Capítulo Único.



Desde quando a Gina era a mulher para ele? Quem havia dito isso? Quem havia inventado essa história? Se ele conseguisse um dia saber quem foi, o faria pagar caro. Perto de Hermione, Gina era apenas figurante em sua história. Perto dele Rony era apenas um personagem secundário na história de Hermione. Por que não podiam ficar juntos? Por que seu destino era passar a vida ao lado de alguém que não estava com ele nos momentos mais importantes de sua vida? Por que o destino de Hermione era passar o resto da vida ao lado de alguém mentalmente inferior a ela? Lembrava-se de pensar isso no dia em que terminou com Gina. Nunca poderia oferecer a ela o amor que ela merecia.


Seus momentos com Hermione foram únicos, foram apenas deles. Agora por um equívoco não a teria nunca. Acreditara amar Gina durante anos e agora sabia que não era real, mas agora Hermione era de Rony. Será que era tarde demais? É claro que era. A vida é feita de escolhas. Ele havia feito as dele. Havia escolhido errado. Agora o que mais poderia fazer? Dizer a todos que eles eram apenas amigos e nada mais. Como sempre dizia.


Ele a conhecia há quinze anos, mas ainda assim não se lembrava de tê-la visto tão bonita. Seus olhos castanhos, há anos atrás tão confusos e assustados agora haviam tomado um brilho diferente e inspirava confiança. Seus cabelos antes emaranhados agora possuíam cachos largos e definidos e seu corpo... Ela realmente tinha se tornado mulher. Admirava a amiga, era tão certa do que fazia. Bem sucedida no trabalho, rodeada por bons amigos e amada por seu namorado. Rony Weasley, esse era o namorado. Desde o sexto ano Harry sabia que isso uma hora ou outra ia acontecer. E deveras aconteceu. Ainda assim havia sido pego de surpresa, não sabia que ia sentir o mundo cair quando a notícia de que reataram namoro viesse à tona. Havia apenas alguns poucos meses que os amigos haviam se entendido novamente, mais juntos e fortes do que nunca. Agora o famoso Harry Potter era apenas um figurante diante do relacionamento de Rony Weasley e Hermione Granger. Era fato que ele sentia um misto de alegria e tristeza, não sabia ao certo. Ficava feliz pelos amigos estarem juntos e felizes, porém consternava ao lembrar que amava Hermione. Amava como nunca antes amou alguém, como nunca podia sentir com Gina ou com qualquer outra. Harry tinha sim seus sonhos, que homem não sonha? Faz parte da natureza humana. Porém era ciente de que a realidade lhe proporcionava algo bem diferente. Ela poderia ter sido sua, ele tinha certeza disso. A entendia como ninguém, a conhecia melhor que ela mesma, sabia como se sentia apenas de olhá-la nos olhos, aqueles olhos. Arrependia-se ao perceber que tinha demorado tempo de mais. Que homem leva quinze anos para descobrir quem realmente amava? Apenas o escolhido.


 


- O que faz aí sozinho, Harry? – A dona dos seus sonhos lhe perguntou com os olhos brilhantes de forma terna. Estavam todos na Toca, era aniversário de Gina, que agora namorava Dino Thomas novamente. Nem ele mesmo sabia o que fazia ali sozinho, sentado numa poltrona antiga, isolado na sala de estar, enquanto todos se divertiam no quintal iluminado por algumas tochas e pela luz da lua. Ela sentou- se de frente para o amigo e o fitou.


- Estou apenas tomando um ar. – Ele mentiu tentando não fitá-la. Sabia que o contato visual entre ambos iria denunciar sua mentira.


- Tenho notado você há algum tempo... – A morena se inclinou para frente diminuindo a distancia entre eles e segurou o rosto do amigo entre as mãos obrigando-o, de forma gentil, a olhá-la. - Parece viver em meio ao desalento. – Ela realmente o conhecia.


- Não é nada. Apenas não estou em clima para festas. – Torcia para que ela se afastasse. Sua presença era tão boa, mas não poder tocá-la como desejava era um martírio.


- Sei que há algo com você. Quando estiver pronto apenas me diga. – Ele assentiu com a cabeça e os dois ficaram ali em silêncio apreciando a decoração bucólica do lugar e ignorando toda agitação fora da casa. Se um dia ele decidisse realmente contar o que se passava tinha certeza que estragaria a amizade deles e já que não podia tê-la como namorada se contentava em apenas poder tê-la como amiga.


- Você me entende como ninguém. – Ele disse baixo quebrando o silêncio que pairava sobre eles.


- Você também faz isso comigo, Harry. – Ela disse sorrindo. – Às vezes queria que o Rony me conhecesse apenas um terço do que você me conhece. – Confessou fitando o namorado pela janela.


- Não é necessário, o Rony te ama mesmo assim. – Ele disse num sorriso fraco e cansado.


- Às vezes me pergunto se isso basta. – Harry não entendia as palavras da amiga, mas não queria influencia-la.


- Estar com ele não responde suas perguntas? – Ela fitou o amigo pensativa e apenas respondeu: Sinceramente, não sei. Eles passaram o resto do tempo ali, até Rony ir chamar Hermione para levá-la em casa. Não lembrava o quão bom era estar na presença da amiga, tentava evitá-la o máximo.


- Nos vemos outro dia, Harry. – Ela disse lhe dando um abraço carinhoso e lhe beijando no rosto em seguida.


- Até mais, Hermione. – A garota sorriu e logo após Rony apertou a mão do amigo. Harry ficou a fitando partir até sua imagem desaparecer.


 


 


 


 


Havia semanas que não há via. Talvez fosse melhor assim. Hermione não morava longe dali e também trabalhava no Ministério, assim como ele. Todavia ele procurava evitá-la ao máximo. Muitas vezes se lembrava das brigas da amiga com Rony, como o ruivo podia ser tão estúpido com ela? Ou pior, como ele pôde deixar o amigo ser assim com ela? Queria poder dizer que na época estava sob o efeito de alguma poção do amor, mas deveras não estava.


