O plano



2. O plano


 


 


 


   Já fazia uma semana que aquele fatídico dia levou consigo a maior parte dos Weasleys. A caçula revirava-se na cama do antigo quarto de Sirius, no Largo Grimauld, presa em um sono perturbador. A camisa que usara como camisola grudava em sua pele, as coberta foram expulsas da cama diretas para o chão. Quando mais tarde, ela acordasse assustada e gritando, não haveria ninguém para abraçá-la e dizer como tudo ficaria bem. Não haveria ninguém falando o que Gina gostaria de ouvir, que aquela noite tinha sido um pesadelo. Não haveria mais mentiras, só a dura e crua realidade esperando que ela abrisse os olhos.


 


   Não tão longe de onde Gina lutava contra suas memórias, outra garota atormentada pelas consequências da Guerra cruzava a rua, olhando assustada para os lados temendo estar sendo seguida. Se estivesse olhando para frente, veria um vulto desconhecido aproximando-se dela. Ela o veria erguer uma faca, a lâmina brilhava ao luar, e interceptá-la. Como a garota só percebeu tarde demais o contato seco e afiado da arma contra seu tronco, se deu conta do seu erro apenas naquele momento. Seria o seu último, aliás.


 


  Desabou no meio fio, batendo a sua cabeça contra o asfalto. Mesmo com a tontura e a dor, conseguiu ver a face de seu assassino. Ou melhor, sua assassina.


 


  -Lestrange - ela suspirou antes de fechar os olhos. Não ouviu passos se afastando, mas aproximando-se dela. Tentou se erguer assustada, esperando outro golpe. Porém, quem a observava com evidente assombro era uma menina tão assustada quanto ela.


 


  -Quem é você? - as duas perguntaram em uníssono. Um silêncio desconfiado se abateu depois daquilo.


 


  -Você está machucada? - a recém-chegada perguntou, se curvando.


 


  -Isso não é da sua conta, saia daqui!  - a ferida retrucou, virando a cabeça desejando que tudo acabasse logo e a morte finalmente a engolfasse.


 


  Gina cruzou os braços, infeliz. Nos últimos tempos, tinha virado um imã de desgraças. Ao ouvir aquele barulho na rua, seu coração se encheu de esperança e ela correu como que esperasse Ron vindo ao seu encontro. Quando viu outra menina caída, não pôde evitar a onda de solidariedade que a pegou desprevenida. Os dois vultos esperando por ela tinham desaparecido, de forma inexplicável.


 


  -Eu posso tentar te ajudar - ela ofereceu não entendendo muito seu impulso de deliberadamente socorrer uma completa estranha. Talvez fosse a falta do que fazer toda madrugada que acordava, talvez fosse solidão, ou mesmo sono. De todo modo, sua preocupação desarmou a outra que concordou com a cabeça.


 


  Arrastando seu corpo do meio fio para a casa do Largo Grimauld, entrou com dificuldade na sala sem nem desconfiar que aquela pudesse se tratar de uma armadilha dos Comensais. Assim que conseguiu acomodar a menina no sofá, Gina se abaixou e observou o estrago que a faca deixou. Obviamente, quem quer que tenha feito aquilo, planejara uma morte lenta e dolorosa para a desconhecida.


 


  -Não precisa mentir, está feio, não está? - ela quis saber.


 


  -Sim, está - teve que admitir que o corte aberto não foi feito por uma arma trouxa. O ferimento parecia se espalhar pelo corpo com suas ramificações verde-musgo, um veneno letal que em breve alcançaria seu objetivo. Gina desviou os olhos, tentando não pensar no irmão e no punhal de Bellatrix Lestrange.


 


  -Não precisa chorar - a garota falou vendo as lágrimas se acumulando nas pestanas de Gina - já está tarde para mim, sei disso.


 


  -Sinto muito.


 


  -Não precisa sentir, em menos de dez minutos não estarei mais aqui. A propósito, meu nome é Claire Lancaster - Claire se apresentou.


 


  -Gina Weasley, prazer.


 


  -Ah, a famosa namorada do Potter. Que jeito de conhecer as pessoas.. - comentou Claire com um sorriso triste.


 


  -Não existe nada que eu possa fazer? - perguntou Gina alerta - Uma poção? Te levar para o hospital?


 


  -Não se dê ao trabalho - Claire a instruiu. - Todos os hospitais estão tomados de Comensais, de forma que você não duraria muito lá. Nem eu, se for levar em conta minha situação. Eu ajudei a desenvolver esse veneno, e só há um antídoto. Aquela vaca nunca vai me deixar colocar as mãos nele.. e já é tarde demais..


