A trégua



-... Então a Mione foi atingida por um feitiço e caiu da vassoura! Foi uma queda muito feia, mesmo com um feitiço que Rony usou para suavizar o impacto. Aliás, acho que ela teria morrido, não fosse por ele...


- Harry, você me tirou de uma aula pra me contar o que aconteceu com a Hermione? – Gina interrompeu, com raiva. Não estava agüentando mais esperar o “mais tarde” em que eles deveriam conversar “direitinho” sobre o dia em que ela perdeu a virgindade, e se o moreno continuasse fingindo que não acontecera nada, ela teria que tomar atitudes drásticas.


- Gina, eu...na verdade, eu te trouxe aqui porque... eu queria poder adiar este momento pra sempre, mas precisamos conversar. Eu, você e o Malfoy.


- Não, nada de Malfoy. Precisamos conversar eu e você, sobre o que aconteceu entre a gente.


Harry passou a mão pelos cabelos, aparentemente confuso e desconcertado – O que aconteceu pode esperar mais um pouco.


- Não pode, Harry, talvez Malfoy possa esperar mais um pouco, talvez você possa esperar mais um pouco, mas eu não posso. – Gina pegou sua mão, sentindo seu coração disparar no peito e a boca ficar seca – Harry, eu amo você, eu sempre amei você. Eu não consigo dormir direito desde aquele dia, porque eu não sei o que vai acontecer e essa expectativa está me matando.


Encolheu os ombros, na defensiva, sentindo-se humilhada por ter que falar sobre isso, porque essa era função dele. No fundo sabia que, se Harry quisesse ficar com ela, já teria sinalizado isso. Depois de alguns segundos de silêncio, o rapaz respirou fundo e falou, cauteloso:


- Gina, eu sinto muito. Eu não sinto o mesmo que você, embora eu quisesse sentir.


A ruiva sentiu uma dor física no peito que a impediu de respirar por alguns instantes e recuou dois passos, soltando a mão dele. Harry tentou dizer alguma coisa, mas Hermione apareceu no fim do corredor e ele desistiu.


- Aí estão vocês! Malfoy está esperando por vocês e ele ainda está muito fraco, então é bom que vocês não demorem muito tempo.


- Mione, talvez seja melhor deixar pra outra hora...


- Não, está tudo bem. Nunca vai ser uma boa hora para conversar com Malfoy, de qualquer forma. – a ruiva falou, com frieza.


Quando adentrou a enfermaria, viu Malfoy com sua postura impecável, em pé, olhando os campos cobertos de neve pela janela. Parecia estar mais saudável, mas ainda estava muito magro e as roupas da enfermaria decididamente não melhoravam sua aparência. Ao escutar os passos de Harry e Gina, virou-se na direção deles e voltou a encarar a ruiva daquele jeito estranho.


- É melhor você se sentar, Malfoy.


- Agradeço a preocupação, Potter, mas estou confortável.


O moreno deu de ombros, sentando-se na cadeira mais próxima. Antes de começar a falar, com um tom de voz profissional.


- Malfoy, eu vou direto ao assunto. Nós sabemos que você é o único descendente vivo da família real e precisamos disso para enfraquecer os comensais.


- O quê?! Malfoy?! – Gina gritou, já prevendo onde o moreno queria chegar. – Você só pode estar brincando, Potter.  


- Não, Gina, não estou.


- Eu não vou aceitar, então. Quero ver me obrigarem.


- Gina, você precisa aceitar. Por alguma boa razão, Ignis escolheu você. É um sacrifício, eu concordo com você, mas é temporário! Todas as famílias que vivem escondidas por medo do que o Ministério pode fazer dependem disso. Nós, que não podemos viver na Inglaterra, dependemos disso. Você estaria sendo muito egoísta.


- Alguém poderia me explicar o que está acontecendo?


- Eles querem que você, um arrogante, mesquinho, estúpido, seja rei, Malfoy. E, pior, que eu seja sua rainha. É isso que está acontecendo.


- Tudo bem.


- Tudo bem? É isso que você vai falar?


- Não seja imatura, Weasley.É assim que funciona a política.


- Eu deveria saber que você iria gostar desta ideia, Malfoy. Poder, status, galeões: é lógico que você iria querer isso tudo.


- Obviamente. Apesar da noiva não ser do meu agrado.


- Vá para o inferno, seu nojento.


- Gina, acho que você precisa ter um tempo pra pensar melhor a respeito disso – Harry ponderou, com a voz calma, o que a irritou ainda mais.


- Então está tudo bem pra você? Digo, eu me casar com outra pessoa? - Gina estava chorando antes mesmo de completar a sua frase, mas não esperou que ele respondesse, porque já imaginava qual seria sua resposta – que seja, então.   


___________


- Gina, Ignis só aceita que você encoste nela, senão faz um escândalo – Luna contou, sorrindo, sem perceber que a ruiva estava transtornada.


-Obrigada, mas pode deixar que eu cuido dela agora – dizendo isso, fechou a porta do seu quarto. Queria matar a maldita fênix que a enfiou nessa enrascada! Quebraria suas asinhas despenadas e a jogaria janela afora, para ser uma morte irônica – quase como um peixe morrendo afogado.


No entanto, ao vê-la sobre o seu travesseiro com sua pose de fina e elegante, apesar da cabeça careca e clara dificuldade de se equilibrar, sentiu muito remorso. Para piorar, Ignis bateu as asinhas e piou alegre quando percebeu que Gina voltara.


