Use Somebody



Use Somebody


 


I've been roaming around
Always looking down at all I see
Painted faces, build the places I can't reach
You know that I could use somebody
You know that I could use somebody


Eu tinha tudo para ser o cara mais popular da escola, cabelos loiros, olhos azuis, um corpo bem definido e um sorriso que qualquer garota mataria para ser dado para ela. Engraçado como a vida é irônica. Engraçado como ninguém se esquece. Você é humano, mas você não tem o direito de errar, melhor, você não tem o direito de se arrepender, ninguém pode te perdoar, mesmo que você não tenha feito nada, que você só esteja pagando por algo que seu pai fez.


Veja bem, eu não recrimino meu pai. Longe disso. Ele fez o que tinha que fazer para salvar a família, ponto. Foi errado? Sim, foi, mas me diz o que você faria na situação dele? Agiria diferente? Talvez com a educação que você tem você agiria, mas não com a educação que meu pai teve, ele aprendeu a ver o mundo daquela forma, ele queria que o pai tivesse orgulho dele, que filho não quer isso? Eu quero. Por isso não o culpo, eu tinha que lidar com a situação e eu faço o melhor que posso.


Desde que comecei Hogwarts é assim: eu me apresento, as pessoas descobrem quem eu sou e se afastam ou enojadas ou desdenhosas. Por isso nunca tive um amigo aqui e nem nunca me esforcei para isso, as pessoas parecem achar que tenho algum tipo de doença: os que são de outras casas estão sempre me xingando ou me azarando, os da minha casa acham que eu sou um fracassado, eu não acho nada, somente os desprezo é minha única defesa. Eu estou meio perdido, tentando entender porque eles ainda acreditam que somos desprezíveis, se fossem somente meus colegas tudo bem, mas parece que a sociedade bruxa inteira nos condenou para sempre a exclusão,por isso eu os excluo do meu mundo também.


Não que eu me importe muito com a opinião dos outros, meu pai me disse que seria difícil, por isso aprendi a marca de ser um Malfoy desde pequeno: a frieza e a expressão de desprezo. Meu pai tinha lidado com a rejeição no seu último ano de escola e me disse que o melhor a fazer era acolhê-la como uma companheira em vez de se perguntar por que as pessoas faziam isso. Ele me aconselhou a viver mais no mundo trouxa do que no bruxo, porque meu futuro no mundo bruxo estava condenado desde meu nascimento. Só um milagre me salvaria da total exclusão, por isso meu pai me colocou para estudar em escolas trouxas desde a infância. O que me levou a só ter namoradas, ou casos, com garotas trouxas, e a me candidatar a faculdades trouxas. Cambridge, se eu não me engano, já tinha até me aceitado.


É meu último ano aqui em Hogwarts, e eu sigo minha rotina de sempre, apesar de a sensação ser um pouco mais nostálgica e amarga do que das outras vezes, eu ando pelos corredores com as mãos nos bolsos, cabeça baixa, vendo cada uma das pessoas aqui se tornando alguém importante no mundo bruxo, alcançando lugares que eu nunca poderei alcançar, ouço ainda algumas pessoas me xingando quando passo, e alguns primeiro anistas exclamando “aquele é Scorpius Malfoy”.


A fase da azaração passou quando James Potter saiu da escola, nos primeiros anos eu não revidava afinal ele era mais velho e eu ainda estava aprendendo magia, mas a partir do quarto ano eu passei a revidar, tinha cansado de ser humilhado: queria me xingar, eu não me importava, queria xingar minha família, tudo bem, mas não me humilhe. Normalmente o Potter ganhava, e geralmente quem sempre tentava apartar os duelos era a prima dele: Rose Weasley, e era ela quem normalmente me levava para a enfermaria depois. Nós nunca conversávamos, ela só dispersava a multidão desfazia o feitiço me levantava e eu ia apoiado nela até a enfermaria.


