Algumas coisas
“Existem algumas coisas que você apenas não consegue falar. Algumas coisas nós não queremos ouvir, e outras coisas que falamos por não conseguirmos mais nos silenciar. Algumas coisas são mais do que você diz, elas são o que você faz. Algumas coisas você guarda só pra si. E, não muito freqüentemente, mas de vez em quando, algumas coisas simplesmente falam por elas mesmas.”
30 de Agosto - Madrugada
Harry estava sentado em uma poltrona, em uma sala mal iluminada, de frente para o Ministro da Magia. Via apenas sua silhueta, escondida pela escuridão. Estava ali há alguns minutos, aguardando o homem se pronunciar.
- Dolohov não está sozinho. – disse finalmente Kingsley, sua voz vinda da escuridão
- Do que você está falando Kim? – perguntou Harry confuso
O Ministro suspirou. Sua voz estava arrastada e Harry podia notar que seu corpo estava cansado. Talvez ele não dormisse há alguns dias, pensou Harry, era bem provável.
- Ele está tendo ajuda da família Marshall. – contou, mas Harry não disse nada e ele prosseguiu – Os Marshall são uma família bruxa muito antiga, mas nada convencional. Para muitas pessoas eles são apenas um mito, como uma lenda bruxa, mas não é apenas isso. Creio que você nunca tenha ouvido falar deles não é?
Harry negou com a cabeça, um pouco atordoado com o rumo da conversa.
- Eles vivem isolados Harry, presos às suas tradições e em suas próprias leis. – continuou Kingsley em tom sombrio, se mexendo na cadeira – Mas de tempos em tempos eles resolvem sair e aplicar suas leis a todo o mundo bruxo, com suas próprias mãos, praticando o que eles chamam de "manter a ordem".
Harry estava assustado e batidas fortes à porta foram ouvidas, fazendo-o sobressaltar na cadeira. Kingsley se levantou.
- Eles vieram me buscar. – disse o Ministro
- Kingsley! – gritou Harry – Kingsley!
Harry tentou segurá-lo, mas não conseguia alcançar o velho amigo e gritava para ele não ir, enquanto ele se afastava nas sombras.
Harry se sentou em um impulso na cama, ofegante e o suor escorrendo por sua face.
- Harry? – chamou-o Hermione assustada ao seu lado – Você está bem?
A mulher tocou-lhe o ombro e ele enterrou o rosto nas mãos. Tivera mais uma vez aquele sonho, Kingsley lhe contando sobre os Marshall e em seguida alguém vindo buscá-lo, levá-lo embora e Harry tentava impedir, mas não conseguia.
- Merlin, você está gelado! – sussurrou Hermione ao seu lado
A voz dela o acalmava e ele só queria que ela continuasse passando as mãos em seus cabelos e em sua face, ambos molhados de suor. Ele queria dizer a ela que estava tudo bem, mas temia que sua voz, rude e sombria, a repelisse. Harry apenas pôs uma de suas mãos sobre a dela, que estava em seu rosto, repousando-a ali.
- Você gritava o nome de Kim. – ela contou com pesar – Sonhava com ele?
Harry apenas assentiu, sua respiração ainda ofegante, mas começando a se normalizar.
- Já é a terceira vez só nos últimos quinze dias. – Hermione o lembrou, preocupada – Você quer conversar? Me contar o que sonhou?
Dessa vez Harry negou, um pouco irritado por preocupá-la e por agir feito um garoto. Precisava parar com aqueles sonhos, precisava parar de deixá-la vê-lo naquele estado.
- Eu estou bem Hermione! – ele disse, e não pôde evitar o tom rude e sombrio, retirando sua mão da dela
Hermione suspirou e retirou sua mão da face dele, se afastando um pouco. Harry queria pedir que ela não se afastasse, que ficasse ali o acariciando, acalmando-o, mas ele não o fez.
- Tudo bem. – disse Hermione em um tom triste – Se precisar de algo me chame.
