Capítulo Único
Claro que agora eu morava com ela. Ou ela que morava comigo? Compramos uma casa. Não tivemos um casamento. Só nós dois já era romper muita coisa. Não precisávamos de mais atenção. Apenas pegamos algumas roupas e colocamos sob o mesmo teto.
O maior passo. O mais difícil foi jogar as nossas coisas fora. Desfazer-se de nossas antigas casas. Por que ainda brigávamos. Separar para depois voltar sempre foi nosso destino, nossa repetição naquele relacionamento. Mas também, não sabíamos viver um sem o outro. Eu não sabia viver sem ela. Complicado assim.
- Por que ainda ouve esses imbecis, Hermione?
- Por que eles são meus amigos?
- Amigos? Amigos? Estamos juntos há quase 10 anos! Dez anos e eles não conseguem calar a maldita boca!
- Eles não te conhecem como eu!
- São uns filhos da puta! Depois eu que sou preconceituoso, não é? – falei irritado virando o copo de uísque de uma só vez, enchi o meu copo. Enchi o dela que também havia esvaziado.
- Era para ser um simples encontro depois do trabalho – ri quando ela falou simples – Não sei por que começou a provocar o Rony.
- Eu? Eu que comecei a provocar? – tirei a gravata e joguei sobre o sofá. Irritado. Sufocado.
- Por que precisa jogar na cara dele que você que está comigo?
- Não acredito que vai defendê-lo. Você não vai defendê-lo dentro da minha casa.
- Acontece que a casa também é minha agora – ela tinha razão.
- Ele começou – falei contendo minha raiva. Falei entre dentes. Minha vontade era aparatar, ir atrás do ruivo e enchê-lo de porrada e feitiços e azarações e...
- Você o empurrou dizendo que sou sua. Eu não sou um objeto, Draco.
- Mas é minha. – falei sem espaço para discussão. Ela sabe que é minha. Ponto final. – E eu o empurrei porque ele não cansa de toca-la, de tentar conquista-la. Ele não cansa de sussurrar palavras no seu ouvido. Só que eu cansei disso.
- Ele é apenas meu amigo. – vi que ela continha a raiva. Vi também que ela sabia que tinha perdido a discussão. Ela detestava estar errada.
- O Weasley parece não saber disso. Quando ele sussurrava ele sorria para mim. De maneira irônica. Não vou mais tolerar ele agindo assim perto de você.
Ela caiu no sofá. Deixou o corpo cair. Quantas vezes brigamos por causa dele? De Pansy? Dos elfos?
- Às vezes acho que o melhor seria que você partisse. De vez.
Meu corpo gelou. Porque gritamos. Saímos batendo porta. Íamos embora. Mas nunca havia palavras de despedida. Nunca mandamos um ao outro embora.
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ela me olhou com lágrimas nos olhos.
- Sei que ele provoca, Draco... – ela falou. Aquilo pesava. E o que mais me dava ódio era que eles não percebiam que a faziam sofrer tentando protegê-la de mim... aquele que mais... Mais o quê?
Quando eu a conheci... Conheci de verdade... Fui levado para um lugar que nunca imaginei existir. Quando, tantos anos antes, ela pegou em minha mão e juntos choramos, rimos e descobrimos o que era estar realmente juntos, quebrei tudo que aprendi a respeitar. Apaguei os discursos do meu pai, coloquei abaixo palavras sobre a superioridade bruxa. Sonhei que eu tinha salvação. Porque eu não dizia, mas ela era minha salvação. E ela sabia que era minha salvação.
E eu era o que para ela? Eu era o errado mais certo em sua vida. Aquele que a puxara do seu conto de fadas trouxa, do seu conto de fadas bruxo. Aquele que a possuía sem medo. Que a fizera sentir todas as emoções. Era uma roleta russa.
Só que nunca, nunca ela tinha me mandado embora como agora. E, pela primeira vez, senti medo. O medo real de perdê-la.
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Sentei ao lado dela. E falei de forma verdadeira a mentira que tanto mentimos um para o outro. Em dez anos quantas vezes falamos isso?