- Harry! – Ouviu uma voz conhecida chamá-lo enquanto caminhava lentamente pelo Beco Diagonal na sua hora livre de almoço. Virou-se para trás lentamente se deparando com a figura do amigo ruivo. Ele parecia aborrecido.


- E aí, cara? – Rony perguntou ainda com uma expressão aborrecida enquanto apertava a mão de Harry e lhe dava duas batidinhas nas costas.


- Tudo bem, Ron? – Ele perguntou sorrindo. Gostava muito do amigo, apesar de ter perdido a mulher amada para o mesmo. Aliás, sabia que não podia considerar uma perda, pois nem havia tentado ganhá-la.


- Mais ou menos. – Confessou demonstrando desejar que o amigo perguntasse o que era para poder conversar sobre o assunto.


- Quer beber algo? Podemos conversar se quiser. – O ruivo assentiu e ambos seguiram em silêncio em direção a uma pequena lanchonete. Harry sentia um incômodo, algo parecido com um frio na barriga. Como podia fazer aquilo com o amigo? Como podia viver com aquele segredo?


- Harry... – Ele chamou o amigo tirando-o dos devaneios.


- Hum? – Harry se mantinha com a cabeça longe dali.


- O que acha de mim e da Hermione? – Ele não havia entendido a pergunta.


- O que quer dizer? Vocês são ótimos, são meus melhores amigos. – Rony passou as mãos pelos cabelos nervoso.


- Não. Eu digo como um casal. – Agora sim, ele não sabia o que dizer.


- Vocês são um bom casal, Rony.


- Somos tão diferentes. Ela é tão especial e eu... Sou apenas um Weasley. – Harry pode notar um tom de inferioridade em Rony e aquilo realmente o fez consternar.


- Não, cara. A Hermione ama você, ela sempre amou você. – Disse tentando animar o amigo e causando dor a si mesmo.


- Você acha mesmo? – Os olhos de Rony possuíam um brilho esperançoso.


- Claro, Rony.  


 


 


Após encontrar com o Rony no Beco Diagonal, Harry estava há meses sem ver os amigos. Havia recebido algumas cartas de Hermione, mas não as respondeu por um longo tempo e quando o fez não disse nada significativo. Ainda assim, sabia que teria que vê-la ao receber há semanas atrás um convite do casamento de Gina e Dino. Gostava muito do casal, não poderia fazer tal desfeita aos Weasley.


Terminava o nó da gravata enquanto fitava seu rosto no espelho. Parecia bem e isso bastava, pois ao vê-lo bem a Sra. Weasley não faria um monte de perguntas. Ajeitou os cabelos com rapidez, pois sabia que seria em vão. Abriu sua gaveta da escrivaninha que possuía no quarto, nela pôde encontrar uma foto de Hermione. Ela estava linda e sorria, estavam no último ano de Hogwarts, após a morte de Voldemort e aquilo fazia Harry sorrir também. Pegou a foto e pôs no bolso interno do paletó, fitá-la enquanto todos se divertiam seria bom. Deu uma última fitada em si mesmo e girou a maçaneta do quarto antes de ouvir a campanhinha tocar. Quem poderia ser à uma hora daquelas? Esperava que não fosse ninguém do Ministério esperando que ele trabalhasse em algum caso especial no fim de semana.


- Hermione? – Ele perguntou assustado ao vê-la. Uma pergunta retórica, pois é claro que era ela. Era ela, mais linda do que nunca. A amiga sorriu ao vê-lo e lhe abraçou.


- Já que o Rony estava ocupado com a arrumação da Toca decidi passar aqui para ver se podíamos ir juntos. – Ela disse após beijá-lo no rosto.


- Ah... – Ela havia o pego de surpresa. Como se não bastasse ter que vê-la no casamento, teria que acompanhá-la até o local. – Claro, podemos sim. Já estou pronto. – Ela sorriu e eles seguiram em direção a saída do apartamento.


 


A ida até a Toca foi indolor, pois aparartaram logo. O local estava bem enfeitado, na verdade nem parecia ser o mesmo. As paredes haviam sido pintadas e toda casa havia sido reformada. Sabia o quanto Gina era exigente e aparentemente aquilo tudo tinha sido organizado por ela. Assim que chegaram lá encontraram Rony, ele estava terminando de ajeitar algumas coisas. Harry se aproximou do amigo enquanto Hermione lhe deu um beijo no rosto e foi falar com Luna e Fleur.


- Cara, pode me ajudar a pegar isso aqui? – Disse referindo-se ao enorme bolo de casamento. - Mamãe pediu que não usássemos varinhas, pois é muito “delicado”. – Ele disse imitando a voz da mulher.


- Claro. - Harry assentiu e tirou o paletó colocando-o numa cadeira. Os dois levaram o bolo com cuidado até uma bela mesa decorada no centro da sala. Viram Hermione conversando com Luna e Fleur e ambos sorriram um sorriso pachola encantados.


- Agora sim estou com os dois homens da minha vida. – Hermione disse se aproximando sorridente e dando um braço a cada rapaz. Rony retribuiu o sorriso enquanto Harry nunca pensou que ser o homem da vida de Hermione doeria tanto.


  - Vão indo vocês dois! – Rony disse de repente soltando-se de Hermione ao parecer lembrar-se de algo. – Esqueci de pegar uma coisa.- Hermione revirou os olhos e o ruivo subiu as escadas rapidamente.


- Quando finalmente vai me dizer o que acontece com você, Harry? – A morena perguntou ao amigo assim que se virou para ele.


- Já disse que nada. – Respondeu olhando para os seus sapatos.


- Então por que mal olha nos meus olhos? – Harry finalmente ergueu os olhos e a fitou por apenas um momento. Aquele olhar era tão intenso que Hermione podia notar toda angústia contida dentro do rapaz. Aquilo doía tanto nela e lhe preocupava. Instintivamente ela lhe abraçou, quase jogou-se nos seus braços. – Eu não sei o que é, Harry e isso está me matando.


- Vai ficar tudo bem, Hermione. Eu juro. – Disse alisando suas costas enquanto a amiga respirava profundamente em seu pescoço.


