Obliviate



O vestido lilás


 


 


Hermione suspirou mais uma vez, fazendo um enorme esforço para não chorar. Precisava ser forte, precisava sair logo dali.


Passara grande parte do dia adiando sua partida; era irracional, mas seu coração parecia esperar que um milagre acontecesse e que ela pudesse evitar todo aquele sofrimento.


 


Engoliu com dificuldade, sentindo algo arranhar sua garganta de forma dolorosa, enquanto colocava os últimos livros que iria levar dentro da bolsa.


 


O vestido que usaria na festa de casamento de Fleur e Gui estava disposto sobre sua cama. Ela passou a mão sobre o tecido delicado, lembrando-se do dia em que havia ido comprá-lo com sua mãe.


Ela sempre fora tão compreensiva.


 


Seus pais haviam aceitado ficar longe dela por todos esses anos, desde que completara 11 anos, porque a amavam, e agora ela precisaria aceitar ficar longe deles pelo mesmo motivo.


 


Ainda sentada na beirada da cama, Hermione olhou com carinho os porta-retratos dispostos sobre a cômoda do seu quarto, sentindo um bolo apertar sua garganta.


 


Estava prestes a tomar uma das decisões mais difíceis da sua vida, e repetia mentalmente a si mesma que estava fazendo a coisa certa, como se precisasse disso para se convencer.


 


Ela tinha lido tudo que encontrara sobre o feitiço, poderia inclusive dizer que estava se sentindo confiante, mas eram seus pais... e se alguma coisa saísse errado? Seu estômago se contorceu de forma incômoda com esse pensamento.


 


- Hermione? - A porta se abriu, sobressaltando-a. Ela engoliu o bolo que se formara em sua garganta e mirou a mãe com os olhos brilhantes.


 


- Hermione? Tudo bem? – Questionou a mulher se aproximando da filha.


 


- Sim mãe! – Sua voz vacilou, estava trêmula, mas ela tratou de disfarçar se abaixando para pegar as sandálias, colocando-as na pequena bolsa, junto com os demais objetos, sob o olhar atento da mãe que não mais se impressionava com os feitiços que a filha era capaz de executar.


 


- Você esteve trancada neste quarto durante todo o dia, querida. – Disse a senhora angustiada.


 


- Estava arrumando as coisas para a festa de casamento. Lembra? Falamos sobre isso quando voltei de Hogwarts.


 


Sua mãe fechou a porta atrás de si e andou em direção a filha.


 


- Claro, inclusive ajudei você a escolher o vestido. – A Sra. de cabelos castanhos, se aproximou e sentou ao lado filha, alisando o vestido com carinho. - Você vai ficar linda, Mione! – Confessou emocionada. – Você cresceu – constatou em meio a um sorriso fraco. – Se tornou uma menina linda. – Ela ficou em silêncio por breves instantes, mirando Hermione nos olhos com intensidade. - Bem, a verdade é que sempre achei você uma menina linda, mas agora você já é praticamente uma mulher, e está cada dia mais linda! Tenho tanto orgulho de você, querida...


 


Hermione sorriu, tentando conter as lágrimas que se assomavam em seus olhos.


 


- Você é minha mãe, e mães sempre acham os filhos lindos. – Tentou disfarçar o choro que ameaçava escapar a qualquer momento, revirando os olhos.


 


- Hermione, tenho certeza de que ele também acha você linda. – Sua mãe disse com naturalidade, fazendo Hermione se mexer inquieta, sentindo as bochechas quentes. – Ele pode ser um pouco lento, mas não é bobo, minha querida!


 


- Mas por que acha que isso faz alguma diferença? – Questionou nervosa e sem graça.


 


- Hermione, nós duas sabemos que você gosta do Ronald. – A mulher disse solidária e compreensiva.


 


Hermione mirou a mãe assustada. Ela era uma espécie de vidente? Como poderia ter tanta certeza se nunca havia dito nada diretamente?!


 


- Está tão na cara assim? – Perguntou frustrada, deixando os ombros caírem em meio a um suspiro.


 


– Minha filha, sou sua mãe, e não se esqueça de que mães são sempre muito sagazes – a mulher sorriu de um jeito sábio - já tem muito tempo que sei que você gosta de seu melhor amigo.


