Conversas na lareira
19. Conversas na lareira
Crect, crect. Os biscoitos eram extremamente crocantes, ainda que leves, e as migalhas que caíam voavam e se uniam em um novo pedaço de doce, até que tudo terminasse. Draco não fazia idéia de onde Luna havia feito aquilo (teria trazido de casa no Natal?), mas admitia que eram um encanto e tanto, de efeito infantil mas trabalhoso. Ela podia ser meio maluca, mas com certeza não era estúpida. “Claro”, pensou ele, enquanto observava que era impossível sujar a sua roupa, por mais esforço que fizesse. “Ela está na Corvinal, apesar de tudo. O chapéu não se enganaria assim”.
Era um pensamento óbvio, mas que parecia escapar à muita gente, à quase toda ela, na verdade. Draco admitia que, até aquele ano, nunca havia pensado realmente no papel do Chapéu Seletor (tinha mais ou menos como óbvio que ele iria para a Sonserina e nunca mais se preocupara com isso). Acabara lhe ocorrendo por conta daqueles biscoitos e, claro, da turma do Potter, que havia parado de atazaná-lo desde aquela história com Luna. Pareciam mesmo olhá-lo com mais... respeito, talvez, ainda que não trocassem uma palavra com ele. Mesmo aquele ruivo, que parecia ter vontade de socá-lo quando o via, nunca mais o havia xingado – claro que podia ser por conta da sabe-tudo, que ele já pegara elaborando umas teses malucas sobre a situação. E o engraçado era que ela, tão inteligente, estava tão longe da verdade.
Draco não sentia a menor vontade de conversar com aquela trouxa e o palema apaixonado pobretão, mas forçosamente reconhecia uma certa atitude honrada no fato de não tripudiarem dele como poderiam, agora que não era mais exatamente o mais popular da Sonserina. “Grifinória para os de coração corajoso e justo”, afinal de contas.
Ele não tripudiaria, sua nobre estirpe não permitia tal atitude, então a reconhecia como valor nos outros, até mesmo no Potter e na sangue-ruim. Uma coisa era uma justa, outra era humilhar os inferiores devidamente humilhados, ele havia aprendido bem na infância. Estava surpreso de encontrar essa atitude em pessoas da ralé.
Crect, crect, mais um biscoito, e mais um pensamento. Deixou o trio fantasia pra lá e voltou a pensar no seu encontro com Luna Lovegood. Tinha alguma coisa nessa história que parecia escapar à sua compreensão. Ela abaixara as barreiras. Ela... por que diabos ainda não admitia? Claro que gostava dele. Era um Malfoy. Todas as garotas já estariam em cima dele a essa altura, ou pelo menos estariam antes daquela história toda com a “Di-Lua” (talvez muitas delas mesmo agora, ponderou ele). Pansy então, vivia em cima dele mesmo antes de tudo.
Pensou em ficar bravo, mas sorriu. Sem dúvidas, àquela altura, já sabia que nada ocorria da maneira esperada com Luna Lovegood. E descobriu que gostava disso. A incerteza era sempre um desafio para ele. E a doçura de Luna. Ele poderia desculpar qualquer coisa em nome daquela doçura sem fim. Sua gentileza. Sua bondade. Suas crenças que chegavam mesmo a ser reais. Draco tinha a impressão que ela era tão feliz e calma simplesmente porque se permitia ver o mundo de outra maneira, ao contrário de todos os outros. Isso queria dizer que ela sempre conseguia enxergar uma solução onde ninguém mais a via.
Ela era muito especial. Talvez demorasse. Talvez nunca funcionasse da maneira que ele previra. Observou os últimos biscoitos. Lembrou de seu rosto. E pela primeira vez Draco Malfoy percebeu, de forma consciente, que queria fazê-la sorrir, a qualquer custo.
Ao custo de sua reputação, que no final não servia para nada. Sem nenhum outro fim, se preciso fosse. O que, é claro, não queria dizer que havia abandonado seus objetivos...
Relembrou a conversa desajeitada de Luna e percebeu. Percebeu o que deveria fazer, mas mais do que isso, o que deveria fazer. Saiu. Onde ficaria a sala da professora Guinevere? Ele já tinha ido lá uma vez...
Ele teria de terminar as tarefas. Mesmo após concluídas, levou muito tempo caminhando pelo castelo, em parte perdido e em parte reunindo confiança para o que ia fazer, repassando mentalmente o que poderia acontecer, de modo a não ser pego desprevenido. Sua arrogância de ser um sangue-puro em geral o fazia ser confiante em tudo que fazia, mas certas situações fazem todos os rapazes recearem por igual, nem que por apenas um momento.