- Er... – Rony coçou a cabeça e ambos se afastaram. – Podemos ir. – Ele disse num olhar estranho.


 


 


Rony e Hermione foram os padrinhos juntamente com Gui e Fleur. A cerimônia foi rápida e logo todos estavam cumprimentando os noivos. Harry esperou que o monte de pessoas se afastasse e se aproximou da ruiva que lhe olhou sorridente.


- Parabéns, Dino. – O homem sorriu e deu um abraço em Harry.


- Obrigado, cara. – Harry sorriu se aproximou de Gina que estava um pouco depois.


- Parabéns, Gina. – Ele disse também num sorriso, abraçando a garota e lhe beijando no rosto.


- Obrigada, Harry... – A ruiva lhe fitou estranhamente e depois disso olhou ao seu redor, como se desejasse que ninguém estivesse os notando e realmente não estavam. – Er... Podemos falar por um instante?


- Claro. – Ele não sabia por que, mas a conversa, seja qual fosse, parecia lhe preocupar. Eles se afastaram discretamente das dezenas de pessoas que os rodeavam e se sentaram nas cadeiras colocadas no canto da sala.


- Quando vai parar de enganar a si mesmo e aos seus melhores amigos? – Ela perguntou de forma direta e séria a Harry que pareceu se engasgar com a bebida que possuía em uma das mãos.


- Do que está falando? – Rebateu no mesmo tom.


- Você e eu sabemos que ama a Hermione. – Ele abriu a boca para retrucar, mas a ruiva não o permitiu. – Eu amo o meu irmão, amo a Hermione e amo você Harry. Não quero que nenhum dos três sofra e sei que se você não falar nada a ela as coisas vão se tornar piores.


- Gina... como você sabe? – Ele perguntou aliviado por ela não o julgar, porém incomodado por ela saber.


- Eu conheço você, Harry. Se o Rony não amasse a Hermione e ligasse tanto você e ela como irmãos, ele também perceberia. – Talvez o que ela dizia fizesse algum sentido. Na verdade ele estava certo de que fazia do sentido.


- Eles se amam, não quero atrapalhar nada.


- Não, eles não se amam e não são felizes,Harry. Rony e Hermione não se encaixam. Você a conhece melhor que ela mesma e se olhar de maneira imparcial irá ver isso também. Eles não sabem, mas não se amam. – Aquilo fez seu estomago revirar.


 - Prefiro deixar como está. – Na verdade ele tinha medo. Medo do rumo que as coisas tomariam quando os amigos soubessem.


- Espero que mude de ideia. Eu realmente desejo que as coisas fiquem bem para todos. – Ela disse se levantando e depositando um beijo no rosto do moreno. – Ah... – Ela voltou-se para ele novamente. – Pensei que esse fosse o paletó do Rony. – Harry olhou para si mesmo e nesse exato momento lhe bateu um enorme desespero. Procurou o ruivo pela festa e pode vê-lo com seu paletó. E se ele houvesse visto a foto de Hermione?


 


 


 


Harry foi até Rony apressado, passou pelas dezenas de pessoas na sala e até interrompeu um beijo entre o amigo e Hermione num canto tranquilo do lugar.


- Rony... – Ele disse ofegante, mas não pela pressa e sim pelo nervoso.


- Oi, cara. – O amigo estava com o rosto e as orelhas vermelhas.


- Acho que peguei seu paletó sem querer. Esse que está com você é meu. – Rony olhou para si e pareceu perceber.


- Verdade. Bem que estava meio pequeno mesmo. – Harry sorriu nervoso entregando o paletó do amigo e pegando o seu. Uma onda de alívio encheu seu corpo.


- Vou pegar outra cerveja amanteigada. – Hermione anunciou se levantando com o copo vazio em mãos e Harry involuntariamente se virou e a olhou com os olhos perdidos enquanto a amiga deixava o local.


- Há quanto tempo ama minha namorada? – Aquilo fora como um soco no estômago e toda adrenalina havia voltado. Rony o olhava seriamente e ele sabia de onde o amigo havia tirado aquilo.


- Você está louco, cara! Nós somos como irmãos. – A quem ele queria enganar? Talvez fosse melhor que Rony soubesse logo. Talvez fosse melhor sumir dali e deixar os amigos viverem em juntos e em paz.


- Não mente. O que a foto dela fazia no seu paletó e por que você olha tanto para ela? – Ele bufou com as orelhas vermelhas. - Será que você não consegue falar a verdade? – O ruivo perguntou irritado enquanto Harry fitava o amigo assustado. Queria apenas que aquilo fosse um sonho ruim, mas não era. Pode perceber quando viu Hermione chegar e olhar os dois assustados.


- Eu ia dar a foto para você! – Mentiu novamente.


- Não, você não ia! – Rony começava a se exaltar e tudo que Harry queria é que o amigo parece de falar cada vez mais alto.


- O que está acontecendo aqui? – Ela perguntou chegando com os olhos de pavor e sem a bebida nas mãos, enquanto Rony fitava o amigo bufando.


- Por que não diz? Hein, Harry? – Esbravejou empurrando o rapaz que foi amparado por Hermione. - Fala AMIGO!


- Rony! Não faça isso, está louco? – A morena disse segurando o amigo – Você está bem? – Ele apenas fez que sim com a cabeça e pediu que ela o soltasse.


- Fala, Harry! – O ruivo gritou novamente quase cuspindo as palavras em cima do rapaz.


- Falar o que, Harry? – Hermione o olhava confusa e ele apenas desejava sumir dali.


- Eu te amo, Hermione.  – Ele quase gritou se virando para a garota saindo dali irritado e deixando para trás um amigo mais irritado ainda e uma amiga totalmente confusa.  Continuava andando rapidamente e enquanto isso afrouxava a gravata que parecia sufocá-lo, mas sabia que não era pelo nó apertado e sim pela situação anterior. Estava tudo acabado, ele havia perdido a amizade dos dois para sempre.