- Eu não mereço seu carinho, Ignis – comentou, triste, com a fênix aconchegada entre a sua mão e seu corpo – Sinto muito por ser a pior dona do mundo. Aparentemente, você escolheu muito mal.


_________


- Harry e Hermione passaram a próxima semana tentando estabelecer contatos com as demais monarquias bruxas, como a alemã, a belga, a portuguesa e a espanhola, e felizmente todas elas se mostraram favoráveis ao retorno da monarquia britânica e estão dispostos a reconhecê-los como rei e rainha legítimos.


- Isso porque não conhecem o rei – alfinetou Gina, que, morta de tédio, acariciava Ignis e girava na poltrona, com os pés descalços no assento. 


- Senhorita Weasley, essas provocações precisam parar – avisou Madame Klinghoffer, uma mulher de meia idade muito séria e disciplinada, que faria McGonagall parecer uma adolescente desleixada. Ela seria responsável por ensiná-los a se comportarem como manda a realeza e ser uma espécie de relações públicas do casal. – O que me faz lembrar que vocês precisam passar mais tempo juntos, precisam ter sintonia. Por exemplo: senhorita Weasley, nos conte o que você sabe sobre o senhor Malfoy, por gentileza.


-O que eu sei sobre o Malfoy? Ele é filho de Narcisa e Lucius Malfoy, que era comensais, sobrinho de Belatrix Lestrange, que era comensal, tem uma tatuagem de comensal no braço, sua casa foi quartel general de Voldemort, enfim, excelentes referências.


- Certo, nas o que admira no Senhor Malfoy?


- Aí eu vou ter que pensar mais um pouco...


- Posso, madame? – Draco pediu. Ao receber um aceno da mulher, ele começou: - A senhorita Weasley é bonita, mas de um jeito nada sofisticado, é popular, mas só entre quem não interessa. É pouco educada, muito impulsiva...


- Chega, cria do capeta.


- Imatura...


- Covarde!


- ...Teimosa...


- Irritante!


- Basta! Os dois! Essa foi uma má ideia, sem dúvida. O que eu faço com vocês?


- Madame, nós não precisamos gostar um do outro. Isso é uma farsa, vê? E, com certeza, poderemos improvisar, se for o caso. – argumentou Gina.


- É mesmo? Posso testar, então?


- Por favor.


- Quando o namoro de vocês começou?


-Onze de agosto do ano passado, na minha festa de aniversário. Ele trouxe rosas vermelhas e me pediu em namoro.


- Então Malfoy, que era seu inimigo declarado em Hogwarts, foi convidado para a sua festa de aniversário? E como seus amigos, que deveriam estar na festa, não viram nada disso?


- E rosas vermelhas? Sou mais criativo que isso, Wealey!


- Ok, o que vocês sugerem então? – perguntou ela, emburrada.


- Vocês dois precisam se conhecer melhor. Não estou pedindo para se amarem, só para levarem isso a sério – dito isso, a mulher levantou-se e saiu, deixando Malfoy, Gina e Ignis para trás.


- Posso vê-la? - Draco perguntou, olhando para Ignis. Gina riu, com desdém, e respondeu:


-Pode tentar, mas Ignis não deixa que ninguém além de mim encoste nela.


Passou com cuidado a fênix para a mão estendida de Malfoy, mas, para o seu horror, viu a ave esfregando sua cabecinha no polegar do loiro.


- Traidora!


Draco riu alto, mas Gina percebeu que fora um riso espontâneo, talvez o mais genuíno que já presenciara.


- Ignis? Você não conseguiu pensar em nenhum nome pior?


- Ah, com licença? Seu nome não significa “Lagarto de Má-fé”?


-Dragão! E você tem que ser sempre tão agressiva? Estou tentando fazer isso funcionar, sabe?


- Pra quê?! Por causa do dinheiro e do poder!


- Esqueceu o status.


- Pra você é fácil, não é, Malfoy? O que você tem a perder? Não tem família, não tem amigos...


- E por isso você presume que seja “fácil”? – Surgiu um brilho esquisito nos olhos acinzentados do rapaz que a fez se arrepender de ter aberto a boca.- Você não me conhece, não sabe de nada...- Ele deixou Ignis de qualquer jeito sobre uma mesa e levantou-se depressa para ir embora. No entanto, Draco não chegou a dar dois passos e logo desmaiou.


- Por Merlin, Ignis, acho que peguei pesado. – a ave piou alto e foi saltitando em direção ao garoto, enquanto Gina dava tapinhas no seu rosto, chamando seu nome. – Não tem jeito! Vamos ter que levá-lo até a enfermaria.


 Draco só acordou duas horas mais tarde e, ao ver Gina ao lado de sua maca, virou as costas para ela, com a cara fechada.


- Eu sinto muito, Malfoy. Me escuta! Eu quero propor uma trégua.


- Você vai parar de me provocar?


- Vou tentar! Mas a trégua pode começar só daqui a pouco?


- O que você quer, Weasley?


- Só constatar uma coisa: você é até humilde e quieto quando não tem dois capangas do lado, não é?


O loiro respirou fundo, antes de virar-se na direção dela e, olhando com seriedade para os seus olhos, responder:


- Tente passar três meses em Askaban e ver a única pessoa que você já amou na vida perdendo sua alma.


- Eu lamento, Malfoy... de verdade.


- É, eu também.  

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