Capítulo Quatro.
Bateu o sino da ultima aula e eu nem tive chance de conversar com a Nanda, não tínhamos a ultima aula juntas e eu esperava alcançá-la na saída para conversarmos enquanto caminhávamos para casa.
Aquela alegria boba ainda me preenchia e eu estava sonhando acordada quando ela entrou na minha frente. Nora Collins, vadia sugadora de cérebros.
Não entendia o que estava acontecendo e já ia saindo do caminho quando ela começou a gritar.
-Vai fugir, Lilyzinha? – A voz dela era puro veneno.
Ignorei e tentei sair do caminho, provavelmente ela estava sofrendo de TPM e eu não queria que nada estragasse a minha bolha de felicidade.
-Eu não sei o que quer, mas saia da frente. – Disse calmamente.
-O que, agora vai fazer a desentendida? – Praticamente todo mundo estava a nossa volta para assistir ao show de horrores que ela estava disposta a começar.
-Eu realmente não sei do que você está falando. Agora faça um favor a si mesma e saia da minha frente. – Respondi um pouco mais grossa, o tom dela estava me irritando e toda as lágrimas no rosto dela pareciam me alertar de que algo bom não viria daí.
-Que tal eu estar falando da sua cara de pau se jogando pra cima dele em frente de todo mundo? Você não tem decência de esperar um dia ou dois não? Sua vagabunda!
Han? Que diabos? Essa idiota estava usando drogas.
-Vá arrumar alguém pra lidar com a sua TPM, eu estou pouco me lixando com você e vagabunda é a senhora sua mãe. Agora me deixa passar que eu não estou com saco pra agüentar sua loucura não.
-Ah, a santinha Evans! Se toca garota, todo mundo sabe que você quer o James desde sempre. Tá se sentindo vitoriosa é? Só porque ele terminou comigo não significa que ele vai ficar com você.
O que? Eles tinham TERMINADO?
-Eu nem sabia e nem quero saber detalhes da sua vida amorosa, que tal você deixar de ser retardada e ir embora? Eu não estava me jogando pra cima de ninguém e mesmo que estivesse não é da sua conta.
-Você é uma biscatinha fingida mesmo, mas saiba que pra minha cama que ele vai quando...
Eu a interrompi, não queria ouvir nada sobre a vida sexual de ninguém.
-Parabéns, você é uma vadia das piores. Dá e nem recebe por isso, agora me poupe de saber o que você faz com o seu corpo que eu quero almoçar ainda hoje. – E fui saindo de perto dela, mas meu braço foi agarrado e eu senti as unhas grandes dela cravarem na minha pele.
Meu Deus, alguém segura essa cachorra.
-Fica ai com seu ar superior, sua idiota. Mas lembre-se, você é só a boa ação dele. A coitadinha que ele procura quando está entediado. Ele pode até se divertir com você no fim do intervalo e fingir que é seu amigo, mas você não passa da mala do passado que ele carrega porque tem dó e sabe que ninguém mais vai agüentar. Faça você um favor a si mesma e economize seus flertes com os namorados dos outros, você não é páreo pra ninguém aqui.
E simples assim ela saiu, meu coração estava na boca e o mundo de lágrimas ameaçava desabar dos meus olhos, eu vi ela andar para o outro lado enquanto todo mundo cochichava a minha volta e o gelo das palavras dela foram me preenchendo.
Boa ação. Mala do passado. Dó.
Sem pensar direito eu fui até ela e lhe despejei um tapa na cara, com uma voz que não parecia minha eu disse:
-A biscate aqui é você.
Foi nessa hora que eu senti uns braços me puxarem pra trás e me afastar dela, não importava.
O tempo estava parando pra mim e eu só desejava ter causado a ela tanta dor quanto o que ela tinha feito ao me dizer aquelas coisas.
Eu me sentia terrificada, meu corpo estava gelado e minha pressão baixa. Nunca, nunca na vida eu me senti tão humilhada. E nunca antes eu quis sumir como agora.
Eu nem vi a balbúrdia acontecendo ao redor, eu não estava nem ciente das mãos fortes e quentes me levando em direção as arquibancadas e dos conselhos calmantes que o dono da mão me sussurrava. Eu só queria sumir. Sumir. Sumir. Sumir.
