Morte
Capítulo 8
Morte
Scorpius não atendia ao meu pedido. Corria atrás dele para que ele parasse, mas ele não parou. Pedi várias vezes para que ele esquecesse aquilo, mas ele não escutou. Ele andava rápido, eu corria e, mesmo assim, não conseguiu alcançá-lo. Foi então que ele parou. Parou tão de repente que por um minuto pensei que não conseguiria parar de correr e bateria nele. Parei ao seu lado e ele não mexeu um músculo.
- Resolveu me ouvir? – Perguntei irônica. Ele não respondeu. Seu olhar estava fixo mais a frente. O segui e percebi que ele analisava um grupo que conversava animadamente. Analisei cada pessoa daquele grupo e minha respiração parou quando vi Felix. Era ele que Scorpius olhava fixamente.
Sem nem mesmo esperar ele começou a caminhar em direção ao grupo. Empurrou sem dó todos os que estavam em sua frente até chegar ao seu alvo. Scorpius pegou Felix pelo colarinho e o prendeu na parede, fazendo questão de bater as costas do garoto.
- Acha que pode mexer com minha irmã? – Ele falava alto e nervoso, chamando a atenção de todos que estavam ali.
- Ela já foi contar para o irmãozinho. Viram o que falei? – E todos os amigos dele começaram a rir. Scorpius o empurrou mais forte na parede e, Felix parou de rir com a enorme dor que sentira.
- Acha isso engraçado? – Nunca o tinha visto tão nervoso.
- Scorpius para. – Falei tentando separá-los.
- Você não me intimida. – Felix levantou o nariz em sinal de superioridade. – Não tenho medo de um Malfoy. – Sorriu sarcástico.
- Pois deveria. – Avisou. Em um impulso peguei a varinha de Scorpius que estava na lateral da calça e a juntei com a minha.
- Já chega vocês dois. – Mas eles não me ouviram. Bufei nervosa. Scorpius colocou a mão na lateral da calça a procura da varinha, com certeza.
- Cadê minha varinha Melissa? – Virou aumentando o tom de voz comigo.
- Só irei devolvê-la se soltar ele agora. – Aumentei o tom de voz na altura que o dele.
Mas antes dele soltar Felix ele o levantou no ar e soltou de repente. O garoto cambaleou e caiu no chão.
- Se eu souber que se meteu com minha irmã de novo, você vai se arrepender. – Scorpius falava apontando o dedo para ele que apenas continuava a rir.
- Agora vamos. – Segurei o braço dele e peguei as duas varinhas. Entreguei a dele que voltou para o lugar onde estava e continuei segurando a minha.
- Não se preocupe... – Ele gritou se levantando. A essa altura, todos do corredor olhavam para nós. – Malfoy não é o único nome sujo de Hogwarts, Luan se encarregou de sujar os Potter também. – E todos começaram a gargalhar.
Sem pensar virei para pular em cima dele e arrancar aqueles cabelos cacheados. Mas Scorpius foi mais rápido e me segurou pela cintura. Tentava me soltar, mas ele era mais forte.
- Repete seu idiota. – Gritei. Todos se calaram.
- Não dê ouvidos a ele. – Scorpius sussurrou no meu ouvido. Mas dessa vez, foi eu quem não deu atenção a ele.
- Luan trai a namorada depois se sente arrependido... – E todos voltaram a rir.
- Me solta Scorpius Malfoy. – Falei alto, e nervosa. E aquele foi o fim. Por um momento lembrei-me de algo que haviam esquecido. A varinha em minha mão. Não pensei, apenas agi. Apontei a varinha para ele e gritei em alto e bom som. – Estupefaça. – Todos voltaram a se calar quando o menino voara para longe. E quando chegou ao chão ele já estava inconsciente. – Ri agora. – Falei alto.
- Isso já foi longe demais. – Senti Scorpius soltar minha cintura e segurar minha mão nos levando para longe dali.