A exceção foi no meu quinto ano, era final de maio e descobri que a Weasley tinha começado a namorar, Potter veio me azarar, e bom, eu já estava com raiva e não pensei duas vezes em lançar o feitiço, ele ficou na enfermaria por algumas semanas, mas nada que Madame Pomfrey não resolvesse, desde então as azarações pararam, eu só continuava a ser um excluído, mas ninguém mais se atrevia a mexer comigo. Eu continuava o aluno exemplar, só tirava ótimas notas, não faltava, entregava as lições em dia, a única pessoa que se comparava comigo naquela escola era ela. E aparentemente a única que se importava também.


Acho que foi isso que me fez começar a ver ela de um jeito diferente, acho que foi por isso que as máscaras que eu enxergava nos rostos das pessoas não existiam nela, acho que foi por isso que eu sentia essa conexão estranha toda vez que ela me olhava antes de sair da enfermaria ou mesmos nos corredores, era por isso que eu me sentia atraído por ela. E agora era minha última chance de fazer algo, saber se o que eu sentia era só isso: atração. Ou talvez fosse só porque eu me sentia grato por ela ser diferente, ou se fosse mesmo atração, se poderia se tornar algo mais. Decidi que o melhor a fazer era agradecer a ela, na primeira oportunidade em que a encontrasse sozinha.


E aconteceu no lugar mais provável, na hora mais certa que podia acontecer, afinal se você quisesse encontrar Rose Weasley tudo que tinha fazer era esperar a biblioteca fechar e lá estaria ela. O bom é que não foi nada planejado, eu sou do tipo que acredita que se uma coisa tem que acontecer ela vai acontecer, não importa quando, não importa onde, não importa o por que. O fato é que eu tinha que pegar um livro para fazer meu ensaio de poções e só tinha me lembrado dez minutos antes da biblioteca fechar, se tivesse sorte quando chegasse lá o livro ainda não estaria esgotado, corri o mais rápido que pude mas quando virei o corredor a bibliotecária já fechava as portas da biblioteca e Rose vinha andando com dificuldade segurando mais livros do que poderia suportar, a bibliotecária passou por ela sem oferecer ajuda e logo depois por mim, eu passei as mãos pelo cabelo, agora era a hora.


 


- Weasley – eu chamei com a voz rouca pela falta de uso.


 


- Malfoy? – ela perguntou surpresa assim que ergueu a cabeça. Eu parei por um segundo registrando o fato de que era a primeira vez que ela realmente falava comigo.


 


- Você pegou o livro de poções que o Slughorn pediu? – perguntei enquanto me aproximava cautelosamente.


 


- Sim – ela respondeu me analisando.


 


- Era o último? – eu pigarreei após o fim da frase.


 


- Sim, mas vou usá-lo hoje à noite posso lhe entregar amanhã se quiser – ela ofereceu, eu sorri: lá estava ela me ajudando de novo.


 


- Isso seria ótimo – ela sorriu para mim – precisa de ajuda com isso?


 


- Não, tudo bem eu consigo carregar tudo até a sala comunal – ela disse cambaleando um pouco devido ao peso dos livros. Eu sorri de novo.


 


- Weasley você me ajudou minha vida toda, me deixa fazer esse favor para você – eu disse já andando na direção dela e pegando alguns livros.


 


- É por isso que você está falando comigo? Para pagar algum tipo de divida que você imagina ter? – ela perguntou um pouco alterada, era uma boa pergunta, por isso eu olhei no fundo dos olhos dela para tentar achar a resposta. É estava lá.


 


- Também, mas tem uma ou outra razão um pouco mais importante que essa – eu respondi enigmático. Ela me analisou – Vamos?


 


Caminhamos lado a lado por alguns corredores antes de ela perguntar novamente:


 


- Pode me dar mais uma razão?


 


- Posso – eu respondi simplesmente olhando para frente.


 


- Você vai? – ela perguntou curiosa, eu ri baixinho e ela sorriu para mim.


 


- Vai parecer meio piegas, mas eu queria te agradecer – eu disse sincero olhando nos olhos dela, tentando fazer uso daquela conexão que existia entre nós sem autorização prévia.