 


Ele mantinha-se jogado em uma confortável poltrona de couro na sala de seu apartamento. Tentava com todas as forças esquecer-se do que havia acontecido durante a longa noite. Todavia, não conseguia. Pensava a todo tempo nos amigos, se é que ainda tinha amigos. Lembrava-se dos conselhos de Gina e por um instante teve raiva da ruiva por incentivá-lo a confessar o que sentia, mas a todo tempo a raiva que tinha caía em si mesmo por amar Hermione. Lembrou-se do tempo em que namorava Gina, arrependeu-se por não tentar amá-la, arrependeu-se por não contar a Hermione antes e mais do que nunca se arrependeu de amar a namorada do seu melhor amigo. Ouviu a campanhinha tocar e levantou-se preguiçosamente, provavelmente era o cara da pizza. Mal havia comido na festa. Girou a maçaneta e surpreendeu-se ao deparar-se com Hermione.


- Hermione, o que está fazendo aqui? – Questionou surpreso ao ver a amiga entrar e se sentar nervosa numa poltrona. Ela parecia nervosa pela maneira que esfregava as mãos e procurava se concentrar.


- É verdade, Harry? – A morena perguntou lhe olhando nos olhos e ele não podia mentir.


- Eu queria que não fosse... – Ele começou, mas ela o interrompeu.


- Mas é. – Sabia que a história de conseguirem completar o pensamento um do outro iria lhe prejudicar um dia.


- É.


- Você teve 15 anos, Harry. – Ela disse com a voz baixa olhando-o confusa. – Você sabe que eu o escolheria. Entre você e o Rony eu sempre te escolhi. – Confessou e ele respirou fundo.


- Você sempre o amou. – Aquilo soara como uma acusação e dessa forma a morena bufou com repulsão.


- Você sempre me considerou sua amiga, Harry! Quando o Rony foi embora e você ficou na cabana eu preferi estar com você! – Era verdade, ele sabia. Sentia uma culpa lhe correr pior do que antes. Realmente tinha a certeza de que a amiga o escolheria.


- Antes de você chegar... – Ela pausou e abaixou os olhos fitando seus sapatos. - O Rony me falava sobre pensar em casamento. – Aquilo havia lhe atingido como uma bomba, pois ele tinha medo do que a amiga podia escolher.


- Fico realmente feliz por vocês. – Ele disse com a voz embargada, mas era verdade e a amiga estava ciente disso.


- Eu não dei nenhuma resposta. – Confessou e aquilo o fez suspirar profundamente. - Harry... – Ela acariciou a face do amigo com cuidado enquanto lágrimas finas rolavam de seus olhos castanhos e brilhantes.


- Hermione, você não precisa fazer isso. Vou ficar bem. – Disse se levantando e indo até a janela. Londres, que parecia tão bonita e inspiradora, estava apenas com aparência triste. Ela se levantou e foi até ele acariciando suas costas ternamente.


- Por que esperou tanto? – Assim como ele, Hermione sabia que se o amigo tivesse se adiantado mais eles estariam juntos.


- Eu não sei... Eu descobri há pouco tempo.  – Era incrível como o amor podia ter sido ocultado por tanto tempo.


- Por que acha que estou aqui? – Ele se virou para ela e a fitou novamente.


- Eu também não sei. – Respondeu com a voz rouca.


- Nem eu. – Concluiu confusa. – Só que você é a única pessoa que eu quero estar perto agora. Eu preciso de você, Harry. – Ele não conseguiu lhe falar nada, apenas a abraçou forte num impulso. Sentia as lágrimas da morena molhar sua camisa. Involuntariamente o rapaz afastou-se um pouco do abraço e a fitou nos olhos. Aqueles olhos. Aproximou-se lentamente dos lábios da morena, porém a mesma recuou.


- Hermione... – Aquilo o fez sentir pior. O que estava fazendo com a amizade de Rony? Ela não o deixou continuar.


- Me desculpe, Harry, mas você demorou demais. – Foi o que ouviu da amiga antes de vê-la sair rapidamente dali com uma expressão confusa.  


 


Harry passou o dia pensando no que fazer. Havia sido o pior amigo de Rony e Hermione nos últimos tempos e tinha que fazer algo para mudar a situação. Decidiu ir ao ministério, pois ainda tinha um trabalho a fazer. Lá encontraria Hermione e conversaria com ela. Caso houvesse obtido sucesso o próximo passo seria falar com o Rony. Levantou-se cedo, pois queria tomar café em casa. Ao terminar de comer e se arrumar foi diretamente para o Ministério. Sentia um estranho frio na barriga, aquele que vem junto com a ansiedade e preocupação. A sala da amiga ficava alguns andares acima, ainda assim ele ao menos passou em sua sala antes.


- Bom dia. – Ele disse à secretaria que se mantinha atenta há uma grande pilha de documentos. A sala de Hermione localizava-se nos fundos do local.


- Bom dia, senhor Potter. – Respondeu ainda sem olhá-lo.


- Ham... A senhorita Granger já chegou? – Ele sabia que ela já havia chegado, nunca se atrasava.


- Sim, senhor. – Harry ao menos comunicou a mulher, apenas saiu entrando. Sabia que Hermione e ele não tinham reservas com esse tipo de coisa. Parou em frente à porta nervoso e deu duas batidas de leve. Ao ouvir um “Entre” bem sonoro do lado de dentro da sala ele entrou.


- Oi, Harry. – A morena disse desanimada ao fitar o que parecia seus trabalhos do dia.


- Bom dia, Mione. – Ele respondeu sentando-se e pousando os olhos num porta retrato na mesa dela. Era uma foto dos três, havia sido tirada no ano passado, no Natal se não confundira a data.


- Aconteceu algo? – Ele pôde notar que ela não havia guardado mágoas da noite anterior.


- Só vim conversar. – Disse numa voz rouca enquanto Hermione finalmente o olhava. Ela passou os olhos rapidamente no rapaz e sorriu.


- Faz bem passar o terno uma vez ou outra. – O amigo sorriu também parando para se reparar. Realmente a roupa não estava num estado muito bom.


- Eu nunca me dei muito bem com esse tipo de roupa, uso porque é necessário. – Ele comentou alisando e tentando desamassar a camisa e a gravata em vão.