Assim que entramos na quadra eu percebi que quem havia me tirado dali era Sirius e que ele estava me olhando delicadamente no primeiro degrau das escadas que davam pra arquibancada.
Eu olhei pra ele confusa, com os olhos vermelhos e as lágrimas já caindo e senti que ele entendia. O olhar dele me mostrava que ele sentia muito.
Segundos depois eu ouvi os passos corridos da Nanda em minha direção e senti os braços dela em volta de mim.
-O que houve amor?
E então eu desabei.
Não pude segurar e, como em anos já não fazia, eu chorei.
Eu chorei o que Nora me disse, eu chorei minha dor e eu chorei minha humilhação. Chorei as horas anteriores a briga e chorei minha vida fora.
Chorei toda a minha frustração e chorei por chorar. Meus soluços e espasmos traduziam a dor que as lágrimas não eram capazes que transmitir e o som do grito sufocado era o jeito que eu tinha encontrado de dizer que doía. Doía demais.
-Sh, sh... vai ficar tudo bem. – Ela sussurrava enquanto me balançava, em algum momento durante meu choro eu senti Sirius nos deixando sozinhas. Eu estava grata por isso.
-Ele tinha me procurado no recreio hoje... ela disse que eu era a boa ação dele, gêmea... dó, era por isso que ele falava comigo. – Eu repetia debilmente algumas partes do que tinha acontecido, ela só dizia que ia ficar tudo bem enquanto eu balbuciava coisas sem sentido.
Algum tempo depois, quando eu já não tinha mais o que chorar e toda adrenalina tinha saído do meu corpo, ela me levou pra casa e quando eu percebi eu estava deitada na minha cama. O olhar fixo no nada enquanto ela deixava nossos materiais no canto. Assim que terminou ela se sentou perto de mim e me olhou. Estava na hora de eu contar o que tinha acontecido.
Eu não fui pra aula no dia seguinte.
Nem no próximo.
E nem no outro, tampouco.
Eu faltei o resto da semana e se eu pudesse eu largava a escola, eu me mudava de cidade. Eu iria pra outro país de bom grado.
Cada parte do meu ser se sentia arrasado e humilhado. Eu provavelmente tinha emagrecido um quilo e meus pais já não podiam esconder a preocupação. Eles me perguntavam constantemente o que tinha acontecido e se agoniavam mais ainda ao me ver negar uma resposta.
Eu via os dias passarem como quem olha para o nada e quando o domingo a noite chegou eu encarei a realização de que um dia de aula estava por vir.
Eu não teria permissão para faltar mais. Nanda havia me passado todos os deveres e bondosamente entregou os meus trabalhos por mim, só que isso não mudava o fato de que eu estava ficando pra trás, até eu me preocupei um pouco, nos momentos em que eu não estava concentrada na minha miséria eu parava pra pensar nas aulas e vi que não tinha escapatória. Amanhã eu teria que enfrentar todo o inferno que viria.
Resignada pensei que pelos menos eu já tinha parado de chorar e estava a caminho de voltar a pensar racionalmente. Na segunda de manha eu me vi vestido o uniforme e arrumando meus materiais, dando um beijo de tchau na minha família e me encontrando com Nanda no meio do caminho pra aula. Assustada com o que eu teria que enfrentar, uma hora e meia depois eu estava grata até os ossos por todo mundo ignorar o acontecido e me sentindo melhor de não ter cruzado com ninguém até o momento. Nenhuma lagrima foi derramada até então.
Com a promessa de manter minha saúde mental, Nanda fazia piadas do tapa que eu tinha dado em Nora e Sirius, que havia se juntado ao nosso grupo, comentava que eu estava pronta pra enfrentar um exercito quando ele me tirou de cima dela. Eles estavam deixando a historia divertida para logo as pessoas pararem de comentar. Mais uma vez eu estava grata até os ossos por isso e quando James entrou no refeitório e se sentou sozinho na mesa mais longe, todos fingimos que eu não havia visto e continuamos a conversa.