 


- Agradecer pelo que exatamente? – ela perguntou, eu respirei fundo pensando, eu podia dizer que era porque ela tinha me ajudado sempre, mas não era exatamente isso.


 


- Por você ser diferente, por você se importar, por você estar sempre lá... – eu deixei a frase no ar por um momento, eu olhei para ela os olhos mais azuis que eu já tinha visto – então, obrigado.


 


- Não tem de que Malfoy – ela ainda me analisava, acho que ela meio que já sabia minhas intenções – porque só agora?


 


- Ah foi um pouco de tudo: orgulho, medo – eu respondi sincero, acho que minha honestidade estava afetando ela – mas esse é meu último ano, nosso último ano, meu pai nunca me perdoaria se eu fosse mal educado – eu sorri brincando parando em frente ao retrato da mulher gorda, ela riu.


 


- Aposto que não – eu passei os livros para ela – obrigada.


 


- Não foi absolutamente nada – eu falei flertando um pouco, ela sorriu. Sabia que me tinha na mão – só não se acostume muito com meus agradecimentos, eles geralmente só vêm de sete em sete anos – nós dois rimos, e ela se virou para o buraco do retrato.


 


- Boa noite Malfoy – ela desejou.


 


- Rose – eu chamei antes de ela entrar, não sei o que me fez chamá-la pelo primeiro nome, mas funcionou porque ela se virou – você faria tudo de novo? – ela pensou em tudo o que a pergunta queria dizer, dependendo da resposta eu sabia se estava no jogo ou não.


 


- Faria Scorpius – ela respondeu e me deixou com um sorriso. Aparentemente eu não era o único que sentia aquela conexão, agora que eu tinha certeza que ela existia eu só precisava saber o quão forte ela era.


 


Someone like you, and all you know, and how you speak
Countless lovers under cover of the street
You know that I could use somebody
You know that I could use somebody
Someone like you



No dia seguinte eu levantei no horário de sempre, me arrumei e segui para o salão principal sozinho, me sentei no meu espaço reservado, se é que eu podia chamar assim, todos os sonserinos sabiam onde eu me sentava e eles tentavam deixar o maior espaço possível entre eu e eles. Enquanto comia eu repassava a noite anterior, eu olhei para a mesa da grifinória, lá estava ela brincando com seus primos e amigos, ela me viu olhando para ela, sorriu, e emendou o sorriso em uma risada para a Potter. Vi quando ela pediu licença e se levantou abaixei a cabeça sorrindo como sempre ela já estava indo para aula, olhei para baixo me concentrado na comida e alguns minutos depois me surpreendi com um chamado:


 


- Malfoy – eu olhei para cima para ver Rose Weasley na minha frente, algumas pessoas nos encaravam imaginando o que ela tinha vindo falar comigo.


 


- Hey Weasley! – eu cumprimentei – o que te traz aqui? – eu perguntei enquanto para surpresa de todos, ela se sentava.


 


- Isso – ela falou arrastando o livro de poções na minha direção.


 


- Caramba você já terminou sua lição! Ah porque eu estou surpreso a gente tá falando de você não é mesmo – ela só sorriu da minha irônia e eu sorri de volta – Obrigado – eu disse sincero e dessa vez ela riu, eu não tinha entendido a piada – O que foi?


 


- Nada – ela sorriu de lado.


 


- Aham acredito – eu ironizei. Ela riu mais um pouco, parou pensativa e perguntou.


 


- Malfoy porque realmente você falou aquelas coisas para mim ontem? – eu analisei-a, ela realmente queria que eu falasse aquilo? Um pouco de mistério não mata ninguém.


 


- Você sabe porque Weasley, você é uma garota esperta – eu respondi evasivo piscando um olho só na direção dela.


 


- Será que eu sou mesmo? – ela falou com um sorriso sacana, essa filha da mãe ia me fazer dizer mesmo.


 


- Nunca pensei que você precisasse que os outros massageassem seu ego Weasley – eu tentei desviar de novo.


