Reflexão - Cap. Único.

Se houvesse alguém naqueles arredores naquele momento, teriam ouvido os passos apressados de Gina Weasley pelo corredor do sétimo andar, os cabelos ruivos balançando conforme a garota ia mais depressa em direção ao quadro dos trasgos dançando balé.

Com os olhos marejados, caminhou ali três vezes. Quando a porta finalmente se abriu, entrou em um ímpeto, não podendo mais segurar as lágrimas. Atirou-se sobre o primeiro pufe que encontrou com as mãos no rosto, chorando copiosamente.

Não suportava mais. Essa não era a Hogwarts que conhecia. A maior parte dos seus amigos estava desaparecida, ela esperava que estivessem fugindo, seguros. Dumbledore já não estava mais ali com seus olhos bondosos e sabedoria, nem o quadribol era mais o mesmo. As aulas, antes divertidas, agora eram maçantes e quase depravadas, ensinando magia das trevas! Nem mesmo seus irmãos, que antes eram uma constante irritação, estavam mais ali. Mal sabia se estavam bem. Não tinha mais Hermione e nem... Harry.

Ao pensar no garoto, os soluços da menina ficaram mais intensos, ela se dobrou de tal forma que quase chegou à posição fetal. Lembrava-se de cada detalhe do majestoso garoto que amava. Os cabelos negros revoltos, a cicatriz, que o dava um ar de herói, os olhos incrivelmente verdes, que costumavam a olhar de uma forma tão carinhosa e tímida. O corpo, esculpido na medida certa, a altura perfeita para segurá-la pela cintura, beijá-la, sem ficar muito alto ou baixo. E o melhor, a personalidade dele. Era simplesmente o homem mais nobre que conhecera, excluindo seu pai. E ele a amava também. O garoto por quem ela teve uma queda por tantos anos finalmente correspondera aos seus sentimentos. Foi tão injusto o namoro ter durado tão pouco, e ter terminado de forma tão abrupta. E se quando ele voltasse já não gostasse mais dela? Se nessa viagem ele tivesse arranjado outra? E se ele não... Sobrevivesse? A simples dedução da ideia fez com que ela se dobrasse ainda mais, chegando agora totalmente à posição fetal. Indefesa, frágil.

Após mais alguns minutos chorando, sentou-se ereta, respirando fundo. Seria forte. Por Harry, sua família e amigos, seria forte. Amanhã, ela e a Armada de Dumbledore iriam conseguir a espada de Gryffindor. O plano já estava pronto, estavam todos de acordo. Só precisaria esconder os olhos inchados, disfarçar a lancinante dor no peito com um sorriso atrevido de quem vai fazer besteira, e tudo correria bem. Com alguma sorte.

Respirou fundo mais uma vez, enxugou as lágrimas, arrumou os cabelos e olhou em volta. Naquela mesma sala, dois anos antes, treinou incansavelmente com a AD original, querendo estuporar Cho Chang o tempo todo por dar em cima de Harry tão descaradamente. A Sala Precisa encontrava-se exatamente daquele jeito, e parecia ainda mais vazia sem os gritos dos alunos treinando os feitiços. Tantas memórias...

Na Sala Precisa também teve sua primeira vez com Harry. Sorriu involuntariamente ao lembrar-se do corpo do moreno junto ao seu, e mais algumas lágrimas caíram de seus olhos. Jurara a si mesma que nunca seria de mais ninguém, não queria ser de mais ninguém, o que só aumentava seu ódio depois do que acabara de passar.

Por ter respondido ao professor Aleto na sala de aula, pegara uma detenção com ninguém mais que o pútrido Blásio Zabini. Já notara há muito tempo que ele a desejava, e sentia-se enojada com os olhares que a lançava. Ele usou essa detenção para chantageá-la. Disse que não a torturaria, a menos que fizesse sexo com ele. Ao tentar imaginar a cena de algo tão nojento, Gina não se conteve e vomitou no lixo mais próximo. Era melhor ter simplesmente dito não. Nunca vira um olhar com tanto ódio como o de Zabini ao lançar incansáveis Crucios sobre ela. Ainda tremia e estava pálida, mas até o garoto admitiu que ela aguentou bem. Assim que o tempo acabou, ela levantou-se, tendo espasmos, mas decidida, e foi embora, não antes de mostrar o dedo médio ao menino. O olhar de choque e ofensa dele compensou qualquer dor por que tivesse passado.

Reuniu todas as suas forças, correu o mais rápido que conseguiu, e agora encontrava-se ali, sentada no pufe da Sala Precisa, tremendo, pálida, mas com um olhar determinado, embora triste. Levantou-se devagar, fechou os olhos e desejou um banheiro onde pudesse ter total privacidade para se lavar. Instantaneamente, o ambiente mudou. As paredes de pedra foram substituídas por mármore branca, o chão já não tinha mais tapetes para luta, mas um carpete confortável. No centro do quarto, encontrava-se uma grande banheira redonda branca, cheia de água quente e espuma, com pétalas de rosas brancas pairando preguiçosamente sobre a água e as bolhas. Sorrindo levemente, Gina despiu-se, e entrou na banheira, suspirando de alívio, deixando que os músculos relaxassem e se livrassem das dores da recente tortura. Deitou-se com a cabeça apoiada em uma toalha, e fitou o teto, que, ao seu desejo, fora encantado para parecer o céu, como o do Salão Principal. O céu estrelado e lindo contrastava muito com os sentimentos da garota, era um céu feliz, que fazia com que ela se sentisse quase da mesma maneira. Pensando em Harry, e na única e perfeita vez em que transaram, deixou-se relaxar completamente, e após trinta minutos saiu do banho, revigorada, vestiu suas roupas e voltou ao seu dormitório o mais rápido e silenciosamente que pôde.

Vestiu o pijama, deitou-se em sua cama confortável, adormecendo instantaneamente, sonhando com intensos olhos verdes.

Muitos quilômetros longe dali, Harry Potter relaxava os músculos tensos aliviado, quando viu o pontinho que representava Gina no Mapa do Maroto ir dormir. Ela tinha demorado naquela noite. Incomodado por não saber o motivo da demora de Gina, mas feliz por ela estar a salvo, virou-se em sua cama e adormeceu, sonhando com a última vez em que estivera na Sala Precisa, com a menina que acabara de ir dormir em Hogwarts. O que o mantinha são naquela busca eram as lembranças que tinha da garota, e a certeza de que ela era forte o bastante para enfrentar qualquer desafio, mesmo que ele não estivesse lá para protegê-la.

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