Por ser um dos melhores amigos dele, eu vi que Sirius se preparava para ir de encontro a James e com exatos cinco minutos pro sinal bater eu levantei da minha mesa e o mais rápido possível cheguei até ele.
Ninguém sabia o que eu estava fazendo e principalmente eu não tinha ideia alguma. Mas eu queria falar com ele. Minha mãe me disse que ele tinha me procurado em casa e só aqui, sentada na frente dele eu percebi que não sabia o que dizer.
Eu não havia ensaiado um discurso nem nada, mas mesmo assim minha mente estava branca, vazia. Nada me ocorria.
Seria clichê e bobo dizer que assim que ele levantou a cabeça e eu pude olhar nos olhos dele e ver o pedido claro de desculpas, mas foi isso que aconteceu. Ele me olhou e eu vi que ele sentia muito, ele estava miserável e não queria que aquilo tivesse acontecido tanto quanto eu, mas tampouco sabia o que dizer, ficamos nos olhando por mais um tempo até o sino tocar e eu me levantar e ir pra aula sem trocar uma palavra ou saber exatamente o que tinha acontecido.
Nem todos os meus impulsos eram esclarecedores e depois do intervalo ninguém mais me disse uma palavra sobre James, Nora ou a briga. O tempo correu e logo eu estava voltando pra casa.
-Como você tá, gêmea?
-To bem melhor.
-O que foi aquilo no intervalo? – Ela disse sem rodeios.
-Boa pergunta, acho que eu só precisava encarar ele por um tempo, ver se tinha algum sinal de pena ali.
-Fala sério Lily, você não levou a serio o que ela disse né? Você sabe que o James pode sentir qualquer coisa menos dó de você, né?
-Sinceramente? Não... pareceu fazer sentido o que ela disse nos últimos dias, por isso eu estive tão mal.
-Não parece mais?
-Não sei, ele não me olhou com pena. Era só apologético.
-Eu sei que o James não sente pena de você.
-Sei lá, depois de um tempo, como você mesmo disse, nossa amizade foi parar nos bastidores.
-Você acha que ele tem vergonha de você?
-Confesso que já pensei nisso. – Disse olhando-a tristemente, ela sabia como machucava dizer aquilo.
-Lily, você é a minha pessoa favorita e eu não ousaria mentir pra você, te digo de coração que jamais diria que o James sente pena ou vergonha de você.
-Promete?
-Aham, de dedinho!
Eu sorri com isso, no fundo no fundo eu concordava com ela mas precisava de alguém pra me dizer que não era só coisa da minha cabeça. Só mais uma ilusão que eu estava mantendo.
Cheguei em casa e estranhamente estava com fome, minha mãe notou a melhora e parecia mais aliviada ainda. Eu provavelmente tinha os preocupado mais do que tinha imaginado.
Almocei e subi pro quarto, tinha matérias pra recuperar. Lá pelas quatro da tarde eu atendi um telefonema da Nanda e me alegrei ao ouvir a voz do Sirius no fundo, pelo que eu tinha entendido o maroto aproveitou para se aproximar da minha pobre amiga nos meus dias de ausência e tinha lhe feito companhia no recreio enquanto eu cabulava aulas. De alguma forma os dois estavam em uma trégua amigável e ela já suportava a presença dele sem fingir que se arrependia do dia em que os dois tinham ficado numa festa na piscina. Eu tinha ouvido ela reclamar por uma semana por eu ter deixado ela se pegar com ele num momento, que como ela mesmo disse, era de extrema fraqueza.
Melhor do que eu estive em dias, fui tomar um banho e sai do banheiro sentindo-me fresquinha, meu cabelo estava molhado e eu ia pegar o secador pra ligar quando ouvi barulhos vindo do quarto de James.
Ele estava ali e pelo que parecia, ele tinha puxado a cortina. Eu estava com a mão no secador quando senti que era a hora. Na privacidade de nossos quartos que deveríamos conversar.
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N/A Meninas, perdoem a minha demora, aulas começaram e a faculdade está me matando ._.
espero que gostem do capítulo, adorei os comentários de vocês!
beeijos;*
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