 


- Não preciso e você está fugindo da pergunta – ela praticamente cantarolou. Eu olhei no fundo dos olhos dela, ela me olhou de volta, ficamos alguns segundos naquele jogo.


 


- Eu falei aquilo porque acho que preciso de alguém – eu pausei e respirei fundo – acho que preciso de alguém como você.


 


- Que bom que você já sabe do que você precisa Malfoy – ela abriu ainda mais o sorriso travesso que estava dando – agora você só precisa descobrir como conseguir – ela riu da minha cara, mas eu sabia que estava no jogo, eu a tinha na minha mão tanto quanto ela me tinha.


 


- Não me provoca Weasley, você não sabe do que eu sou capaz – eu ameacei e ela ergueu as mãos em sinal de redenção.


 


- Não tá mais aqui quem falou – ela se levantou – vejo você depois – ela tinha se afastado alguns passos da mesa, quando parou e se virou para mim – E Malfoy


 


- Sim – eu disse já sorrindo.


 


- Eu estou me acostumando com isso – ela sorriu travessa e olhou em direção ao livro, foi ai que eu entendi. Eu tinha dito “obrigado” de novo.


 


À noite naquele dia eu percebi que realmente precisava de alguém como ela, não era só algo que eu achava que podia acontecer, ela era perfeita para mim e eu merecia ela. Não eu não estava sendo prepotente nem nada, eu só sofri demais por algo que não fiz, o mínimo que eu merecia era alguém como Rose Weasley.


Alguém que sabia tudo, desde a mais simples reação de poções até a mais difícil Runa, alguém que amava as mais simples comédias românticas até as mais complicadas, alguém que tinha o humor mais doce e também o mais irritado, a personalidade mais inocente e mais madura que eu já tinha conhecido. E o jeito como ela falava, o jeito como se dirigia a mim como se soubesse que era tudo questão de tempo, como se soubesse o tempo todo o que eu queria, e mesmo assim perguntar com insegurança o porquê de eu ter feito o que fiz. O jeito como meu nome soou na voz dela na noite anterior, se eu voltar ao corredor acho que ainda sou capaz de ouvir o eco: “Scorpius”.


Ela sabia que podia ter qualquer um, ela era uma Weasley afinal de contas, todos dariam uma cabeça para entrar na família hoje em dia. Eu daria meu coração para ter uma chance com Rose Weasley. Ela não parecia ser experiente no amor, mas era, teve que aprender a ser para não ser passada para trás, a grande maioria só queria ela para a própria lista como se seu nome e o de sua prima fossem algum tipo de troféu, ela nunca ficava com esse tipo de garoto, ela os conhecia e os farejava de longe. Mas ela tinha mantido um relacionamento com mais de um menino trouxa, eu sabia por causa dos rumores, e ainda teve aquele nerd lufa-lufa no quinto ano que foi o primeiro namorado bruxo dela, tinha mais eu acredito, mas ninguém parecia ter certeza, era tudo boato.


Quando terminei minha lição de poções era quase dez horas, a biblioteca ainda estava aberta, e eu sabia quem encontraria se fosse devolver o livro a essa hora, uma chance? Não. Era a oportunidade perfeita, e eu não ia desperdiçá-la. Caminhei lentamente sabia que ela estaria lá, e não me decepcionei. Entrei na biblioteca devolvi o livro a madame Pince e quando olhei em uma das mesas mais próximas a saída lá estava ela, olhando de volta pra mim. Eu sorri e meneei a cabeça, ela entendeu.


Eu a esperei do lado de fora da biblioteca e quando ela saiu entrei em uma passagem secreta ali perto, ela me seguiu.  A passagem era apertada o que fazia com que nossos corpos ficassem próximos, mas nada tão íntimo, ela deixou a bolsa que segurava cair, e eu soube que ia acontecer naquela noite, naquela passagem secreta.


 


- Devolvi seu livro – eu informei, apesar da pouca luz vi um sorriso no rosto dela.


