Capítulo único



Juventude quase Perdida


 Tantos anos passaram-se. Ao olhar para o espelho de meu quarto solitário não reconheço muitos traços daquele rosto jovem de outrora. Vejo rugas, cabelos grisalhos, e, sobretudo uma face sempre séria que raramente deixa transparecer o que realmente pensa.

  Não tive filhos, nem mesmo me casei. Mas foi uma opção que tive de fazer em minha vida, se foi o melhor a fazer acho que nunca saberei.
Ainda me lembro bem do momento em que sem saber escolhi como seria meu futuro. Tinha apenas dezessete anos – uma época em que não se tem maturidade para tomar decisões e mesmo assim somos obrigados a tomá-las – estava cursando meu sétimo ano em Hogwarts.

 Eu via um mundo perfeito pela frente, cheio de sonhos, alguns um tanto exagerados. Não tinha muitos amigos, mas o suficiente para não estar só. E tinha até um namorado, cujo nome não importa mais. Ele parecia ser perfeito para mim.
Mas foi após uma aula de poções que fiquei desesperada e assustada quando tive o segundo enjôo naquele dia e Marrie Grignard, minha amiga e colega de quarto, perguntou se eu estaria grávida. Aquela ideia me pareceu irreal, mas eu sabia que era possível e por isso me desesperei.

  E meus sonhos? Eu sonhava com tanta coisa antes de ter filhos. Queria viajar e aprofundar meus estudos. Não poderia acabar tudo ali.

Facilmente na biblioteca encontrei um livro que ensinava um feitiço que confirmaria se aquilo era verdade. E para meu desespero, era.

  Eu carregava comigo uma pequena criatura, alguém que era parte de mim. Mas diante do futuro perdido eu só conseguia odiá-la. E aquilo que era o maior sonho para muitas mulheres se tornou o meu pior pesadelo.

 Mas como não fiz aquilo sozinha pensei em contar ao meu namorado. E senti medo, medo do que ele diria e do que faria. E acima de tudo, senti medo dos meus pais.

Foi quando tive a atitude menos grifinória de toda a minha vida. No mesmo livro que me indicou o feitiço que confirmava a gravidez, encontrei a lista de ingredientes para a poção que eu desejava, não eram muitos, nem difícil de encontrá-los nos terrenos de Hogwarts. Até uma mulher trouxa bem instruída poderia fazer aquela poção, bastavam algumas ervas especiais.

  Planejei um sábado para fazê-la, em que minhas colegas de quarto estariam em Hogsmeade. Apenas inventei uma desculpa, não foi difícil conseguir ficar sozinha. Rapidamente a poção ficou pronta, respirei fundo, passei a mão sobre a barriga como se estivesse acariciando aquele ser que nunca conheceria este mundo. Então, num único gole eu a bebi.

  A reação não demorou mais do que alguns minutos. Se os enjôos eram ruins, a dor que senti foi quase insuportável. Tudo começou a girar e não cheguei a sentir a dor da queda no chão.

  Acordei horas depois com minhas amigas Marrie e Clarice preocupadas e com caras de espanto.

  - Mine, acorde. – chamava Marrie num tom desesperado – O que você fez?

  - Precisamos levá-la para a enfermaria.

  - Não. – falei imediatamente – Eu não quero, eles contarão aos meus pais.

  Tentei me levantar logo, mas ao sentir aquela tontura apenas sentei devagar e com uma pequena ajuda das meninas. Só então vi o sangue no chão, mais do que eu me lembrava de ter derramado num ferimento ou apenas de ter visto. E aquele ser, que eu desconhecia exatamente sua idade em semanas, se desfez em sangue.

  Não precisei pedir para que Clarice e Marrie não falassem sobre isso para outras pessoas. Mas não consegui prosseguir com o namoro depois daquilo, era como se toda a mágica de estar apaixonada houvesse ido embora junto com aquele sangue, ou talvez fosse o peso de nunca ter contado a verdade para ele.

 Hoje sou diretora de Hogwarts, lugar onde poucas mulheres chegaram, e não posso reclamar. Porém, às vezes me pego pensando, ao olhar para um ou outro aluno, que hoje poderia ter netos. Crianças risonhas, que mesmo antes dos onze anos poderiam me visitar aqui no castelo. Mas agora já não posso mais saber como seria, eu escolhi assim, na atitude insensata e desesperada de continuar a ser uma adolescente.


Fim

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.