Harry assentiu e ela se deitou. O homem ficou mais algum tempo sentado. Desde que Draco encontrara aquela pista sobre os Marshall, ele não conseguia dormir direito, e quando dormia tinha pesadelos, na maioria envolvendo Kingsley e os Marshall. Harry se deitou novamente. Draco precisava encontrar logo aquela garota.
***********
Os sete caminhavam sorrateiramente pelo quintal da casa. Era madrugada e mesmo no verão o vento frio era inevitável àquela hora da noite. David, Lizzie e John caminhavam à frente, rindo de algo e iluminando o caminho com suas varinhas. Ben e Rachel estavam logo atrás deles e conversavam sobre algo. E por último, um pouco mais afastados, vinham Peter e Ann. Peter a abraçava pelos ombros, tentando protegê-la do frio.
- Porque temos que vir no meio da noite? – perguntou Peter mal humorado
- Porque é mais divertido. – Ann respondeu animadamente, fazendo-o rir
- Você e seu senso de aventura...
Ann riu também e se apertou mais junto a ele. Todo ano, um dia antes de partirem para Hogwarts, eles se aventuravam no meio da noite, pelo quintal da mansão, até uma grande árvore que ficava além do campo de quadribol. Em cima da árvore havia um baú, onde todo ano eles depositavam algo e faziam um desejo e retiravam o que haviam depositado no ano anterior.
- Você lembra o que colocou ano passado? – ele perguntou
- Sim. E você? – ela perguntou também, e ele apenas balançou a cabeça em sinal positivo – Eu sei que é segredo, mas o que vai colocar esse ano? Não precisa contar seu desejo, dá azar.
Peter revirou os olhos divertido e retirou a mão livre do bolso do moletom, trazendo junto uma miniatura muito bem feita da torre Eiffel. Ann deu um pequeno sorriso para o primo.
- A torre que eu te dei. – ela lembrou e o encarou – Eu soube que você contou ao tio Cedrico sobre terminar os estudos na França. – ela disse e ele assentiu – E então?
Peter deu de ombros e guardou a torre no bolso.
- Nenhuma surpresa. – Peter disse desanimado – Ele disse que não via motivos pra eu ir para outro país, longe da minha família e da minha casa, se eu estudava na melhor escola de bruxaria do mundo.
Ann passou a mão nas costas dele, consolando-o. Os dois ficaram em silêncio por algum tempo, apenas caminhando.
- Sabe... – voltou a falar Ann – Eu queria muito que você realizasse seu sonho de ir para a França, mas tenho que admitir que... não sei se agüentaria ficar longe de você.
Peter sorriu e a abraçou mais forte, seu coração dando um pulo. Ele não entendia o que estava acontecendo com ele, quase tudo que se referia a Ann fazia seu coração bater mais rápido e descompassado. E isso estava começando a assustá-lo.
- Obrigado. – ele disse num sussurro, encarando-a, tentando controlar as batidas do seu coração – Isso significa muito pra mim.
Ann assentiu, lhe sorrindo docemente e desviando olhar em seguida.
- Chegamos. – ela disse animada, e ele olhou para frente também
Ann se soltou dos braços dele e correu para perto dos outros primos, fazendo-o suspirar. Algo estava errado, pensou Peter, não conseguia evitar as novas reações que tinha quando Ann estava perto e o pior, não conseguia entendê-las, o que o deixava angustiado e assustado. Ele continuou caminhando até alcançar os outros.
- Merlin, da próxima vez faremos isso de dia. – resmungou Ben depois de um forte vento
- Para de resmungar Malfoy. – o repreendeu John – Assim é mais emocionante!
Ann riu, concordando e John usou a varinha para descer o baú, que não era muito grande.
- Muito melhor que no ano passado, quando tive que subir. – lembrou Peter - Agora John já pode fazer magia fora de Hogwarts, menos mal.
