Pedras no caminho

O lago – Um momento a sós

 

 

- Você ta legal? – Hermione se aproximou, agachando-se ao lado de

Rony.

 

Ele maneou a cabeça e a encarou. Os olhos azuis estavam quase transparentes em decorrência da luz do sol que batia contra o rosto do garoto, deixando seus cabelos ainda mais vermelhos.

 

- Estou. – Disse sério, voltando a fitar o horizonte.

 

- É um lugar bonito, não é? – Não era uma pergunta, era uma constatação.

Ele apenas concordou com o que poderia ser o esboço de um sorriso.

 

Hermione o olhou incerta, mas resolveu sentar ao seu lado. Os dois ficaram em silêncio, admirando o lago calmo e cintilante. As montanhas ao longe completavam o cenário estupendo. Era inacreditável que houvesse uma guerra acontecendo, que pessoas inocentes estavam morrendo. Ali, em meio a tanta beleza, ao lado de Rony, ela quase podia fingir que tudo estava bem.

 

- Poderíamos ficar aqui até ficarmos velhinhos. – Ela disse de repente, como se estivesse pensando alto.

 

- Velhinhos – murmurou Rony baixo, mais para si mesmo, sem olhar para a garota sentada ao seu lado. Será que eles viveriam até serem velhos?

 

O silêncio que se seguiu e a brisa morna pareciam revelar o quão incerto era o destino que haviam escolhido trilhar. A verdade é que sequer sabiam se estariam vivos no dia seguinte. Eram três adolescentes, em uma barraca no meio do nada, cujo único feito até o momento era não terem morrido.

 

- Você acha que vamos conseguir? – Rony perguntou quebrando o silêncio, mas sem olhar para ela.

 

- Precisamos acreditar. E se estamos aqui é porque acreditamos. – Ela disse firme, cheia de coragem e determinação.

Rony virou um pouco a cabeça e a olhou por breves instantes. Mais uma vez lembrou-se da garotinha que havia conhecido no Expresso de Hogwarts há anos atrás.

Hermione ficara impressionada ao conhecer Harry. Lembrava-se perfeitamente bem dos olhos castanhos brilhando com intensidade ao constatar que o garoto magrelo e de óculos era o famoso Harry Potter. Outras lembranças se uniram rapidamente a essa, e uma sensação desagradável e incômoda fez as palavras saltarem da sua boca:

 

- Você jamais duvida dos poderes do Harry, não é mesmo?! – Havia rancor no tom de voz de Rony.

Hermione franziu o cenho, uma resposta ácida brotando em seus lábios.

 

- Eu jamais duvido da nossa amizade Rony, e do que somos capazes de fazer uns pelos outros. – Disparou tentando não parecer tão zangada quanto estava. – Foi isso que nos manteve vivos até hoje!

 

Ficaram mais uma vez em silêncio, cada um perdido nas próprias lembranças.

Rony não queria brigar, ultimamente brigar com Hermione já não lhe causava a mesma sensação de bem-estar de anos atrás.

 

Sentiu-se patético. Hermione tinha razão... Ela sempre tinha razão. Precisavam confiar uns nos outros e se protegerem mutuamente, era isso que verdadeiros amigos faziam. 

 

Estavam sozinhos, sem notícias dos amigos e da família, correndo perigo, e tudo que ele fazia era sustentar seu ciúme descabido e irracional por Harry.

 

Em meio a um suspiro resignado, escolheu uma pedra e a jogou no lago. A pedra quicou algumas vezes na superfície, agitando as águas calmas. Hermione acompanhou o movimento da pedra em silêncio até vê-la afundar.

 

Rony escolheu outra pedra e voltou a arremessá-la. Hermione acompanhou mais uma vez o gesto.

Ela lembrou-se da tentativa fracassada e desajeitada dele ao tentar tocar piano, notando, entretanto, o quão ele parecia confiante em si mesmo ao arremessar aquela pedra, como se tivesse certeza de que ninguém o faria melhor.

Gostava quando ele tinha aquela postura imponente, a mesma que assumira como goleiro após descobrir que tinha talento para agarrar goles.

 

Pegou uma pedra pequena e imitou o ruivo, no entanto, sua pedra diferentemente da de Rony não quicou na superfície. Ela pareceu frustrada.

Inconformada, tentou mais uma vez, mas a pedra caiu novamente afundando num “plog”.

 

Rony sorriu ao perceber a expressão irritada no rosto dela.

 

- Do que está rindo? – Perguntou ofendida.

 

- De você! – Disse simplesmente, vendo-a rolar os olhos e bufar indignada.

 

 

Ela se ergueu e pegou outra pedra... Era inconcebível não ser capaz de executar um movimento tão simples. Rony o fazia com tanta facilidade, por que ela não conseguiria?!

 

- Espera, eu te ajudo – ele se levantou rapidamente, pegando uma pedra grande e oval. – Essa é melhor, pegue. – Ela largou a que tinha na mão e aceitou a que Rony lhe ofereceu - Você precisa flexionar um pouco os joelhos, assim. – ele se abaixou, mostrando como ela deveria fazer.

 

Ela ficou imóvel por alguns instantes, dividida entre aceitar a ajuda ou dizer que era capaz de fazer sozinha.

 

- Está bom assim? – Perguntou envergonhada, sentindo as bochechas arderem, optando pela primeira opção.

 

Rony se aproximou, praticamente colando seu corpo ao dela.

- Er... Desse jeito está bom – murmurou perto do ouvido dela, segurando-a pela cintura com uma mão, enquanto com a outra a ajudava a posicionar o braço.