 


- Bom, não quero manchar meu histórico com um atraso na biblioteca – ela disse um pouco seria um pouco brincando, eu ri.


 


- Longe de mim manchar sua reputação – eu disse esticando um pouco as pernas que acabaram encostando nas dela, mas ela não se afastou.


 


- Então você já se decidiu? – ela perguntou, eu não entendi.


 


- Decidi o que? – eu devolvi, ela sorriu travessa.


 


- Se realmente precisa de mim – ela falou olhando nos meus olhos e aquele azul ficou ainda mais bonito a luz da lua.


 


- Decidi – eu respondi evasivo


 


- Precisa? – ela perguntou e eu sabia que se fosse evasivo de novo poderíamos ficar nesse jogo a noite toda.


 


- Preciso – eu respondi me desencostando da parede, agora sim estávamos um pouco perto demais, mas não o suficiente. Ela riu debochada para me provocar.


 


- E já sabe como me conseguir? – ela arqueou uma sobrancelha numa pose prepotente, eu dei meu melhor sorriso.


 


- Vou jogar o seu jogo – respondi, a pose caiu com a incompreensão.


 


- Que jogo? – ela perguntou e eu cheguei mais perto, agora nossos rostos estavam a centímetros de distância.


 


- Só perguntas – eu falei prensando ela na parede, mas não forte o suficiente, se ela quisesse sair agora era a hora, nossos narizes estavam colados, ela sorriu.


 


- Pode perguntar – ela falou e o gosto de canela veio direto na minha boca, eu salivei. Desviei o rosto do dela e sussurrei em seu ouvido:


 


- Porque eu? – ela já tinha passado a mão pelo meu pescoço e minhas mãos já estavam em sua cintura, eu voltei à posição anterior, e a observei morder o lábio pensativa, era só para me provocar e eu sabia. Ela colou os lábios em meu ouvido e depois de dar uma pequena risada que me arrepiou por completo ela sussurrou:


 


- Você sabe por que Malfoy, você é uma garoto esperto – e foi quando ela voltou arrastando o nariz pela minha bochecha ficando tão perto quanto ela jamais esteve, foi ali que eu entendi: ela precisava de mim. Então eu a beijei.


 


O gosto de canela dela invadiu todos os meus sentidos, as línguas pedindo passagem ao mesmo tempo, o arrepio subiu por todo o meu corpo quando elas se chocaram e nos dois soltamos um gemido baixo ao mesmo tempo, esse beijo era algo que, agora eu entendia, eu tinha esperado desde sempre, desde a primeira vez que ela me levou para a enfermaria, desde a primeira vez que ela sustentou meu olhar. Por isso o beijo era intenso como se quiséssemos recuperar o tempo perdido, minhas mãos a puxavam cada vez mais contra mim enquanto tentavam achar uma brecha em seu suéter, os dedos dela se enroscavam em meus cabelos e às vezes desciam até meu peitoral. O beijo durou alguns minutos, mas depois do primeiro veio o segundo, o terceiro, e quando vimos já tínhamos estourado o toque de recolher em uma hora.


Retornamos o mais discretamente possível para a torre da Grifinória, o caminho todo de mãos dadas o que me deixou feliz, eu não estava doido tinha mais do que só gratidão na conexão que eu sentia por ela, e tinha mais do que atração eu podia facilmente me apaixonar por Rose Weasley. Deixei-a no buraco do retrato e retornei o mais rápido possível para minha sala comunal, algumas pessoas levantaram a cabeça quando me viram chegar, mas não falaram nada, eles nunca perceberiam nada.


No dia seguinte executei minha rotina de sempre, bom o que seria minha rotina de sempre, mas muita coisa em mim tinha mudado, e aparentemente nela também. Quando me sentei na mesa da sonserina ela estava na da grifinória com seus primos, um grupo de garotos a mais cercando ela, mas nada muito fora do comum aí, o que estava diferente é que ela parecia mais distante não para mim, mas como se estivesse pensativa quando deveria estar prestando atenção na conversa dos amigos, ela me viu e novamente veio se sentar na minha frente, as pessoas estavam ainda mais curiosas agora, eu pensei em sorrir mas permaneci serio.


