embora ela estivesse se privando da cena. Ele girou a maçaneta com cuidado e a porta se abriu. Entrou e a fechou. Era a biblioteca de Hermione, claro. Ela estava afunda numa poltrona próxima a uma lareira. Aproximou-se com calma e se sentou numa mesinha de centro ficando de frente para a amiga.


 


 - Me desculpe pelo que viu. – ela falou baixo depois de um longo minuto que ficaram em silêncio.


 


   Ela mantinha-se de cabeça baixa e ele apenas a observava com amor. Balançou a cabeça de um lado para o outro pelo comentário da amiga.


 


- Tudo bem, Hermione. Eu cresci vendo você e Rony brigarem ao meu lado.


 


   Ela fechou os olhos e soltou o ar.


 


- É diferente agora, Harry. Nós éramos amigos e as coisas deveriam ter mudado a partir do momento que ele disse que me amava. – ela suspirou e levantou os olhos para Harry. – É como se fosse uma ferida. Nós brigamos e abrimos a ferida, quando arrumamos um jeito de nos desculpar nós tampamos os olhos para ela, mas então voltando a encará-la quando brigamos novamente e a cada vez ela vai ficando pior. Nós tampamos os olhos para ela, mas ainda sim ela vai estar ali. Tenho medo do dia que essa ferida estiver tão feia que nos impeça de tamparmos novamente os olhos.


 


   Ele deixou que ela tivesse seu momento e então disse:


 


- Rony pediu para que eu te dissesse que ele não tem mais nada com Luna e que a deixou pelo casamento de vocês.


 


   Hermione suspirou e deu de ombros.


 


- Ele ter me traído com Luna não me afeta. Eu não o amo como deveria amar e sinto que ele também não me ama como pensa que ama. Apenas fico decepcionada por ele sempre procurar destruir tudo que eu faço pelo nosso casamento.


 


- Ele disse que também vai lutar pelo casamento junto com você.


 


   Ela abriu um fino sorriso.


 


- Isso seria justo. – disse e deixou seu sorriso ir embora.


 


   Ele estendeu sua mão e pegou a dela aquecendo-a entre as suas. Desviou seus olhos verdes para suas mãos unidas e respirou fundo. Não teria coragem de falar o que tinha que falar enquanto olhava em seus olhos.


 


- Hermione... – Começou porém deteve-se ao hesitar. Apertou forte o queixo contra sua mandíbula e engoliu em seco. – Eu estou deixando a Inglaterra na semana que vem. – finalmente disse.


 


   O silêncio durou enquanto ela processava as palavras do homem a sua frente. Ela não conseguia entender o tom deprimente com que ele dizia aquilo. Harry era um auror muito importante e as missões mais pesadas eram sempre destinadas a ele levando-o constantemente para fora da Inglaterra.


 


- Por quanto tempo? – foi o que conseguiu perguntar. Geralmente era sempre o que perguntava quando Harry lhe contava de alguma missão fora de Londres. Ela contava os dias para que ele voltasse, era quase que uma tortura não tê-lo por perto.


 


- Creio que pra sempre. – ele teve que limpar sua garganta antes de informar a ela.


 


   Pode ver o sangue fugir das veias da mulher a sua frente e sentiu os dedos dela tremerem entre suas mãos. A expressão dela se contorceu num misto de susto e incredulidade.


 


- Não! – ela disse fraca. – Mas por que?


 


- Eu não podia te contar isso Hermione, mas você é a pessoa em que eu mais confio e a única que eu amo. Preciso que guarde esse segredo e não conte pra ninguém. Ninguém, Hermione. – frisou ele.


 


- Não pode ir... – ela sussurrou e deixou sua voz morrer.


 


   Ele ergueu os seus olhos e encarou os dela que começavam a mostrar um ar de desespero e confusão.


 


- Eu vou entrar para o serviço secreto bruxo...


 


- Vai ser um espião? – ela o cortou assustada.


 


- Sim. Semana que vem vou ser resignado pelo Ministério para uma missão muito perigosa e...


 


- Vão te dar como morto. – ela concluiu. Harry assentiu. Ela puxou sua mão de volta e cobriu seus lábios que começaram a tremer. Seus olhos brilharam com as lágrimas que começaram a se acumular ali e ela balançou a cabeça freneticamente de um lado para o outro. – Não pode me deixar. – ela disse fracamente.


 


   Ele suspirou e desviou seu olhar do dela.


 



 


 


- Eu não posso mais ficar aqui. É confortante te ter por perto, mas eu te amo Hermione e não te ter é uma tortura! Eu tentei me dar bem com Cho, mas eu não posso ser de ninguém senão seu! Não quero ficar sozinho te tendo por perto e sabendo que você poderia ser minha. Se vou mesmo ficar sozinho, Hermione, eu vou ficar sozinho, sem ninguém e sem estar por perto pra estragar seu casamento com Rony. Não pensa que eu percebo que quando fico fora por muito tempo em uma missão você e Rony ficam mais próximos? Você consegue se focar mais em fazer o seu casamento com Rony dar certo. Seria bom pra você e bom pra mim estarmos longe um do outro já que não podemos ficar juntos.



 



   Ela pressionou a mão fechada contra sua boca e fechou os olhos com força. As lágrimas escorreram livres pela sua bochecha e ela negou novamente com a cabeça.



 


- Não... – ela sussurrou por entre o nó de sua garganta.


 


- Hermione, não pode negar que tudo que eu disse é verdade! – ele apenas queria que ela aceitasse. – Vão me dar como morto, mas eu não vou estar!


 



 


 


- Isso não vai me confortar, Harry! – ela conseguiu exclamar. – Você vai estar morto pra mim! – a dor pareceu consumi-la. – Não vou te ver nunca mais. – sua voz ficou novamente fraca e ofegou para que não chorasse alto. – Como pode fazer isso comigo?



 



- Eu estou fazendo isso por mim, Hermione. Não acha que me dói lembrar que você tem a Rony e eu não tenho ninguém?



 


- Eu disse pra você não terminar com Gina...


 


- Eu não posso ficar com Gina, Hermione! Eu não a amo e nunca vou tratá-la do jeito que ela merece ser tratada! Eu não posso ficar com nenhuma outra mulher se não for com você! Eu só seria feliz com você e não vou conseguir me contentar com outra qualquer! Preciso que algo me distraia de você, Hermione. E talvez eu consiga se sair de sua vida.


 


- Por favor, não deixe de vir me ver...


 


- Eu não vou mais poder te ver!


 


- Por favor. Não me deixe! – ela insistiu.


 


- Eu preciso. Não quero definhar e não quero que me veja definhando.


 


- Eu vou com você. – ela chorou. Ele soltou o ar levantando. – Eu deixo Rony! – ela levantou atrás dele.


 


- Vai deixar sua família? Aquela que você luta para construir? Vai deixar pra trás tudo que já construiu? – ele se virou a tempo de vê-la hesitar pelas palavras diretas dele.


 


   O silêncio veio enquanto ele acreditava que naqueles olhos vermelhos e molhados dela ainda havia o pingo de sua hesitação, até que ela assentiu e ele não conseguiu mais entender.


 


- Sim. – ela disse confiante. – Sim, eu vou deixar.


 


- Vai se arrepender todos os dias, Hermione...


 


- Não, não vou! – ela exclamou – Não vou conseguir nem lembrar porque eu vou estar com você!


 


   Harry soltou um riso fraco e irônico.


 


- Está sendo completamente irracional, Hermione! Ser irracional é uma característica que não condiz comigo e com você!


 


- Eu nunca fui racional ao saber que eu podia te perder quando Voldemort ainda era vivo! – ela exclamou. – Eu não posso aceitar sequer a idéia de te perder, Harry! Nunca! Se for me deixar eu vou com você! Vou pra onde for, mas eu preciso estar com você! Pensa que não é confortante pra mim te ter por perto? Não sente quando nos olhamos e quando respondemos sorrisos o amor que sentimos um pelo outro transparecer? Será que não pensa que isso me conforta? Sem você eu vou definhar e você não vai estar aqui pra ver!


 


- Por Deus, Hermione! Não consegue perceber que isso tudo alimenta a dor que sentimos por não estarmos juntos? Será que também não percebe que depois que mostramos o amor que sentimos um pelo outro numa troca de olhares a dor da realidade bate e nos mostra que nunca passará de uma troca de olhares? - Ela se calou sem ter o que retrucar. – Você está fazendo algo por você estando com Rony. Agora eu preciso fazer algo por mim. – ele concluiu.


 


   Ela soluçou e deu as costas a ele.


 


- Não pode estar tão decidido em me deixar. – ela quebrou o silêncio.


 


   Ele soltou o ar tristemente.


 


- Não quero, Hermione. Mas eu preciso!


 


- Se me amasse não me abandonaria!


 


- Não duvide do meu amor por você!


 


- Você me faz duvidar.


 


   Ele fechou os olhos e respirou fundo soltando o ar devagar enquanto voltava a encarar a mulher de costas com seus belos cachos largos e castanhos lhe descendo até a cintura fina e convidativa. Ele se aproximou e a abraços por trás com cuidado recostando o canto de seus lábios por cima de seus cabelos próximo ao ouvido da outra.


 


- Não duvide do meu amor por você. Nunca. Ele faz parte de mim, sempre fez, e não posso simplesmente ignorá-lo. – ele disse em sua voz rouca fazendo Hermione fechar os olhos por perder os sentidos ao ser aquecida por ele. – O que eu faço é por mim. Pelo amor que eu sinto que não pode ser vivido e que me mata todos os dias.