- Eu não quero brigar – coloquei a mão na mão dela. Ela me olhou e eu li nos olhos dela, li que ela percebeu que eu dizia a verdade. Que eu não queria brigar. Nem bater portas. Nem partir. Nem vê-la partir – Como eu posso ir embora, Hermione? Você é minha vida. Meu corpo. Minha alma. Meu sangue. Não sei onde mais eu começo e onde você acaba. Quero você na minha vida, na minha cama. No meu corpo. Você já vive no meu corpo. No meu coração. Não sei viver e nem quero aprender a viver sem você. – respirei fundo – olhei para a mão dela. Weasley prometia-lhe estabilidade. Paz. Aliança. E eu? – Eu posso te oferecer isso – levei a mão dela ao meu peito – Alianças, flores,... isso qualquer pode te dar. Eu posso te dar essas coisas também... mas meu coração... – limpei a lágrima que escorreu pelo rosto dela.
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
- Draco...
Impedi que ela falasse. Porque eu não precisava de palavras. Ela também, eu sabia que não. Precisávamos apenas de paz. De silêncio. Do amor, sim amor, que construímos entre brigas e reconciliações. Entre sexo, entrega e uísque. Porque nossa vida era essa bagunça de sentimento. De roupas, corpos, copos quebrados. Corpos quebrados. Corações que sangravam.
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Puxei-a para meu peito. Ela relutou. Puxei novamente. Abraçando-a e ouvindo as lágrimas silenciosas. Sentindo minha camisa ficando molhada. Queria jogar isso na cara do Weasley. Do Potter. O choro dela também era culpa deles.
- Eu não vou partir, Hermione. Você sabe por que, não sabe?
Qualquer uma perguntaria “por quê?”. Pediria que eu dissesse. Ela não.
- Sim, eu sei. Eu também. Eu também te amo – ela sabia dizer. Eu não consegui aprender. Sempre respondia a isso mentalmente. E eu não podia partir, tampouco deixa-la partir. Ela era minha. Complicado assim. Por que não era simples.
O nosso relacionamento era errado. E era comentado. Mal falado. Dez anos juntos e a sociedade ainda recriminava. Diziam que ela tinha um caso com o Weasley. Que eu a traía com Pansy, Dafne e uma infinidade de mulheres. Invejosos. Eu era dela. Nunca tive mais nenhuma mulher depois dela. Ela era todas as mulheres que eu queria. Que eu desejava.
Sempre sentia o corpo dela no meu. Mesmo quando não estávamos juntos. Minha pele queimava de ansiedade pela pele dela. O cheiro dela. Hermione.
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
E eu não podia partir. Mesmo que ela me pedisse. Implorasse. Isso era algo que eu não poderia fazer. Porque eu voltaria. Lançaria um feitiço nela e a levaria comigo. Sempre. Éramos Draco e Hermione, porra.
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.
- Sabe que não posso partir – beijei-a. Ela sussurrou contra meus lábios pedindo que eu ficasse. Sorri. Ela não precisava pedir. Claro que eu ficaria. Eu sempre ficaria. Não houve urgência quando tirei a roupa dela. Tirei vagarosamente. Olhando cada detalhe que eu já sabia de cor. Beijando cada pedaço que eu já havia beijado infinidades de vezes. Meus dedos percorreram o corpo que eu já havia percorrido. Era capaz de desenhar o corpo dela de olhos vendados. Sabia onde toca-la. Porque ela era minha e eu...
- Draco... – ela gemeu sob meu corpo. Olhei os castanhos e me vi refletido ali. Beijei sua boca, seu queixo, seu maxilar, seu pescoço e murmurei ao pé do seu ouvido pela primeira vez em dez anos:
- Eu amo você, Hermione Granger Malfoy.
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Espero que tenham gostado!
Essa é música é uma parceria do Chico com o Tom – Eu te amo.
Comentários (16)
Linda!! Perfeita!! Magnífica!! Meu Merlin, Ártemis!! Vc escreve tão bem, suas palavras tocam o coração da gente... Fiquei (mais uma vez) sem palavras...
2011-09-16Linda!! Perfeita!! Magnífica!! Meu Merlin, Ártemis!! Vc escreve tão bem, suas palavras tocam o coração da gente... Fiquei (mais uma vez) sem palavras...
2011-09-16O final do cap ficou maravilhoso. até chorei.
2011-09-14Ameiiiii E essas letras.. Chico é mesmo fodatico!! E vc faz fics lindas!!
2011-08-25Não sei porque ainda espero que suas fics sejam tão iguais, ja que sempre elas me supreendem e me enxem de vontade de ler cada vez mais....
2011-07-29Chorei, porque as palavras simplesmente me invadiram e por Deus que Draco é esse? Liindo demais!
2011-07-20