 


- Oi – falei quando ela terminou de se acomodar.


 


- Oi – ela me respondeu pensativa, é eu tinha acertado.


 


- O que te traz aqui hoje? – perguntei com tom de voz neutro.


 


- Você vai no baile de hoje a noite? – ela perguntou, eu dei um risinho de escárnio.


 


- Não, eu não vou a bailes da escola – respondi ela sorriu.


 


- Pensou sobre ontem? – ela perguntou me encarando.


 


- Eu sonhei com ontem – eu sorri para ela que apesar de sorrir de volta balançou a cabeça negativamente.


 


- Não nesse sentido – ela explicou – pensou se vale à pena? Pensou nas conseqüências?


 


- Claro que vale a pena – eu afirmei seguro, mas pausei pensativo – mas não pensei nas conseqüências – disse sincero e agora que ela tinha mencionado percebi que muito estava em jogo, que tinha muita coisa para pensar.


 


- Você deveria – ela aconselhou


 


- Eu sei – confirmei com a cabeça e depois sorrindo maroto acrescentei – e você deveria ter certeza.


 


- Certeza do que? – ela perguntou já na defensiva.


 


- Se realmente precisa de mim – eu dei meu melhor sorriso e vi o olhar dela se deter um pouco mais do que necessário nos meus lábios – na verdade o que me deixa curioso é porque você precisa.


 


- Bom parece que você tem bastante coisa pra pensar – ela falou se levantando.


 


- Você ainda não me respondeu – eu disse depressa.


 


- Eu te respondi ontem – ela disse sorrindo e retornando aos seus amigos.


 


Off in the night, while you live it up, I'm off to sleep
Waging wars to shake the poet and the beat
I hope it's gonna make you notice
I hope it's gonna make you notice

Someone like me
Someone like me
Someone like me, somebody


 


Naquela noite eu fiquei fazendo meus deveres na sala comunal enquanto eu via meus companheiros sonserinos saírem um a um com seus pares para o baile de halloween da escola, ela estaria lá vivendo o melhor de ser quem era enquanto eu estaria aqui, tentando encontrar as respostas que me colocariam mais perto ou mais longe dela, ela tinha me dado muito que pensar: primeiro as conseqüências de um relacionamento com ela.


Eu já podia imaginar o que todos falariam na escola, que eu tinha dado algum tipo de poção para ela, que ela estava enfeitiçada ou algo do gênero, depois que eles vissem que não era nada disso diriam que eu estava aplicando um golpe nela, a maioria queria dar porque justo eu o mais necessitado de todos não tentaria também. Mas isso era tudo que eles podiam fazer, fofocas. Nada mudaria eu lidei com isso durante anos podia continuar lidando com isso, ainda mais se me lembrassem toda hora de algo tão bom como estar com Rose Weasley.


Claro que tinha o outro problema que era a família dela e a minha não estarem nos termos mais pacíficos, quer dizer meu pai não tinha nada contra eles pelo contrario ele era grato agora, não que ele fosse dizer isso em voz alta, pelo amor de deus não! Mas ele não se importaria se eu começasse a namorá-la, já os pais dela isso era uma outra questão. Quer dizer sei que Ronald Weasley detesta meu pai, e sei que o primeiro a entrar nesse salão soltando fogo pelas ventas seria James Potter, só de imaginar a cara dele eu já tinha vontade de rir. Não sei o que a mãe dela faria, acho que seria mais racional que o pai, pelo menos ela tem jeito de ser daquele tipo que pensa muito antes de fazer alguma coisa. De qualquer jeito pelo meu lado tudo certo, nada que me impedisse de ficar com ela, era o que eu queria agora depois de ontem, era tudo o que eu sempre quis.


Pensei no que ela disse: “vale à pena?”, valia muito a pena, se não desse certo o máximo que podia acontecer era eu continuar a ser renegado pela sociedade bruxa. Quando você está no fundo não tem como descer mais baixo, e só tinha uma pessoa que podia me tirar dali, só uma pessoa que eu queria que me tirasse dali: ela.