 


   Ela teve que soluçar ao conter o seu choro.


 


- É recíproco. – ela sussurrou com a garganta lhe queimado.


 


- Eu sei que é. – ele apenas disse.


 


   Ela se virou entre os braços dele e segurou o rosto do homem entre suas mãos firmando seus olhos sobre os verdes dele. Por um momento se olharam como se já estivessem pronto para dizer adeus um ao outro, mas Hermione resistia com todas as suas forças. Ele nunca iria. Nunca. Apesar de saber que não poderia detê-lo e por mais que resistisse e mostrasse que resistia, sabia que Harry via que ela já tinha conhecimento de que não era uma causa negociável. Ela teria que aceitar.


 


   Sem que ela sequer se importasse de que estava em sua casa, de que era uma mulher casada e de que ele era o melhor amigo de seu marido, ela subiu na ponta dos pés e selou seus lábios sobre os dele. Naquele momento foram apenas um homem e uma mulher sofrendo de um amor não vivido. Não demorou e ela já se afastava voltando a encarar os olhos verdes dele que ainda processavam o fato de ter sentido a textura daqueles lábios depois de tantos anos incitando aquele desejo que havia adormecido depois de ter sido negado quando finalmente perceberam que se amavam naquele lago escuro sobre a lua e as luzes de Hogwarts.


 


   Também não demorou para que esse desejo o fizesse mover logo uma de suas mãos segurando o rosto da mulher tomando num impulso sua boca para um beijo intenso e então eles finalmente foram Harry e Hermione vivendo cada segundo do prazer de se amarem.


 


- Eu não vou deixar você ir! – ela ofegou quando finalmente suas bocas se desgrudaram para uma distância mínima.


 


- Você vai. – ele disse e selou mais uma vez seus lábios sobre os dela. – Você vai porque é Hermione Granger e é racional demais para saber que os meus motivos para ir são bem plausíveis e aceitáveis!


 


   Ele selou seus lábios nos dela uma última vez e ela pediu silenciosamente naquele simples beijo que ele durasse por mais tempo, mas Harry se afastou. Não conseguiram se olhar por saberem que aquele momento precisava terminar. Ele deslizou seus braços pela cintura da mulher soltando-a e ela por sua vez deslizou os seus que já cercavam o pescoço do homem. Harry deu as costas e caminhou até a porta.


 


- Nada justifica o fato de estar me deixando. – ela quebrou o silêncio numa voz barganhada.


 


   Ele tocou a maçaneta e levantou seus verdes olhos para ela uma última vez.


 


- Assim como também nada justifica o fato de não estarmos juntos.


 


   Ela não teve o que responder. Talvez pelo fato do nó em sua garganta estar a consumindo ou talvez por não ter o que retrucar, ou talvez os dois. Seus olhos se cruzaram por segundos até que ele finalmente girou a maçaneta, se virou e saiu pela porta.  Ela fechou os olhos e deixou todas as milhares de lágrimas rolarem por sua bochecha. Rendeu-se ao peso de seu corpo que aumentara três vezes mais e desabou sobre a poltrona encolhendo-se em seu choro silencioso e solitário que duraria até a hora que finalmente pudesse aceitar que ele estava a deixando, ou seja, nunca.


 


**


 


   O relógio bateu meia noite quando Hermione terminou de vestir a camisa de Harry e abraçou o próprio corpo para se proteger do vento frio que passou pela janela. Ela se arrastou pelos lençóis bagunçados da cama e postou-se frente a paisagem escura que vinha do lado de fora. Era lindo ver os morros cobertos pela vegetação densa e verde da Escócia em contraste com a relva que se arrastava ao infinito de sua visão de um outro lado.


 


   Ela sentiu o colchão afundar e não demorou para que fosse aquecida pelos braços e pelo corpo dele que a envolveu por trás. Harry pousou seu queixo sobre o topo da cabeça da mulher e lhe ofereceu uma das canecas que havia trago. Ela sorriu e aceitou pondo-a entre as mãos e bebendo de seu liquido quente e ralo.


 


- É tudo que eu tenho. – ele disse em sua voz profunda e calma. Ela nunca provara da voz de Harry daquela forma tão terna com que ele a soltava.


 


- Está ótimo. Eu adoro chá. – ela respondeu.


 


   Ele esboçou um sorriso bobo em seus lábios e a apertou mais contra seu tórax desnudo. Ela se acomodou soltando um suspiro, fechando e abrindo os olhos sem pressa.


 


- Já percebeu que somos feitos na medida certa um do outro? – ele comentou casualmente fazendo com que ela risse.


 


- Eu pensei que era só quando nos abraçávamos, mas hoje eu vi que isso se estende para uma proporção muito maior! – ela brincou e ele não teve como não gargalhar.


 


   Era quase que impossível não ficar bobo ao ver uma cena como aquela onde ambos detinham em seus rostos a expressão mais pura e simples da paz.


 


 


 



 


 


   Harry apenas encarava estático a porta fechada a sua frente. Sabia que do outro lado Hermione esperava impaciente a resposta do chamado que dera ao dar três batidas na porta. Tinha medo de abri-la. Vê-la antes de ir embora não estava em seus planos e queria muito repreender Hermione por ter conseguido encontrá-lo.


 


   Sem ter muitas opções e sem conseguir resistir a coceira de suas mãos pela maçaneta daquela porta ele finalmente a abriu e viu Hermione que lutou para não prender a respiração ao se deparar com a figura do homem dotado daquela beleza intimidadora que Harry havia recebido com os anos.


 


- Como conseguiu me encontrar? – ele logo partiu para perguntar sem deixar que o silêncio passasse a fazer com que eles se encarassem eternamente.


 


- Eu trabalho no departamento de leis mágicas, Harry. Só havia uma casa em seu nome na Escócia. – respondeu ela. O silêncio cravou-se entre eles enquanto se encaravam e foi a vez de Hermione fazer com que isso não durasse eternamente. – Por que sumiu quando me contou que seria espião? Havia dito que ainda faltava uma semana para que resignassem a você a missão que o daria como morto! Disse que só iria embora da Inglaterra na outra semana! Por que foi embora antes? Acaso tinha em mente que aquilo em minha biblioteca havia sido uma despedida?  Sabe bem que eu jamais te daria um adeus daquela...


 


- Hermione! – Harry a cortou. – Fui embora porque eu não queria dizer adeus a você! Havia sido duro demais suportar toda aquela situação em sua biblioteca. Eu me pouparei de dizer adeus a todos, mas você sabe da verdade e não sei se seria capaz de suportar uma despedida. Por isso fui embora . Assim eu também me pouparia de você assim como estou me poupando de todos os outros.


 


- Não foi inteligente, Harry. Você sabe que eu iria atrás de você e o encontraria!


 


   Ele deu de ombros.


 


- Foi um impulso. Eu queria me preservar! Nunca fui muito inteligente sem você por perto.  – ele declarou e ela não teve como conter um sorriso. Encher o ego de Hermione era sempre uma das melhores saídas que Harry tinha em sua lista para livrá-la de seus ataques inconstantes.


 


- Me deixe entrar, Harry. – ela pediu com carinho a ele. Não poderia ficar no sereno da noite ali para sempre.


 


   O amigo deu espaço para que passasse e ela assim o fez. Deixou seus olhos apreciarem a colossal sala a qual ela adentrara enquanto escutava Harry fechar a porta atrás de si. O pé direito duplo lhe dava a visão do mezanino e do teto de madeira bem trabalhada. Os móveis em carvalho sobre o espesso tapete cobriam o piso escuro de tábua corrida e as grossas cortinas que se estendiam por quase todo o perímetro da sala alegavam que durante o dia quando abertas deixavam a luz do sol inundar todo aquele ambiente confortável. Hermione já pode se imaginar lendo um livro naquela sala. Seria como estar se entretendo no céu.


 


- Eu não sabia que era tão linda. – ela disse vislumbrada descendo os dois degraus e passando a afundar seus sapatos no fofo tapete.


 


- Diz isso porque viu apenas a sala. – ele disse e ela sorriu. – Precisa ver a vista dos quartos, o jardim do quintal, as janelas da cozinha e o tamanho da biblioteca. Precisa ver quando é de dia e as cortinas estão todas abertas. É como viver a céu aberto!


 


   Hermione riu vislumbrada enquanto passava os dedos sobre o braço de madeira de uma cadeira apreciando a estampa vintage de seu estofado. Ela olhos para o sofá convidativo e logo ergueu os olhos para o mezanino que anunciava o andar de cima numa bela varanda com vista para a sala. Teve vontade de subir pela curva e espaçosa escada de mármore escuro e explorar cada canto daquela que sem dúvida passara a ser a casa de seus sonhos. Suspirou sonhadora e levou seus olhos âmbar para a figura de Harry que apenas tinha as mãos enfiadas no bolso da calça.


 


- Acha que seriamos felizes aqui se eu tivesse fugido com você no dia do meu casamento? – ela perguntou receosa pela resposta do outro.


 


   Ele sorriu e desceu os poucos degraus aproximando-se dela.


 


- Teríamos um ao outro, Hermione. Como não poderíamos ser felizes? – porém ele suspirou e deixou seu sorriso morrer. – Mas não nos perdoaríamos por não poder olhar Rony e Gina com dignidade depois de tudo que fizeram por mim. Eu sei que não nos perdoaríamos por não poder dar ao nossos filhos um natal com os Weasley. Não nos perdoaríamos porque teríamos sido imprudentes e impulsivos e sempre fomos bem racionais.