Enquanto Draco terminava seus afazeres o mais depressa que podia, Luna estava ela mesma na sala de Guinevere, conversando com seu pai – ou, pelo menos, sua cabeça.
- Luna – dizia ele, sério. – Você e esse rapaz... o menino Malfoy...
- Você quer saber... se estamos envolvidos? – disse ela, meio corada, sem encarar diretamente a lareira. – Ora, ora, ali no canto tem uma teia de aranha virada pro Norte, isso era presságio de boa ou má sorte? Não me lembro bem...
- Não – interrompeu o pai . – Eu quero apenas saber o quanto vocês estão envolvidos.
Luna abandonou o estudo da teia e encarou o pai, séria. Ia dizer alguma coisa, mas as palavras não saíram, e ele continuou.
- Luna, você não deve. Você sabe. Eu sou o seu pai, só quero o melhor para você...
- Talvez ele seja o melhor para mim – interrompeu Luna, com uma voz firme como seu pai não ouvia sempre.
Hegbert olhou para a filha, desconsolado. Luna levantou-se e saiu da sala, sem se despedir. Sua confusa tia, ao perceber que ela saíra correndo, foi atrás dela, abandonando um pobre pai encarando o vazio do aposento. Ele a estava perdendo. Ele sabia disso. Ele derramou uma lágrima que ninguém mais viu, antes de desaparecer completamente nas chamas.
O que, a bem da verdade, foi um total desperdício, visto que poucos minutos depois Draco Malfoy encontrou a sala. Não havia sinal de Guinevere por perto, mas ele achou isso ótimo – não era porque ia realmente fazer aquilo que precisava de uma platéia. Talvez ela ficasse brava com a invasão, mas ele decidiu correr o risco desta vez. Não sabia se o medo da punição estava diminuindo ou se tinha uma certeza secreta de que conseguiria dobrá-la, caso tudo desse errado. Uma coragem motivada por força maior?
Fosse como fosse. Draco se agachou perto da lareira, e tentou entrar em contato com o pai de Luna...
A cabeça apareceu depressa e ansiosa, mas logo em seguida se transformou em uma careta.
- Malfoy. O que quer?
- Senhor – a palavra saiu quase como um grunhido, mas saiu. – eu... precisava falar com você, é... a respeito da Luna...
- O que tem minha filha?
- Bem, eu confesso que talvez não a tenha tratado sempre da maneira correta, mas...
- Isso não chega nem perto da verdade – disse Hegbert, nervoso. – Você não tem idéia do quanto minha filha merece a felicidade.
- Olha, talvez eu tenha. Eu não quero machucá-la...
- Fez isso pelo menos umas três vezes desde que veio falar comigo da primeira vez!
- ... de novo. Tenho um pedido para fazer ao senhor, e acho melhor que aceite, do contrário fingirei que aceitou de qualquer maneira. – disse Draco, que já havia perdido a paciência.
Hegbert suspirou. Malfoy. Tinha de ser. Mas ouviu o garoto com atenção. Ao final, Draco saiu da sala deixando uma cabeça um tanto calva com um olhar perplexo e ao mesmo tempo triste. Muito triste.
Luna não encontrou com Malfoy pelos corredores nos outros dias. Mesmo na biblioteca, ele parecia estranhamente absorto e distraído. Na verdade, ninguém encontrou muito com Malfoy, mas ele não fazia a menor questão disso.
Ela não sabia o que esperar. O que, de certa forma, foi uma sorte.
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Ahahahaha to quase desistindo de colocar a cena do hospital! Mas no próximo sai. Eu espero. Acho que fico tão derretida com as ceninhas do Draco e da Luna que me esqueço da hiatória andar =P
Mas foi bom, porque eu teria que colocar em algum momento essas conversas na lareira.
Espero que meu Draco não esteja bom-moço demais, apesar de apaixonado. Nem no filme tem isso, mas eu acredito que esse é o charme dele, e eu não vou tirar. Se fosse pra Luna ficar com um bom moço certinho, eu a colocaria de par do Harry.
Mas depois de escrever essa história, to quase me convencendo que o Draco só serve pra Luna, nem pra Gina dá mais, ahahahahaha! Tô feliz de atualizar, espero que estejam felizes de ler. Me sinto perdida sem opiniões de outras pessoas, mas por enquanto será assim.
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