- Como você e Ben gostam de reclamar. – acusou-o Rachel, empurrando-o de leve
Todos se aproximaram, fazendo uma roda em volta do baú e John o abriu com um sorriso. Dentro havia um saco de couro, que guardava as coisas. Eles sempre gostavam da hora de abrir-lo, porque saberiam o que todos haviam colocado e desejado.
- Vamos começar. – ele disse se agachando e apanhando o saco
John enfiou a mão dentro do saco e puxou o primeiro pertence. Uma edição muito antiga do O Mundo, jornal da família.
- É o meu. – se adiantou Ann, com os olhos brilhando, apanhando o exemplar da mão do primo – É a última edição do jornal de quando mamãe era a editora. – ela contou, admirando o velho jornal
- E o que você desejou? – perguntou David
- Eu desejei que ela voltasse a ser a editora. – disse triste – Mas não se realizou.
Os primos disseram algumas palavras de conforto e John voltou a enfiar a mão no saco couro, retirando mais alguma coisa de dentro.
- Um maço de cigarros? – perguntou John contrariado – Você é um idiota Ben!
Ben riu e John atirou o maço contra ele, que o apanhou.
- Qual o problema? – perguntou em tom irônico, zombando – Eu desejei parar de fumar. Não preciso dizer que não fui atendido não é?
- Chato! – xingou-lhe Lizzie também
- Qual é pessoal, essa história de baú é só uma brincadeira idiota! – disse Ben calmamente, acendendo um dos cigarros
Ann abriu a boca para brigar com o primo, mas John a impediu.
- Deixa Ann, deixa pra lá. – disse o moreno, voltando a olhar para dentro do saco e tirando outro objeto, um pergaminho
- Esse é o meu. – disse David, recebendo o pergaminho das mãos do primo – A carta que recebi de Hogwarts para ser monitor. Meu pai nem sequer me desejou os parabéns. Eu a coloquei no saco e desejei poder fazer algo que desse orgulho a ele. – contou e riu nervosamente – Parece que também não fui atendido.
- Ei, nós ficamos orgulhosos de você Potter! – brincou Peter, dando um soco no braço do primo, fazendo-o sorrir – Agora continue com isso John, você está muito devagar!
John revirou os olhos e continuou com o ritual, retirando outro pergaminho do saco. Ele sorriu.
- A primeira música que compus. – ele disse bobamente e levantando os olhos para David – Desejei que nós conseguíssemos virar uma banda de verdade no ano passado, tocando nossas músicas, fazendo shows... – o sorriso dele morreu – Mas não se realizou também.
- Vai acontecer algum dia, eu tenho certeza. – garantiu-lhe David
John assentiu e guardou o pergaminho no bolso. Tirou outra coisa do saco. Era uma caixa.
- Um Kit Mata-Aula do tio Fred e do tio Jorge! – John quase gritou em alegria – Rachel é seu? – ele perguntou e ela assentiu sorrindo, recebendo a caixa da mão dele
- Eu guardei esse. – ela disse – Desejei que pudéssemos freqüentar a loja deles novamente. Sinto falta de passar à tarde lá, me divertindo e servindo de cobaia pra eles.
Os garotos assentiram, concordando com ela. Ben enfiou as mãos nos bolsos, abaixando a cabeça.
- Também sinto falta de visitar A Toca nas férias. – acrescentou Lizzie – Falta do vovô e da vovó...
- Será que algum dia papai e tia Gina vão fazer as pazes com eles? – perguntou John
- Acho que sim. – respondeu Ann tentando animá-los – Papai e tio Olívio fizeram as pazes não foi? Então quem sabe um dia tudo se acerte e até tia Tonks volte a nos visitar?
John deu um pequeno sorriso. Há mais ou menos uns quatro anos, depois de uma série de brigas que os próprios garotos presenciaram, Gina e Rony haviam decidido se afastar da família. Desde então os meninos viam os tios e avós raramente e sempre muito rápido. John continuou o que estavam fazendo, tirando mais alguma coisa de dentro do saco.