 


   Ela suspirou e assentiu. Sorriu bobamente e mordeu os lábios.


 


- Nossos filhos... – ela repetiu num sussurro enquanto fechava os olhos apreciando o poder daquelas duas simples palavras. Tornou a abri-los e estavam tão intensos que viu em Harry que ele conseguia compartilhar tudo que estava batendo em seu coração naquele exato momento. – Como eu queria um filho seu, Harry. – ela disse quase que em outro mundo.


 


   Ele se aproximou mais um passo e desenhou a linha do queixo de Hermione com as costas de seu dedo indicador.


 


- Você fica linda quando sonha assim. – ele adquiriu aquela voz profunda que a fazia tremer.


 


   Hermione suspirou novamente e lutou para não cair em prantos.


 


- Ah, Harry... – ela soltou quebrando a distância entre seus corpos colando o seu ao dele evolvendo-o num abraço urgente que foi retribuído com tanta intensidade quanto o dela. – Rony me disse que você tinha uma missão muito perigosa em alguma parte da Inglaterra e que iria amanhã pela manhã. Tive tanto medo de não conseguir te encontrar antes de ir embora. – ela o apertou mais.


 


   Harry a abraçou de volta sentindo o cheiro tão embriagador da amiga consumi-lo. Já pode sentir saudade daquele cheiro ali e pediu piedosamente a Merlin que ele se impregnasse em sua pele para que pudesse levá-lo consigo para onde fosse em sua eterna e perigosa jornada solitária. Para que pudesse lembrar e nunca esquecer do cheiro da única mulher que ele amava e sempre amaria.


 


- Hermione... – começou. – Se lembra de nossa última noite em Hogwarts? Quando estávamos apreensivos pelo que iríamos enfrentar quando saíssemos daquelas quatro seguras parede que vivíamos? – ela assentiu contra seu peito fazendo-o sorrir tristemente. – Estou tão apreensivo por amanhã quanto estive aquela noite e agora, essa noite à dentro, quero me esquecer do que vem pela frente. Só essa noite à dentro.


 


   Ela sorriu e levantou o rosto para ele.


 


- Nós não temos um lago aqui.


 


   Ele riu passando a segurar com uma de suas mãos o rosto delicado da mulher que era Hermione, sua melhor amiga, seu único amor.


 


- Nós não precisamos de um lago. – a voz do homem soou tão profunda que fez Hermione tremer novamente. Os olhos verdes dele sorriram convidativos para ela que não teve sequer coragem de negar o beijo que ele estava silenciosamente pedindo. No segundo seguinte que os olhos de ambos caíram para a boca um do outro eles já se beijavam e se provavam num ardor ao qual jamais haviam chegado antes. – Seja minha, Hermione. Só essa noite. – ele ofegou contra a boca dela. – Seja minha ao menos uma noite! – ele pediu e ela não negou o próximo beijo que acarretou no desejo finalmente cumprido e consumado dos longos minutos que se seguiram.









 


   Era incrível como o destino não os queria juntos embora dessem a eles momentos dignos de serem aclamados. Era como se os deuses se compadecessem da beleza do amor recíproco de ambos e mudassem o que já estava escrito apenas para que eles pudessem provar da pureza que era vê-los juntos somente por algumas horas.


 


- Eu pensei que fosse dormir. – ele comentou afastando os largos cachos castanhos do pescoço da mulher e depositando ali um beijo terno e calmo.


 


   Ela sorriu.


 


- Pensa mesmo que eu poderia dormir na última noite que tenho com você? Nem que eu fique aqui acordada apenas pra te observar dormir!


 


   Foi a vez dele sorrir.


 


- Pensa mesmo que eu jogaria essa noite fora e iria dormir?


 


   Ambos riram. Ele suspirou e ela se aninhou nele ainda observando a vasta paisagem verde coberta pela escuridão da noite através da janela.


 


- Como se sente, Hermione? – perguntou ele com carinho.


 


- Feliz e completa. – ela respondeu sem sequer precisar pensar. Tomou mais um gole de seu chá e fechou os olhos. – Sinto que eu não preciso de mais nada, só de ficar aqui.


 


   Ele riu. Era como se realmente pudessem ficar ali para a vida toda. Ali Hermione não era casada com Rony, nem ele teria que sumir do mundo em breve. Tinham um ao outro e só isso bastava naquele momento para fazerem se esquecer de tudo que passaram e de tudo que o amor deles ainda passaria.


 


- Percebeu que depois que nos beijamos naquele lago e descobrimos que nos amávamos tudo entre nós passou a ser único e apenas o bastante? Quando procurávamos pelas Horcruxes nada mais me dava forças a não ser quando me olhava e mesmo que estivéssemos exaustos para sorrimos um para o outro apenas aquele seu olhar me bastava. Nós vivíamos toda aquela opressão da guerra e mesmo assim foi o tempo em que estivemos mais apaixonados.


 


- Foi a época que mais precisamos um do outro. – ela comentou sorrindo.


 


- Nada era mais do que um carinho, mais que um abraço, um olhar, ou apenas quando andávamos de mãos dadas. Era tão intenso, Hermione. Consegue se lembrar?


 


- Nenhum daqueles dias me foge da lembrança. Nenhum deles sequer! Éramos dois apaixonados em silêncio que aproveitava cada segundo que nos era dado para despejarmos toda a vontade que sentíamos um do outro numa troca de olhar.- ela riu e ele não teve como não acompanhá-la.


 


- E aquilo nos bastava. – ele completou. – Embora não fosse o suficiente, para nós só aquilo naquele momento nos bastava. Então Voldemort se foi, o mundo entrou em paz, mas nós dois não.


 


   Hermione suspirou abrindo um sorriso triste.


 


- Quando a guerra acabou e nós nos encontramos com Gina, ela não se cabia de alegria, Harry. – Hermione começou. – Ela me disse na Toca que havia contado cada segundo para a queda de Voldemort na esperança do dia que você fosse voltar pra ela. Voltar, Harry! Aquela palavra me destruiu! Você já era dela antes da guerra começar e eu me senti roubando para mim algo que minha melhor amiga tanto queria! Gina era fascinada por você desde que te viu pela primeira vez e eu só fui me dar conta que te amava no sétimo ano, naquele lago! Não sei exatamente dizer quando comecei a te amar, pra mim parece que desde que nos vimos pela primeira vez ou quando me salvou daquele trasgo talvez, eu não sei, mas sei que só fui me dar conta disso muito tempo depois. Gina já estava na minha frente!


 


- Foi por isso que fugiu de mim quando eu fui te procurar aquela madrugada?


 


   Ela sorriu.


 


- Eu estava me sentindo culpada por te amar. Me senti culpada por cada abraço apaixonado que havíamos dado depois daquele beijo, me senti culpada pelo beijo, me senti culpada por te querer. Foi por isso que aceitei o pedido de Rony e não te questionei quando foi obrigado a voltar com Gina.


 


- Não te questionei por ter aceitado o pedido de Rony porque eu sabia o quanto ele te queria. Ele não te tirava da cabeça e eu tinha que agüentar ele falar sobre você com uma paixão quase que desesperadora. Ele também não se cabia de alegria em se gabar por estar com você. Seria desprezível da minha parte ir acabar com toda a alegria dele.


 


   Hermione deixou morrer a última linha do fino sorriso que tinha nos lábios.


 


- Três anos, Harry. Eu namorei Rony e você namorou Gina. Como conseguimos? Três anos! Nós entramos num jogo tão frio que toda aquela paixão que tínhamos quando Voldemort ainda era vivo parecia que havia sido irreal. Nós nos acomodamos tanto que eu cheguei a pensar que havia deixado de me amar e isso me levou a me casar com Rony! Casar, Harry! Nós nos esfriamos tanto para não magoarmos a felicidade de nossos amigos que agora somos obrigados a vivermos uma mentira. Eu em meu casamento e você na frente dos nossos amigos. – ela suspirou cansadamente – Ah, Harry... Me desculpe por te culpar no dia do meu casamento.


 


- Nós dois somos culpados de não estarmos juntos, Hermione. Somos nobres demais e teimosos demais. Nosso amor sempre foi paciente e calmo, e sempre esperou pelos nossos momentos sem que houvesse desespero ou desejo incontrolável. Talvez isso seja porque já está escrito que não vamos ficar juntos. Tornou tudo mais suportável. – ele disse e ela teve que concordar.


 


   Hermione virou sua cabeça para poder encará-lo e ele levou para trás de sua orelha um cacho de sua madeixa. Olhou-a com amor e se inclinou selando seus lábios sem pressa nos dela.


 


- Eu te amo tanto. – ela sussurrou suspirando. – Estar com você aqui faz isso arder tão forte dentro de mim.


 


   Eles se beijaram mais uma vez.


 


- Se está tentando me fazer desistir de ir embora saiba que não vou me render – ele disse e ela foi obrigada a rir. – Eu sei que vai ter um grau satisfatório de felicidade se o seu casamento continuar de pé. Rony não vai te deixar, Hermione. Mesmo que eu veja que ele não te ama ele tem um afeto muito grande por você que o limita. Você vai ficar bem. Confio em Rony para cuidar de você quando eu for.


 


- Eu não preciso que ninguém cuide de mim, Harry...