Voltamos para os jardins, mas dessa vez paramos alguns metros antes de chegarmos onde as meninas estavam. Agora o rosto de Alexandra estava apenas vermelho, mas o sorriso tímido em seus lábios não escondia que ela havia melhorado. Observei quieta Scorpius olhá-la atentamente.
- Sabe por que somos tão unidos? – Pronunciou não tirando os olhos dela. Neguei com a cabeça, o que pareceu ele ter visto. - Ela é literalmente toda a minha mãe. E quando ela nasceu prometi a mim mesmo que não a deixaria sofrer. Ela é tudo o que tenho na vida como família. – Parou por alguns minutos. Talvez deixando um espaço para que pudesse dizer algo. Mas não disse. – E me doeria muito saber que algo de ruim aconteceu com ela sem que pudesse fazer algo. – Seus olhos continuavam fixados nela. Eu apenas o abracei tentando confortá-lo.
**
- Melissa! Preciso falar com você. – Ouvi a voz de Demi ecoar pelo corredor vazio.
- Agora? Estou indo ver o treino de Scorpius... – Minha voz foi sumindo aos poucos.
- Não, você não pode ir. Precisa vir comigo, tem que ser em um lugar seguro. – Ela falava olhando para os lados e tentando me puxar.
- É alguma coisa com Alex? – Perguntei preocupada.
- Não! – Quase gritou. – Por favor, venha comigo. – Suplicou.
- Eu... – Pensei por um instante em ir, mas se fosse, Scorpius ficaria chateado. - Não posso. Prometi que veria o treino dele hoje. Sinto muito.
- Você não está entendo é algo inadiável...
- Depois do treino, nos encontramos em uma sala, mas tem que ser rápido. – Sugeri. Ela ponderou por um tempo, mas concordou.
- Na sala de feitiços, esperarei até as onze. – Disse angustiada. E saiu correndo deixando-me sozinha.
Sem entender muito bem o que acabava de acontecer, continuei meu caminho para o campo. Nada de surreal aconteceu, mas as palavras de Demi ficaram em minha cabeça. O que ela queria falar afinal? Deveria ter conversado com ela primeiro. Tentei deixar esses pensamentos de lado, mas certamente que o meu subconsciente não deixaria.
Cheguei ao campo e Scorpius já estava lá com mais dois rapazes, mas ainda não havia começado o treino. Subi nas arquibancadas e sentei esperando que começassem. Pude vê-lo sorrir quando me viu na arquibancada. Acenei de leve para ele e os três começaram a voar.
A atenção dele estava totalmente no campo, mas a minha estava totalmente nele. Meu sorriso se desfez no momento em que comecei a pensar o porquê de estarmos juntos. Tentei tirar isso de minha mente, mas era impossível. Como um menino igual a ele, pode gostar de alguém como eu? Tentava por várias vezes não responder aquela pergunta que voltava sempre que a esquecia.
A questão é que naquele momento, ele era o meu alicerce. Quando estou com ele, sinto que tudo correrá bem. Meus pais estarão de volta, juntos com Lily, e tudo voltará ao normal. As brigas, brincadeiras, desentendimentos. Tudo.
O treino não fora longo, aparentemente. Desci a arquibancada correndo enquanto Scorpius descia da vassoura. Pulei em seus braços e sorri o beijando.
- Estou suado. – Falou entre o beijo me segurando com um braço pela cintura e segurando a vassoura no outro.
- E quem disse que me importo? – Pisquei sorrindo. – Vá se arrumar. Estarei te esperando. – Soltei-me.
- Não vou demorar. – Ele segurou meu braço puxando-me para mais um beijo e depois foi se arrumar.
Enquanto esperava-o olhei para o relógio e percebi que já havia passado das onze. Tinha esquecido a Demi. Seja qual for o assunto ficaria para o dia seguinte. O relógio marcava quase meia noite, impossível ficar circulando pelos corredores muito tarde. Isso se algum dos professores soubesse que estávamos ali.