O que me lembra que ela está um pouco acuada com a situação toda, se não ela não me pediria para pensar nas conseqüências, ela deve ter pensado como seria difícil enfrentar o pai dela e mais da metade de sua família para ficar comigo, mas esse era o porém, nem nós mesmos sabemos onde isso vai dar, a única coisa que era possível fazer na minha opinião era arriscar, não tinha jeito eu precisava dela, ela precisava de mim. Fim da história.


O porquê ela precisava de mim não estava muito claro antes, mas agora fazia sentido, eu não estava interessado no nome da família dela, eu não estava interessado em só tê-la na minha lista de conquistas, eu tinha dito que precisava de alguém como ela para me tirar da minha solidão, pelo menos foi o que eu tentar passar a ela quando disse isso, e ela precisava de mim porque eu era o único cara que sabia como ela realmente se sentia apesar de nunca ter conversado muito com ela, nós nos entendíamos com olhares, sempre foi assim, e eu sabia que apesar de ela ser super simpática e gentil ela tinha medo de confiar nas pessoas porque ela nunca sabia se eram suas amigas por conveniência ou porque realmente gostavam dela.


Devia ser muito mais difícil ser ela do que ser eu, afinal todo mundo pelo menos era aberto comigo, me odiavam e me desprezavam, mas no caso dela podiam existir pessoas que a odiavam e a desprezavam e ela nunca saberia quem eram pelo fato de eles agirem como amigos ao redor dela. Eu nunca agi como amigo, eu nunca a destratei e nos dois últimos dias que conversamos tenho certeza que ela pode ver a sinceridade nas minhas palavras, que ela entendeu que eu me sentia grato acima de tudo por tudo que ela tinha feito por mim, e que isso vinha antes de qualquer coisa, e é por tudo isso que valia a pena lutar por ela, porque ela era a garota perfeita para mim, e eu, modéstia a parte, era o garoto perfeito para ela.


 


I’m ready now (x6)



Someone like you, somebody
Someone like you, somebody
Someone like you, somebody


 


A minha decisão estava tomada eu só tinha que checar uma coisa hoje a noite, por isso me dirigi ao salão principal e fiquei na porta sem entrar, vendo as pessoas dançando e procurando por ela, quando finalmente a encontrei vi que ela já estava olhando para mim, um sorriso no rosto que me dizia tudo: ela me notava, ela precisava de mim, sorri de volta e ficamos nos encarando durante algum tempo, olhos nos olhos, ela saiu do transe quando Lily passou em sua frente, elas conversaram e vi Rose se levantar e se dirigir para a saída do salão, ela declinou educadamente um convite para dançar, seus olhos o tempo todo nos meus, quando ela parou na minha frente eu disse:


 


- Você está linda – ela sorriu.


 


- Obrigada – ela respondeu – pensei que você não vinha a bailes da escola – ela provocou, eu dei meu sorriso de lado.


 


- Eu tinha umas coisas para pensar, mas assim que analisei tudo percebi que não estava onde deveria estar – eu falei sincero de novo.


 


- Você quer ir até os jardins? – ela perguntou, eu apenas concordei com a cabeça e nos andamos em silencio pelos corredores de Hogwarts, enquanto passava por uma das janelas percebi que estava começando a nevar e ela só estava com um vestido de festa.


 


- Acho melhor ficarmos aqui dentro – disse enquanto abria a porta de uma sala de aula – está nevando.


 


Ela entrou e se sentou à mesa do professor, eu sentei ao lado dela, ficamos em silêncio por algum tempo organizando nossos pensamentos, ela falou primeiro:


 


- Considerou tudo? – ela perguntou, eu acenei afirmativamente – sabe que nossos pais vão nos matar?


 


- O meu pai não vai se importar – eu disse sincero – quanto ao seu diga que está vivendo uma fase rebelde – eu sugeri e ela riu.