 


- Sim, você precisa! – ele a interrompeu. – Tem muitas coisas sobre você mesma que não é capaz de admitir, Hermione! Você se mostra forte, mantém a postura em frente a todos quando algo de errado acontece, mas eu sei que na primeira oportunidade que tiver você vai se enfiar em um canto escuro e chorar. Você precisa de alguém ao seu lado para te impedir de encontrar um canto escuro, porque só assim você consegue vencer esse seu ponto fraco. Eu te observo desde que nos conhecemos e não me olhe com essa cara! Você teria estado em pânico se eu e Rony não estivéssemos com você o tempo em que estivemos atrás das Horcruxes! Não pense que me enganava quando eu via que estava prestes a explodir e então você ajeitava sua postura e procurava pacientemente uma solução inteligente apenas para não se mostrar fraca para mim ou Rony. Você sempre será forte com alguém por perto.


 


   Ela revirou os olhos sorrindo e se soltou dos braços dele escorregando para fora da cama.


 


- Eu odeio quando você se gaba por me conhecer tão bem. – ela disse e tomou um gole de seu chá. – Pois não pense que eu também não te conheço! Vamos, me leve a biblioteca. Eu sei está se coçando para me mostrá-la!


 


   Ele riu.


 


- E você está se coçando para conhecê-la. – disse ele se levantando e fazendo ela o acompanhar corredor a fora deixando antes suas canecas de chá sofre a cabeceira da cama.


 


   Hermione apreciou com cuidado todo o caminho. O carpete que seus pés pisavam, o teto de madeira escura, o papel de parede, tudo parecia exatamente do jeito que ela sempre imaginara sua casa. Durante o percurso passou pela porta de dois quartos e em um deles havia uma imensa janela despida das cortinas pesadas que cobriam a maioria delas, essa se abria para um incrível penhasco ao qual estavam suspensos. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha e um sorriso de excitação correu pelos seus lábios e logo sumiu. Ela odiava altura, mas adorava aquele frio na barriga que esse medo lhe causava. Céus! Harry realmente encontrara a casa perfeita.


 


- Não creio que alguém seria capaz de vender uma casa como essa, Harry. Ela é perfeita. – comentou ela maravilhada.


 


   Harry sorriu.


 


- Ela não era exatamente assim quando a comprei. – ele apressou-se a esclarecer. – Mandei que fizessem algumas mudanças, mas não foi muita coisa, acredite.


 


- É muito bonita.


 


- Que bom que gostou porque ela será sua. – ele disse a conduzindo para um corredor secundário ao principal. Hermione viu ao fundo uma bela porta dupla de madeira esculpida. Não demorou para que estivessem lá com Harry segurando as maçaneta douradas. – Faz parte do meu testamento que essa casa passe para o seu nome.


 


- Harry eu não...


 


- Pronta? – ele apontou com a cabeça para suas mãos sobre as maçanetas.


 


- Não. – ela apressou-se. – Eu não posso ficar com essa casa, Harry! Você vai embora e eu apenas viveria aqui se fosse com você! Nunca viveria aqui sozinha ou muito menos com Rony...


 


- Apenas a use como eu a usei desde que você se casou. – ele a cortou. – Venha e nunca fique por muito tempo. Apenas aprecie o sabor de onde seria o nosso futuro perfeito. – ele disse e a viu sorrir. – Pronta?


 


   Ela assentiu apertando os próprios braços em torno da cintura. Ansiosa ela mordeu os lábios e ele riu. Abriu a pesada porta e deu espaço para que ela passasse. Os pés descalços da mulher passaram do carpete para um frio piso de tábua corrida. Ela teve que deixar morrer todas as suas expressões porque simplesmente não tinha uma sequer para usar.


 


   Estavam num mezanino circular cercado de um lado por um parapeito de mogno lustroso e pelo outro de pesadas cortinas pérola, vinho e ouro que provaram esconder enormes janelas que davam vista a aquele emocionante penhasco que ela havia já visto quando Harry sacudiu a varinha para fazê-las se abrirem. Ela se aproximou com cuidado do parapeito e lá em baixo pode ver o tapete carmim que cobria todo o piso. Pode ver as inúmeras estantes vazias que seguiam por todo o perímetro da parede, os móveis de madeira e as almofadas que eram postas próximo a uma lareira de pedra polida cinza escuro. Como se ainda não fosse suficiente ela olhou para o teto e lá havia uma gigantesca e colossal clarabóia de vitrais desenhados em cores vibrantes. Seu queixo pesou e ela teve que se conter para não deixar se passar por idiota. Aquilo ela não havia imaginado e era bem mais do que esperava. Muito mais!


 


   Ela abandonou o mezanino que dava para a extensa varanda de vista para o penhasco pela escada helicoidal que não estava muito longe de onde se encontrava. Desceu animada e deixou afundar seus pés no tapete incrivelmente macio que se estendia por toda a biblioteca. Ergueu os olhos mais uma vez para a clarabóia no teto e ela parecia ainda mais colossal agora distante. Correu os olhos pelas estantes e imaginou quantos livros não poderia ter com aquele espaço gigantesco. Olhou para a lareira e nela ainda queimava o fogo. Harry estava ali antes dela aparecer.


 


   Isso foi provado facilmente quando ela se aproximou mais e viu uma pilha de livros abertos sobre uma mesinha de centro, pergaminhos espalhado por todos os lados, uma xícara de chá pela metade e um prato mexido cheio de torradas que esparramava farelos por todos os canto. Havia penas com a ponta quebrada e um tinteiro virado sobre o tapete. Ela estreitou os olhos. Harry nunca fora um exemplo de organização.


 


- Harry, comida não combina com biblioteca! – ela exclamou e se virou. Ele ainda descida com paciência os degraus da escada. – E esse tinteiro barato da Floreios e Borrões vai manchar o tapete!


 


   Ele riu alto aproximando-se dela.


 


- Eu sabia que você só não iria gostar dessa parte! – ele passou os braços pela cintura da mulher e a puxou para si beijando-a rapidamente nos lábios. – Então quer dizer que minha bagunça estragou a beleza do lugar?


 


   Ela desmontou e não conteve um sorriso bobo.


 


- Ah, Harry! É lindo! É incrível! Deve ter sido realmente caro encontrar bruxos que planejassem e conjurassem tudo isso tão perfeitamente. – ela ficou sobre a ponta dos pés e selou só mais uma vez seus lábios nos dele. – Eu me vejo em cada detalhe. – virou-se entre os braços dele e sua visão só pode cair novamente sobre a bagunça do outro. – Mas esse tinteiro virado vai manchar meu tapete. – ela soltou-se dos braços dele e correu para tentar reparar o estrago.


 


   Harry revirou os olhos rindo e desmoronou sobre uma cadeira bem estofada.


 


- Esqueça isso, Hermione! – ele exclamou.


 


- Você e Rony são idênticos! Não conseguem ficar cinco minutos em um lugar sem arrumarem um jeito de bagunçá-lo! – ela resmungou e isso o divertia horrores. Não importava quantos anos se passassem, ela sempre seria a mandona Hermione Granger. – O que estava fazendo aqui afinal?


 


- A principio eu estava tentando rever algumas matérias importantes que vão me ajudar durante o meu treinamento. – ele respondeu divertido. – Mas então eu comecei a me entreter com tudo da época de Hogwarts que estava jogado nessa caixa. – ele apontou para uma pequena caixa que estava debaixo da mesa de centro. Hermione a arrastou de volta a luz e sentou-se sobre os joelhos para analisar melhor o que passou a tirar com cuidado dali de dentro. – As reportagens que saíram sobre mim desde que fui a Hogwarts. É engraçado ver como eles tinham um certo tom de ironia ao se referir a mim quando era adolescente. – ele disse enquanto observava Hermione abrir uma antiga edição do Profeta Diário onde a figura do amigo estava estampada em um tamanho exagerado. – Eles nunca acreditaram realmente em mim até o dia que o matei. Nunca havia notado isso, mas relendo as principais notícias vi que no fundo havia aquele ar de que o mundo depender de mim era uma grande piada.


 


   Hermione sorriu e ergueu os olhos do jornal para Harry sentando na cadeira.


 


- Eu havia percebido isso, mas quando Voldemort passou a tomar o poder do mundo bruxo quase que por completo, o desespero fez com que essa ironia morresse e você passasse a ser a única esperança deles. Não é a toa que hoje você é aclamado! – ela o fez rir.


 


   Harry se inclinou para frente e pegou do chão uma folha rasgada da revista do semanário bruxo, estendeu para a castanha e ela pegou passando a analisar a foto, riu e revirou os olhos.


 


- Lembro de Rony me mostrando isso bufando e com as orelhas vermelhas. – riu Harry.


 


   Era um artigo gigantesco sobre o inicio de namoro de Rony e Hermione maldosamente falando sobre a troca inesperada da mulher pelo melhor amigo do Eleito considerando-o pouco demais para ser merecedor da inteligência e da beleza daquela ao qual o salvador do mundo bruxo daria as mãos, os pés e os olhos.


 


- Eles ficaram realmente aborrecidos por não termos ficado juntos. – comentou Hermione.


 


- Eles sempre esperaram que fossemos ficar juntos. – Ele recebeu o papel de volta, - Rony ficou furioso.


 


   Hermione riu novamente por se lembrar do surto que o marido tivera nessa época. Ela voltou a olhar o jornal ainda aberto em uma de suas mãos onde a figura de Harry olhava séria para o leitor. Ela voltou-se para o tapete ao seu redor e passou os olhos pelos jornais antigos do profeta, capas de revistas, artigos e colunas cujo os títulos envolviam o nome de Harry. Ela estendeu a mão para a mesa e puxou outro jornal onde dessa vez era uma foto de Harry sentado em um pub com Rony distraído em alguma conversa. Ela começou a passar os olhos rapidamente sobre as linhas da introdução e viu que dizia respeito a uma reportagem que contava resumidamente a história do Herói.


