À praia.
Depois de ter tocado umas quatro músicas, Hermione se deitou no sofá e ligou o som. Ela havia gravado todas suas músicas em um CD e resolvera ouvir um pouco. A primeira da lista foi da Whitney Houston. A música I have nothing era a mais bonita que ouvira da cantora, então fechou os olhos e a escutou atentamente.
Sua primeira lista era só as mais antigas que poucas pessoas se lembram. Mas adquiriu esse hábito de ouvir ‘antiguidades’ por que sua mãe ouvia. E ela não sabia que existiam Beyoncé ou Shakira. Ela era mais do tempo antigo. A outra faixa do CD era Because You Loved Me, da Celine Dion. Ela teria vergonha se perguntassem que tipo de música ela escuta, por que na cidade se escutam coisas atuais. Só não sabia por que não mentiu para Ron, sobre seu gosto. Tudo saiu com uma facilidade incrível.
Ela não podia fechar os olhos que o rosto de Ronald Weasley lhe tomava a mente. Era incrível ver como ele sorria, seus olhos piscando naturalmente, sua boca se movendo, o som de sua risada rouca. O conhecera há quase dois dias e já estava se sentindo estranha perto dele. Isso pode acontecer?
Olhou para o relógio e já estava quase dando seis e meia da noite. Levantou-se e Boston tomou conta de seu apartamento. Passara quase uma hora ouvindo música e nem notara.
Ela sorriu sozinha e foi tomar um banho. Depois de sair, prendeu seus cabelos em um rabo-de-cavalo, como de costume, vestiu uma roupa simples – uma regata cinza com algumas borboletas em rosa, um bolero preto, uma bermuda azul escura, que colava perfeitamente nas suas pernas, e sandálias baixas – e foi fechar o som. Não antes de terminar de ouvir a voz do vocalista de Augustana e do piano.
- No one knows my name – sussurrou. Sorriu, desligou o som e foi sentar-se no sofá, esperar dar sete horas.
(Good to you- Marianas Trench)
E como esperado, o relógio bateu sete em ponto. Levantou-se, respirou fundo e falou para si mesma:
- Tenha calma. É só um passeio, nada de mais!
Assentiu sozinha e saiu do apartamento, esperando que Ron fosse fazer o mesmo. E ele já estava escorado na porta do dele. Olhando para a janela que mostrava o céu.
Hermione pigarreou para mostrar sua presença. Parecia até câmera lenta. Ron virou seu rosto para fitá-la, seus cabelos voaram sobre seu rosto branco e sardento. Seu sorriso brotando em seus lábios, as mãos saindo dos bolsos, andando até ela. Calmo e despreocupado, como a lua. Ela teve que piscar algumas vezes para saber que aquilo era, de fato, real. Retribuiu o sorriso e o olhou discretamente. Ele usava uma camiseta preta, com o logo de Augustana. Ela percebeu isso e riu pelo nariz. Sua calça jeans era escura e usava sandálias.
- Só para avisar, eu nunca saio de sandálias. É a primeira vez – ele comentou.
- Jura? Eu acho mais confortável – sorriu. – Onde comprou a camisa?
- Onde eu morava havia uma loja só da banda! Meu quarto tem várias coisas deles espalhadas, o que inclui all-stars, camisetas, calças, bermudas, meias... Uma variedade impressionante.
- Nossa. Queria eu alguma coisa do Augustana – corou. Sua situação financeira nunca foi das melhores, e só agora estava caminhando.
- Eu tenho muitas coisas que eu quase nunca uso. Você calça quarenta e quatro?
- Como é?! – indignou-se.
- Qual o número de seu sapato?– riu-se da cara dela.
- Trinta e oito.
- Eu nunca acho alguém com quarenta e quatro. Eu tenho sete all-stars do Augustana. Bom, acho que tenho um de trinta e oito. Eu procuro para você depois – sorriu.
