Blackbird (capítulo único)



Blackbird


 


Lily Evans era esperta como uma raposa e forte como pimenta malagueta. Sempre tinha uma resposta na ponta da língua e uma vontade de ferro para defender seus pontos de vista, uma vontade que queimava como ferro em brasa. Ela podia ser acolhedora como uma fogueira na escuridão e ao mesmo tempo devastadora como um incêndio na mata. E claro que seu pavio conhecido pavio curto também era de grande serventia para realizar essas mudanças bruscas – o pessoal da Grifinória sabia bem.


 


Severo Snape, ao contrário, era quieto, frio e constante como a noite. Tinha os cabelos escuros, cor de carvão, e pisava discreto como uma pantera. Tinha os traços todos da mãe, Eileen Prince, inclusive em seu rosto. Visto de longe, não raro tomavam Severo por um pássaro negro, um gigantesco pássaro negro caminhando pela terra. Talvez fosse seu nariz.


 


Eram amigos improváveis, ou ao menos assim eram considerados pela maior parte das pessoas que os observavam. Não entendiam como Lily, que irradiava vida, iluminava e queimava, sempre sorrindo, conseguia andar sempre acompanhada por Severo – Severo que não falava nada, que escondia o sorriso, que sequer costumava olhar os outros nos olhos.


 


Ninguém nunca entendeu, e nenhum deles nunca se importou.


 


A verdade era que eles eram perfeitos juntos, da sua maneira. Nenhum fogo arde muito tempo sem carvão para queimar, e Lily e Severo se completavam de formas inimagináveis. Ele era o ponto racional na sua impulsividade, ela era a ousadia na personalidade sempre responsável e preocupada de Severo.


 


Era ele quem a consolava toda vez que seu coração queimava por ter explodido sem pensar com algum amigo. Era por ele que muitas vezes ela não conseguia se controlar e ficar quieta. Um se apoiava no outro, sempre, e para eles era tão claro o que sentiam entre si que nunca se preocuparam em colocar em palavras o que acontecia. Só em gestos, abraços, toques, beijos. Eles sabiam que sempre estariam ali, um para o outro, não importava o que acontecesse.


 


E, é claro, algo aconteceu. Sempre acontece. A vida costuma fazer isso.


 


No caso, foi a guerra. A ascensão do Lorde das Trevas. Não foram as amizades de Snape com os comensais – ela sabia que ele era apenas um espião de Dumbledore,


desde o princípio! -, foi apenas o avanço da guerra e o ódio que sentiam dela por ser filha de trouxas.


 


Snape não a viu partir. Apenas encontrou o corpo da coruja próximo ao antigo quartel secreto dos Aliados, agora abandonado. Ela carregava um bilhete para ele, mas estava queimado e difícil de entender. A única coisa completamente legível era o final dele, onde ela assinara: “Lots of love, Lily”. Com todo o seu amor. E passaram-se vários meses em silêncio. Ele não sabia se ela havia morrido ou sobrevivido.


 


Reencontrou-a cerca de dois anos depois, quase por acaso. Estava em um bar trouxa, no meio da madrugada, morrendo de frio. Ele estava esperando por seu café, analisando mentalmente o novo pedido de Dumbledore, quando a viu. Ela estava passando ali, os cabelos cobertos por um lenço e levando uma criança pela mão, que não deveria ter mais do que dois anos.


 


Sabia que não deveria, mas não pode evitar. Abandonou o café e foi atrás dela.


 


- Lily! – chamou.


 


Ela virou-se para ele, assustada. Severo pôde perceber seu rosto marcado, o aspecto cansado. Ela era como uma vela apagada pelo vento. Quando percebeu quem ele era, ela sorriu.


 


- Sev! – acenou.


 


Severo se aproximou. Ela, então, o beijou. Nos lábios. Com toda a força. Com toda a vontade. Ele sentiu um arrepio. E quando abriu os olhos, pode perceber um pequeno vislumbre da antiga Lily, acesa, iluminada, apaixonada pela vida. E então reparou na aliança.


 


- Lily... você se casou?


 


- É – disse ela, o brilho nos olhos se apagando. – Eu casei. Com o James Potter.


 


- Ah. – fez ele.


 


- Sev. – disse ela, abaixando a voz. – Eu sinto muito. Eu não tive escolha.


 


- E cadê o grande galã?


 


- Está escondido. Não tivemos escolha. Eu estou indo também. Achamos melhor irmos separados. Sozinha. Pra não chamar a atenção. Não posso dizer onde é. Está protegido pelo feitiço fidelius. Sev... eu não tive escolha.


 


- Claro. – assentiu ele. – Eu só... nada.


 


- Você pegou meu bilhete?


 


- Não. Estava queimado. Mas acho que foi bom. Não sei se teria sido bom passar todos esse tempo sabendo que você estava com o Potter. Logo com ele! Ah, com quem quer que fosse! Achei que, entre todas as pessoas, pelo menos você se lembraria de que tenho um coração. E de que te amava. – disse ele. Não era a conversa que ele pretendia ter, mas naquelas circunstâncias não havia outra.


 


- Sev, seu grande idiota – disse ela, trincando os dentes. – é  claro que eu sei.


 


- ...


 


- E achei que você também sabia. Você sabe. Que eu amo você.


 


- Mas...


 


- Ouça, que não tenho tempo. Eu tive que me casar com o James Potter. Não tive escolha. Eu precisava cair fora de lá. O James disse que podia me levar. Com ele. Eu aceitei.


 


- E em troca se casou com ele?


 


- Não, claro que não. Eu fiz isso pelo Harry. – apontou com a cabeça para a criança.


