Part V



I can't have you, no / Eu não posso te ter, não


Like you have me / Como você me tem


 


Não havia ninguém. A menina sentiu a sua ansiedade aumentar.


Será que ele descobrira que ela viria e foi para algum outro lugar? Pelo que ele respondeu à sua carta, isso não seria uma situação impossível.


Ela entrou no quarto mesmo assim. O quarto era tão luxuoso quanto o resto da casa. Ainda sim, o cômodo mudara desde sua última visita um tempo atrás. A parede de cor pálida era enfeitada com uns dois quadros acompanhados de pôsteres da Sonserina, contendo seu símbolo, e também de algumas bandas bruxas. Porém, excetuando os dois quadros todo o resto havia sido retirado.


 


Os olhos de Pansy passearam pelo resto do lugar, notando que os móveis, como sempre, estavam impecavelmente limpos e em cima da cama havia travesseiros e um edredom que eram tão brancos como se poderia existir.


Arriscando mais alguns passos, a menina chegou à cabeceira da cama. Aquela que Narcisa mencionara que parecia ter visto uma carta da sangue-ruim.


Se essa carta existia mesmo, Draco a escondera, pois não havia nada além do abajur em cima do móvel.


Seus olhos bateram nas quatro gavetinhas logo abaixo da base onde o abajur estava.


A carta poderia muito bem estar aqui – pensou a menina.


 


Mas será que era seguro? Apesar de sua desconfiança, não podia afirmar cem por cento que Draco não estava ali. Até porque segundo a mãe do menino ele estava.


E se ela fosse pega? O que ela falaria?


Após alguns segundos pensando, absolutamente nada convincente veio em sua cabeça e quando ela voltou sua atenção ao ambiente onde se encontrava percebeu com certa surpresa que sua mão já segurava no puxador da pequena gaveta. Apenas um movimento, simples e rápido, então a gaveta estaria aberta e ela poderia verificar o que estava contido ali dentro. Simples e rápido. Ninguém a descobriria se fosse desse jeito. E se alguém descobrisse? Bom, ninguém tinha nada a ver com aquilo. Ela percebeu que segurava a respiração, então a soltou, verificou o quarto mais uma vez, e encarou novamente a mesa cabeceira.


-Pansy? –uma voz fria apareceu fazendo com que a menina pulasse de susto.


-Draco! Merlin! Você quase me matou. –Ela sentiu seu rosto esquentar ao se virar para o menino e o coração se possível acelerou mais ainda. Mas nada foi comparado ao que aconteceu quando a menina percebeu que Draco tinha apenas uma toalha amarrada no quadril, deixando exposto seu peito e abdomen definidos.


 


Ela abriu a boca pra continuar a falar, mas seus olhos exigiram toda a atenção que estava disponível varrendo minuciosamente cada pequena parte da pele do menino que provavelmente havia acabado de sair do banho, devido algumas gotículas de água que ainda se encontravam no corpo do rapaz e que estranhamente lhe aumentavam a vontade de tocá-lo.


Esse era um grau de intimidade no qual eles não haviam chegado, mesmo que muitas tentativas tivessem sido feitas e isso levava seu rosto a ficar estupidamente quente e vermelho.


 


Praticamente no automático, Pansy olhou para a região do antebraço esquerdo do louro só pra tristemente perceber que a marca de Voldemort continuava ali. A marca do início de seu inferno pessoal.


 


-Quem deixou você entrar aqui? –a voz de Draco a acordou.


-Er... hum... sua mãe.


-Mesmo?  E ninguém nunca lhe disse que se deve bater antes? –o garoto disse rudemente, ainda parado no mesmo lugar.


-Bom ver você também Draco. –a menina disse finalmente virando-se de costas, esperando o menino se vestir.


-Eu te disse que não precisava de ninguém, muito menos de você.


 


O “muito menos de você” bateu fortemente em seu estômago e uma sensação nauseante apareceu.


-Sempre gentil. –a menina disse e cruzou os braços.


-O que você faz aqui afinal? –Draco se colocou na frente de Pansy, desta vez vestido.


 


Como a pouco aconteceu, a menina abriu a boca pra falar, mas nenhum som foi produzido. Entretanto desta vez o motivo foi diferente.