 


  Gina se desligou das palavras de Claire, a menina provavelmente já estava delirando. Sua mente viajou pelos corredores do St. Mugus, onde Rony podia estar esperando um atendimento que nunca chegaria. Ninguém que o encontrasse iria tratá-lo. Aquele pensamento só pirou seu estado de desesperança completa.


 


  -Gina, acha que pode fazer um favor para mim? - perguntou Claire chamando sua atenção.


 


 -Sim, claro - a ruiva respondeu, pensando tratar de um pedido simples como um copo de água ou uma manta.


 


  -Já é tarde demais para mim, mas não para você. Eu lembro vagamente da sua foto no jornal, você está do lado que eu queria participar, se não fosse minha família.. - Claire parou brevemente de falar para tossir. Gina lhe trouxe um lenço, para assistir com horror, ele ficar cada vez mais vermelho de sangue. - Hoje vou conseguir o que quero. Redenção. Mas você pode tomar o que deseja, vingança. Sei que houve um recente ataque aos Weasleys, ninguém sequer sabe que alguém saiu de lá vivo. E se você pudesse se vingar daqueles que mataram sua família?


 


  -Eu não consigo entender, como eu poderia fazer algo sendo fugitiva? - disse Gina confusa.


 


  -Sabe, você tem razão. Você até pode ser uma fugitiva, mas eu não sou. - Claire respondeu sorrindo - Tome meu lugar. Vá para Durmstrang e destrua seus inimigos de dentro. É o único jeito.


 


  -Mas como? - perguntou Gina balançando a cabeça – Malfoy e Parkinson estudam agora lá, não? Eles vão me reconhecer!


 


  -Não vão, porque você estará disfarçada – Claire insistiu – vamos, Gina, você não quer isso? Se vingar? Nós não somos tão diferentes assim. Só teria que mudar a cor do cabelo e dos olhos, quem sabe dar um jeito nas sardas.


 


  Gina tinha que admitir que aquilo não era mentira. As duas eram pequenas e magras, tinham o mesmo tom de pele claro e as feições delicadas. Só que Gina era ruiva e tinha os olhos castanhos, enquanto Claire era morena com os olhos azuis.


 


  -Ainda assim, é muito arriscado. – Gina falou pensando em como aquele plano nunca daria certo. – E o que tem para você nessa história? Não me daria sua identidade de graça.


 


  -Garota esperta – falou Claire assentindo – Eu quero que você mate Rodolphus Lestrange.


 


  Gina piscou. Essa seria a parte mais fácil naquele infinito de impossibilidades. Claire tossiu outra vez.


 


  -Você tem que me prometer – Claire pediu, a voz mais urgente que antes.


 


  -E-eu prometo – Gina gaguejou - , mas espera, eu não sei nada de você!


 


  -Eu saí de Hogwarts no meu segundo ano para estudar em casa. Era da Sonserina, mas quase ninguém se lembra de mim. Quando pequena, eu era amiga de Blaise Zabini. Fale das sapatilhas e ele nunca vai desconfiar que você é uma farsa.


 


  -Que sapatilhas? – perguntou Gina desesperada com o estado de Claire que lutava contra os espasmos. 


 


  -Sapatilhas de ballet. Eu escondi nas coisas dele para que seu pai achasse e ficasse louco da vida. Tinha que ter visto a cara quando descobriu..


 


  Agora definitivamente ela está delirando, percebeu Gina.


 


  Claire tossiu uma. Duas. Três. Quatro vezes.


 


  -Não vai demorar muito mais – ela disse apertando a mão de Gina -, minha mãe partiu para Escócia e só temos o Effy, a elfa doméstica imbecil em casa. Número 52, eu era a fiel do segredo. Vá hoje e traga tudo meu. Lá tem tudo que precisa saber.


 


  Claire ameaçou fechar os olhos e Gina apertou mais ainda sua mão.


 


  -Não, tem tanto que eu ainda não sei! Você faz parte dos Comensais? Quem te matou? E por que não estava com sua varinha hoje? – Gina perguntou rápido, com medo que ela não escutasse.


 


  -Esses são apenas detalhes – Claire suspirou sorrindo ao mesmo tempo em que uma lágrima saía de seus olhos direito rolando pelo rosto – Não se esqueça, você prometeu.. – ela tossiu outra vez - ..boa sorte.


 


  E tossiu uma última vez antes de fechar os olhos. Gina encarou seu semblante assombrosamente sereno para quem tinha acabado de morrer. Não controlou o grito que cortou o silêncio da noite. Nem o pranto que se seguiu. Pelos Weasleys. Por Harry. Por Hermione. Por Luna. E agora, por Claire.


 


  Nem em um milhão de anos, ela acreditava que aquele plano podia dar certo. Mas ainda assim, ela tentaria. Por aqueles que ela amara e pelos que foram. Teria mais utilidade lutando, que escondida como um animal assustado.