- Pronta? – Scorpius apareceu minutos depois. Estava cheiroso e limpo. Pegou em minha mão e, juntos, caminhamos em silêncio até o castelo.
Ao chegarmos ao castelo já passava da meia noite e quinze. Ele segurava minha mão e permanecíamos – ainda – em silêncio.
- No que está pensando? – Scorpius sussurrou. Sorri.
- Diga-me você... – E antes de terminar a pergunta ouvi um miado. Parei de andar e tentei ouvir novamente. – Você ouviu isso? – Perguntei olhando se achava de onde vinha o tal miado.
- O que? Não ouvi nada. – Falou. Novamente o miado ecoou pelo corredor.
- E agora? – Negou. Soltei a mão dele e dei dois passos para frente. Mais não ouvi nada. – Acho que foi engano meu. Estou cansada, vamos. – Quando virei para pega-lo na mão novamente vi a sombra de um animal no fundo do corredor que logo reconheci. – Mimoso? – Falei alto.
- Melissa? O que esta vendo? – Scorpius ficou ao meu lado olhando na mesma direção.
- Você não vê um gato no final do corredor? – Apontei para ele.
- Não tem nada ali. – Falou.
Seria impossível não ver um gato no fim do corredor sentado no chão. Comecei a caminhar em sua direção e ele não se mexia. Como se estivesse esperando minha aproximação. Quando estava perto agachei para pegar mimoso, mas ele miou começando a andar.
- Melissa onde você está indo? – Scorpius caminhava atrás de mim, mas era como se estivesse em transe.
Conseguia ouvi-lo, mas não queria responder. Não conseguia.
- Espera! Onde você esta indo? – Perguntei seguindo mimoso. Como se as palavras de Scorpius tivessem ficado no meu subconsciente e agora elas saiam.
Ele miava e algumas vezes olhava para trás, talvez certificando se estava o seguindo. Continuei o seguindo até o momento em que ele parou em frente a uma porta de madeira. Parei ao seu lado e analisei a porta. Não havia nada de errado.
- O que você quer me mostrar? – Sorri pensando que ele queria apenas brincar, mas ele caminhou até a porta e começou a arranhá-la e a miar sem parar. – Tudo bem, eu abro para você... Mas o que é isso? – Abri a porta e vi um pouco de sangue no chão.
- Melissa? – Ouvi a voz de Scorpius atrás de mim.
Estava tudo escuro, apenas a luz do luar entrava pela janela e o vento forte balançava a pequena cortina suja que a cobria. Vi uma sombra balançar com o vento e que algo estava pendurado no teto.
Abri um pouco mais a porta e quando a luz do corredor entrou no cômodo pude ver de onde vinha aquela sombra.
- Oh meu Deus! – Abafei um gritou com as mãos. Meus olhos começaram a encher de lágrimas, as pernas a tremer. Foi então que eu gritei.
Havia uma menina pendurada com uma corda envolvendo seu pescoço. Não podia ver seu rosto. A única coisa que via com clareza eram seus olhos vermelhos e sem vida olhando diretamente para mim.
Scorpius soltou a vassoura que bateu no chão fazendo um barulho que ecoara pelo corredor. Ele correu tampar minha boca para abafar o próximo grito que viria, mas não ocorreu como planejado. Entrei na sala para que pudesse ver melhor, minhas pernas tremiam e os olhos estavam cheios de lágrimas.
Olhei para aquele rosto e logo o reconheci. Mais um grito saiu involuntariamente de meus lábios, de terror. Naquele momento a escola inteira caminhava em direção aos gritos. Segurei forte na mão de Scorpius e fechei meus olhos não querendo mais ver aquela cena horrível. Ele me abraçou afundando minha cabeça em seu peito.
Aquela não era uma menina qualquer. E mesmo com os olhos fechados, não conseguia tirar de minha cabeça os olhos vermelhos de Demi e o corpo dela falecido, pendurado pelo pescoço em uma corda.
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