Alcançando você



 


 


17. Alcançando você


 


 


E de repente havia chegado o final de semana em Hogsmeade. Todos os estudantes estavam eufóricos, mas nenhum deles mais do que Draco. “Sol! Ar fresco! Liberdade!” pensava ele, sorrindo diante da possibilidade. Era bem verdade que provavelmente estaria frio e cheio de neve, mas ele não se importava. O ano estava passando, mas sua penitência continuava firme e forte (subir escadas, carregar peso, polir o chão, ajustar e organizar papéis e livros, tudo isso fazia parte do seu dia-a-dia, como se nunca houvesse sido diferente). Draco ansiava por uma folga destes afazeres, e essa seria muito especial.


 


Seria a primeira vez em muito tempo em que visitaria a aldeia bruxa. A primeira vez em muito tempo em que estaria livre, sem trocar a vigilância da escola pela repreensão familiar de sua situação patética. E a primeira vez em que visitaria o lugar apaixonado por Luna Lovegood.


 


Draco não havia estado com ela desde o dia das panquecas e balaços (parecia um dia tão longe, que ele se assustava ao perceber quão pouco tempo fazia). Havia cruzado com ela nos corredores uma vez, no meio das tarefas, mas Luna havia desviado o olhar para baixo, de bochechas vermelhas, e se afastado correndo.


 


Ele não sabia ao certo se tinha vontade de abraçá-la por sua falta de jeito ou de socá-la por sua lerdeza, por não saber como lidar com seus sentimentos. O mais provável era que não fizesse nenhuma das duas, de qualquer forma.


 


Draco percebeu que compreendia Luna, talvez como não compreendera ninguém antes. Talvez pelo tempo em que passaram juntos, onde ela se mostrava tão singela e sem reservas, talvez por tê-la observado mais e mais a cada dia, ou talvez simplesmente porque, uma vez que percebeu o quanto a queria bem, inconscientemente passou a reparar em todos os seus trejeitos e ações, para conseguir cuidar dela.


 


Ele sabia que ela deveria estar com um pouco de medo. Afinal, em geral estava sempre sozinha e não recebia atenção. O quanto ela poderia se machucar ao deixá-lo chegar perto? “E a verdade é que não fui exatamente um exemplo nesse sentido, antes”, pensou ele. “Lovegood, se não fosse tão estranha, acho que eu poderia ter ido melhor nesse campo”, concluiu ele. Mas em seguida ficou vermelho – a verdade é que, se ela não fosse tão peculiar, provavelmente não teria se aproximado dele como fez, e nem ele teria se percebido apaixonado.


 


Puxou os lábios em um grande sorriso, quase uma risada. As crenças de Luna, seu jeito gentil de encarar a vida, as covinhas que se abriam quando ela falava, a bondade em seu coração. Estranha? Estranho seria se ele não se apaixonasse por ela.


 


Pensando bem, ele havia contado a ela? Não. Ainda não. Draco sabia que devia estar mais ou menos na cara com suas atitudes recentes, mas talvez não – afinal, era Luna. Luna, tão distraída, tão avoada. Luna tão sozinha que, se percebesse, era provável que afirmasse a si mesma que estava sendo tola.


 


Escondia de si mesma os seus sentimentos, imagine o que não faria com alguns de fora? Provavelmente prenderia na barreira, ignorando-os enquanto tagarelava sobre duendes-da-rocha e lia.


 


Draco sabia que ela precisava de tempo. Tempo para se entender com seus sentimentos, e então estar pronta para aceitar os dele. Tudo que ele precisava era paciência.


 


Mas os Malfoy nunca tiveram paciência.


 


Em especial Draco. Assim que soube o que queria, também soube que iria fazer tudo o que pudesse para consegui-lo. Um pouco de orgulho, de não aceitar uma derrota, se mesclava docemente aos seus sentimentos por Luna, sua vontade de abraçá-la e sentir seus cabelos tão loiros, sentir que ela o enxergava de verdade e o aceitava. Que gostava dele. Do verdadeiro ele.


 


Luna andava com vergonha dele – não exatamente dele, mas talvez de encarar seus sentimentos por ele, e o medo que traziam. Isso erguia um muro invisível, mais alto do que na época em que a magoara sem querer. Estava na hora de quebrá-lo, arrebentá-lo, destruí-lo até não restar nada. Não havia ocorrido a ele que isso poderia acontecer, na pequena conversa na enfermaria, mas fosse como fosse não iria durar.