- Ah, não... Não precisa – pedia bastante corada.
- Você é fã também. E tenho certeza de que no campo não tinha lojas só do Augustana.
- Ainda não acho uma boa idéia...
- Hermione, eu não estou perguntando se você quer. Eu estou te dando... É um presente. Sua mãe nunca te ensinou que é feio não aceitar presentes? – brincou.
- Tudo bem, eu aceito. Mas eu vou ter que te pagar depois.
- É presente. Põe isso na cabeça, OK? Não precisa pagar – sorriu. – Anda, vamos. Ou seus planos de voltar antes de oito e meia estará acabado.
- Então tudo bem. Ok, vamos – sorriu. Os dois pegaram o elevador e saíram do prédio.
A rua estava bem movimentada. Havia carros, ônibus, bicicletas e motos para todo o lado. Hermione ainda não era aprovadora de tudo isto, mas seguiu com Ron até a garagem.
- Vamos no meu carro... Se eu pegar o do meu pai, ele me mata – pediu, abrindo a porta para Hermione entrar no veículo.
- Pensei que fossemos a pé – indignou-se.
- Eu não comprei um carro para nada, não é? Vamos, entre – pediu. Ela mordeu o lábio inferior e entrou. Ron foi para seu canto e deu a partida. Ele rumou para a praia turística de sua cidade. Ela sempre estava cheia durante o dia, mas a noite poucas pessoas ficavam por lá.
O silêncio consumiu o veículo por dentro. Ron resolveu puxar assunto.
- Estou com meu CD aqui, quer escutar um pouco?
- Claro – sorriu.
Ron sorriu e colocou a música que, provavelmente, Hermione cantaria para ele.
Não durou nem os três primeiros segundos da música e os dois já estavam cantando.
E foi ainda melhor no refrão, que foi quando eles aumentaram o volume e a voz. Riam sem parar.
- Boston, no one knows my name! – gritaram por ultimo. A parte do piano Hermione improvisou apenas com seus dedos.
- Esse dueto foi demais – comentou Ron, ainda rindo.
- Nossa... Eu nunca cantei Boston com tanta força – ela ia se recuperando aos poucos. Outra música tocou. Só que não era de Augustana. Hermione ficou de boca aberta, sorrindo para os ares. Ron riu da reação dela e começou a cantar:
- I love rock n' roll, so put another dime in the jukebox, baby, I love rock n' roll, so come and take your time and dance with me!
- Você está brincando, não é? – ela sorriu.
- Não, por quê? – riu-se.
- Você gosta da Joan Jett?
- Eu canto essa música todos os dias – gargalhou mais ainda. Os dois tomaram fôlego e começaram a cantar juntos.
♫ Said can I take you home where we can be alone
Next we were movin' on
He was with me, yeah me,
An we'll be movin' on
An' singin' that same old song
Yeah with me, singin'
I love rock n' roll
So put another dime in the jukebox, baby
I love rock n' roll
So come an' take your time an' dance with me ♪
As risadas foram muito altas quando terminaram.
- Eu não consigo ouvir essa música sem gritar, é sério – Hermione comentou já rouca.
- Nem eu. O solo da guitarra é o melhor. Eu sempre toco quando estou sozinho – disse ele. – Sempre.
- Ah, quer dizer que eu não sou a única com segredos, não é? – sorriu. – Você gosta de músicas antigas?
- Algumas. Não sou muito fã. Gosto de Kurtis Blow, Snap e um pouco do Billy Paul.
- Me diz uma música de cada – pediu, sorrindo.
Ron olhou para frente, viu que a praia estava cada vez mais próxima, e fez questão de diminuir mais a velocidade só para conversar um pouco mais com ela.
- Do Kurtis eu prefiro Basketball, do Snap eu curto mais o The Power...
- Essa música é ótima. Bem conhecida – interveio. Ele sorriu.