 


- Você é uma lenda, Harry. – Hermione disse mais para ela mesma do que para ele embora ele tivesse escutado. Ela desistiu de passar os olhos pelas linhas da redação e voltou-os para Harry novamente. – Você será uma grande perda para o mundo bruxo.


 


   Harry suspirou e seu sorriso foi pesaroso.


 


- Pelo contrário.


 


   Ela baixou os olhos sem questioná-lo e deixou tudo que segurava em suas mãos de lado. Voltou-se para a mesa e arrastou para o lado o jornal que antes lia. Não deixou de sorrir quando viu a foto dos dois abraçados sobre a copa de uma das árvores a beira do lago de Hogwarts num fim de tarde. Harry vestia sua capa de representante de Hogwarts no torneiro tribruxo e tinha sua vassoura em uma mão cercando a cintura de Hermione, que vestia um de seus comuns vestidos de fim de semana, com o braço livre.


 


- Somos nós. – ela comentou sorrindo bobamente. – Rita sempre esteve certa sobre nós. Veja. – ela puxou a folha de jornal que detinha a foto que observava e mostrou a Harry. – Como será que não percebíamos que nos amávamos tanto? Olhe isso! Parecemos tão apaixonados.


 


   Harry sorriu e pegou o jornal da mão de Hermione.


 


- Estava olhando essa foto antes de você chegar. – ele voltou a analisá-la atentamente e suspirou. – Tive vontade de nunca ter descoberto o amor que tínhamos um pelo outro assim não seriamos obrigados a sofrermos tanto, continuaríamos apenas vivendo isso. – ele mostrou a foto a ela. – Nós amaríamos como nos amávamos essa época, sem saber. – Ele voltou a olhar a foto e então jogou-a para dentro da caixa. – Mas então você apareceu e fez com que eu me arrependesse desse pensamento. – ele disse marotamente e ela riu balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto suas bochechas coravam. Eles caíram num silêncio onde Harry se ocupou em achar lindo a forma como sua amiga se encabulara, era quase que raro vê-la assim. – Debaixo daquela montanha de pergaminhos tem um livro de DCAT. – ele apontou para um canto da mesinha. – Pegue-o para mim.


 


   Hermione não entendeu o porque do pedido repentino, mas confusa e sem questionar ela estendeu a mão e puxou o livro pela ponta que estava visível debaixo do amontoado de pergaminhos. No mesmo segundo que ela trouxe o livro para si uma pequena caixinha de madeira veio junto escorregando pelo meio das páginas e quicando da perna de Hermione para o chão onde se abriu e mostrou a pequena argola de ouro incrustada de pequenos diamantes em uma ponta onde formavam um minúsculo monumento que reluziu com a luz vinda de toda parte da biblioteca. Ela finalmente entendeu o porque dele ter lhe pedido o livro e o deixou de lado levada pela beleza do anel em contraste com o tapete vermelho.


 


   Com os dedos ela afastou com cuidado a tampa de madeira e pegou o anel erguendo-o a altura dos olhos analisando os cristais refletindo a luz em diversas posições. Abaixou os olhos e pegou a caixinha bem trabalhada, ela havia visto uma dessas no Beco Diagonal em uma loja de jóias caras, mas aquele anel... Aquele anel ela nunca havia visto em lugar algum. Pôs de volta o anel em pé entre as duas almofadas aveludadas e fechou a caixinha. Segurou-a na altura dos olhos e observou os desenhos esculpidos na madeira frágil e clara. Com cuidado e sem pressa ela a abriu novamente e seus olhos brilharam ao voltar a vislumbrar aquela peça não muita exagerada mas de uma beleza rara.


 


- É lindo... – ela sussurrou apenas enquanto olhava o anel ali, de pé entre as duas almofadas, do mesmo jeito que ela deixara. Ergueu os olhos para Harry e o pegou se deliciando com a cena que via. – Era para ser meu, não era? – perguntou e ele assentiu. Ela sorriu e mordeu os lábios voltando a passar seus olhos pelos cristais reluzentes a luz. – Há quanto tempo o tem?


 


- Há um bom tempo. – ele respondeu. – Rony queria te propor em casamento e ele me levou a loja junto com ele porque disse que eu conhecia melhor os seus gostos. Eu encontrei esse anel, mas Rony não quis pagar por ele então no outro dia eu voltei e o comprei.


 


- É certamente muito mais bonito do que o que Rony me deu. Você quem escolheu o que Rony me deu, não foi mesmo? – ela perguntou, ele assentiu e eles riram.


 


- Eu não tive muita opção. Ele não queria pagar pelos que eu escolhia. – Harry riu. – A vendedora ficou zangada e disse que eu quem deveria propor você em casamento. Acho que isso fez Rony se lembrar daquela reportagem sobre o inicio de namoro de vocês e então ele finalmente resolveu comprar um bom anel.


 


   Hermione riu, mordeu os lábios e suspirou. A verdade é que ambos sabiam que não eram palavras que deveriam fazê-los sorrir. Hermione engoliu em seco e tornou a fecha a caixinha guardando-a entre as mãos.


 


- Não era pra eu estar com Rony, era pra eu estar com você. – ela fechou os olhos e sua garganta apertou. – Era pra eu estar com você!


 


- Nada nunca é perfeito, Hermione. E eu e você somos perfeitos demais um para o outro. – ele desviou o olhar. – Infelizmente.


 


   O silêncio caiu entre eles. Hermione abaixou os olhos para a caixinha em suas mãos. A abriu, suspirou e a fechou novamente. Ela moveu seus dedos decidida e com cuidado tirou a aliança de ouro de seu dedo anelar deixando-a sobre a mesinha de centro juntamente com toda a bagunça de livros, pergaminhos, jornais e folhas de revistas.


 


- Harry. – ela o chamou. – Me peça em casamento. – pediu erguendo os olhos para ele.


 


   Harry voltou-se quase que imediatamente para ela e seus olhos passaram a carregar um ar sombrio.


 


- Não! – ele exclamou certo de suas palavras. – Quer nos matar, Hermione?


 


- Você comprou esse anel com o que em mente?


 


- Eu comprei porque se eu pudesse lhe pedir em casamento eu lhe pediria com esse anel! Mas eu não posso!


 


- Por que eu sou casada?


 


- Sim! Porque você já é casada o que faz com que o meu pedido não seja real!


 


   Ela balançou a cabeça de um lado para o outro.


 


- Eu não sou casada por essa noite, Harry! Essa noite é nossa. É a nossa única e a nossa última. Por favor! Eu quero viver isso com você, quero levar a lembrança de como seria carregar as palavras de um pedido seu em minha mente. Quero ver como elas soariam, quero sentir a sensação. – ela fechou os olhos e segurou o nó em sua garganta. – É você quem eu amo, Harry! – voltou a encará-lo. – Não diga que também não gostaria do mesmo?!


 


   Ele foi obrigado a ponderar já que no fundo ele sabia que queria fazer aquilo. Abaixou os olhos e apertou os dentes respirando fundo. Era a noite deles e por mais que tentassem se esquecer das condições que os cercavam ela era realista demais para fugir da mente de ambos. Hermione era casada e ele iria embora para sempre. Seria doloroso demais pedi-la em casamento embora ele quisesse provar de como seria a sensação. Ele queria escutar ela dizer “sim” por mais que soubesse que nada seria real.


 


   Harry se levantou e agachou frente a ela. Pegou a caixinha entre aos mãos dela e apreciou a sensação que era ter sua pele encostada na dela por aqueles breves segundos.


 


- Está certa de que quer isso, Hermione?


 


   Ela assentiu.


 


- Faça parecer real e talvez não seja tão doloroso.


 


   Ele negou.


 


- Nada que eu faça ou que façamos vai afastar a realidade de nós. Não somos mais dois adolescentes em um lago.


 


   Ela suspirou e sorriu.


 


- Então faça apenas parecer real.


 


   Harry sorriu. Ela estava mesmo decidida mesmo ele sabendo que o fim daquilo seria doloroso. Ele nunca havia pensado em como pedir Hermione em casamento. A verdade é que ele nunca se vira realmente se casando com ela. Ele apenas a queria, pra sempre, com casamento ou sem casamento ele só queria passar o resto de sua vida ao lado dela. Não tinha sequer uma palavra para começar a falar e ele ainda tinha que fazer tudo aquilo parecer real. O silêncio apenas prosseguia enquanto ele buscava algo, um discurso perfeito talvez. Ele não tinha nada, alias, ele tinha tudo, mas era muita coisa para se assimilar a um breve discurso. Ele não precisava convencê-la, ele já estava certo do sim dela.


 


- Pensando agora em como eu poderia começar a te propor em casamento lembrei de muitas coisas do passado e eu tenho certeza de que se eu pudesse voltar no tempo eu mudaria muitas dela. – ele sorriu tristemente. – Talvez se desde o nosso primeiro ano em Hogwarts nós tivéssemos acordado para o nosso amor tudo poderia ter sido diferente. Eu não sei como fomos nos acomodar tanto...


 


- Harry...