 


Pelo menos, esse era o plano.


 


Ao sair do castelo, Draco ficou tão fascinado com o cenário diferente, a luz, a neve, as cores, que por um instante desviou seus pensamentos de Luna. Ela, observando de longe, deu um grande sorriso, encantada com a felicidade dele. Um sorriso que não dava a muito tempo, nem a Malfoy nem a quem quer que fosse.


 


O grupo de estudantes se dispersou, cada um se dirigindo às diferentes lojas e restaurantes. Luna ficou ali, nas ruas, sozinha. Seu pai não tinha gostado muito que ela saísse, mas como poderia recusar a chance de ver o cenário, o horizonte aberto, o céu de verdade acima de si? Sentia-se feliz.


 


Um pouco melancólica quando pensava em Draco, mas feliz. Ainda se lembrava das vezes em que deixara que ele se aproximasse e da dor que veio a seguir. Não sabia o que pensar das panquecas e do balaço – só que havia se divertido muito, muito. Uma diversão que por vezes a entristecia, quando pensava nela. Tinha medo de que não significasse nada. Teve medo de que significasse alguma coisa. “Prometa que não vai se apaixonar por mim”, ela dissera. Não havia funcionado para ela, claro, mas isso não queria dizer nada.


 


Quer dizer, ainda tinha medo disso. De estar apaixonada por ele. Havia visto Draco como ninguém vira, partes dele somente dela, e não conseguia controlar o carinho. Nem o receio, pelas partes não só dela. Pelas partes em que se machucava. Não sabia como lidar com isso. Nunca acontecera antes. “Não deveria ter acontecido nem agora”, pensou ela. Mas tudo bem. Poderia tentar conviver com aquele sentimento guardado lá no fundo... haveria de ser melhor assim.


 


Luna estava tão distraída com seus pensamentos que levou um grande susto quando sentiu uma mão no seu ombro, detendo seus passos. “Será um Yéti?”  pensou ela, assustada e entusiasmada, e se virou.


Não era um Yéti, afinal, mas ela continuou assustada e entusiasmada. Era Draco Malfoy.


 


- Lovegood. – disse ele.


 


Ela ficou vermelha. Tentou dar um passo atrás.


 


- Pare de besteira, Luna, eu não vou morder você. Não aja como se nunca tivesse ficado sozinha comigo antes. – disse ele. – Aliás, pare com isso antes que eu me arrependa de deixar você por perto.


 


Luna engoliu em seco. Mas não recuou mais.


 


- Comigo. – disse Draco, sério, e puxou Luna pela mão. Ela o acompanhou sem resistência.


 


“Para onde estamos indo?”, pensou ela. Via as casas se afastarem e a rua ficar cada vez mais mal cuidada. “Será que podemos nos afastar tanto assim?”.


 


De repente, ele parou. Luna esperou.


 


- O gato comeu sua língua? Estou acostumado com sua tagarelice sem fim. – disse ele.


 


- Não, é só que... que eu... – ela baixou os olhos. Não conseguia mantê-los fixos nele.


 


- Lovegood. Sorriso.


 


- O quê..?


 


- Pare de fazer essa careta de choro. Você vive sorrindo pra todo mundo, vai negar isso só pra mim?


 


Luna não conseguiu evitar esboçar um sorriso. Tímido, suave, mas um sorriso. Não, ela não conseguia deixar de sorrir pra ele. Draco pareceu satisfeito.


 


- Melhor assim. Feche os olhos.


 


- O quê...?


 


- Feche.


 


Ela obedeceu. Sentiu que Draco a guiava em alguns passos, depois outros, e então ajustava sua posição.


 


- Draco, você está parecendo meio maluco – disse ela, rindo – e eu entendo de coisas estranhas! Ou pelo menos de coisas que os outros acham estranhas, como ler a sorte em marshmallow, mas eu tenho certeza de que isso não é es...


 


- Pode abrir. – Draco interrompeu-a, com gentileza, mas firme.


 


Luna abriu os olhos devagar. Não sabia exatamente o que esperava ver, mas ficou ligeiramente confusa ao encarar o mesmo horizonte de antes.


 


- Eu...


 


- Dois lugares.


 


- Como?