- Um Cartão de Bruxos Famosos! – John disse admirado – Ei e é da tia Gina! Mas não tem a foto.
Lizzie se adiantou, tomando o cartão da mão do primo.
- Merlin! – gritou ela – Eu achei que tinha perdido! Procurei esse cartão por toda a parte. É um cartão de colecionador, eu tenho todos da nossa família.
Ben tomou o cartão da irmã, olhando-o admirado também. O cartão era dourado e estava vazio no lugar onde Gina deveria estar, havia apenas o resumo da história dela no verso. Aqueles cartões haviam parado de ser produzidos.
- Você tem um da minha mãe também? – perguntou Ann
- Tenho todos! – disse Lizzie pegando de volta o cartão do irmão e olhando para ele aliviada – Achei que tinha perdido logo o da mamãe.
- E o que você desejou? – perguntou Peter – Porque se você se esqueceu do que tinha colocado...
- Eu tinha me esquecido do que tinha desejado, mas achei que assim que visse o que estava aí dentro eu me lembraria. – ela explicou, ainda olhando para o cartão – E me lembrei mesmo. Desejei que ela voltasse para a foto. Quando o coloquei aí dentro ela havia sumido há mais de meses, estava ficando desesperada, mas ela não voltou.
- Porque ela sumiu? – perguntou Rachel intrigada
Lizzie deu de ombros.
- Também aconteceu com o do tio Harry, o do tio Rony e do tio Cedrico. – ela contou a eles – Não sei explicar. Os cartões comuns somem com freqüência, apesar de voltarem sempre, mas os de colecionador não deviam sumir e o pior é que desde então não voltaram mais.
David pediu a prima que lhe entregasse e ela o fez. Ele ficou olhando para o cartão por alguns segundos.
- Vou tentar descobrir porque isso aconteceu. – disse e devolveu a ela, que agradeceu
- Uau. – soltou John – Você nunca disse que os tinha.
- Eu tenho ciúmes deles. – ela disse divertida e os outros riram
John enfiou a mão no saco pela última vez e retirou o último pertence dele.
- Deve ser o seu Pete. – disse o garoto – Uma fotografia, sua e da Ann.
Ann enrugou a testa, observando o primo receber a fotografia da mão de John, se aproximando para vê-la. Os dois estavam na beira da piscina, sentados lado a lado com os pés na água, Peter estava de bermuda e camiseta preta e Ann de biquíni, mas com uma camisa branca. Peter e ela olhavam para a foto sorridentes, em seguida ele passava o braço pelo ombro dela e ambos se encaravam, ainda mais sorridentes.
- Rachel tirou essa foto dois dias antes de colocarmos as coisas no baú. – começou Peter – Foi um dia divertido, se lembra?
Ann sorriu para o primo e assentiu.
- Ainda me lembro de como me senti feliz nesse dia, nunca me esqueço. – ele disse nostálgico – Eu desejei que meus dias fossem felizes como aquele, todos os dias.
- E foram? – perguntou Ann encarando-o
Eles se encararam em silêncio por alguns segundos. Peter sentindo seu coração se acelerar mais uma vez e sua respiração falhar, enquanto os olhos castanhos dela o encaravam profundamente, aguardando sua resposta.
- Não todos. – ele admitiu – Na verdade, nem mesmo a metade deles foram. – ele desviou seu olhar do dela e suspirou – Parece que estamos sem sorte, nem um dos desejos foi realizado.
Todos ficaram em silêncio, pensando em seus próprios desejos, um silêncio quase enlouquecedor.
- Como eu disse, é só uma brincadeira idiota. – disse Ben, quebrando o silêncio – Não precisamos fazer isso esse ano de novo. Vamos voltar para nossas camas e parar com essa besteira.
O silêncio voltou a reinar, todos se rendendo a sugestão de Ben. John parecia desolado, ele havia começado aquilo e Ann se adiantou.
- Qual o seu problema Ben?! – perguntou Ann – Sério, porque você precisa ser tão cretino às vezes!