 


  Ela pararia de se esconder, tal como o Sol que começara a despontar. Era um novo amanhecer, um novo dia. A hora de revidar também chegaria. A madrugada de pesadelos tinha acabado levando Claire.


 


  Sentindo-se mais determinada que nunca, ergueu-se e observou-se no espelho. O corpo estranhamente magro, já que mal conseguia comer. As profundas olheiras como provas de que não dormia mais de três horas por dia há uma semana. Pegou a capa de Claire e limpou o sangue impregnado nela. Devidamente vestida, saiu munida de varinha para o endereço indicado.


 


  Chegando lá, foi recebida por Effy, a elfa que Claire mencionara.


 


  -Minha senhora não está em casa – ela disse fazendo uma reverência a Gina, que agradeceu por ela não reconhecê-la. – Gostaria de esperar no quarto dela?


 


  Gina se forçou a lançar a elfa um olhar de profundo desprezo e resmungar:


 


  -Eu já sei o caminho, obrigada.


 


  A elfa assentiu, fez mais uma referência e se retirou. Gina lamentou ter sido grossa, mas Claire obviamente não tinha respeito por Elfos Domésticos, então, seria de supor que tampouco teriam seus amigos.


 


  Ela subiu as escadas da elegante casa e fez a anotação mental de lembrar que Claire era rica. Provavelmente próxima do círculo de futuros Comensais. Ao achar o quarto dela, fez a inspeção em suas coisas. A parede era lilás, muito provavelmente sua cor favorita. Várias fotos com os amigos, a maioria com pessoas desconhecidas, mas uma se destacava: Claire de onze anos agarrada com Zabini. Os dois sorriam e riam para o fotógrafo. Gina pegou a foto permitindo observar a foto, notando com tristeza que aquelas crianças não pareciam muito diferentes do que ela mesma naquela idade.


 


  Parou com a sessão letargia e pegou a mala de Claire realizando o feitiço de expansão que Hermione a ensinara na última vez que as duas estavam juntas. Praticamente todo o conteúdo de seu armário e o foto da parede foi espremido na mala, que foi reduzida ao tamanho de uma bolsa de mão. Gina não se esqueceu de pegar a varinha de Claire, caso alguém mais atento estivesse prestando atenção naquilo. Antes de sair, alegando a Elfa que tinha esquecido que deveria estar em outro lugar, achou um caderno de aparência gasta debaixo da cama. Aquele só podia ser o diário de Claire e, mesmo não estando nada ansiosa para violar a privacidade de ninguém, sentiu que aquele caderno seria essencial nos seus planos.


 


  “15 de maio de 1997


 


   08:37


 


 


 


Não posso acreditar que papai está me obrigando a deixar Hogwarts para sempre. Minha mãe não quer se meter no caso, como sempre. Isso cheira a briga deles, e como sempre, estou no meio. Desde que eles quase se separaram, passei de filha para a arma de papai.


 


Blaise disse que vamos sempre manter contato e que nas férias sempre vamos nos ver. Eu sorrio e finjo que está tudo bem. Porque é o que ele espera de mim, é o que todos esperam de mim. Que eu finja. Ultimamente, é só isso que ando fazendo.


 


Acho que a câmara secreta foi a gota d’água e o fato de poupar Sonserinos não fez a mínima diferença para papai. Amanhã vai ser o meu último dia no castelo e tudo que vou poder levar comigo é a raiva de estar partindo. “


 


 


 


  Uma semana havia passado que Gina pegara as coisas de Claire. Assim que voltara para o Largo Grimauld, foi para o jardim e pôde ocupar algumas horas do seu dia realizando o enterro de Claire. Depois do trabalho feito, apenas olhou para a grama desigual e se despediu da garota.


 


  -Vou fazer o que prometi, Claire.


 


  Em seguida deu início ao plano de não parecer mais com Gina. Tingiu seu cabelo de preto e enfeitiçou seus olhos a ficarem iguais ao azul elétrico de Claire. A recente perda de peso só a assemelhou mais a menina, mas ainda assim, se alguém teve contato com ela há pouco tempo seria descoberta. De qualquer forma, Gina não pretendia ficar muito tempo naquela identidade, só o suficiente para se vingar, matar Lestrange e encontrar Harry.


 


  Ler o diário de Claire se tornara sua maior ocupação. Foi lá que percebeu que ninguém nunca realmente a conhecera a não ser, talvez, a própria Gina. Percebeu também que, se não fosse sua existência, Claire nunca teria deixado Hogwarts. O destino era mesmo irônico, providenciado que logo Gina tomasse lugar dela.