- E do Billy Paul... Your Song, eu acho. A voz dele é brilhante – suspirou.
- Your song é a que eu acho melhor dele! Um gênio completo.
- Chegamos Mione... – apontou para a praia logo a vista. Hermione se surpreendeu em como ele a chamara. – Ah, eu acho que gosto do Tony Garcia. Meu pai escutava tanto ele quando eu era mais novo que peguei a mania.
- Me deixa adivinhar – comentou, enquanto Ron abria a porta para ela. Saiu e se escorou no carro. – Just Like The Wind?
- Com certeza. Seu pai também escuta?
- Bom, ele eu não sei. Mas minha mãe, sim. Quando ela não era muito cuidadosa com a bebida – corou. Ron começou a andar pela a areia, depois de ter tirado a sandália. Hermione o imitou e o acompanhou.
- Seus pais são separados? – perguntou.
- Só se for pelo destino – sussurrou.
- Como assim? – arregalou os olhos. Eles estavam bem mais perto do mar.
- Ele morreu quando eu tinha três anos. Minha mãe nunca contou o motivo... Ele nos deixou o campo dos pais dele, quando era vivo. Estávamos prestes a nos mudar para lá quando eu soube que ele morreu – sentiu a água gelada tomar conta de seus pés, respirou fundo e olhou para o céu.
Ron continuava constrangido. Deixou que apenas ela falasse.
- Um amigo da família sugeriu que fossemos para a cidade urgentemente. Só que minha mãe quis ficar no campo. E agora que foi promovida no trabalho, ela teve que vir para cá.
- Nossa... Meus pêsames – ele desejou muito tímido.
- Obrigada... Sabe, Ron... Ele era um cara muito legal. Um pai incrível. Fez muita falta na minha vida. Mas eu penso que ele está sempre comigo... E me sinto bem. Se eu estivesse te contando três anos atrás, provavelmente eu estaria chorando.
- Você parece tranqüila – ele comentou cauteloso.
- E por que eu não estaria? – sorriu, fitando-o. Chutou uma marola que tentava alcançar seus pés. – Eu estou muito tranqüila. Eu sei que ele me protege... Sempre vai.
Ela tentou no mínimo se esforçar em não chorar. Olhou para a lua e algumas finas lágrimas brotaram de seus olhos. Ron notou, chegou mais perto dela e envolveu seu pescoço com um dos braços. Hermione não conseguiu mais resistir. Deitou seu rosto no ombro dele e desatou a chorar.
- Não precisava segurar tanto. Chorar limpa a alma – ele aconselhou.
- Eu gosto da lua... – ela ia comentando, em meio a fungadas. – Por que meu pai... Disse que ela cuidaria... De mim aonde quer que eu fosse. E agora que ele morreu... Eu imagino que a lua é ele. Por que não importa aonde for, ela sempre está lá brilhando para você.
- Você andou lendo muitos livros de romance ultimamente? – tentou animá-la. E com sucesso, ela riu pelo nariz.
- Obrigada, Ron. E desculpa... Era para ser um passeio animado – disse, afastando-se dele, limpando as lágrimas.
- Tudo bem. Às vezes é bom extravasar.
- Bom, que horas são? – perguntou.
- Sete e meia.
- Eu mudei de idéia sobre ficar aqui até oito e meia – sorriu em pedido de desculpas.
- Você quer ir para casa? – ele sabia que ela não estava muito bem.
- Eu não queria... Mas eu preciso ir. Não queria estragar nosso passeio, Ron – ela se sentiu culpada.
- Tudo bem, Hermione. Não se importe com isso... O bom é que conheci você muito bem hoje.
- E eu também.
- Depois a gente conversa mais.
- Sem problemas – sorriu animada.
- Então vamos – ergueu a mão para ela, que foi segura sem pestanejos. Os dois foram para o carro. Ron deu a partida e voltaram para o prédio, em silêncio.
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