 


- Mãe, ele levou quatro anos para descobrir que eu era uma menina – desabafou sentindo seu coração mais leve em poder dividir aquilo com sua mãe, alguém em quem confiava, que não lhe julgaria e que entenderia seus temores e inseguranças.


 


- Oh, querida - disse a Sra. Granger, enfiando os dedos pelo cabelo espesso da filha carinhosamente. - Tenho certeza de que ele gosta de você, tanto quanto você gosta dele.


 


Hermione suspirou de forma triste. – Ele me magoou tanto... Como alguém que gosta de mim poderia ter me magoado tantas vezes, mãe?


 


- E será que você também não o magoou, Mione? Quando gostamos muito de alguém inevitavelmente magoamos e somos magoados.


 


Hermione mirou os olhos da sua mãe. Ela tinha razão. Também havia magoado Rony, sabia disso, mas na maior parte das vezes preferia ignorar e culpá-lo por tudo, era mais fácil.


 


- É, você tem razão – confessou envergonhada - também magoei o Rony algumas vezes.


 


- Acredite, Mione, os sentimentos dele por você devem o assustar, os garotos não lidam tão bem com isso quanto nós.


 


Precisava admitir, Rony vinha sendo muito mais gentil com ela ultimamente. Ele não era mais aquele garoto com o nariz sujo, magro e desengonçado. No entanto, ainda era o mesmo Rony, engraçado, espirituoso e autodepreciativo em alguns momentos, e continuava fazendo seu coração bater descontrolado cada vez que estavam juntos ou que pensava nele. O problema é que já havia deixado claro tantas vezes o que sentia, não havia como ser mais óbvia, havia?


 


- Mas, acredite mãe, o Rony às vezes é um perfeito idiota.


 


A Sra. Granger sorriu. – Todos eles são uns perfeitos idiotas às vezes. – As duas riram por breves instantes de forma cúmplice.


 


- E então, como vai arrumar seu cabelo para o casamento? – A mulher mudou de assunto abruptamente, segurando as mãos da filha.


 


Hermione bufou desgostosa. – Eu realmente não sei!


 


- O que você acha de prendê-los no alto na cabeça, deixando alguns pequenos cachos caídos displicentes? – A Sra. Granger, pegou os cabelos da filha erguendo-os, simulando o penteado.


 


Hermione se olhou no espelho, sorrindo. As duas ficaram em silêncio mirando o reflexo no espelho, o qual mostrava o quanto se pareciam. Um entendimento silencioso do quanto amavam uma a outra, preencheu o peito de ambas, mãe e filha.


 


Os momentos em que podiam estar juntas eram tão raros, mas isso não mudava em nada o que sentiam, estavam ligadas pelo maior e mais poderoso sentimento que existia, o amor.


 


- Sabe, Mione, festas de casamento são uma ótima oportunidade... – Sugestionou a mulher largando os cabelos da filha.


 


- Uma ótima oportunidade? – Questionou Hermione sem entender.


 


- Para conversas e danças... – A mulher sorriu maliciosa.


 


- Mãe! – Exclamou Hermione envergonhada.


 


- Filha, você quer ficar com esse garoto ou não? – A Sra. Granger disse de forma prática, lembrando muito a própria Hermione ao constatar algo extremamente óbvio.


 


- Sim... mas... Mãe, o Rony nunca me tiraria para dançar. – Disse infeliz.


 


- Hermione, você estará tão linda, que seu amigo não terá como resistir, ele sequer conseguirá formular pensamentos racionais e coerentes.


 


Hermione sentiu as lágrimas assomarem seus olhos mais uma vez. Precisava terminar de arrumar suas coisas e fazer o que tinha de ser feito. Iria sentir tanta falta dos seus pais. “É para o bem deles.” Repetiu mentalmente. “Só assim eles estarão seguros.”


 


Notou que sua mãe a olhava interrogativa. E sem poder conter seus impulsos se jogou sobre a mulher sentada ao seu lado, abraçando-a de forma possessiva e desesperada.


 


- Obrigada, Mãe!


 


- Oh... Querida! – A mulher afofou os cabelos espessos da filha com carinho.


 


- Eu te amo mãe – murmurou Hermione, sentindo uma lágrima quente escorrer pelo rosto. – Por favor, não se esqueça disso, tente lembrar... por favor... - Suplicou num sussurro fraco.