Ben abriu os braços e riu nervosamente.
- Cretino? Só porque acho que essa droga de desejos nunca vão se realizar? – ele a questionou – Vamos Ann, é só uma brincadeira ta legal! Já estamos bem grandinhos pra continuarmos com isso.
Ann balançou a cabeça, contrariada.
- Se seu desejo não se realizou, talvez seja porque você não se esforçou o bastante. – ela disse em tom mais baixo – Vamos John, abra o saco, vou começar a colocar o meu esse ano.
John deu um pequeno sorriso para ela, em agradecimento, e abriu o saco.
- Faça seu pedido Ann Potter. – ele disse animado
Ann sorriu para ele e depositou algo dentro do saco, fechando os olhos e fazendo seu pedido. Quando ela terminou abriu os olhos e piscou para o primo. Ele sussurrou um “obrigado” para ela.
- Próximo? – ele continuou
Lizzie se aproximou, fazendo o mesmo que Ann fizera. Depois dela foi a vez de Rachel, sendo seguida por David e depois Peter. John depositou o seu por fim e depois de fazer um desejo se dirigiu a Ben.
- E então Malfoy? – perguntou John, dando um pequeno sorriso ao primo – O que vai desejar esse ano? De verdade.
Ben suspirou, com as mãos enfiadas nos bolsos. O loiro caminhou até John e retirou algo do bolso, encarou o primo.
- Me desculpe. – disse o loiro e o outro lhe sorriu
Ben jogou o seu objeto dentro do saco, fechando os olhos em seguida. Ele abriu os olhos quando terminou e sorriu para John, se desculpando mais uma vez.
- Espero que esse ano seja melhor. – John disse, guardando o saco dentro do baú e o fechando – Que nossos desejos se realizem.
************
Draco estava deitado, fitando o teto. Não conseguira pregar o olho. Ele e Gina tinham feito amor naquela noite, mas ele ainda se sentia vazio, como se não estivesse completo. Olhou para a mulher deitada ao seu lado, os cabelos ruivos esparramados pelo travesseiro. Draco suspirou e se levantou, sentando-se na beirada da cama, de costas para a mulher.
- Draco? – ouviu-a chamar – Está tudo bem?
Draco apoiou os cotovelos nos joelhos.
- Está Gi, está tudo bem. – ele disse calmamente
A verdade é que não estava nada bem, ele se sentia sozinho. Gina estava sempre distante, sempre o evitava, ela não era mais carinhosa como antigamente. Eles trasavam de vez em quando, era verdade, mas isso não era o suficiente. Ele sentia falta de abraçá-la, de dizer o quanto a amava, de ouvi-la dizer que o amava, sentia falta dos beijos calmos e apaixonados, sentia falta do calor dos braços dela o acalentando, sentia falta dela. Mas Gina parecia querer vê-lo o mais distante possível e quando terminavam de fazer amor ela simplesmente se afastava, virava para o outro lado e dormia.
Draco se levantou e saiu pela porta do quarto, sem olhar para ela novamente. Ele passou pelo corredor e desceu a escada, indo em direção a cozinha. Ele adentrou a cozinha apressado e distraído, e levou um susto quando viu alguém sentado a mesa.
- Merlin Weasley! – Draco disse, colocando a mão sobre o peito – Você quase me matou de susto.
Rony deu uma pequena risada e observou o loiro se sentar a sua frente.
- Não conseguiu dormir? – perguntou Draco
- Não. – respondeu o ruivo
- Você usou, não foi? – deduziu Draco – Essa porcaria não te deixa dormir, eu sei disso. E nem comer direito. Ou você acha que não percebo que você mal toca na comida durante as refeições?
Rony levou uma garrafa de cerveja à boca e deu um gole, depositando-a sobre a mesa em seguida.
- Cuide da sua vida Draco! – disse ele irritado – O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta.
Draco balançou a cabeça, reprovando as palavras do amigo.
