Véspera de Natal
Capítulo 1: Véspera de Natal
O relógio marcava três horas e vinte e oito minutos. A sala estava em total silêncio. Ao lado da janela, estava a árvore de natal que fora cuidadosamente enfeitada. Bolas coloridas, fitas, sinos, pinhas e pequenos pontos de luz, que estavam enfeitiçados e presos à árvore. Havia vários presentes aos pés da árvore, envoltos em papéis e laços coloridos.
Ela estava sentada no sofá, pensando. Estava se sentindo sozinha e um pouco triste. Mesmo com o clima natalino, que geralmente a deixava alegre, ela não conseguia se sentir feliz naquele ano.
Era véspera de Natal e ela estava sem ele.
- Mamãe?
Ela virou-se e viu quem chamava.
- Rose, filha. - Ela disse, sorrindo levemente, ainda estava triste. Não se surpreendeu de ver Rose de pé ali. Ron e ela tiraram o berço do quarto da filha e agora a menina dormia em uma cama. Rose e Hugo estavam tirando um cochilo durante a tarde, por isso ela estava sozinha na sala, com a casa em silêncio.
A menina também parecia triste. Subiu no sofá com certa dificuldade, sentando-se ao lado da mãe. Rose tinha quase três anos e era muito esperta.
- Cadê o papai? - A menina perguntou, olhando para ela.
- Amor, já conversamos sobre isso. - Disse calmamente. - Papai está viajando à trabalho, lembra?
A menina ficou triste.
Ron e Harry viajaram, junto com alguns dos outros aurores, para uma um encontro com os Ministros da Magia da França, Alemanha, Espanha e Itália, há uma semana, mas só voltariam depois do Natal. Ele já viajara outras vezes à trabalho, mas nunca por tantos dias e nem nessa época do ano.
Ela estava sozinha em casa com Rose e Hugo desde então. A filha perguntava sobre o pai todos os dias e toda vez Hermione repetia a resposta que dera da primeira vez que a filha lhe perguntou. Rose era muito apegada ao pai, logo não seria estranho ver a saudade que ela estava sentindo dele.
Gina e ela conversavam quase todos os dias, através da lareira. A cunhada também estava se sentindo só e com três crianças para cuidar. A senhora Weasley ficava algumas horas por dia na casa da filha, ajudando com as crianças, principalmente Lily, que tinha apenas três meses de vida. James e Albus brigavam bastante, ou melhor, James implicava muito com Albus. Gina não sabia se cuidava da casa, separava a briga dos filhos ou atendia os choros da pequena Lily.
Hermione conseguiu cuidar de Rose e Hugo sozinha até agora. Seus pais haviam viajado de férias, fazia alguns dias. Estavam aproveitando o Natal num lugar mais quente e tropical: Havaí.
- Quando volta? - Perguntou Rose.
- Vai demorar ainda, minha flor. - Respondeu Hermione.
- Quéio papai agora! - Disse Rose irritada.
- Eu também filha... - Falou ela.
Ela ouviu o choro de Hugo, vindo do andar de cima.
- Hugo tá choando, mamãe. - Disse Rose para ela.
- Vou lá buscá-lo. - Falou ela se levantando e depois virou-se para a filha. - Espera a mamãe aqui.
Hermione subiu os degraus da escada até o andar superior, caminhou pelo corredor e entrou no quanto do filho, que estava com a porta aberta. O menino estava sentado no berço, chorando. Seu rosto estava vermelho e marcado de lágrimas. Ele estendeu os braços quando a viu e ela prontamente o pegou.
- Já passou, meu amor. - Disse, ninando ele levemente. - Mamãe está aqui.
Ele foi se acalmando até parar de chorar.
Ela deu uma olhada em volta. O quarto que o marido preparara sozinho, para a chegada de Hugo. Só viu a decoração depois que ficou pronto, um mês antes do menino nascer, mas adorou o resultado.
Sentiu saudade do marido novamente. Ficar sem Ron, mesmo que só por um dia, já era difícil; por quase duas semanas, então, seria quase impossível.
Olhou para Hugo, em seus braços e suspirou. O menino estava com oito meses e diferentemente de Rose que era parecida com Ron, o filho era muito parecido com ela, o que a deixou orgulhosa e imensamente feliz. A mãe dela dissera várias vezes, que o menino era uma versão dela quando tinha essa idade. Hermione sabia ser verdade, pois vira muitas fotos dela quando era bebê e via o próprio filho nelas, tamanha semelhança entre eles. Hugo tinha olhos castanhos iguais aos seus, os traços do rosto e até a posição que gostava de dormir. Não era tão guloso quanto Rose e Ron, mas tinha duas coisas que Hugo puxara ao pai: Os cabelos ruivos e o sono pesado. Rose era mais fácil para acordar, mas nem tanto para fazer dormir. Já Hugo, assim como Ron, era só encostar a cabeça no travesseiro e já estava dormindo.
Hugo sorriu para ela, mesmo parecendo cansado. Ela sorriu em resposta e acariciou o rosto do filho.
Depois, lembrou-se que havia deixado Rose sozinha na sala, desceu para o andar de baixo. Ao entrar na sala, viu que a filha estava deitada sobre o sofá. A menina levantou a cabeça, para olhá-la. Hermione sentou-se no lugar que ocupava, segurando Hugo com o braço direito. Rose virou-se e deitou novamente, só que agora com a cabeça sobre a coxa da mãe.
Ela acariciou os cabelos da filha. Hugo se inclinou e tentou pegar alguns fios dos cabelos da irmã.
- Não, não Hugo. - Disse Hermione ao filho, afastando o menino dos cabelos da filha. Rose virou-se para observar. - Não pode puxar o cabelo de sua irmã.
