Arrependimento e Discussões

Arrependimento e Discussões



Sírius estava deitado na cama ofegante e suando frio. Tinha acabado de acordar de um sonho tão vivido que demorou alguns segundos para se dar conta de onde estava.


O quarto ao seu redor era escuro e simples, apenas a cama que estava deitado, uma mesa de cabeceira de um lado e um velho guarda-roupa do outro. Na sua frente uma mulher esbelta de cabelos pretos e lisos que chegavam um pouco abaixo de seus ombros acabava de vestir uma blusa, terminando assim de se trocar. Atrás dela uma janela mostrava o nascer do sol, que iluminava o quarto aos poucos.


- Você teve um pesadelo – A mulher falou indo em direção ao armário e o abrindo, dando de cara com um espelho – Estava sussurrando o nome do seu irmão.


- Eu não tenho irmão – Sírius retrucou de modo grosseiro ao se sentar na cama.


Tentava se lembrar do sonho, mas apenas alguns fragmentos lhe vinham a mente: Um penhasco... Uma caverna... A luz verde. Só podia estar delirando! Nunca esteve em nenhum local que coincidisse com aquela descrição e apesar de conhecer as pessoas envolvidas o absurdo da situação só provava que tudo tinha sido fruto de sua imaginação.


- Não é o que diz sua árvore genealógica – A mulher voltou a falar olhando o reflexo de seu pescoço no espelho que estava marcado por uma pequena mancha roxa. – Detesto quando você deixa marcas.


- Eu sei. – ele admitiu com um sorriso enquanto atravessava o quarto até o armário e se colocava atrás dela. – Quanto à árvore genealógica: é outra coisa que eu não tenho.


- Você faz de propósito. – acusou a mulher ignorando o ultimo comentário dele e se afastando do espelho para se sentar na cama e pegar sua varinha apontando-a para o pescoço, fazendo assim a marca desaparecer instantaneamente.


- Pensei que fosse óbvio. – Sírius ironizou, agora se olhando no espelho.


Um homem atraente o olhou de volta. Era alto, forte e usava apenas uma calça jeans deixando a mostra seu tórax definido. Seus cabelos negros caiam sobre seus olhos com uma espécie de elegância displicente. Os olhos azuis-claros davam uma leveza na expressão arrogante em seu rosto. Sabia que era bonito, mas não tinha uma preferência especial por essa sua característica. Acreditava que beleza não fazia caráter, apesar de saber que podia trazer várias mulheres. Desde pequeno sua aparência já chamava atenção. Não em sua família, é claro porque nela beleza não era um artigo raro, mas na escola não só chamava atenção como vinha com milhares de garotas a seus pés. Todas querendo uma chance com ele. Nada que o impressionasse. Eram apenas garotas fúteis e entediantes que se alimentavam de ilusões e não faziam questão de conhecer a realidade.


- Gostaria que você não fizesse isso novamente. – a voz feminina o despertou de seus pensamentos.


- Gostaria é? – ele tornou irônico desviando seus olhos do espelho e a encarando com um sorriso zombeteiro no rosto. – Não foi isso que me pareceu ontem a noite.


- Como você pode ter tanta certeza disso?


- Seus olhos, Bellatrix. – Sírius explicou se recostando no guarda-roupa de braços cruzados. – Seus lábios podem falar todo tipo de mentira, mas seus olhos nunca mentem.


- E o que eles dizem agora? – provocou Bellatrix se levantando da cama e parando a centímetros dele.


- Que você gosta quando eu faço... - ele sussurrou aproximando sua boca da dela fazendo-a fechar os olhos. – Isso.


Sírius então direcionou os seus lábios para o pescoço de Bellatrix.


- Cafajeste! – ela exclamou em um misto de fúria e prazer o empurrando para longe.


- Admita que você gosta, Bellatrix. – Sírius falou rindo.


- Eu não sei por que ainda perco o meu tempo com você. – Bellatrix comentou furiosa tornando apegar a varinha e fazer a nova marca desaparecer.


- Esteja livre para partir quando tiver vontade.


- Você está me expulsando?! – ela exclamou se voltando para ele. – Não. Você não iria tão longe. Você é dependente demais de mim para arriscar me perder.


- Depender? Te perder? Não se engane tanto Bellatrix. – ele falou irritado. – Nós dois estamos juntos porque isso convém a ambos, mas não seja tola ao pensar que existe algum tipo de sentimento me ligando a você.