- Harry não vai te deixar pegar mais nenhum caso se você não se cuidar. – disse Draco – Se você não se importa o bastante com seus filhos ou com sua esposa pra parar de usar essa porcaria, se importe pelo menos com isso! – despejou o loiro – É a única coisa na qual você ainda vê algum sentido.
Rony deu de ombros, dando mais um gole na cerveja. Draco murmurou algo e passou a mão nos cabelos.
- São duas horas da manhã Rony, pare de beber. – pediu Draco – Vamos, jogue isso no lixo e suba pra dormir, por Merlin! Você vai se matar desse jeito.
Rony ignorou o amigo. Draco se levantou e se aproximou de Rony, tomando a cerveja da mão dele e tentando levantá-lo da cadeira.
- Que saco Malfoy! – resmungou Rony – Eu não quero voltar pra aquele quarto! Pra quê? Pra ficar deitado naquela cama como se não houvesse ninguém do meu lado?
Draco parou a tentativa de levantá-lo e suspirou pesadamente. O loiro voltou a se sentar em sua cadeira, de frente para o amigo.
- O que aconteceu conosco Ron? – perguntou
Rony riu ironicamente e depois esfregou a face.
- Nós cometemos um erro. – disse amargurado – Um erro que não tem volta e que não pode ser concertado, um erro para o qual não há redenção, apenas culpa, e mais culpa, e mais culpa...
- Talvez exista redenção. – desejou Draco esperançoso – Talvez estejamos próximos dela.
Rony deu outra risada.
- Como? Matando pessoas? – disse cínico
Draco arregalou os olhos, olhando em volta preocupado.
- Fale baixo idiota! – o repreendeu e Rony ergueu uma das mãos em sinal de desculpas – Cuidado com o que você fala Rony, Merlin!
Rony terminou a cerveja em um gole. Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, até Rony quebrá-lo.
- Encontrei Kevin hoje.
Draco enrugou a testa.
- Kevin... Lenz? – perguntou sem acreditar e o ruivo assentiu – Aonde?
- No Ministério. – contou – Eu quase não acreditei quando o vi. Harry vai enlouquecer quando souber que ele voltou à Londres.
Draco assentiu pensativo.
- Não vejo Kevin há quatro anos. – constatou Draco – Desde que Harry o demitiu do jornal. Você se lembra?
- E como lembro. – disse Rony – Hermione deixou o jornal depois que Harry o demitiu. Eles brigaram feio na época.
- E quando é que Harry e Hermione não brigam feio? – perguntou o loiro e ambos assentiram em silêncio – Lenz é uma ameaça para nós, você sabe. Tente ser discreto até descobrirmos o que ele está fazendo aqui, tudo bem?
Rony assentiu, ia seguir o conselho de Draco, não queria causar problemas a Harry e muito menos a Kevin.
**************
Todos já estavam deitados e provavelmente dormindo a àquela hora. O relógio marcava quatro horas da manhã e Peter ainda não conseguira pregar os olhos. Podia ouvir os roncos de John e Ben. David também já devia ter apagado. Mas ele não. Sua cabeça fervilhava em pensamentos, a maioria deles sobre Ann.
- Merlin, o que está acontecendo? – ele sussurrou para si mesmo
Peter retirou, mais uma vez naquela noite, a foto que colocara embaixo do travesseiro. A foto que retirara do baú algumas horas antes. A foto dele e Ann, sorrindo, se abraçando. A foto que resultara em seu pedido. Mas qual pedido? O que verdadeiramente havia desejado naquela noite? Havia desejado simplesmente que seus todos os seus dias fossem felizes como aquele, ou desejara que todos os seus dias fossem felizes ao lado dela? Peter suspirou em desespero. Não estava mais agüentando aquela angustia, aquela confusão, aquele sentimento explodindo em seu peito.