 


- Não, Hermione! – ele pediu para que ela esperasse fazendo um sinal de pare com a mão. - Eu não tenho como fazer um discurso bonito, algo que encha os seus olhos. Eu não preciso te convencer. Todos esses anos de silêncio dizem por si só nos olhares que trocamos o quanto eu quero ficar com você me casando ou não. – ele abriu a caixa, pegou o anel e colocou sobre a palma da mão dela. – Ele é seu. Sempre foi. – ele fez ela fechar a mão. – Mas antes eu só queria provar como é sentir o gosto dessa única pergunta porque ela pode ser feita vinda de mim somente para você. – ele segurou o rosto da mulher e olhou em seus olhos. – Você se casaria comigo?


 


   Os olhos dela já estavam sufocados de lágrimas. No segundo seguinte ela já havia cercado o pescoço dele com seus braços finos colando seus lábios sobre os dele.


 


- Você sabe que eu me casaria! – ela exclamou e o abraçou forte escondendo seu rosto no pescoço do homem. Soluçou e sentiu Harry ficar de pé sobre os joelhos para poder abraçá-la melhor. Céus, o corpo deles pareciam ter sido feitos juntos e logo depois separados! Eles se encaixavam perfeitamente. – Por favor, Harry! Me deixe ir com você! – ela implorou afastando-se para olhar fundo em seus olhos. – Por favor! Eu deixo tudo para ir com você! Posso aceitar tudo, menos ficar longe de você...


 


- Hermione! – ele a parou. – A vida que vou ter não vai poder ser vivida a dois.


 


   Ela abriu a boca pra retrucar em seu desespero, mas soube que nada que dissesse seria mais certo do que o que ele iria retrucar. Murchou seus ombros e voltou a esconder seu rosto no pescoço do homem. Como poderia viver longe dele? Não conseguia sequer imaginar a dor. Apenas teria q vencer dia após dia.


 


- Todo o sofrimento que eu passei por não estar com você nem vai se comparar ao inferno que eu vou viver quando for embora. Sem te ver, sem poder sentir seu cheiro, sem poder te abraçar ou trocar apenas uma palavra sequer!


 


- Vai doer tanto em mim quanto em você. – ele fez com que a mulher tornasse a encará-lo. Segurou seu rosto com amor e beijou ternamente os seus lábios. – Mas não há nada que o tempo não cure.


 


- O tempo nunca vai me fazer deixar de amar você.


 


- Nunca duvidarei disso. Nem da minha parte nem da sua. Mas esteja certa de que o tempo vai nos ajudar a superar muita coisa longe um do outro. – ele disse e ela assentiu sendo obrigada a concordar. Ele não estava errado, estava absolutamente certo e de fato não poderia lutar contra isso.


 


   Harry a beijou e eles se amaram novamente, porém dessa vez sobre o tapete macio e o calor da lareira. Ainda na biblioteca eles permaneceram por toda a madrugada revirando aquela antiga caixa que fez florescer antigas memórias. Quando a aurora foi pintando o céu eles já não trocavam palavras tão animadamente. Ambos já não podiam mais tentar esquecer o que vinha pela frente e isso começou a consumi-los mais intensamente do que antes fazia.


 


   Passando a viver no silêncio compreendido um pelo outro eles tomaram banho juntos, abraçados e sem que palavra alguma escapasse de suas bocas. Logo ela preparou algo para que comessem como café da manhã e quando a hora bateu no relógio de Harry ela já estava sendo afogada pelas lágrimas que caiam silenciosas pelas suas bochechas rosadas.


 


   Caminharam juntos até a porta e ele a abraçou, a beijou e disse que a amava. Ela disse que também o amava numa voz barganhada e quase não foi capaz de soltá-lo quando ele se afastou. Com o rosto e os olhos banhados em lágrimas ela também quase não foi capaz de vê-lo caminhar para longe da entrada, mas ele pode vê-la muito bem quando voltou-se para trás a fim de ter sua última imagem de Hermione recostada sem forças no vão da porta da casa onde deveriam estar vivendo felizes vestida apenas com uma de suas camisas. Ele estava a deixando. Para sempre. Fechou os olhos e sentiu como se alguém esmagasse seu coração. Sua garganta queimou e ele apenas respirou fundo voltando a encarar a figura de Hermione. Sua Hermione. Sua mulher. Prendeu o ar e aparatou.


 


   Hermione ficou ali durante toda a manhã sentindo-se sem forças. Apenas chorou por ele tê-la deixado, por estar na casa onde deveriam estar vivendo felizes com seus filhos e por saber que nunca mais o veria. Não apareceu no trabalho e adiou três julgamentos no departamento de execução de leis mágicas. Quando voltou para casa não mentiu para Rony quando ele perguntou por onde ela esteve. Apenas disse que esteve com Harry durante toda a noite e que tentou convencê-lo de não ir a essa missão ao qual havia sido resignado porque sabia que algo de muito ruim aconteceria a ele. Rony tentou tranqüilizá-la dizendo que Harry era o melhor auror que o mundo bruxo já tivera, mas ela continuou a insistir que sentia que o amigo não ficaria bem. Trancou-se no quarto e permaneceu ali por três dias até que a notícia de que o herói Harry Potter havia sido morto ao sul da Inglaterra por um grupo de comensais sedentos de vingança. O mundo bruxo entrou em luto.


 


**


 


   Como ele sentia falta de Londres. Tinha saudade dos pubs, das conversas, do Beco Diagonal... Mas tudo isso não se comparava a falta que lhe apertava todos os dias de comer uma bela sopa de cebola feita por ninguém menos que a Sra. Weasley, sentar sobre a lareira da Toca escutando as vozes daqueles que eram seus amigos rirem alto sobre qualquer bobeira ao qual era notícia, além disso, nada se comparava a falta que lhe doía a batia dentro de si por uma única mulher. A de sua vida. Sentia tanta falta de seu cheiro, de seu abraço quente, de suas palavras dóceis e de seu toque delicado que o fazia ser tão apaixonado, mas ainda sim sentia falta daquele sua postura inteligente e inquestionável que o fazia rir. Rir. Como ele também sentia falta de rir verdadeiramente.


 


   Sabia que o que estava prestes a fazer era errado, mas não era a primeira vez. Sabia que sempre que fazia isso ele se tornava fraco e vulnerável para o tipo de serviço ao qual sua vida era destinada constantemente, mas ele não podia lutar contra sua vontade. Ela era sufocante e por vezes podia dizer que sentia fisicamente essa dor que o sufocava por ter abandonado sua família. Mas agora ele não podia voltar atrás.


 


   Era tarde e ele observava um tanto quanto distante a única casa da rua que ainda detinha as luzes da sala bem acesas. Embora para a época aquele vento frio fosse errado ele estava em Londres e era bem vindo, ainda mais para Harry que sentia tanta falta dos ares do grande centro bruxo mundial.


 


   Seus pés deixaram a calçada e voltaram a avançar pela rua de pedras justapostas e bem polidas. Chegou frente ao portão rasteiro que separava o jardim da calçada e empurrou o pequeno portãozinho de ferro. Para sua surpresa ele não rangeu anunciando sua presença, mas se sentiu satisfeito por ele ter aberto mostrando que ainda era bem vindo. Cuidou de pisar pedra por pedra ao atravessar o jardim incrivelmente bem cuidado até subir os degraus da varanda e chegar a porta da frente. Ergueu o punho a fim de bater na porta, mas se sentiu educado demais. Pegou a maçaneta e a girou. Não conseguiu conter o sorriso que se abriu em sua face. Ele era esperado.


 


   Deparou-se com um hall que era iluminado apenas pela luz que vinha da sala ao lado. Uma escada se estendia logo a alguns passos dele, mas desviou-se dela e seguiu para a sala. Teve que se conter e parar quando a avistou. Sentiu todos os seus membros pegarem fogo e ao mesmo tempo um calafrio perpassou por sua espinha. Logo depois, a paz. Era incrível essa sensação.


 


   Hermione estava adormecida sobre o calor da lareira no canto do sofá. Um livro estava aberto em seu colo e prestes a cair no chão se não fosse pela posição de sua mão, na sua outra uma taça de vinho tinha a base enlaçada entre os seus dedos. Ele se aproximou silenciosamente sentindo todo aquele seu lado profissional insuportável que havia desenvolvido repreendê-lo.


 


   Ela estava mais linda do que nunca. Todos aqueles anos e ela ainda era incrivelmente linda! Sua pele alva, seus cachos castanhos largos e macios, seus lábios chamativos. Ali ela estava perfeita, sem expressão alguma, relaxada. Sua respiração era calma e ele sentia que podia ficar apenas ali a observando se ele também não sentisse falta daqueles olhos e daquela sua voz. Ele agachou frente a ela e a observou. Vendo-a agora ele ponderava em como havia conseguido ir embora nas poucas vezes que a havia visitado. Será que havia se tornado uma pessoa tão dura?


 


   Ele estendeu a mão e pensou em tocar seu rosto, mas ao ver suas mãos tão brutas chegarem perto dela acabou por recuar. A tanto tempo que ele deixara de agir por ele mesmo que agora quando se cedia a isso sentia como se não soubesse o que fazer.


 


- Hermione? – ele a chamou baixo e sentiu receio de sua própria voz pelo tom grave. Ela não acordou, apenas mexeu a cabeça incomodada.


 


   Harry estendeu a mão e dessa vez tocou a pele de seu rosto desenhando a linha de seu queixo. Ela se assustou abrindo os olhos ajeitando imediatamente sua postura. Ele teve que agir pelo seu reflexo desenvolvido passando a firmar a mão dela com a sua evitando que a taça caísse e quebrasse tendo que logo depois com a outra segurar o livro antes que ele batesse contra o chão. Isso sem sequer tirar seus olhos verdes do âmbar que ele tanto havia sentido falta.