Ele olhou para ela, parecendo sério. Hermione concordava que as crianças deveriam aprender desde cedo o que era certo e o que era errado.
Lembrou-se que Rose também adorava puxar os cabelos das pessoas nessa idade e a mania perdurou até os quatorze meses. Hugo também fazia isso. A pobre Rose já saíra chorando de perto do irmão algumas vezes, depois que ele lhe arrancou alguns fios.
Rose sentou-se e olhou para Hugo.
- Não pódi! - Disse repreendendo o irmão. - Senão Rose chora.
Hermione teve que rir. Rose pareceu não entender o motivo e a olhou confusa.
- Isso mesmo, senão Rose chora. - Afirmou para a filha, tornando a ficar séria.
Ela se levantou e colocou Hugo sentado no seu carrinho de bebê, alaranjado, que estava ali na sala.
- Mamãe vai fazer chocolate quente, você quer? - Perguntou ela para a filha, mesmo já sabendo a resposta.
- Sim! - Disse Rose, sorrindo feliz.
Rose não negava comida.
Hermione virou-se para ir até a cozinha, quando ouviu batidas no vidro.
- Coúja! - Disse Rose apontando para a janela.
Havia uma coruja cinzenta batendo com o bico no vidro da janela da sala. Hermione foi até lá, abriu a janela e a ave entrou. Trazia com ela uma caixa embrulhada em papel de cor parda. Ela desamarrou a caixa e percebeu que uma carta estava junto. A coruja não foi embora, provavelmente esperando a missão de levar uma resposta.
- É uma carta do papai. - Disse Hermione para a filha, depois de ler o remetente e reconhecer a letra do marido.
- Papai? - Falou Rose se levantando e indo para o lado dela.
Hermione colocou a caixa sobre a mesa e abriu o envelope, tirando o pergaminho dobrado dali de dentro.
"Hermione,
Como está minha florzinha e meu garotão?
Vai tudo bem por aqui. Os lugares são realmente bonitos. Nos encontramos com diversas autoridades e gente importante durante esses dias, tudo muito chato, muita formalidade, você sabe. Vamos para a Alemanha ainda hoje.
Como amanhã é véspera de Natal, resolvi mandar um presente especial para vocês duas, que comprei aqui na França. Só abra no Natal!
Queria estar ai com vocês para passarmos o Natal juntos, como uma família.
De um beijo e um forte abraço em Rose e Hugo por mim na manhã de Natal.
Estou morrendo de saudades.
Te amo,
Ron.
P.S: Harry mandou lembranças pra vocês."
Hermione deixou escapar uma lágrima involuntariamente. Não queria mostrar para Rose como Ron fazia falta, senão a menina só falaria e perguntaria mais sobre o pai.
- Papai mandou um presente. - Disse para a filha. - Mas só vamos abrir amanhã.
A menina ficou triste e abaixou a cabeça.
- Por que você não faz um desenho bem bonito para mandar para o papai? - Sugeriu Hermione sorrindo para alegrar a filha.
Ela deu um pedaço de pergaminho e lápis de cera para a filha. A menina parecia mais feliz, se ajoelhou à frente da mesa de centro da sala, e começou a desenhar. Hermione pegou um segundo pedaço de pergaminho, pena e tinta, e começou a escrever uma resposta para Ron.
"Ron,
Nossa florzinha e nosso meninão estão ótimos.
Fico feliz em saber que está tudo bem ai. Aproveite bem as paisagens e admire a arquitetura. Há realmente muitas coisas lindas para se ver.
Sei como essas reuniões e formalidades podem ser cansativas e tediosas.
Pode deixar, só abrirei o presente amanhã.
Queria tanto que estivesse aqui. Estou sozinha com as crianças, em casa, desde que você viajou. Sinto tanta saudade! Rose também, ela pergunta o tempo todo sobre você.
Mande lembranças e um feliz Natal para o Harry, por mim. E um feliz Natal pra você também meu amor.
Te amo,
Hermione.
P.S: Em anexo uma obra de arte feita especialmente pra você."
Rose se levantou, segurando o pergaminho nas mãos, e entregou para ela. No desenho, Hermione só conseguia identificar duas figuras que pareciam pessoas, que a menina pintou de laranja.
- Está lindo filha! - Disse para Rose.
- Hugo vai fazê desenhu mamãe? - A menina perguntou.
- Ele ainda não sabe desenhar, amor. - Respondeu para a filha. Mas ai ela teve uma ideia. Foi até a estante e pegou tinta azul e pincel. Foi até Hugo, e pintou os dedos e a palma de uma das mãos do menino, com a tinta. Hugo ria, deveria estar sentindo cócegas. Depois ela "carimbou" a mão do bebê, no pergaminho de Rose, ao lado do desenho da filha.
Após a tinta secar, dobrou o desenho e a carta, e os colocou em um novo envelope.
Hugo passou a mão suja de tinta, no próprio rosto, antes que ela conseguisse limpá-lo.
- Olha, mamãe! - Disse Rose, em frente ao carrinho de Hugo, apontando para o irmão. - Todo sujo!
A menina riu e Hermione a acompanhou na risada.
Hugo esticou a mão suja de tinta e encostou no braço de Rose.
- Mamãe, Hugo sujou! - Disse olhando para a tinta em seu braço.
- Não tem problema, amor. - Falou Hermione tranquilizando a filha. - Mamãe limpa vocês.
Fez um feitiço e a tinta sumiu da mão e rosto de Hugo, e do braço de Rose.
Hermione deu comida e água para a pobre coruja, que viajou muito até chegar ali. Alguns minutos depois, a ave alçou voo, levando a carta para Ron.
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