 


- Ah. – disse Severo, sentindo seu coração gelar. – Seu filho. Bonito. Ele tem seus olhos.


 


- Sim – respondeu Lily. – E os cabelos do pai.


 


- Estou vendo. Pretos como os do Potter.


 


- Não, Sev. Pretos como o do pai.


 


Ele sentiu uma imensa onda de choque ocupando seu corpo. Olhou para o garoto. Olhou para Lily.


 


- Eu não me incomodaria de morrer esperando você, Sev, você sabe muito bem. Eu só fugi porque tinha outra pessoa que eu precisava proteger. O James odeia você. Ele nunca suportou o fato de que eu te amava, e não a ele. Na época de Hogwarts. Eu tive que casar com ele. Pra fingir que o Harry não era seu. Ele não iria proteger a gente se soubesse disso. Eu podia me cuidar, mas não podia arriscar o Harry.


 


- Lily, tem tantas pessoas que poderiam ter cuidado de voc...


 


- Não me venha com essa  - disse ela começando a chorar. – Eu não podia arriscar o Harry coisíssima nenhuma! É a única coisa que me sobrou de você!  - berrou ela, esquecendo-se da discrição e começando a socá-lo no peito.


 


- Foge comigo.


 


- Não. Não posso. Você sabe. Você é muito importante pros Aliados. Pra gente. Pra fazer um mundo melhor pra nós. Não quero que seja perseguido e morto por Você-Sabe-Quem. Quero você vivo.


 


Ele não sabia o que dizer.


 


- Vou estar segura lá. Com o James. E com o Harry. Sempre perto de você. Vou esperar. Quando tudo acabar, vou estar lá, esperando você. Só você.


 


Ela beijou Snape uma vez mais, puxando-o para perto de si, como se isso pudesse impedi-los de se separar. Então pegou Harry no colo.


 


- Diz tchau pra ele, Harry.


 


O bebê acenou.


 


Então Lily seguiu seu caminho, para onde quer que estivesse indo – até o local? Pegar a chave de portal? - . Ela não olhou nem uma vez para trás. Não podia. Se olhasse, iria fraquejar.


 


Conforme se afastava de Snape e ia se aproximando cada vez mais de James Potter, Severo percebeu que ela ia perdendo toda a sua espontaneidade, toda a sua doçura na irritação e se tornava cada vez mais apagada, cada vez mais resignada, cada vez menos ela, como um fogo que fosse pouco a pouco perdendo o brilho até desaparecer de vez. Brasa sempre pode tornar a acender, mas só nas condições certas... e, no caso dela, apenas com Snape. Só ele podia acendê-la daquela forma.


 


James podia viver com ela, estar com ela todos os dias, vê-la, mas jamais veria aquele lado de Lily. Aquele era só com Severo. Com seu Severo. James nunca teria a Lily que fora dele. Mesmo se passassem os anos e ela viesse mesmo a um dia amá-lo.


 


Aquela Lily era de Severo. Sempre.


 


Apertou Harry com mais força e apressou o passo.


 


“Te amo”, jogou ela para a noite.


 


A frase ficou ali parada no ar até amanhecer.


 


 


 


 


 


 


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N/A: Oie!


 


Eu escrevi essa fic só porque fiquei puta e revolta com a minha própria fic anterior, “Blue Valentines”, ahahahahaha. XD



Essa é uma outra versão do universo da J.K., que afora a idade do Harry, pode perfeitamente ter acontecido antes da Pedra Filosofal e tudo o mais. Gosto de pensar nela assim.


 


Ainda vou fazer uma fic comprida do Sev com a Lily, ia até mesmo ser essa... mas fiquei com medo disso me distrair da outra, do Draco/Luna, então decidi suspender.


 


Ela fica como uma “amostra”. Quando acabar “Um amor para recordar em Hogwarts”, eu penso se a “estico” e explico ou não. Se fizer isso, com certeza vai tudo mudar no universo dos bruxos e do retorno do Voldemort! Até lá, pode considerar tudo o mesmo, que ela morreu, o James também, a rua dos Alfeneiros, etc.


 


Apenas que o pai é outro.


 


Uma idéia que me veio do nada e pela qual me apaixonei.


 


Originalmente batizei a fic pensando na música “blackbird”, que seria o Snape, e que ficaria livre ao saber que Lily sempre o amou (tem um verso “you were only waiting for this moment to be free” e tal), mas daí não coloquei a letra literalmente na fic porque quebrou o ritmo. Acontece. Mas gostei do resultado.


 


Sei que fics J/L são campeãs de público, mas não pude evitar. Não tenho nada contra o James, mas o Severo é muito amor no coração! <3


 

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Comentários (4)

  • hcm

    simplesmente odeio o Tiago Potter! (ou James, se preferir) Gosto da ideia de que o Snape é o pai do Harry, na verdade, eu já procurei várias fics sobre esse assunto. Amei sua fic! parabéns!

    2011-11-01
  • Cristie

    nossa! eu sou totalmente apaixonada por lily/sev e eu AMEI sua fic. bejooos  

    2011-09-23
  • Cris Granger Malfoy

    Eu não gosto do James. Na verdade eu odeio o James! Eu e minha amiga. Então nós amamos a fic. Também estou fazendo uma fic Severo/Lilian com o nome muito idiota de: "Minha Primeira Fic - Sev e Lili", ou algo do gênero. AMEI!!!!!!!!!!!!

    2011-08-05
  • CacaBlack

    Eu gostei, sempre achei que deveria existir alhum momento em que o snape fosse feliz com a lily sabe! Cacá!

    2011-07-08
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