 


A mulher sorriu emocionada. – Claro que não, querida, não vou esquecer isso nunca. Eu também te amo, Mione, muito.


 


Hermione se afastou da mãe, limpando uma lágrima teimosa.


 


- Não fique assim, querida, tudo vai dar certo.


 


Hermione sufocou um soluço, pensando em como sua mãe poderia dizer as coisas certas sempre, mesmo sem saber que o fazia.


 


Ela dobrou o vestido, enquanto sua mãe saía do quarto. - Seu pai e eu estamos te esperando lá embaixo para o chá. – Disse a mulher de forma gentil, fechando a porta ao sair.


 


Hermione finalmente deixou que as lágrimas que tentava conter, escorressem livremente. Guardou seu vestido na bolsa de contas e andou determinada com a varinha em riste até o andar debaixo. Ela estava lutando pelos seus pais, pelas pessoas que amava.


 


- Obliviate.


 


 


 


 


.........................................


N/B por Viviane Barreda


Um momento muito dramático na vida da nossa heroína; lutar contra um bruxo das trevas alucinado, e tentar proteger a todos que ama não é para qualquer um, e percebemos nesta ONE tão delicada o quanto foi árdua esta tarefa, até mesmo para a bruxa mais brilhante da sua idade.


Hermione é um exemplo a ser seguido, de quem faz o que tem que ser feito, para evitar dor maior, imagino o quanto foi duro alterar a memória dos pais com um feitiço que, inclusive, os fez esquecerem-se dela... e desta última conversa, tão cheia de significados.


Então, aproveitem a fic, e a usem como artifício de reflexão.


 


Deixem suas opiniões no Menu da Fic, mesmo que mais da maioria não leia a nota, quem ler atenda meu último pedido.  ;)


 


Mil Bjs,


Vivi


.......


 


N/A: Desde que assisti a essa cena, no filme, quis escrever algo sobre esse momento. No livro, infelizmente não tivemos a retratação do real sofrimento da Hermione quando toma a difícil decisão de modificar a memória dos pais.


Bem, espero que apreciem!


Agradecimentos mais que especiais a Viviane Barreda pela betagem e por sempre melhorar meu texto caótico :)


Obrigada também a todos que leram. Beijos!
Dieimi Somers

Compartilhe!

anúncio

Comentários (8)

  • Hermione Jean

    Adorei, muito linda a fic! Adoro assim, quando é uma versão de um fã e permanece fiel ao livro, tipo, o jeito do personagem, como ele age, essa é a Hermione q eu conheço na versão fantastica de uma fã muito dedicada, ficou realmente perfeita. Dá até pra pensar q isso de fato aconteceu na cabeçinha brilhante da tia JK, heheheBjs.  

    2012-02-07
  • BiaWeasley

    liiiiindoooooo

    2012-01-13
  • Leeh GW

     Linda !!

    2011-09-19
  • randomfairytail

    Nossa, que lindo! Eu adorei... É mesmo um momento muito triste na vida da Hermione, mas, tipo, você poderia ter colocado a mãe chamando, dizendo que o chá estava pronto. Daí a Hermione gritava: "Eu já tô indo, mãe!", que nem no filme, sabe, pra chamar a atenção, e ficar realista. Beijinhooos! Lunnyelle.

    2011-06-09
  • velasflutuantes

    Eu AMEI de paixão essa fic... Muito bem escrita, fora que a ideia é ótima, espero que você continue escrevendo fics emocionantes assim...

    2011-06-08
  • erika Alves

    Muito emocionate! amo fics assim, eu me emociono tanto que ate choro. Tente fazer algo assim com o Rony e a Mione juntos! ok?! parabens! beijo

    2011-05-31
  • Prado Soares

    ao contrário da maioria das pessoas comquem converso, estouconhecendo as fics da Disomers agora. E, como todo mundo, sou obrigada a dizer que são maravilhosas, lindas... essa foi totalmente emocionante! amei *--*

    2011-05-31
  • Leticia Franciele Borghi

    Ficou muito bom, com certeza foi algo assim! Hermione é muito sensível e preocupada com os seus queridos. Parabéns! Adorei o cap!

    2011-05-30
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.