Ela não pensava que seis meses poderiam mudar tanto uma pessoa. Draco continuava praticamente igual fisicamente, com sua pele e cabelos pálidos, mas a sua fisionomia parecia de certa forma mais pesada, como se na verdade ele tivesse acabado de sair da Batalha de Hogwarts. Era como se lá ela pudesse achar dor e... arrependimento.


 


Outra coisa diferente era sua voz. Como pensara anteriormente, parecia que a parte do Malfoy frio e distante havia assumido o lugar e era exatamente isso o que sua voz mostrava. O Draco Malfoy da noite do Baile de Inverno havia sido perdido em algum lugar.


 


-Eu passei pra ver como você está. –Pansy falou.


-Estou bem. Pode ir agora. –Draco andou até a porta, a abriu e apontou para a morena que continuou onde estava.


Lutando para não encarar o chão, Pansy caminhou até estarem separados apenas por alguns centímetros. Eles se encararam por alguns segundos e dando permissão de invasão a um desejo que segurava há algum tempo, Pansy o beijou.


O beijo não se aprofundou e sua duração sequer bateu os cinco segundos já que Draco segurou a menina pelos ombros e a empurrou pra trás.


 


-O que houve? –Pansy perguntou com mágoa escapando pela sua voz.


Draco bufou e riu um pouco.


-Você só pode estar brincando.


-Eu pareço estar brincando? –a menina disse de repente irritada.


-Me deixa em paz, Pansy – o garoto suspirou pesadamente.


-Hey, eu tenho o direito de saber o que aconteceu! Por tudo que nós dois temos!


-Sério? E você pode me dizer o que é? Porque eu não vejo nada.


 


A menina o encarou incrédula e um bolo cresceu em sua garganta.


-O que? Você é surda agora?


-Não... eu... quero dizer... eu... hum. – Pansy respirou fundo. Ninguém nunca havia deixado-a tão insegura como agora. –Eu pensei que...


-Pois você pensou errado! – a voz do rapaz subira de tom um pouco.


 


-Que engraçado isso! –a irritação de antes voltou pior. –Verdadeiramente engraçado! Não parecia com “nada" quando você vinha choramingar ou reclamar comigo quando algo saía errado. Ninguém nunca te ouvia, e eu estava sempre lá ao seu dispor! O que visivelmente foi um erro. –apesar de sempre saber que essa é a verdade, jogá-las ao ar a pegou fora de guarda e alguns segundos de silêncio caíram. E quem o quebrou foi Draco.


-Ainda bem que você sabe.


-Seu trasgo! –a menina praticamente gritou. Seu sangue agora borbulhava em seu sistema e ela ficaria agradavelmente satisfeita em deixar no rosto do menino a marca de sua mão. –Qual é o seu problema?


-Sabe o que me surpreende? –o menino soava anormalmente calmo e isso enfureceu ainda mais Pansy que agora andava de um lado para o outro. –Você ainda tem a coragem de perguntar isso.


-Porque eu não tenho a MENOR idéia do que você está falando!


-E o que você quer?


-Oh meu Merlin! –a menina passou as mãos nos cabelos a ponto de arrancá-los. –Eu quero que você me conte o que infernos está acontecendo! Eu... –a menina voltou a se aproximar do menino. –Eu quero que você me diga que está apenas brincando comigo, que... que você me abrace forte e me beije...


Draco rompeu em gargalhos, mas a menina continuou.


-Eu quero que você me toque como você nunca fez! –ela tentou encostar no louro, porém o mesmo a repeliu, ainda rindo. Mágoa e raiva saíram pela suas palavras- Como se eu não fosse digna disso! Você sabe muito bem que eu sou!


-Ora, não me mate de rir Pansy! Perdeu a cabeça? Você quer saber a verdade? Pois bem. Você foi conveniente! Apenas isso. –Draco disse o mais rude que pode, mas pareceu levemente surpreso por não ter consigo o efeito esperado em Pansy, que o encarava duramente.


 


-Você acha que eu não sei disso, seu idiota? Você pensa mesmo que eu sou tão burra assim? E presta atenção! MESMO ASSIM eu fiquei ao seu lado... você me tinha Draco! Você me tem! Pra sempre! E não tente me afastar, porque nada vai me convencer a te deixar.

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