- Você está especialmente irritante hoje, Sírius. – ela falou ignorando o comentário dele. – Como eu não estou com humor para aturar suas grosserias vou embora.  


- Sem nem ao menos um beijo de despedida? – Sírius tornou irônico. A ironia era uma arma e ao mesmo uma defesa quando se tratava de Bellatrix.


- Adeus, Sírius. – ela falou desaparatando em seguida.


Toda vez que se encontravam era sempre a mesma coisa. Por mais que Sírius desfrutasse dos momentos que passavam juntos, sempre vinha a culpa. Ele sabia que era errado se encontrarem escondidos e mesmo se odiando por continuar com o erro a sua atração pela prima o impedia de acabar com o caso deles. Toda a sua vida tinha feito de tudo para se livrar da sua família, os Black. Era estranho empregar a palavra família para definir eles, quando Sírius sabia perfeitamente que o significado dela não se aplicava a seus parentes. No entanto não importava o quanto ele se esforçasse para se desligar da família ela sempre o perseguia e Bellatrix era a prova viva disso.


Sírius fechou a porta do armário, vestiu uma camisa e saiu do quarto descendo os degraus da escada do Cabeça de Javali. Saindo pela porta dos fundos começou a andar pela rua. A avenida principal de Hogsmead aos poucos se clareava a medida que o sol se intensificava. Algumas vitrines estavam sendo abertas pelos seus donos, que madrugaram com o propósito de arrumar suas lojas para o novo dia que começava. Os contornos das montanhas além do vilarejo já podiam ser percebidos através dos primeiros raios de sol da manhã.


Sírius avistou sua moto escondida em um beco escuro e atravessou a rua a sua frente, subindo em cima dela. Deu partida quando a sentiu avançar pela estrada levantando vôo em alta velocidade. Seus cabelos foram varridos para trás e uma sensação incrível de liberdade tomou conta dele enquanto se distanciava do vilarejo.


Desde garoto era obcecado por motocicletas. Colecionava desde pôsteres de seus modelos preferidos à manuais de manutenção. Sonhava com a oportunidade de poder guiar uma e vivia imaginando como seria ter uma moto só para si. Quando fez dezessete anos tornou seu desejo realidade, mas nada o tinha preparado para a realidade da máquina. A melhor invenção dos trouxas em sua opinião. Lembrava-se até hoje do dia que mostrou sua nova aquisição para James.


- Não sei não, Almofadinhas. – comentou o amigo olhando desconfiado para a moto. – Que bruxo em sã consciência iria preferir uma coisa dessas à uma vassoura?


- Garanto à você que ela é mais confortável. – tinha falado achando graça do assombro do amigo


- Confortável. – James repetiu desgrudando os olhos da moto e se virando para ele. – Ela nem voa.


- Eu não teria tanta certeza disso se fosse você.


- O que você andou mexendo nela? – James tornou a perguntar


- Nada demais. – como recebeu um olhar duvidoso do amigo resolveu completar. – Pelo menos nada ilegal. Eu tenho meus contatos na Seção de Controle do Mau uso dos Artefatos Trouxas.


- Então a moto voa mesmo? – James perguntou sem acreditar.


- Tão bem quanto uma vassoura quer experimentar?


Sírius sorriu o céu azul forte e infinito sob um sol claro de cegar.


A experiência de James com a sua moto tinha sido extremamente mal-sucedida. Acostumado com a leveza da vassoura o amigo tinha calculado errado a força da aterrissagem e por pouco não tinha rachado a cara ao meio. Sua sorte era que estava a pouco mais de um metro do solo e quando a moto se esbarrou no chão impacto não tinha sido grave. A cena tinha sido muito engraçada depois que Sírius percebeu que nada tinha acontecido a James e o próprio James desmontou da moto tonto de tanto rir. A motocicleta mesmo só sofrera um pequeno arranhão, mas nada disso impediu a senhorita Evans de gritar a plenos pulmões o quanto irresponsáveis eles tinham sido.


A paisagem agora era outra. Campos verdes e geométricos se destacavam a sua volta cedendo lugar a lagos pequenos circundados por árvores altas e frondosas. Sírius desacelerou a fim de aproveitar os poucos minutos de paz e tranqüilidade do lugar.


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.