Capítulo III
CAPÍTULO III
Eram quatro horas da manhã de um sábado gelado. Sozinha em seu quarto, diante da janela, Hermione Granger procurava alguma coisa na escuridão lá fora. No entanto, para sua decepção, a fina, porém intensa chuva não parecia permitir a visualização de qualquer coisa que estivesse além dos portões de Hogwarts.
Angustiada, Hermione abriu sua mala pela décima vez, a fim de se certificar de que não havia nada faltando. Em cerca de sessenta minutos alguém iria buscá-la - ao menos era o que prometia a carta. Sim, aquela carta misteriosa cujo remetente fazia questão de se omitir...
“M.E.P.S”? Hermione não fazia a mínima idéia de quem poderia ser aquela pessoa. Mas esperara quase uma semana para descobrir... Poderia aguentar mais uns... cinqüenta e oito minutos? Quem sabe fosse alguma armadilha... Um ex-comensal à solta, querendo fazê-la de refém... A esta altura ela nem se importava mais... Que viessem os comensais... Os serial-killers... Ela não se importaria de ser assassinada ali mesmo, naquele exato instante... Por que se importaria? Se ao menos houvesse algum motivo para viver... Mas não havia. Seus pais estavam mortos e Severus em um caixão. Quanto a ela... Uma garota de dezoito anos grávida... Não tinha nem coragem de contar aos amigos uma maluquice daquelas... Talvez, sem aquele bebê, ela ao menos se sentiria motivada a estar lado a lado com Harry, Rony e Gina... Poderia oferecer seu ombro amigo... e aceitar o deles...
Emocionada, Hermione sentiu os olhos arderem. Pelo reflexo da janela, podia ver as lágrimas que escorriam em sua face. Instintivamente, uma de suas mãos acariciou a barriga, ali onde uma nova vidinha tomava forma, lentamente.
A verdade era que, apesar de todo aquele rancor, aquela tristeza e arrependimento, Hermione amava sim aquela criancinha que crescia em seu ventre. Como não amaria? Era a única prova concreta de tudo o que vivera com Severus... o único homem que ela havia aprendido a amar. No entanto, ao mesmo tempo em que lhe trazia alegria, o bebê mostrava-se como uma fonte de extrema infelicidade e nostalgia... E ela não sabia se poderia suportar a convivência com alguém que lhe trouxesse recordações tão tristes.
Deixando aqueles pensamentos de lado, Hermione analisou mais uma vez o endereço que acompanhava o pergaminho:
Shepherd’s Bush av.2, 487, Londres, Reino Unido
Quem quer que fosse a pessoa que lhe mandara a carta, certamente não carecia de dinheiro. Havia tempos que Hermione deixara de viver em Londres, mas tinha certeza de que Shepherd’s Bush era um de seus bairros mais chiques e requisitados, portanto ela não precisava se preocupar com os Wesley, não mesmo...
Impaciente, Hermione olhou para o relógio de parede e percebeu que faltavam apenas dez minutos para as cinco da manhã. Impressionante como aqueles pensamentos haviam feito o tempo passar depressa desta vez...
Nervosa, a garota correu ao banheiro. Lavou bem o rosto, tentando eliminar aqueles vestígios de lágrimas e lamentação. Certificou-se pela última vez de que sua aparência estava razoável e abandonou o cômodo. Então, correu até a janela na tentativa de localizar algum sinal de vida, mas a chuva ainda tornava isso impossível. Hermione começou a andar de um lado para o outro, sem desgrudar os olhos do relógio. Quando percebeu que faltavam apenas três minutos, vestiu seu sobretudo preto. Após uma última revisão nas bagagens, fechou, definitivamente, sua mala.
Toc Toc Toc
O barulhinho na porta fez Hermione estremecer. Tamanha era sua ansiedade que precisou esperar alguns segundos antes de se encaminhar até a porta, quase sem respirar.
Toc Toc Toc
Ela abriu a porta. Era a profª McGonagall quem batia.
- Srta. Granger... Ah... Está tudo bem com você? – indagou a professora, confusa, ao perceber a palidez de sua aluna.
- TUUDOO! Tu-tudo ótimo, professora! – respondeu Hermione, quase gritando, aliviada depois de quase um minuto sem respirar.
Minerva não pareceu confiar muito naquela resposta, mas viera ali a outros fins.
- Bem... Vim lhe dizer que há alguém lhe esperando em minha sala, Granger... An... Acredito que você faça idéia de quem seja...
- É! Acredito que sim, professora. – disse Hermione, tentando enganar a si mesma.
Com cautela, a aluna deu uma última olhada em seu quarto. Esperava não estar esquecendo nada. Ela não sabia quando voltaria àquele lugar, mas queria que não demorasse...
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