Capítulo Um.



Eu odiava ela, sério. Não é esses ódios nerds adolescentes não. Eu realmente, realmente odiava ela.


Não que eu devesse, não que eu fosse parar, também.


Mas ela era simplesmente a vadia-mor do universo e nesse momento ela se agarrava com o MEU James na mesa dos populares.


Sabe, os populares. Cheerlindas e o time de Futebol.


Intocáveis. Pra nós, reles mortais. Porque a vadia da Nora Collins estava agora mesmo tocando MUITO, MUITO do que era o MEU corpo. Não exatamente meu, mas simplesmente não dela.


E ainda era dia, tipo. Recreio hello!


Como uma pessoa faz quase-sexo enquanto as outras pessoas tentam COMER. É, amigo, eu também me pergunto isso praticamente todos os dias. Quem eu sou? Lilian Evans, a pessoa que acaba de desistir de por qualquer coisa pra dentro do estomago depois da ceninha medíocre que presenciou.


Me levantei e fui lá pra fora, tomar um ar nessas situações ajuda. Quando o cérebro oxigena você para de considerar a ideia de matar a tripa-seca-saltitante e começa a pensar que talvez o melhor que você possa fazer é se focar na prova de cálculo que vai acontecer em... 23 minutos.


Ótimo, adoro cálculo.


__


Cheguei aqui fora, sabe, pra me desligar da grande bola azul chamada Terra , de tudo e então ao invés das coisas melhorarem parece que o mundo decide explodir em cima da minha cabeça.


–Lily, vem cá. – Se eu soubesse quem era eu teria saído correndo sem olhar nunca mais pra trás. E outra, “vem cá”é carrinho de sorveteiro! Faça-me o favor.


De qualquer forma, Nicole Sanders, uma pretendente a Vadia, ou Cheerlinda, o que você preferir, foi a pessoa que tinha me gritado. A expressão diabo fugindo da cruz nunca fez tanto sentido quanto agora.


–Oi. – Seja simpática, lembre-se, simpática, agradável, não a esfaqueie com a faca que você trouxe pra comer a maçã que está despedaçada no lixo agora, pensei com um sorriso no rosto.


–Então Lily, eu estava pensando se eu poderia passar hoje a tarde na sua casa pra gente estudar. Na verdade eu e as meninas do time.


–Não.


MEU DEUS, como essa louca se atrevia?


–Nossa Lily, que grossa... a gente precisa de ajuda em cálculo, a nossa prova vai ser semana que vem e você foi a pessoa que o professor Hans indicou. –Ela parecia falsamente magoada, pau no nariz dela. Não acredito que o professor Hans, meu amado professor de cálculo avançado estava ME jogando pras cobras.


URG! E esse ser me chamou de Lily ainda. Lily! Meu deus, onde foi parar o Evans?


Que absurdo.


–Sinceramente Nikk – ok, agora eu estava sendo má – eu não me importaria nenhum pouco em ajudar vocês se o que vocês quisessem fosse isso, mas acontece da minha casa não ser um zoológico e muito menos a do James, então você vai entender porque não tem ninguém em exposição lá né.


Eu sabia bem o porquê desse repentino interesse dela. E deixe-me te dizer, aspirantes a seres das trevas faziam umas caras bem boas.


Ela parecia horrorizada, mas horrorizada estava EU. Se não fosse drástico eu estaria rindo e rindo alto, infelizmente era drástico.


Não sei quem foi a querida pessoa que espalhou que nas terças feiras o James fica de cueca perambulando pela casa, de sunga na piscina dos fundos e tudo mais que o exibicionismo o permitia fazer. Eu tinha ouvido boatos... que não eram inteiramente verdade.


Mas acontece que eu não vou deixar essas doidas taradas desfrutarem da vista. Até parece que eu ia entregar o James de bandeja pra elas, se já não bastasse a Nora -lambisgóia.


Ah sim, somos vizinhos.


É, desde os... três anos de idade. E sim, somos amigos também.


E Ah, lógico. A janela panorâmica do quarto dele fica em frente a janela panorâmica do meu quarto, então você percebe porque essas desavergonhadas queriam ir na minha casa.


Estudar, aham, só se for anatomia humana.


 


Ela sorriu, aquele tipo de sorriso entre melhores amigas cúmplices, haha, nessa eu não caia.


–Vamos Lily, não seja egoísta! Desde que soubemos disso a gente tá louca por uma espiadinha na casa dele.


–Não, sério, se você quer tanto ver o James pelado pede você mesmo pra ir na casa dele, pra mim já chega.


As caras de deleite delas me avisaram que eu havia cometido um erro.


–Pelado?


Eu virei as costas e sai dali o mais rápido que eu podia, ainda dava pra ouvir elas gritando por mim quando eu passei voando pelo refeitório da Hogwarts High School e parei bem em frente a mesa dos meu-sonho-é-pular-como-pipoca-em-roupa-curta (cheerlindas) e sou-cérebro-de-barata-e-só-tenho-músculos (jogadores de futebol).


Ousadia minha interromper o almoço dos populares? Ah tá. Fazia um tempo desde que eu tinha perdido o medo de inseto.


–James! –Ele parou de tentar sugar o cérebro da namoradinha dele – missão impossível, adivinha quem é acerebral? – e se virou pra mim.


Nora ficou toda irritadinha por me ver ali mas engoliu as ofensas que provavelmente me diria.


Não na frente do James, nunca. Ela tinha que fazer a santa quando tava perto dele.