- Você nunca foi muito formal.  – Ela disse divertida e se inclinou da mesa de frente para ele e ajeitou a gola da camisa.


- Deve ser porque passei grande parte da minha vida usando as roupas velhas do meu primo que eram bem maiores que eu. – Disse num sorriso e amiga se afastou.


- Mas acho que não é sobre roupas que você veio falar... – Ela se afastou e ele assentiu com a cabeça, logo após encostando suas costas na cadeira.


- Quero te pedir para esquecer tudo que houve durante esses dois dias. – Hermione o olhou confusa e ele se manteve irredutível.


- Harry... – Ela ia dizer algo que ele preferiu não escutar, pois a impediu.


- Não, Mione. – A menina fechou os lábios e continuou o olhando. - Foi um erro. Quero me manter fiel a sua amizade e a amizade do Rony. Esquece, está bem? – Ele pediu numa voz que escondia o desespero. - Apenas me prometa que vamos ser amigos como antes.


- Tudo bem. – Ele sorriu aliviado e ela se manteve séria.


 


 


- Vim propor que esqueçamos o que houve. – Rony bufou irritado como se aquilo o fizesse remoer tudo que havia ocorrido. – Eu nunca trairia sua confiança, Ron. – O moreno continuou.


- Você sempre teve tudo, Harry. – Harry o fitou confuso – Rico, famoso, corajoso, o menino que sobreviveu. A Hermione é a única coisa que me faz melhor. E agora você quer tirar até isso de mim? – Os olhos de Rony tinham um misto de amargura e decepção.


- Eu não queria gostar dela, mas juro que não vai influenciar em nada. Eu vou respeitá-la e tratá-la como minha irmã. Como eu sempre fiz.  – Aquelas promessas doíam cada vez mais em Harry, mas ele sabia que seria necessário cumpri-las. Definitivamente não suportaria perder os amigos e muito menos se perdoaria caso fosse infiel a eles.


- Eu não sei, Harry. – No fundo Harry sabia que o amigo iria ceder.


 


- Eu sempre fui fiel à nossa amizade, Ron. Não é o que eu sinto por Hermione que vai mudar isso. E eu não vou trair sua confiança, amigo. – Rony fitou o amigo e pode ver verdade em seus olhos, isso fez seu orgulho cair.


- A gente finge que isso nunca aconteceu, está bem? – O moreno meneou a cabeça.


- Eu prometo que não vou te decepcionar. – Disse com certeza.


- Espero que não. – Ele no fundo sabia que Harry tinha palavra.


 


1 ano depois.


 


Harry caminhava vagarosamente pela rua principal do Beco Diagonal. Estava cheio de trabalho em sua mente, por isso ao invés de aparartar, resolveu caminhar para esquecer tudo aquilo que lhe cansava. O clima frio do lugar lhe fazia bem e ele só precisava de alguns poucos minutos ali para tirar toda preocupação de suas costas. Só ele sabia o quanto amava as sextas-feiras à tarde. Era o começo do fim de semana, que ultimamente era o que restava para os amigos. Fazia duas semanas que não via Rony e Hermione e agora os encontraria novamente.


A alegria de estar bem com os amigos era quase, apenas quase, suficiente para fazê-lo esquecer do amor que sentia por Hermione.


- Harry! – Ele ouviu uma voz conhecida o chamar do outro lado da rua. Virou-se rapidamente e viu Rony que acenava para ele. Harry atravessou a rua rapidamente e foi ao encontro do amigo.


- E aí, Ron? – Ele sorriu apertando a mão do rapaz e lhe dando um abraço.


- Finalmente tem tempo para os amigos. – Harry sorriu e discretamente pode notar que Hermione não estava ali.


- Pois é. O Ministério tem sugado minhas forças. – Ele disse divertido. – Ham.. Hermione não vem? – O ruivo lhe olhou desconfiado, mas balançou a cabeça rapidamente espantando os maus pensamentos e sorrindo para o de olhos verdes.


- Vem, só se atrasou um pouco. É bom que conversamos, é algo que ela não pode saber. – Ele confidenciou ao amigo enquanto caminhavam para o bar preferido dos três. O coração de Harry disparou rapidamente e ele tentou em vão controlá-lo.


- Claro, vamos. – Os dois entraram no lugar limpando os sapatos cheios de neve no tapete.


- Odeio o frio. – Rony bufou esfregando as mãos cobertas por luvas.


- Eu gosto. – Harry disse alheio enquanto sentavam em dois bancos no balcão. Ambos sabiam que ali era o lugar preferido de Hermione.


- Duas cervejas amanteigadas. – O ruivo pediu a mulher que atendia do outro lado do balcão e ela os entregou rapidamente.


- E então? – Rony olhou Harry sem entender e o moreno continuou. – Qual é a conversa que Hermione não pode ouvir?


- Ah... – Agora sim as coisas tomaram sentido e Rony se pôs a falar. – Me chamaram para um teste na Bulgária, no antigo time do Krum. – Falou com um brilho no olhar e Harry pôde notar que Hermione não era a favor apenas pelo jeito que o amigo falava. – Vou ganhar muito dinheiro se eu for bem, Harry. Muito mesmo. – O amigo tomou um gole da cerveja que entalou na garganta ao pensar que o amigo poderia levar Hermione para longe. - Hermione não quer que eu faça o teste. Diz que é perigoso, mas eu tenho que tentar. – Harry não sabia o que dizer, não queria desanimar o amigo, mas sabia que Hermione tinha razão.


- Já pensou que ela pode não só estar pensando no que ela quer? – Rony bufou e tomou um grande gole de cerveja.


- Ela diz isso agora. Somos namorados ainda, mas quando eu voltar com essa vaga no time garantida as coisas vão mudar. – O coração de Harry gelou tanto quanto suas mãos, engoliu seco e tentou não aparentar que a notícia o atingira como uma bomba.


- Como assim? – Questionou ainda que soubesse a resposta.


- Quando eu voltar vou pedir que ela se case comigo e assim poderemos ir para a Bulgária juntos. – Os olhos do moreno arderam e ele tentou não olhar para o amigo, que estava com o olhar ocupado fitando sua bebida.