 


   Ela acalmou-se em silêncio apenas por ver seus olhos verdes. Ela o esperava embora não quisesse criar esperanças de que ele realmente viria. A verdade era que ela o esperava todos os dias. Percebeu que ainda segurava sua taça de vinho quando sentiu a mão grande dele relaxar sobre a sua que havia impedido de derrubá-la. Eles não desviavam os olhos um do outro embora ela conseguisse perceber que os dele além de estarem fixos nos dela pareciam alcançar qualquer ponto daquela sala.


 


- Você demorou dessa vez. – ela conseguiu dizer numa voz rouca.


 


- Quase não consegui vir e também não vou poder me demorar. – ele disse.


 


- Fazem quatro anos desde a última vez que apareceu. Você tinha que vir!


 


- Onde está Rony?


 


- Está no meio da temporada nacional de Quadribol, mas vai vir amanhã cedo para irmos a estação. – Hermione disse e percebeu que Harry pareceu se aliviar ao saber disso. – Você está bronzeado, por onde esteve?


 


- Andei em missões pelos trópicos. – ele respondeu e viu um sorriso se abrir nos lábios dela. Ele tirou fotos com seus olhos e guardou a versão atualizada daquele sorriso.


 


- O que estava fazendo lá?


 


   Harry pela primeira vez abriu um sorriso esguio de lado.


 


- Salvando o mundo.


 


   Ela riu. Seus olhos brilhavam de alegria por vê-lo finalmente. Ergueu sua mão livre e passou os dedos gelados pela pele quente do rosto do homem quase não acreditando que estava vendo Harry Potter. Ele havia adquirido um ar tão sombrio.


 


- Eu senti tanto a sua falta. – ela sussurrou. – Que bom que veio porque eu precisava te ver logo! Eu já estava acordando no meio da noite de tanto que o meu peito queimava de saudades de você, se demorasse mais talvez eu não fosse suportar.


 


- Eu sei que dói tanto que as vezes parece físico. – ele disse, respirou fundo e se levantou. - Você tem Rony pra te acalmar durante a noite quando a dor for muito grande. Você também tem James.


 


   Ela se levantou atrás dele.


 


- Não terei mais tanto quanto antes.


 


   Harry caminhou em direção a lareira e passou a observar os porta-retratos sobre ela. Rony e James. Hermione e James. Hermione, Rony e James. Todos da Toca. James. Harry, Rony e Hermione. Harry e Hermione.


 


   Ele pegou a foto onde havia apenas James. Sentiu um punho esmagar seu coração. Como ele estava grande!


 


- É inegável que ele seja seu filho. – Hermione disse postando-se ao lado da lareira. – Ele é a sua cópia.


 


   Harry foi obrigado a ceder mais uma vez ao sorriso.


 


- Ele deve ter todo o seu gênio.


 


- Adora livros e é todo mandão, mas é tão curioso quanto você. – Hermione sorriu. – E tem um dom especial pra se meter em confusão, igualzinho a você!


 


   Harry riu e surpreendeu-se com o próprio som gutural que saia dele ao fazer isso de forma tão natural.


 


- Rony tem cuidado bem dele? – perguntou Harry devolvendo a foto ao lugar de onde ele pegara.


 


   Hermione assentiu.


 


- Ele vê em James você, Harry. Deus sabe o quanto ele sente sua falta e ele parece suprir isso em James. Você sabe que ele não me culpou quando soube que eu estava grávida de um filho seu. A notícia de sua morte já havia se espalhado e ele estava devastado assim como eu e todos os outros. Todos sempre souberam que de alguma forma nos pertencíamos. E agora o mundo tem o filho de Harry Potter já que não o tem mais. – ela sorriu. Ele segurou o rosto da mulher olhando fundo em seus olhos.


 


- E quanto a você e Rony?


 


- Estamos bem. Não nos amamos, eu sei disso e Rony também sabe, mas ele nunca superou sua suposta morte. Nem eu mesmo superei isso de você ir embora. Eu preciso de Rony e ele precisa de mim. Nos mantemos fies em nosso casamento por um laço que nos leva a você e isso é o suficiente pra mim. Mesmo Rony sabendo o tanto que eu te amo. Mesmo até James sabendo que Rony não é o pai dele e que eu não amo o homem com quem sou casada! Você sabe que Rony ficou comovido quando eu contei a ele sobre tudo que havíamos passado. De alguma forma cada um de nós se esforça para sermos uma família. Precisamos um do outro. – ela disse satisfeita.


 


   Ele deu um passo aproximando-se mais da mulher e ela envolveu com a sua mão a dele que se mantinha em seu rosto. Fechou os olhos e apreciou o toque daquela mão rude. Ele deu mais um passo e a abraçou.


 


- Ah, Hermione... – ele a apertou mais em seus braços. – Não há um dia em que você não me saia da cabeça!


 


   Ela afundou-se nos abraço do homem. Sentia tanta falta daquele calor, daquele cheiro, daquele carinho. Só o carinho dele a fazia tremer, fazia seu coração pular. E mesmo depois de tantos anos ela ainda sentia que estava tão apaixonada por ele quanto antes esteve.


 


- Por favor, não vá embora dessa vez! Diga a Rony que está vivo. Diga a verdade ao mundo e então nós finalmente vamos ficar juntos, Harry! Eu, você e James, como sempre deveria ter sido! - ela implorou grudando-se nele.


 


   Como ele queria. Sonhava e agora sabia que ela também sonhava o mesmo. Mas era apenas um sonho. Ele já havia vivido muito perigo e se exposto demais em seu trabalho para tornar a ser um comum civil. Colocaria em risco tudo que o cercava e um risco muito maior do que eles antes corriam com Voldemort, porque agora Harry Potter tinha incontáveis inimigos.


 


- Não posso voltar atrás, Hermione. Apenas entenda como sempre antes fez. Não questione porque não iria conseguir dimensionar o perigo que correria se eu tornasse a ser um civil, não se compararia ao que corria quando Voldemort ainda era vivo. – ele tornou a encarar o belo rosto de Hermione quando ela se afastou para poder ver o dele. – Temo que se soubesse das coisas horríveis que já fiz para salvar o mundo durante todos esses anos não conseguiria me amar mais. – ele suspirou ainda encantado com o quanto ela continuava linda. – O mundo é um lugar muito perigoso, Hermione. Você não imagina o quanto. Eu estou me saindo bem em acabar com muitos deles.


 


   Ela segurou o rosto do homem entre suas mãos olhando com amor. Ele viu ali no fundo o sentido maternal que ela havia ganhado. Era a única diferença que havia notado em seu comportamento das vezes que havia a visitado. Agora mais do que antes ele parecia tão desenvolvido quanto das outras vezes.


 


- Você está se tornando um homem diferente, Harry. – ela começou baixo. – Tenho notado isso nas vezes em que apareceu. Está cada vez mais frio e sabe reprimir bem suas emoções como se elas não valessem de nada e só fossem te fazer mal.


 


   Ele desviou o olhar do dela cuidando para que sua respiração não denunciasse que as palavras que ela havia acabado de soltar era uma realidade incomoda para ele.


 


- Minha vida tem sido um tanto quanto infeliz e calculada demais. – foi apenas o que ele comentou sobre o assunto. Tornou focar-se nos olhos da mulher. – Quero ver James.


 


   Ela sorriu.


 


- Ele vai ficar tão feliz em te ver. – ela se animou. Soltou-se dele e o puxou pela mão de volta ao hall. – Ah, Harry! Se vivesse conosco e visse o quanto James é fascinado por você ficaria abismado! – ela riu e ele limitou-se a sorrir embora sentisse que fosse explodir por dentro.


 


   Hermione o conduziu por um corredor escuro pelo horário do andar de cima. Ele não pode observar os detalhes, aliás, não queria reparar na casa nova de Hermione, que era nova apenas para ele, apenas queria ver seu filho.


 


   Chegaram a uma porta meia fechada antes do fim do corredor. Hermione a empurrou e entrou com cuidado. Harry espiou por detrás das mulher e ainda sem atravessar o vão da porta viu o garoto que estava deitado em sua cama se sentar com urgência.


 


- Ele veio? – perguntou o garoto acendendo o abajur e pulando para fora do colchão. Travou assim que viu a sombra do homem de capa preta atrás de sua mãe que detinha um sorriso radiante.


 


- Sim. – ela apenas respondeu dando espaço para que Harry pudesse passar por ela.


 


   Ele assim o fez. James estava vestido com seu pijama do time ao qual Rony jogava e olhava fixo e fascinado para o pai que se aproximou e se agachou frente a ele. Por mais que o garoto fosse grande para sua idade, a altura de Harry permitiu que ele deixasse seus olhos na linha dos de James. Verdes com verdes. O de ambos brilhavam de excitação.


 


- Esses olhos verdes são de minha mãe. Receba-os como um presente. – Harry disse ao filho que abriu um sorriso nervoso. Sem dúvida, era inegável que James era a cópia de Harry. – Não vai me dar um abraço?


 


   Ele pareceu querer recuar, mas não bastou dois tempos e ele já havia se jogado para cima do homem apertando-o com força. James havia esperado pelo segundo abraço que poderia dar no pai por quatro anos, havia contado dia pós dia desde que o pai fora embora de sua última visita e da primeira que ele havia recebido. Harry passou os braços em torno do filho e fechou os olhos. Seu filho.