James levantou e quando saímos de perto das vadias eu pude ver as caras de nojo delas e do jeito mais delicado que pude eu mostrei meu adorável dedo do meio, meu esmalte azul estava particularmente melhor passado nessa unha, de qualquer jeito.


–Eu vi isso, Lily.


–Pelo amor de Deus James! Elas me olham como se eu tivesse a Peste, eu precisava me defender.


–Que exagero Lily, elas não fizeram nada. – Ele estava me levando pra mais longe delas do que precisava. O que, por um acaso eu parecia carregar uma fúria assassina?


–Ainda, mas isso não importa.


–O que houve? – Ele perguntou com uma sobrancelha levantada.


O que houve? Como assim o que houve? Você é maluco? Anda se drogando ou algo assim?


–Desculpe amor, mas eu não tenho a mínima ideia do que você ta falando. –Ele nem se deu o trabalho de se sentir ofendido, ele é assim mesmo.


–Você, pelado, passeando pela casa, eu, vadias do inferno, meu quarto, ajuda pra estudar. Entendeu?


–Ah, isso. – o sorrisinho na cara dele provavelmente mostrava que ele NÃO tinha entendido.


–Isso? Isso?


–Desculpa por isso amor, serio. Eu não sei como elas ficaram sabendo desse tipo de loucura mas logo elas esquecem.


–Tá, sei. – Até parece que não estávamos falando das doidas-taradas querendo ver ele seminu.


–Prometo. – Estávamos fora das vistas da namorada dele, fora das vistas de todo mundo, então os braços dele passaram pela minha cintura e ele me abraçou como sempre fazia quando a gente ficava sozinho.


Eu era apaixonada por ele desde quando eu descobri que ele tinha um pipi e eu não, o que foi tipo, dois minutos depois que nos conhecemos e eu rapidamente olhar dentro das calças dele e ele dentro da minha.


Tínhamos três anos, vai explicar pro meu pai que a ideia de ver o amiguinho pelado tinha sido minha? Ele suspeita do James até hoje.


De qualquer forma, ele era meu primeiro e único amor e tinha uma época em que eu jurava que ele gostava de mim também. Mas ai ele descobriu o que são peitos, pernas e bunda e guess what, ele provavelmente se desapaixonou.


Mas mesmo amando ele desde ever, e forever, isso não significa que eu deixo ele ficar pondo as mãozinhas dele em toda e qualquer parte do meu corpo. Pelo contrário, eu evito isso ao máximo.


As chances de eu não me controlar e agarrar ele ali mesmo são muito, muito altas.


Vê, por isso eu tirei as mãos dele do meu corpinho unsexy e disse:


–Guarde suas mãos para você. – Eu normalmente diria “pra sua sanguessuga” mas eu realmente não queria que ele fizesse isso, então melhor nem incentivar, né.


–Ah, vai dizer que você ainda não me perdoou por causa daquelas loucas? –Ele tentava usar aquele olhar de gatinho do Shrek pro meu lado, mas não ia funcionar.


–Já perdoei sim, na verdade nem me lembro disso.


–Então toda essa política do não-me-toque é porque você não me quer? – Ele tentava usar a sedução (nada barata) dele pro meu lado.


Meu estomago pulava, minhas tripas se enrolavam, meu coração dançava tango com os pulmões mas eu me recusava a derreter nos braços dele e cair naquele joguinho perigoso.


–Eu estou menstruada. –Eu disse sorrindo grande, sabia que isso tiraria as mãozinhas dele de mim.


O que não aconteceu.


–Mentira.


–Claro que estou. – Ficar na defensiva rapidamente deu a ele a resposta que ele já esperava.


–Não tá não, vai descer só... semana que vem, o que significa que você está de TPM e está tentando me enganar.


Ele me abraçou mais forte.


–Get out James, sério.


–Eu gosto dos seus abraços.


–Isso porque eu sou a única que não te abraça e tenta pegar no seu pênis ao mesmo tempo, né?


Ele riu e como eu estava com a cabeça encostada no peito dele dava pra ouvir aquele barulhinho gostoso que fazia quando ele falava.


–Você é doida.


Tell me something i don’t know, tell me.. tell me... tell me something i don’t know. – Eu cantei saindo do abraço dele e fazendo uma imitação grotesca da coreografia ridícula das Cheerlindas.


James faltava cair no chão de tanto rir.


–Eu vou mijar nas calças assim Lily.


–Ué, não vai me dizer que eu posso entrar pro time de torcida assim que tiver os testes?


–Seu ácido me arrepia, ruiva... e eu acho que você pode fazer o que você quiser assim que você quiser.


O sinal tocou.


–Se eu pudesse tanto eu teria feito esse sinal tocar duas horas mais tarde. – Eu disse condescendente e nós fomos pra nossa aula, simples assim.


Legal quando a gente pensa que o pior não vai acontecer, que tudo de ruim já está acontecendo mesmo, como por exemplo:


1. O cara que você gosta namora uma morenona sexy, líder de torcida, mulher fatal e blá bla.


2. Você tem que agüentar várias doidas querendo usar sua casa como cabininha de espionagem. Ah sim, espionagem do cara que acontece de você gostar.


3. Você ter prova de cálculo logo após o almoço que você não comeu.


Ah.. e tem também o fato que levou ao meu dia parecer o pior possível.


4. Minha melhor amiga tinha decidido faltar justamente hoje que eu precisava dos conselhos dela.


 


–Lily, cadê a Nanda? Eu não vi ela em lugar nenhum hoje.


–É parceiro, nem eu.


Agora me explica como não gostar do cara que parece ler seus pensamentos?

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