 


                Harry e Hermione caminhavam lentamente pela rua gelada e coberta de neve de Londres. Precisavam conversar no caminho e aparartar encurtaria o pouco tempo que tinham. Haviam acabado de sair do Ministério e agora decidiam onde iriam tomar o café da tarde.


- Fiquei feliz por sair cedo hoje. – Ela disse a ele parecendo estar exausta. O amigo também parecia cansado, seu cabelos que sempre foram rebeldes pareciam ainda mais emaranhados e seu terno cada vez mais amarrotado. – Essa viagem do Rony não me fez nada bem. – Rony havia ido para a Bulgária há algumas semanas e voltaria no dia seguinte.


- Ele vai voltar logo. – Harry consolou a amiga passando o braço em volta dos ombros da mesma e a puxando para perto de si enquanto andavam. Ela por sua vez enlaçou a cintura do moreno.


 - Não é o tempo de viagem... Só estou preocupada com os riscos. – O moreno sorriu, Hermione era sempre tão prudente e cuidadosa com aqueles que amava. E ela amava Rony. Aquilo fez Harry sentir um ligeiro aperto no coração, tal aperto que há muito tempo não sentia.


- Vai dar tudo certo. – Eles pararam numa pequena cafeteria e entraram. O lugar estava vazio e assim puderam escolher uma mesa próxima a janela. Harry puxou a cadeira para a amiga, que se sentou, e fez o mesmo em seguida.


- Posso te perguntar algo imprudente? – Ela questionou com olhos curiosos e ele temeu, mas não ficaria vacilante.


- Claro.


- Por que desistiu de mim? – O coração de Harry pulsou com demasiada rapidez e ele pode sentir seus pensamentos descompassarem.


- Porque era o certo. – Conseguiu responder depois de alguns segundos. Hermione suspirou e abaixou os olhos.


- Nós sempre fomos tão racionais... – Ela disse num sorriso triste.


- Por isso nunca daríamos certo. – Ele completou e ela meneou a cabeça.


- Sabe... – Ela começou fitando o porta guardanapos sobre a mesa como se fosse mais interessante do que olhar para Harry. – Às vezes me pergunto como seriam as coisas se houvesse acontecido de outro jeito.


- Eu penso nisso todos os dias. - Ele admitiu também sem olhá-la. Enquanto fitava a porta tentando evitar o contato visual com Hermione, Harry pode ver a secretária da amiga entrar apressada no local e percorrer os olhos por todo lugar. A mulher ao vê-los se dirigiu até eles apressada e ofegante.


- Senhorita Granger, a procurei  por todo Beco Diagonal. – Hermione a fitou confusa e a mulher continuou com a respiração rápida.


- O que houve Mary? – Ela perguntou irritada com a estranha situação.


- O Senhor Weasley sofreu um acidente, parece que caiu da vassoura. Estava procurando pela Senhorita para avisar. – Naquele momento tanto Harry quanto Hermione sentiram o coração gelar.


Já havia uma hora que estavam ali. Harry havia desistido de andar de um lado para o outro do hospital e resolvera se sentar. Ele e Hermione tinham combinado de não comunicar nada aos Weasley para que não ficassem nervosos e naquele momento Rony só tinha os dois. Sentado na confortável cadeira de espera localizada na recepção do hospital trouxa ele pode contemplar Hermione contestando o médico à cada resposta incerta que ele lhe fornecia. Era interessante ver que a amiga poderia saber até mais do que alguém que havia estudado a mesma coisa por anos se lesse apenas alguns livros. Vendo a maneira decidida e insistente da amiga ele não pôde deixar de sorrir ainda que fracamente. Como se sentisse estar sendo observada Hermione afastou o olhar do médico que nesse momento havia lhe dado as costas irritado e saído dali, e virou para Harry com um olhar ansioso. O amigo deu um sorriso preocupado e foi até ela.


- O que eles disseram? – Perguntou com a ansiedade à flor da pele enquanto a amiga mordiscava o lábio inferior num semblante pensativo. - Tinham que tê-lo levado à um hospital bruxo. – Resmungou enquanto ela permanecia em silêncio, até então.


- O Rony caiu de uma vassoura num local trouxa, Harry. – Ela sussurrou irritada com as ideias impulsivas do amigo. – Ele deu sorte de não ter sido visto e da vassoura ter se partido toda.


- Por que diabos o Rony não aparartou? – Ele questionou também irritado e no mesmo tom.


- Me pergunto o mesmo. – Respondeu franzindo o cenho e indo até as cadeiras com Harry em seu encalço.


- Mas e então? O que o médico disse? Você não me respondeu. – Ele insistiu rígido sentindo os nervos aflorarem, mas se arrependendo assim que ela lhe lançou um olhar.


- Que ele está em observação, mas ficará bem. – Harry suspirou aliviado e até pode sorrir. A amiga deitou a cabeça no peito do rapaz que se pôs a acariciar seus cabelos com calma.


- Vai ficar tudo bem. – Ele sussurrou no ouvido da morena lhe causando um leve arrepio.


 


Ficaram ali por mais algum tempo. Ambos podiam dizer cada item contido no local devido ao numero de horas que passaram observando tudo com os olhares curiosos que contemplavam o silêncio. Harry sentiu seu ombro pesar, Hermione havia relaxado o corpo sobre os seus enquanto adormecia. Acariciou lentamente seus cabelos e tentou espantar de sua mente todos os pensamentos que vinham sobre a morena.


- Senhor...? – Ele ouviu uma enfermeira que se aproximava lhe dizer baixo na intenção de não acordar Hermione.


- Potter. – Ele respondeu no mesmo tom.


- O Senhor Weasley deseja ver a sua namorada, a Senhorita Granger. Pediu que eu a chamasse. – O coração de Harry novamente gelou. Sentia medo que o amigo falasse sobre o casamento com Hermione. Sentia-se mal por pensar assim, sentia-se egoísta, mas de qualquer forma ele tinha esse direito. Tinha o direito de pelo menos uma vez não ser compreensivo.