- O que está acontecendo comigo? – perguntou novamente, um nó se formando em sua garganta
Ele não entendia, tudo começara com o ciúmes que sentiu dela quando ela contou sobre o namoro com Richard, a antipatia que sentia pelo garoto era inexplicável. De início ele achava normal, era só um ciúmes bobo de primo, mas quando não passou ele começou a se preocupar. Depois vieram as reações adversas quando ela estava muito próxima, como no dia da festa, e depois não paravam de acontecer. A necessidade que ele sentia em estar perto dela, ou que ele tivesse toda a atenção da garota, ou até mesmo necessidade de olhar para ela, de admirá-la por tempo indeterminado. Aquilo era esquisito e precisava parar. Mesmo sem entender o que era, Peter sabia que não estava certo.
Peter olhou para foto uma última vez, especialmente para o sorriso da prima e seu coração se aqueceu por um instante, ates dele novamente se sentir culpado por aquilo. Ele estava tentado evitar a verdade, tentando mentir para si mesmo, mas estava começando a ficar cada vez mais impossível. Uma hora teria que encarar os fatos, de alguma forma inexplicável se apaixonara por sua prima e estava terrivelmente perdido. Peter fechou os olhos se lamentando e desejando que talvez aquilo fosse apenas uma loucura momentânea de sua cabeça, apenas uma confusão adolescente idiota.
***********
Harry acordou um pouco mal humorado aquela manhã e sabia que isso se devia ao fato de ter sonhado mais uma vez com Kingsley.
- Droga! – praguejou, tentando sem sucesso dar um nó na gravata
Hermione já havia descido e, mesmo que ela estivesse ali, ele não pediria a ajuda dela. O que acontecera durante a madrugada já fora suficientemente errado. Ele conseguiu por fim dar o nó, se olhou no espelho, tentando arrumar o cabelo e saiu do quarto em direção à mesa do café. Sentou-se na cabeceira da mesa, como de costume, e desejou bom dia aos que estavam presentes, apenas os adultos. Draco encarou o amigo.
- Você está péssimo Potter. – zombou o loiro, recebendo um olhar repreensivo de Hermione
Harry não respondeu, apenas passou a se servir, e Draco riu.
- As crianças partem pra Hogwarts amanhã. – começou Hermione – Então hoje vamos jantar todos juntos e vamos tentar não brigarmos, tudo bem?
Alguns assentiram.
- Vamos levá-los a estação? – perguntou Gina
- Eu não vou poder. – disse Harry – Estarei ocupado.
Hermione olhou para ele chateada e depois virou o rosto, sem dizer nada. Cedrico e Draco também informaram que não poderiam ir.
- Eu vou tentar, mas não sei se vou conseguir deixar o jornal. – disse Mônica já se levantando – Preciso ir, vejo vocês à noite.
A mulher deu um beijo no marido antes de sair apressada. Os outros continuaram o café.
- Onde estão Rony e Thereza? – perguntou Harry
- Rony eu não sei, mas Thereza foi para a revista hoje mais cedo, surgiu uma matéria importante lá. – disse Draco com notada ironia, se referindo à revista adolescente – Como se pudesse haver alguma matéria importante naquela revista.
- Não seja maldoso Draco. – o repreendeu Gina e ele riu
Harry se levantou da mesa.
- Preciso ir. – ele informou
Draco também se levantou apressadamente.
- Preciso falar com você. – disse o loiro – Vamos juntos.
Harry assentiu e caminhou, sendo seguido pelo outro.
- O que aconteceu? – perguntou Harry quando se afastaram o suficiente da sala de jantar
Draco hesitou por alguns instantes.
- Kevin Lenz está na cidade. – informou de uma vez
Harry parou bruscamente.
- Como é? – perguntou
- Rony o viu no Ministério ontem. – Draco confirmou – E não era efeito das drogas.
Harry se calou, pensativo e depois encarou o outro a sua frente, com um olhar frio.
- Eu vou cuidar disso Draco, pessoalmente.
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Pessoal, eu sei que demorou, mas como eu disse estou totalmente sem criatividade ultimamente.
