CAPÍTULO 1 Único
Horas já se passara desde que começou o julgamento. Testemunhas já haviam passado por ali... Nada mais do que pessoas mentirosas, que fingiam serem superiores e no poder de condenar alguém ao beijo do dementador. Ele já se sentia derrotado, faltava apenas uma pessoa a falar... Apenas mais um para mentir, para enganar. Ele entrou naquele grande salão olhando para frente, não aparentava ser superior, nem inferior, apenas igual. Sua expressão vazia no rosto, mas seus olhos azuis atrás daqueles oculos de meia lua mostravam que não queria estar ali, não para condenar alguém. Todos se ajeitaram nas cadeiras, sabiam que as palavras do velho Dumbledore valiam mais do que todas as outras que já haviam sido ditas naquele recinto.
- Senhor Dumbledore... O que tem a dizer sobre este julgamento, sabendo que dês do início o homem aqui se pronuncia culpado pela morte da senhora Granger Wesley?
- Ora Harry... O que adiante lhe dizer minha opinião se a sua já está formada? Sei que a vida toda vocês dois foram rivais, e agora sua melhor amiga, esposa de seu melhor amigo está morta e o provável culpado é esse senhor aqui... Não tenho muito a dizer... Ele se diz culpado, mesmo eu duvidando disso... Tenho algo a dizer a você jovem rapaz - disse Dumbledore se levantando de sua cadeira e indo até o acusado - Você a amava - disse ele em tom de segredo - se você for condenado, pelo menos mostre que um dia vocês foram felizes...- ele voltou para o seu lugar e olhou inquieto para Harry. Seus olhos vermelhos e cansados mostravam uma noite de choro e mal dormida.
- Algo a mais a dizer, Dumbledore? Temos que julgá-lo antes da meia-noite.
- Quem somos nós para julgarmos o certo e o errado se nós estamos cometendo um erro em tentar distinguir o que é cada um?
Todos se entreolharam... O velho ainda tinha razão. Como dizer o que é o certo e errado se tudo esta em constante mudança? Como podemos ter certeza de estarmos fazendo a coisa certa se o errado é tão igual? Tudo é a mesma coisa...! Nada faz sentido.
- Sei minha sentença antes mesmo de me julgarem... - todos olharam para o acusado que pela primeira vez falara algo alem de 'sim' ou 'não'- Culpem-me por tudo... Por aquela noite, ainda em Hogwarts que eu e ela ficamos presos no armário das vassouras, onde começou nossa paixão... Pelos dias frios de outono que caminhávamos juntos na beira do lago. Culpem-me até pelas noites que passávamos bebendo vinho juntos naquele chalé da montanha e até pelas mentiras que dizia que ia trabalhar enquanto na verdade ela estava comigo... Onde sempre deveria estar. Só não me culpem por uma coisa... Por ter matado meu único motivo de vida... Meu único e verdadeiro amor.
Todos se entreolhavam e as lágrimas começaram a brotar nos olhos dele... Harry pegou seu martelo, estava pronto para dizer a sentença.
- Eu te condeno Draco Malfoy, por ter assassinado Hermione Granger Weasley, na ultima noite vinte e seis de outubro. Ao amanhecer, será submetido ao beijo do dementador. Caso encerrado.
Ninguém comemorou e nem lamentou. Seria apenas mais um julgado injustamente pelomenino-que-sobreviveu. Dumbledore se levantou com a mesma expressão de vazio, mas agora seus olhos azuis mostravam a indignação e a tristeza de mais uma vez, o poder dos bruxos ser usado para uma 'vingança' infantil.
Draco foi levado para uma sela, para esperar a hora de sua morte, em silencio.
A grande masmorra onde ele esperaria sua morte estava silenciosa. Nenhum guarda foi posto ali, pois ele em momento algum mostrou resistência a prisão ou algo assim. Ele estava sentado perto a janela, onde olhava a grande lua quase cheia lá fora e aquela única estrela que se destacava das outras. Ouviu a porta pesada de madeira abrir. Não olhou pra trás, não queria saber quem era, queria apenas estar só.
- Entendo... – sussurrara Dumbledore observando a mesma estrela que Draco. – Mas acredito que se a amava de verdade...
- Eu a amava de verdade! O que tínhamos era tão forte que nem posso dizer que doía. Quando se ama alguém como eu a amava não se tem espaço para outros sentimentos além do amor...
O senhor, acostumado com sempre ter respostas sábias para distintas situações, abrira a boca para tentar aconchegar o jovem com doces palavras, mas desistira ao perceber que as mesmas entrariam amargas pelos ouvidos de Draco. Ele não entendia.
Silêncio. As palavras se perderam na escuridão da sela ou realmente não havia mais nada a ser dito.
- O que veio fazer aqui? – o rapaz perguntara, sem desviar os olhos do céu, ao ouvir o ranger da porta. O velho o abandonaria como todos os outros.
- Meu jovem, - Alvo hesitara por alguns instantes para escolher com cautela suas próximas palavras - não há por que pagar por um crime que não tinha intenção de cometer. Com o tempo a dor irá passar, mas então será tarde e sua vida não será poupada.
- Receio que sua resposta seja sim, mas... Está me sugerindo fuga?
- Não, não... Acho que não me fiz por entender direito. É só que... Por que não me conta a verdade. A verdade sobre o que realmente aconteceu aquela noite.
- E de que adiantaria? O caso está encerrado. O martelo bateu há horas.
- Por acaso está tentando provar algo para si mesmo ou não consegue mais levar a vida adiante? A vida é uma dádiva que não deve ser desperdiçada.
O som estridente das badaladas dos sinos se fez presente. Não apenas anunciava meia noite... Avisava que o tempo estava acabando e em breve nada poderia ser feito. Ou desfeito.
- Julieta não decidiu arrebentar a corda da vida por que havia matado Romeu. Ela apenas quis, que independente do lugar, a ponte que os unia não fosse quebrada. – Draco se pusera de pé ao ouvir passos. Sua hora chegara. – Não quero quebrar a ponte.
Dumbledore pôs-se a procurar algo em seu bolso, mas a velocidade dos acontecimentos seguintes o deixou paralisado.
Os guardas estavam a postos. Prontos para o levar seguraram um em cada braço e o arrastaram para fora da sela. No caminho pelo corredor a céu aberto Draco olhara uma vez mais para a estrela solitária e sorrira, pois ela nunca mais ficaria sozinha.
Quando o senhor enfim encontrou o que procurava Malfoy já estava longe. Ele olhara da foto em suas mãos para o céu e percebera uma nova estrela surgir, ao lado da outra que antes brilhava sozinha. E então, com lágrimas nos olhos, dissera baixo de si para si:
- Eu quebrei a ponte...
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