 


Harry pensou duas vezes em acordar Hermione, mas a mulher continuou ali parada na sua frente o encarando como um soldado.


- Mi... Acorda. – Ele sussurrou no ouvido da amiga que abriu os olhos assustada. Harry pode perceber que a enfermeira o olhava curiosa. Com certeza a mulher devia ter dúvidas sobre a fidelidade de Hermione. – Está tudo bem. – Ele disse acariciando o ombro da amiga. – Ron acordou e quer ver você. – Ela assentiu com a cabeça e se levantou sonolenta. Havia dormido muito pouco durante essa semana. O coração de Harry batia acelerado, sabia que provavelmente a amiga voltaria com uma novidade que ele decididamente não queria ouvir.


- Eu irei até lá então. – A morena disse ao amigo que assentiu.


- Eu acompanho a Senhorita. – A mulher disse num sorriso forçado que Hermione não entendeu. Apenas a seguiu em silêncio enquanto caminhavam vagarosamente pelo longo corredor. Não sabia porque, mas seu coração batida descompassado e deixar Harry para trás ainda que apenas por um instante. Lembrava do ano de dúvida que tivera e naquele momento os flashs se passavam repentinamente. Tinha escolhido o que achava certo. Trocara o passional pelo racional, o instável pelo estável, mas sabia que o que Harry lhe fazia sentir Rony nunca faria. – É aqui. – Ouviu a mulher falar despertando-a dos seus pensamentos. Hermione meneou a cabeça e entrou.


- Ron... – Ela disse baixinho ao namorado que estava deitado,porém acordado. O rapaz possuía muitos cortes no rosto, todavia tudo parecia muito superficial.


- Mione. – Ele respondeu num sorriso fraco enquanto a menina lhe depositava um beijo no rosto o fazendo sorrir em contragosto.


- Céus, Rony! – Ela exclamou irritada o assustando. – Por que foi voar? Podia ter aparartado. – O ruivo riu ao notar que a menina nunca mudaria.


- Eu queria conhecer a região que vou morar. – Ela se sentou no espaço deixado pelo rapaz na cama e acariciou seus cabelos ternamente.


- Então já se decidiu? – Aquilo fazia o coração de Hermione doer. Sabia que o namorado iria desejar tê-la por perto e sabia também que não poderia negar.


- Sim e é sobre isso que eu quero falar. – Seu rosto tomou uma postura séria e seus olhos se tornaram mais profundos.


- Sou toda ouvidos. – Ela precisava encarar o que estava por vir.


- Abra essa gaveta da mesinha perto de você. Há uma caixa. – Ele disse sério e ela obedeceu. Sabia que ali tinha um anel, sabia que ele lhe pediria em casamento. Pegou a caixa vermelha aveludada de forma delicada e fechou a gaveta. Rony a fitou curioso desejando saber o que a morena diria. Ela por sua vez suspirou e o fitou.


- Eu ia te pedir em casamento... – Ele começou e o “ia” fez Hermione suspirar aliviada. Não estava pronta para tudo aquilo.


- Então não vai mais. – Concluiu rapidamente com calma e sem demonstrar decepção.


- Há um ano o Harry abriu mão de ter você para que nós dois fossemos felizes. – Seu coração voltou a bater descompassado e ela mal sabia a causa. Lembrar-se de tudo aquilo lhe causava dor e arrependimento. – Mas eu falhei, Hermione. Eu não te fiz feliz. – A consciência de Hermione doeu e ela o fitou tristemente.


- Você sempre foi ótimo, Ron. – E era verdade. O rapaz sempre fazia de tudo para agradá-la. Quase não brigavam ao contrário da adolescência.


- Você não me ama, Mione. E eu... digo, você é ótima, mas eu preciso de alguém que me ame.


- Eu sinto muito, Ron. – Ela estava envergonhada, mal sabia o que dizer, mas o até então namorado tentava confortá-la.


- Não é sua culpa. Eu no fundo sabia que iria ser assim. Fiquei com você por capricho. Não queria que o Harry tivesse mais chances que eu, pois eu sabia que ele te faria feliz. Eu não vou te pedir em casamento, Hermione. Você tem que ser feliz. Eu devo isso ao Harry. – Dizer isso à amiga trazia alívio a Ron. Ele se arrependia pelo que tinha causado, porém entregar a namorada de mão beijada para o seu melhor amigo lhe causava demasiada dor.


- Talvez o Harry nem me ame mais, Rony. – A mulher supôs com tristeza enquanto o ruivo a fitava compreensivo. – Durante esse ano inteiro ele sempre se portou como um amigo.


- O Harry te ama, Hermione, mas ele não tentaria nada com você. Sempre foi fiel à nós – Ele disse rindo da dúvida da menina, que suspirou aliviada novamente.


- O que fazemos agora? – Ela questionou ao rapaz incerta de sua resposta.


- Agora é a hora que eu te deixo livre para o meu melhor amigo. – As palavras de Rony pareciam machucá-lo ao saírem de seus lábios, mas ele sabia que teria que dizê-las. Os olhos de Hermione começavam a marejar e uma fina lágrima escorria por sua bochecha.


 


 


Harry se mantinha jogado em uma das cadeiras da sala de espera. Sua mente pensava em tudo e nada no mesmo período de tempo. Talvez em forma de ironia já até imaginava o terno que compraria para ser o padrinho do casamento dos amigos. Imaginava o quão linda Hermione ficaria vestida de noiva e já até pensara numa desculpa para sair do casamento antes mesmo que a festa começasse e para não se despedir dos amigos quando fossem para a Bulgária. Era um ótimo plano. Talvez fosse melhor sair dali naquele momento mesmo, sabia que Rony estava bem e que a amiga ficaria bem e não aguentaria sorrir com a notícia de um casamento. Se levantou então num impulso se dirigindo até a enfermeira que anteriormente havia lhe lançado olhares estranhos. A mulher se espantou ao vê-lo e até recuou um pouco.


- Pode avisar a Senhorita Granger que eu fui para casa? – Ele pediu tentando parecer gentil, mas sabia que não havia conseguido.