 

Hermione sentiu o corpo vacilar, estavam tão perto um do outro que ela podia sentir a respiração quente de Rony batendo suavemente contra seu pescoço; ondas incontáveis de arrepios percorreram sua espinha.

 

 

Próximo demais, era tudo que Rony conseguia pensar. Era impossível manter a sanidade com seu corpo colado ao de Hermione.

“Concentre-se.” Ordenou mentalmente.

 

Era difícil pensar em outra coisa quando tinha o cheiro dela invadindo seu cérebro, devastando seus pensamentos coerentes e racionais.

 

A cena do piano, meses atrás, fez Rony esboçar um tímido sorriso.

 

Fez mais uma tentativa fracassada, e Hermione sorriu novamente, os dentes brancos e alinhados faziam sua cabeça girar lentamente, transportando-o para um universo paralelo.

 

Ela pegou sua mão, um choque percorreu seu corpo ao sentir o toque quente, e a tirou de cima das teclas. Rony, de repente, lembrou-se daquela menininha metida do primeiro dia de aula, notando que ela ainda morava em algum lugar dentro da garota sentada ao seu lado. Garota que ele agora conseguia ver com mais clareza do que nunca, e achar diferenças na beleza dela que só a faziam ficar mais bela.

 

Ela voltou a tocar, o som era delicado, suave e fazia o coração de Rony bater mais depressa, como se quisesse escapar pela boca.

 

Engoliu em seco ao notar que os fios que se desprendiam do coque frouxo que ela usava eram terrivelmente excitantes. Passou a língua pelos lábios, sentindo-os de repente muito secos. Notou que seu braço roçava levemente no dela, e algo quente percorreu seu corpo. Hermione sempre despertara nele as melhores e as piores sensações.

 

 

Os dedos se tocaram, o coração de Hermione disparou num acelerado descompassado.

Já não era mais capaz de conter as reações do próprio corpo quando Rony se aproximava.

Sentiu um estremecimento em todo o corpo, e tratou de disfarçar o constrangimento que se seguiu quando Rony puxou seu corpo de encontro ao dele.  

 

Rony manteve a mão firme em sua cintura, dando-lhe apoio, enquanto puxava seu braço com a outra, mostrando como deveria ser o movimento.

 

- Agora, joga. – Ordenou se afastando. Hermione lançou a pedra desajeitadamente, suas pernas bambas, a perda de contato a fez vacilar.

 

- Está melhor – disse Rony em meio a um sorriso.

 

- Ah! Rony, francamente, está horrível – disparou se recompondo, tentando disfarçar sua expressão aparvalhada.

 

- Pega, vamos tentar mais uma vez – ele alcançou outra pedra a ela, e voltou a se posicionar atrás dela. Hermione deixou um suspiro contido escapar quando as mãos deslizaram novamente pelos seus ombros em direção a cintura. Fechou os olhos tentando regularizar a respiração que estava rasa e rápida.

Rony estava tão próximo que ela podia sentir o coração dele batendo depressa.

 

Virou a cabeça devagar, sem saber direito o que estava fazendo, deixou-se guiar apenas pelos sentimentos que se assomavam em seu coração.

 

Seus olhos encontraram os azuis de Rony a mirando com tanta intensidade que poderia se perder neles e nunca mais voltar.

 

Rony engoliu em seco vendo os lábios rosados e entreabertos tão próximos dos seus. Seu peito subia e descia muito depressa, seu coração parecia querer escapar pela garganta. Virou Hermione gentilmente em seus braços, e a enlaçou pela cintura.

Ficaram se encarando em silêncio. Hermione passou a língua pelos lábios, sentia-os extremamente secos. Rony engoliu com dificuldade, sem acreditar no que estava prestes a fazer.

 

Se aproximou lentamente de Hermione, vendo-a fechar os olhos em câmera lenta. Seu peito estava a ponto de explodir, sentiu seu nariz roçar delicadamente no dela...

 

- Hermione, você precisa ver isso –

O grito de Harry fez com que se afastassem depressa, ambos muito corados e sem jeito.

O garoto correu desabalado em direção aos dois, sem notar que acabara de interromper algo.

 

- O que foi? – Perguntou Hermione com as bochechas em chamas, respirando depressa devido ao susto.

 

- Eu vou te matar Potter – grunhiu Rony entre dentes, andando em direção a barraca.

  

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N/A:

A cena deletada em RdM e finalmente divulgada na íntegra fez minha imaginação voar longe...rs... Quer dizer, nem tão longe assim, a one é bastante simples e curtinha, mas apesar disso, espero que tenham gostado!

Super agradecimentos a Viviane Barreda pela betagem e pela capa!

 

Beijos!
Dieimi Somers 

 
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N/B por Viviane Barreda

 

A cena adicionada ao filme e depois tragicamente deletada da versão das telonas fez todos os fãs de Ron e Hermione suspirarem, não foi?!

E como sempre, a Di teve mais uma ideia magnífica e abrilhantou o momento com essa estória tão doce e tão possivelmente Ron e Hermione...

Mas, se alguém ficar com a impressão de que perdeu alguma coisa ao ler a fic, por favor, não deixe de ler o momento em que Ron usa artifícios infalíveis para chamar a atenção de Hermione: http://bit.ly/hr2ujj

 

Deixem suas opiniões, críticas e sugestões nos comments na pág da fic, pois odiamos esse novo processo de comentário dentro do capítulo!!

 

Mil Bjs,

 

Vivi

 

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