Espero que tenham gostado desse capítulo, eu particularmente não gostei muito.
Agradeço aos que tem comentado, são poucos, mas agradeço.
Lediane Werner: Eu sei, meu medo na hora de escrever essa fic foi justamente esse, as pessoas não estão acostumadas a vê-los desse jeito, mas tenho certeza que no fm você pode mudar de opinião. Obrigada, sempre amo seus coments. Beijos.
Raio: Muito obrigada, sempre é bom para um ecritor ouvir isso, mas talvez depois deste cap. você mude de idéia. rsrs
Lilian P.: Obrigada e estou tentando não desistir, juro!
Amanda A.: Acompanhe e verá, eu também espero que ele mude! :) E sim, Harry e Hermione sempre são fofos.
De qualquer forma, obrigado a todos que acompanham!
Comentários (6)
Oi , continua por favor
2016-01-23Poxa, continua... eu quero ver como nossos herois vão conseguir resolver isso... porque todos merecem redenção... posta mais... eu aguardo faz tempo a continuação dessa história...
2014-08-30Depois de uma enorme corrida contra o tempo, finalmente consegui me colocar em dia com a história! Li a primeira em duas semanas, dois ou três capítulos toda noite, antes de dormir. Estava curiosa para ver se conseguiriam tirar Harry de lá. Por algum motivo, quando Dolohov entrou em cena, eu já sabia que ele fugiria, mas ele voltou, fez o que fora incubido de fazer e desapareceu. É claro que alguma coisa iria acontecer para fazê-los sentirem-se culpados por tê-lo deixado solto. Eu só não esperava que fosse algo tão... grave!Pelo que eu pude perceber até aqui, todos já têm consciência do que se tornaram e não estão satisfeitos com isso. Honestamente, pergunto-me se eles realmente farão alguma coisa para mudar isso. Ou melhor, se alguma coisa que fizerem vai conseguir mudar isso. Porque a culpa de um reflete no outro e, principalmente, nos filhos deles. Se querem saber, acho que eles não deveriam mais estar todos vivendo juntos. Não faz bem a eles. Na verdade, apenas piora as coisas. Eles se amam? Porque todos creem com veemência que não. Parece que eles apenas querem manter as aparências. Parece, não; é o que eles querem. Como uma família grande e feliz. Logo que comecei a ler, criei certa resistência e parei. Não acreditava que pessoas tão maravilhosas e unidas iriam se tornar tão frias e mesquinhas. Mas insisti e acabei chegando até aqui. Quero muito ver como conseguirá torná-los aquelas pessoas novamente. E, é claro, o desenvolver dos personagens dos filhos deles.Parabéns pela história. Pelas duas!Beijos.
2012-05-10Ora ora! Não mudou mesmo minha opinião! Apesar de ter demorado pra vir (pra quem, como eu, ama a trama e os personagens, é muito difícil esperar!!!) o capítulo não deixou a desejar. Você escreve muito bem, mesmo quando reclama da falta de criatividade. Espero mesmo que não desista da Fic, é uma das preciosidades desse FeB e acredite, já li muitas fics.Espero ansiosamente pela continuação!Parabéns novamente =)
2011-11-19A fic está cada vez mais sensacional, a evolução da escrita e passagem de fatos da primeira fic pra essa é cada vez maior, parabéns, não pare (:
2011-11-10Agora deu para entender um pouquinho mais da historia, porem o que parece é que somente o Olivio quer continuar a viver.Nesse capitulo deu a entender que o Draco ta começando a notar o modo como tem agido e parece que vai tomar uma providencia com relação ao fato.Interessante o fato de nenhum dos desejos do adolescentes ter se realizado. Acho que o que mais machuca eles é fato dos pais não se importarem com o que eles pensam.Espero que eu esteja certa em pelo menos uma das minhas suposição.Parabens pela fic... continuo não gostando do Harry, do Rony e na Mione, porem a fic é muito boa.Bjus
2011-11-09