Epílogo do Primeiro Ano



Junto daquele corpo morno, cercada de carinho, suas sensações foram voltando.
Já não era mais um autômato da razão, um arrepio perpassou-lhe coluna. Ela balançava a cabeça, a boca entreaberta tentando pronunciar alguma palavra. Finalmente conseguiu organizar as idéias:
- Como pode ser?... Ele... Eu sabia que havia algo de errado! Senão, porque motivo aqueles comensais ainda estariam na ativa?! É óbvio! Deuses!
Ela estava em choque. Pôs a mão sobre a boca e, fechando os olhos, pesadas lágrimas escorreram-lhe pelo rosto.
- Lunare... Eu devia ter lhe contado antes... Por todo esse tempo eu soube disso. É minha culpa você não estar bem longe daqui já agora...
- Severus, que diferença faz eu estar aqui ou em outro lugar?! Aonde mais eu poderia ir?! Quando vim para Hogwarts eu já sabia que estava entrando no covil de Voldemort! Eu sabia que, se na Itália era perigoso, na Inglaterra com certeza seria pior, afinal, era daqui que ele governava tudo! A Signora Foletti me garantiu que Hogwarts era segura, por isso eu vim... Mas... E agora?
Ele olhou-a como quem pede desculpas por não ter uma resposta. Simplesmente abraçou-a e disse baixinho:
- Acalme-se... O que aconteceu estava além de qualquer tipo de segurança e... bem... nós dois sabemos que se ele não morreu daquela vez certamente não morreu hoje. Eu sei que ele não morreu, Lacrima! A Marca está queimando! Ele está em algum lugar com muito, muito ódio! Você sabe que contra a esperteza dele não há sistemas de segurança. Acho que você está certa, Lunare... Ir para onde? Onde quer que você esteja, nunca estará livre se eles quiserem lhe prejudicar. Estamos no mesmo barco...
Ele terminou a frase com desânimo e ela, enxugando as lágrimas, olhava-o curiosa.
- Professor Snape... Há alguns meses eu lhe perguntei como você se livrou dele... Acabamos desconversando naquele dia e desde então temos evitado tocar em antigas feridas. Agora já não é mais possível ignorá-las, que estão novamente abertas e sangrando... Então... Me diga... Você não se livrou dele, não é?
- Não... - ele balançou de leve a fronte que levava baixa. - Enquanto ele viver, enquanto eu viver, o laço continua intacto... Mesmo que toda a ilusão acabe, mesmo que, em meu íntimo, eu não esteja mais à mercê dele, eu sempre terei de dar-lhe satisfações. E isso é pior que qualquer coisa. Você sente a culpa de tudo que já fez e tem que continuar fazendo mais e mais... Só a morte pode livrar da maldição, mas nem esse consolo eu tenho. Lunare, eu sabia que conhecia seu nome de algum lugar... Aurea... Ela era pura demais para sobreviver ao veneno da Marca... Lacrima, acredite, ela... Foi feliz em morrer!
- Eu sei. - Ela parecia distante. Os olhos parados, fixos em um ponto qualquer. As lágrimas escorriam mecanicamente, pareciam mais pingos modorrentos de uma chuva fraca escorrendo sobre o vidro.
- Aurea Nox Lunare. Eu soube que você falava dela naquele dia. Eu procurei nas velhas coisas, na Marca e na memória... Eu lembrei de onde vinha o déjà vu sempre que escutava seu nome. Ela tinha o cabelo bem mais claro que o seu, mas o usava exatamente da mesma forma. Os olhos dela eram verdes bem claros, iguais aos da pequena Aurea. Ela toda parecia iluminada pelo sol e quando ela ficava triste, era como se tudo ao redor perdesse a cor. É engraçado como três irmãs podem ter um rosto tão perfeitamente igual... Três estátuas da mesma deusa... Só que ela estava em pleno vigor da juventude, tinha uma cor saudável e nenhuma marca de sofrimento. Ela tinha um sorriso tão sincero que eu cheguei a achar que qualquer dia ela poderia matar um comensal com aquela alegria. Era como ver um patrono... Mas ela era ingênua como só as virgens o podem ser e ele sabia disso! Ele soube como lidar com aquele fino vaso de cristal que podia se quebrar ao mínimo toque. Ele foi tão desgraçadamente hábil! A jovem Lunare estava sempre acima de tudo, ela não precisava se dobrar, afinal, ela tinha habilidades mentais muitíssimo superiores a qualquer bruxo conhecido! E... De repente ela desapareceu... Desapareceu e nenhum de nós se atreveu ou se importou em pedir explicações! Quando eu disse que sabia o que ele fizera, Lacrima, eu menti. Sim, eu já vi ele fazendo coisas terríveis, mas nem imagino qual seria o castigo daquela que estava acima dos outros comensais e que ousou traí-lo! Eu nem imagino como pode ter sido quando ele quis se vingar daquela que ele próprio havia posto em tão glorioso altar... Não posso te enganar, Lacrima, sua irmã deve ter sofrido as piores torturas já vistas na face da Terra!
- Esteja certo disso, Snape! Eu vi tudo! Tudo o que ela sofreu, Severus Snape, eu vi tudo! Eu estava lá, escondida, quando ela falou com ele, quando ela o questionou e ele soube que teria de se livrar dela porque os olhos dela estavam abertos! E eu sou a culpada! Eu sou culpada porque eu a incentivei a deixar tudo aquilo, eu sou culpada porque estava lá e não fiz nada! - ela falava desesperada, em voz alta. - Maldições que, depois de onze anos, ainda tenho na memória, Snape, apesar de todo meu esforço para esquecê-las, aquelas palavras ainda estão gravadas em minha mente!
- Coisa que, provavelmente, nem eu sei... - ele olhava-a com dor. Então aí estava todo o segredo dela a que Dumbledore se referira. Ele estava certo, poucos poderiam entender o que ela sentia... Certamente haviam mais coisas, mas ele não poderia tocar tão fundo as feridas dela.
Ela também tinha muito que perguntar, dúvidas inegáveis, mas as lembranças daquele dia maldito lhe sufocavam. Não pronunciou mais palavra alguma durante as horas que ainda restavam daquela noite.

As crianças, exceto Rony, Hermione e Harry que se viram envolvidas no caso, não ficaram muito afetadas com as notícias sobre Voldemort. Não havia, deveras, nada muito concreto com o que se preocupar, já que, estando Quirrell morto, o espírito do Lorde das Trevas estava novamente fora de atividade.
Mas Lunare sabia que a coisa ia muito além. Finalmente compreendera o que disse o centauro e agora observava o céu todas as noites. Sabia que ele voltaria. Sabia que ele podia voltar e que ele sabia como fazê-lo. Estava se aproximando a hora de decidir qual caminho tomar. Até o próximo equinócio de outono teria de decidir se se aproximaria ou não da serpente. Ela certamente o levaria ao Lorde. Mas quem seria?

- FIM DO PRIMEIRO ANO -



É isso aí, gente, espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever! Já estou começando a trabalhar na próxima fase da fic... : )

Gostaria de agradecer a todos que leram, comentaram e me incentivaram a continuar escrevendo, mas principalmente à Dany, ao Déh (o Allard!) e à Amanditah, que me ajudou muito fazendo a leitura beta dos últimos capítulos! Valeu, povo! ^_^v

VEJAM O SEGUNDO ANO!!!
http://floreioseborroes.com.br/menufic.php?id=12090

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