- Claro, senhor. – Ela disse ainda com um olhar repreensivo fazendo Harry duvidar se ela daria mesmo o recado. Ainda assim dirigiu se até a saída indo a um lugar deserto e aparartando em casa.


 


 


 


Harry se mantinha alheio a tudo em seu apartamento, sentado em sua poltrona favorita. Sentia seus olhos arderem, mas não havia lágrimas. Ao menos se lembrava de quando havia chorado pela última vez. Quando o assunto era sua vida amorosa, nunca havia chorado. Mas dentro de si podia sentir um nó na garganta. Lembrava rapidamente de todos os momentos que teve a sós com Hermione, ela nunca o abandonava por isso dessa vez era tão difícil deixá-la ir. Sentia-se amargo, pois o “menino que sobreviveu” não conseguia ao menos chorar.


Levantou-se ainda desnorteado e foi até o quarto em busca de uma caixa de madeira velha e empoeirada. Revirava seu armário com desespero como se fosse a última coisa que veria, finalmente pode encontrar o que procurava. Sentou-se na cama e abriu com cuidado tentando não espalhar toda a poeira. Ao ver algumas fotos antigas de seus tempos de escola não pode deixar de sorrir, ainda que com nostalgia. Como Hermione havia ficado bonita, ao ver a amiga com os cabelos alvoroçados pode notar a diferença. Como ele queria que tudo aquilo voltasse e ele pudesse ter agido diferente.


Ouviu a campanhinha soar distante na sala e guardou tudo de qualquer jeito no armário. Caminhou vagarosamente permitindo que o mesmo som preenchesse o lugar novamente. Abriu a porta com cuidado e se surpreendeu ao ver a amiga ali lhe olhando ansiosa.


- Mione. – Ele sorriu ainda que de maneira tristonha e deu espaço para que a amiga entrasse.


- Harry. – Hermione o fez e permaneceu de pé fitando o rapaz nervosamente e ambos silenciaram por alguns instantes. – Nós precisamos conversar. – Ela disse quebrando o silêncio que tanto lhe causava dor.


- Acho que sei sobre o que é... – Ele queria por logo um fim naquela conversa que ele achava saber sobre o que era.


- Tenho certeza que não. – Ela rebateu de imediato fazendo o rapaz encará-la com dúvida no olhar. – Conversei com o Rony hoje... – Ela começou e ele impediu.


- E ele te pediu em casamento. – Disse impaciente e a garota respirou fundo tentando ser paciente.


- Não me interrompa, apenas me ouça. – Ela pediu séria e ele assentiu, abaixando a cabeça envergonhado logo em seguida. – Rony e eu conversamos e ele não me pediu em casamento. – Ela esclareceu de imediato e a mente de Harry se pôs em uma tremenda confusão. Já estava antecipando todo o sofrimento enquanto o amigo mal havia feito o pedido.


- Como não? – Ele perguntou incrédulo.


- Muito pelo contrário, ele terminou comigo. – Nesse momento além da mente confusa Harry sentiu seu estômago revirar. Seu queixo estava literalmente caído enquanto Hermione não fazia nada além de olhá-lo num misto de nervosismo e pressa. A mulher desejava esclarecer tudo de uma vez, queria finalmente ouvir uma resposta de Harry. De preferência a resposta que ela desejava.


- Hermione... Por favor... Eu cumpri minha promessa... Eu sempre te tratei como amigo. – Ele se pôs a justificar nervoso com medo de seu comportamento ser a causa. Temia que a amiga se chateasse com ele. Hermione riu nervosa. – Eu fui a causa disso? – Ele perguntou inseguro.


- Não. – Ele soltou um suspiro e a morena continuou. – Na verdade até foi, mas indiretamente. – O moreno estava cada vez mais confuso.


- O que houve? – Ele perguntou se sentando enquanto a amiga fazia o mesmo numa poltrona de frente para o sofá em que ele estava.


- Você abriu mão de mim pela minha felicidade, Harry. – Ele assentiu com a cabeça. Aquilo lhe fazia sentir dor em demasia. – Mas eu não sou feliz sem você. – Ela confessou olhando dentro dos olhos do moreno. – E o Rony finalmente entendeu isso. - Seus olhares se cruzaram e ambos puderam sentir o que o outro dizia ainda que em silêncio. Harry respirou profundamente, como se o ar penetrasse em seus pulmões pela primeira vez em muitos anos. – Você sempre quis salvar a todos, Harry. Mas eu te vejo tão sozinho e triste. Me deixe te salvar dessa vez. – Ela pediu e o moreno finalmente esboçou um sorriso de alegria. A morena inclinou-se até o rapaz e lhe deu um abraço firme. Suas pernas tremiam tanto quanto as dele e podia sentir suas mãos gélidas irem de encontro ao terno macio do rapaz. Num breve instante que parecia eterno Harry se lembrou de todo sacrifício que havia feito pela felicidade de Hermione, havia afastado o amor de si e tê-lo de volta naquele momento lhe trazia uma sensação indescritível. Sentiu um gosto atípico e ao mesmo tempo familiar em seus lábios. Finas e discretas lágrimas desciam por todo seu rosto. O menino que sobreviveu voltara a chorar. Hermione se afastou lentamente ao ouvir um fungo do rapaz e o mirou também com os olhos marejados.


- Eu amo você, Hermione. – Ele sussurrou sem ter vergonha da morena estar presenciando tal momento.


 - Eu amo você, Harry. – Harry se aproximou lentamente do rosto da menina e lhe tocou os lábios de forma gentil. A princípio Hermione pareceu enrijecer, todavia logo em seguida relaxou e pousou uma das mãos no rosto do rapaz. Seus lábios se tocaram novamente, porém com mais intensidade e logo um beijo mais profundo surgia. Harry acariciava a cintura da morena gentilmente enquanto a mesma lhe afagava os cabelos. Nenhum dos dois pôs fim ao beijo, ele apenas terminou por si. Fitaram-se novamente e sorriram. Finalmente Harry sabia que teria Hermione para sempre, agora sem empecilhos e sem necessidade de escolhas. Ela apenas seria sua assim como ele há tempos era dela.


 


FIM.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

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