 


- Essa é a divisa de Hogsmeade com as Terras Frias. Você está bem em cima da fronteira. Metade em cada lado. Dois lugares ao mesmo tempo. – disse Draco, e sorriu. – Não tem nada, absolutamente NADA que um Malfoy não consiga fazer. Nem mesmo suas idéias birutas. Não esqueça disso.


 


Luna olhou para baixo, e viu que ele tinha razão. Entre suas pernas, viu a fina linha dourada que delimitava o começo das Terras Frias, as montanhas mágicas do inverno. Olhou para Draco, sorrindo. E derramou lágrimas.


 


Fracas, poucas, mas derramou. Lágrimas que atingiram em cheio seu coração fechado e começaram a derreter suas defesas.


 


- Lovegood, mas você não fica feliz nem quando fazem o que você quer? Meu Merlin. – disse Draco, se aproximado. Mas não parecia bravo, somente divertido.


 


Ele chegou bem na frente de Luna.


 


- Tem mais uma coisinha – disse ele. Colocou a mão no bolso e entregou a ela a flor das raízes, o pequeno broto que ganhara da planta que iniciara toda aquela história.


 


Luna arregalou os olhos. Não podia ser verdade.


 


- U-um tubérculo da Bavária! Onde você conseguiu isso?


 


- A planta da Sprout me entregou. Não que eu tenha gostado de ficar lá a tarde toda com o Longbottom e aquela coisa esquisita, mas aparentemente nem ela pode resistir à mim.


 


Luna sorriu. Pulou em cima de Draco, dando-lhe um abraço que o pegou genuinamente de surpresa (ela era boa em fazer isso).


 


- Sabia que não estava enganada. Sabia. Que tinha alguma coisa boa em você. Você sabe. Os tubérculos da Bavária só entregam as flores para pessoas especiais, eles são animais mas são plantas, eles tem sensibilidade aguçada e enxergam espectros que nós não conseguimos... por isso que são minhas flo...


 


- Suas flores favoritas – completou Draco. – Eu sei. São a sua cara. – Mesmo que El não tivesse visto aquela revista, há tanto tempo, seria capaz de adivinhar. – Você não é garota de preferir margaridas ou rosas.


 


Luna sorriu.


 


- Tentando me impressionar? – perguntou.


 


- Não – respondeu Draco. – Bem, talvez. Mas admita, está funcionando.


 


Ele sentia-se feliz por tê-la ali, pertinho dele, abraçando-o. Espontânea como sempre fora. Sem olhares enviesados, sem barreiras. Luna estava olhando para a flor, encantada. O vento frio deixava suas bochechas rosadas, e as lágrimas faziam de seus olhos mais brilhantes.


 


- Eu poderia te beijar agora.


 


Luna olhou para ele.


 


- Acho que não sou muito boa nisso, quer dizer, eu nunca tentei e...


 


- Duvido. Não tem como.


 


E Draco aproximou seus lábios dos dela, delicadamente, devagar. Não era como na peça do anjo. Era melhor. Não era mais Aram, era Draco, sem medos, com certeza do que queria, com certeza do quanto gostava dela. Foi como um mergulho naqueles olhos claros que ele conhecia tão bem.


 


Um beijo melhor do que todas as coisas boas que já haviam acontecido com ele. Todas elas.


 


Não sabia se havia alguém vendo, e não se importou. Pela primeira vez na vida, não se importava com o que quer que fossem dizer. Se sentia feliz junto de Luna, e isso era tudo, tudo que importava. Enfrentaria todas as pessoas e Pansy histérica gritando em seus ouvidos. Era um Malfoy, podia sair-se bem do que quer que fosse, afinal.


 


Draco iria realmente precisar de toda essa força.


 


 


 



 




Oie!


 


Faz anos que não retomava essa fanfic, mas está tudo aqui! Não sei se algum dos antigos leitores ainda a verá, espero que sim – e sinto muitíssimo pela ausência. Espero que vejam, porque merecem o final dela.


 


Espero que os novos apreciem o enredo! Prometo que vou terminar.


 


Demorei, mas não esqueci, não me perdi. Todos os ganchos estão aí e são lembrados: a revista da cabeceira do Ewan, a planta do cap.1, a flor do outro. O que é mistério, ainda será desvendado. Acredite!


 


Mesmo se ninguém ler, eu devo isto à eles, ao Draco e à Luna, e postarei de toda forma.


 


Ariadne.~

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