 


- Acha que vai agüentar os comentários de todos falando o quanto você é interesseiro? – ela perguntou e dei meu sorriso de escárnio.


 


- Já agüentei coisa muito pior Rose – eu disse ficando em pé na frente dela, ela sorriu, mas esse sorriso era triste – porque você está tão insegura Rose? – eu perguntei.


 


- Só estou com um pouco de medo, não sei onde isso vai dar e tenho medo de me machucar, de te machucar – ela disse baixinho.


 


- É um risco, que eu estou disposto a correr, eu nunca tive nada na minha vida Rose, eu sempre vivi esperando que alguém me notasse, que alguém corresse em meu auxílio, que me tirasse da solidão, você fez isso – eu disse olhando nos olhos dela – eu quero ficar com você Rose, eu vou fazer valer a pena – eu sussurrei e a beijei, ela correspondeu a altura suas mãos me puxando para mais perto enquanto eu segurava delicadamente seu rosto, depois de alguns minutos de mordiscadas e selinhos eu uni nossas testas.


 


- Essa minha fase rebelde vai me render tanta dor de cabeça – ela falou e eu ri.


 


- Só se você quiser – eu disse – vai ser mais simples do que parece você vai ver.


 


- Eu só espero que meu pai não te mate – ela disse sorrindo de lado – na verdade espero que James não te mate – eu ri junto com ela.


 


- E agora? Você tem certeza? – eu perguntei um pouco inseguro.


 


- De que? – ela perguntou confusa.


 


- De que precisa de mim – eu respondi passando meu nariz no dela.


 


- Tenho – ela respondeu me dando um selinho – tenho certeza absoluta – ela puxou meu lábio inferior e eu segurei um gemido – assim como tenho certeza que posso me apaixonar por você.


 


- Melhor assim – eu disse puxando ela para um beijo mais longo – assim eu sei que eu não sou o único que corre esse risco aqui – ela riu e eu apaguei a risada dela com outro beijo, esse mais intenso do que o anterior, minhas mãos apertaram a cintura dela enquanto as dela se perdiam nos meus ombros e peitoral, o melhor beijo que eu já tinha provado – você sabia que isso ia acontecer, não sabia?


 


- Eu sempre sei de tudo – ela me respondeu e nós ficamos lá pelo resto da noite, conversando, beijando, olhando, lembrando, tocando, testando.


 


I've been roaming around,
Always looking down at all I see


 


 


No dia seguinte acordei um pouco fora de mim, como se ainda não acreditasse que tudo o que estava acontecendo comigo era possível, que eu tinha não só conseguido meu passaporte para o mundo bruxo, como também tinha conseguido uma garota que me conhecia melhor do que eu mesmo. Fiz meu caminho para o salão principal do mesmo jeito de sempre: mãos nos bolsos, cabeça baixa, desprezando e sendo desprezado. Mas quando entrei no salão principal e a vi se levantando de sua mesa e vindo na minha direção analisei algo de uma perspectiva que eu nunca tinha visto antes: enquanto eu andava cabisbaixo, com as mãos nos bolsos eu não via só mascaras, na verdade eu nunca as vi tudo o que eu via era ela.


Foi nessa hora, quando cheguei nessa conclusão que ela sorriu a centímetros do meu rosto, eu não via mais nada (quem se importa que estávamos no meio do salão principal?), eu sorri de volta e a beijei.
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N/A: Bom a primeira fic que eu tenho coragem de postar. Scorpius e Rose é um casal que eu gosto muito, apesar de Teddy e Vic serem meus preferidos da nova geração. Eu sempre imaginei um Scorpius desprezado por todos e essa música caiu como uma luva para o que eu imaginava. Espero que vocês tenham gostado e deixem coments!!!


Cah Sullivan

P.S. minha irmã quase me matou porque eu parei nessa parte. XD

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Comentários (1)

  • Luciana Moura

    Com certeza virei sua fã! Vc descreveu o Scorpius como eu sempre imaginei *-* cara, vc precisa escrever muita mais bjos 

    2015-04-06
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