 


- Você vai embora como fez da última vez? – perguntou o garoto quando voltaram a se encarar.


 


- Eu sempre tenho que ir embora. – respondeu Harry e James assentiu compreensivo.


 


- Quero ser um herói como você. – disse o garoto ao pai. – Salvar o mundo do mal assim como você faz todos os dias.


 


   Harry não deixou de rir.


 


- Você será. – incentivou o pai. – Será tão corajoso, tão falado e tão famoso quanto eu!


 


   Viu os olhos do filho brilhares e gravou aquela imagem em sua cabeça.


 


- Você é meu herói, pai. – James simplesmente disse e Harry sentiu seu coração que havia virado um pedra se esfarelar e virar pó. – Nunca serei como você, mas vou sempre tentar!


 


   Harry não sabia o que expressar, apenas sabia que parecia um bobo. Segurou o rosto do filho e beijou sua testa.


 


- Eu te amo, meu filho. – disse Harry e escutou Hermione fungar as suas costas. – Sempre te amei, desde os poucos segundo que te olhei pela primeira vez naquele berço no dia em que nasceu! Não pense que quando vou embora abandono vocês. Estou sempre vigiando o seus passos e o de sua mãe para deixá-los sempre seguros. Nunca se esqueça disso e também nunca deixe ninguém saber disso.


 


   James assentiu e abraçou mais uma vez o pai.


 


- Tenho guardado bem seu segredo. – apressou-se James a contar. – Mamãe sempre me diz o quanto é importante guardar do mundo que você está vivo, ela disse que você sempre diz isso a ela quando vem nos ver e que não é para te desapontarmos. Mas não demore tanto para vir nos ver assim como faz!


 


   Harry sorriu.


 


- Salvar o mundo é um trabalho que me custa muito, estou sempre tentando voltar a vocês, mas não é algo que eu consigo todo fim de semana. – disse ele. – Eu não deveria estar aqui, mas vim porque o destino conspirou que eu poderia te ver antes de ir para Hogwarts.


 


- Vai me levar a estação? – perguntou o garoto esperançoso.


 


- Gostaria, mas espero que entenda que o mundo não pode esperar eu te levar a King’s Cross. Acredite, ele já esta esperando demais só por esse momento que estou falando aqui com você. Se eu me demorar pode ser tarde demais para muita coisa. – Harry disse e o filho assentiu. – Eu trouxe um presente para você. – Harry disse puxando de dentro de sua capa de couro outra de seda lustrosa. – Agora que vai para Hogwarts ela será muito útil. – disse ele piscando para filho que a pegou com curiosidade. – Era do meu pai e agora é sua.


 


   O garoto sorriu animado assim que percebeu do que se tratava.


 


- É uma capa da invisibilidade! – exclamou ele surpreso e fascinado. – Mas... Você não vai precisar mais dela?


 


   Harry sorriu.


 


- Na divisão onde eu trabalho tem muita dessas, mas essa que você segura agora é especial e quero que ela seja sua.


 


   O garoto correu para frente do espelho e a vestiu animado. Sumiu e tornou a aparecer frente a ele e repetiu o processo por mais quatro vezes. Harry se levantou e sentiu as mãos frias de Hermione cobrirem a sua enquanto ela recostava a cabeça em seu braço encarando o filho se divertir com o novo presente.


 


- Ele cresceu. – Harry cochichou para ela quase que em transe.


 


   Ela sorriu.


 


- Você não tem idéia do quanto. – ela completou.


 


   Pela primeira vez Harry pode notar no quarto de James. Não era muito grande, mas muito bem arrumado graças a Hermione. O malão de Hogwarts estava ao pé de sua cama que era encostado na parede onde havia uma grande janela. Sobre o malão estava uma gaiola onde presa havia uma coruja branca que se parecia muito com a que Harry havia tido. Pelas paredes haviam escudos da grifinória e do time ao qual Rony jogava. Na cabeceira da cama do garoto Harry viu uma foto que ele muito conhecia. Era ele e Hermione adolescentes em Hogwarts abraçados sobre a copa de uma das árvores da beira do lago. Ele com a vassoura em uma mão e cercando a cintura de Hermione com o outro braço vestido em seu uniforme do torneio tribruxo e ela afundada em seu abraço com aquele vestido de fim de semana. Do lado da foto havia outra onde Rony, Hermione e James sorriam e acenavam alegremente. Acima da cabeceira havia um quadro enorme onde estavam outras milhares de fotos.


 


- Debaixo da cama dele há um mundo de coisas sobre você. – Hermione contou. – E sobre nós dois. – ela acrescentou rindo de si mesma. – Ele já leu todos os livros, todas as reportagens, sabe de toda a sua história e de toda a nossa história. – ela suspirou. – Ele te adora.


 


   Ele sorriu, soltou a mão dela e cercou os ombros da mulher com seu braço, ela por sua vez passou os dela pelo tronco do homem e o abraço recostando-se sobre o peito dele. Ambos não deixavam de admirar o filho descobrir novas maneiras de se esconder sobre a capa.


 


   James pareceu nesse momento acordar de volta a realidade deixando o fascínio de sua capa de lado e passando a encarar os pais abraçados as suas costas pelo espelho. Harry pode ver nos olhos do filho o mesmo que ele fazia quando havia encontrado em Hogwarts aquele espelho que mostrava o que mais se desejava. A capa deslizou pela sua mão e foi parar no chão.


 


- Queria que fossemos uma família. – comentou James virando-se para os pais.


 


   Hermione suspirou e Harry foi obrigado a desviar o olhar do filho.


 


- Eu queria ter tido uma família como a que você tem. – Harry disse e tornou a encarar o menino.


 


- No fundo nós somos uma família sim, James. – Hermione partiu a falar. – Mesmo não estando juntos nós pertencemos um ao outro.


 


   James correu até eles e os abraçou.


 


- Pai, vai me visitar em Hogwarts? – perguntou o filho.


 


- Saiba que tentarei todos os dias. – respondeu Harry.


 


- Vai se desapontar comigo se eu não for para a Grifinória? – perguntou novamente o garoto.


 


- Você vai para casa que assim desejar, acredite em mim. – tornou a responder o homem.


 


- Pai. – chamou o garoto dessa vez se afastando. Harry olhou bem em seus olhos enquanto via James sorrir admirado para ele. – Eu sempre soube que não estava morto!


 


   Harry sorriu. Soltou-se de Hermione e abaixou novamente abraçando forte o filho e guardando seu cheiro. Sentiu seu coração ser apertado. Estava na hora.


 


- Divirta-se em Hogwarts. Vai carregar lembranças daquele lugar para o resto de sua vida, acredite! – disse Harry soltando-se do filho.


 


   O garoto assentiu e Harry levantou-se encarando Hermione. Ah, como ele a amava! Segurou o rosto da mulher entre suas mãos e olhou fundo naqueles olhos cor de âmbar.


 


- Eu ainda amo você.


 


   Ela sorriu tristemente.


 


- E eu ainda mais.


 


   Ela ficou sobre a ponta dos pés e ele a beijou. Simples. Apenas sentiram os lábios um do outro por alguns segundos e ali mataram a saudade que para eles eram uma fênix que renasceria assim que ele fosse embora novamente.


 


- Não vá! – ela quase chorou quando ele afastou-se da boca da mulher.


 


- Eu não quero ir. – foi apenas o ele disse.


 


   Soltaram-se e ele afastou-se de ambos. Harry olhou uma última vez para o filho e outra vez para Hermione. O garoto passou um dos braços pelo quadril da mãe e descansou a cabeça em sua cintura. Hermione pousou sua mão sobre o ombro do filho e os três se despediram em silêncio.


 


   Sua família. Harry deu as costas e aparatou.


 


   O silêncio se estendeu pelo quarto de James enquanto mãe e filho encaravam fixos o lugar onde antes esteve Harry. Uma única lágrima escapou de Hermione e escorreu pela sua bochecha. Ela já não chorava mais tanto. Sorriu. Ele voltaria.


 


   A fênix da saudade renasceu no coração dos três novamente.


 


- Acha que ele vai demorar para nos visitar novamente, mãe?


 


   Hermione suspirou.


 


- Não sei, filho. Eu estarei esperando.
 __________________________________________________________________________________.
 
 N.A : Parabéns a você que leu até o fim essa coisa enorme que eu chamei de capítulo único! Deixe seu comentário crítico e faça uma autora feliz! Obrigada por aguentar esse drama todo! HAHA =) Só pra frizar mais uma vez: COMENTEM! COMENTEM! COMENTEM! COMENTEM! Por favor, não leiam simplesmente e pronto! Leiam e comentem no final! POR FAVOR! Agradecida!



 


 

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Comentários (17)

  • Josy

    mto triste, mas linda...

    2011-07-23
  • Tainá Maik

    Chorando horrores... ameii ^^

    2011-07-07
  • Alexandra Granger Potter

    Amei a fic ;') Chorei litros aqui :/

    2011-07-02
  • Isis Brito

    Fic simplesmente maravilhosa... Chorando horrores por eles não ficarem juntos... *-*

    2011-07-01
  • Thaissa Fernandes

    Nossa! Essa fic deixou me sem ar! Realmente muito boa! Quem dera isso estivesse escrito no último livro. Parabéns!

    2011-06-28
  • AmandaF.

    MEU DEUS! Coisa perfeita. A melhor de todas que já lí. Parabéns, tá linda. ): ♥

    2011-06-27
  • rosana franco

    Linda mas muito triste os dois são muito complicados.

    2011-06-21
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