 


  Contudo, como não havia mais lugar para arrependimentos, Gina estava pronta com o bilhete de trem que os levaria até o barco de Durmstrang. Suas roupas e objetos pessoais haviam ficado na Toca e esta, como fora anunciada no jornal, tinha sido queimada. Tudo que lhe pertencia era a mala e os pertences que pegara uma semana atrás, apenas acrescentou uma blusa que achou de Harry na casa. Pronta para partir, ela olhou para o jardim, onde o corpo da verdadeira Claire estava enterrado. Distraiu-se com seu reflexo no vidro da janela. Olhou satisfeita para o resultado. Sem as sardas, com cabelo e olhos diferentes e com toda sombra preta sob as pálpebras, marca registrada da verdadeira Claire, ela não parecia nem um pouco com a garota desnutrida, cansada e assustada de uma semana atrás.


 


  Talvez porque, mesmo dentro dela, não se sentia a mesma pessoa.


 


 


 


 


 


  Chegando na estação de trem, virou a cabeça e se deparou com vários conhecidos de Hogwarts. Para seu alívio, nenhum deles a reconheceu. Mas, para ser justa, todos lhe pareciam apáticos demais para reparar em qualquer coisa que fosse; refletiu em silêncio olhando para os próprios pés, com sapatos enfeitiçados para serem um tamanho maior.


 


  Não olhando para frente, acabou batendo de frente com uma menina que gritou impaciente:


 


  -Será que é tão difícil assim olhar para frente? – tratava-se de Pansy Parkinson, uma antipática Sonserina que Gina nunca gostou. – Espera um segundo, da onde eu te conheço?


 


  Ela se esforçou para não arregalar os olhos e abafou o esgar de medo. Pansy, ajeitou os longos cabelos pretos e seus olhos igualmente sombrios a analisaram lentamente.  


 


  -Eu... – ela tentou começar a se explicar, mas foi interrompida:


 


  -Não fale, estou quase lembrando...


 


  Para sua sorte, um menino alto surgiu atrás de Pansy reclamando.


 


  -É para hoje ou está muito difícil para você, Pan? O Draco já es.. – ele parou de falar ao olhar para Gina, seus olhos se estreitaram – ei, quem é essa?


 


  Dessa vez, o xarope de mudo saiu do sistema de Gina. Porque o garoto de cabelos castanhos e olhos azuis era seu suposto amigo de infância.


 


  -Sou eu, Claire. Claire Lancaster. – falou sorrindo e se inclinando para abraçar Blaise com toda força que conseguiu. Ele a amparou, mas abraçá-lo ainda lhe pareceu estranho e desconexo. Como se tentasse abraçar um boneco.


 


  -Não é possível! – ele exclamou sorrindo também – eu não sabia que viria para Durmstrang esse ano. Você mudou tanto - disse a inspecionando.


 


  Pansy, agora que já sabia com quem estava falando, tratou de ser mais amigável.


 


  -Faz mesmo séculos que não a víamos, não tinha como reconhecer – falou Pansy sorrindo – até onde eu sei, ela podia ser outra pessoa!


 


  Gina se forçou a acompanhar os dois na risada sem preocupações que se seguiu. Então com eles estava segura, por enquanto. Não esperava que fosse tão fácil.


 


  -Pan, Blaise! – aquela inconfundível voz arrastada se fez ouvir antes do dono, que abrindo caminho os alcançou – onde vocês se meteram?


 


  -A gente tava conversando com a Claire – explicou Blaise ainda sorrindo, apresentando-a. – Acho que se lembra do Draco, né?


 


  Infelizmente, Gina lembrava muito bem de Malfoy. Ele, sem dúvidas, era o que mais tinha contato com a ruiva, por causa do Quadribol. Se alguém ali podia reconhecê-la, seria ele.


 


  -Lembro sim – ela respondeu com um meio sorriso, buscando não ser simpática demais.


 


  -Mas eu não me lembro de você – Malfoy replicou com aquela arrogância que Gina até então achava ser reservados aos grifinórios.


 


  Agora ela ficara em dúvidas. Arrumar briga com Malfoy não estava nos planos, porém a verdadeira Claire nunca deixaria alguém falar daquele jeito com ela.


 


  -Bem todos nós sabemos que o cérebro não é o seu forte. Melhor não pedir demais dele. – falou em tom leve, como se tivesse brincando.


 


  Não foi preciso esperar muito para perceber que senso de humor não era bem vindo naquele grupo. O sorriso de Blaise se apagou, Pansy arregalou os olhos e virou-se para assistir a reação de Draco.


 


  Gina não recordara que ele fosse tão alto em comparação a ela, nem tão intimidador. E talvez, de fato, não o fosse. Contudo, estar disfarçada a deixava nervosa com qualquer movimento brusco ou reação inesperada. Quando ele se aproximou dela, com os olhos frios e inexpressivos, ela jurou que ele pudesse ver por trás da recente mudança, que ele soubesse que havia algo muito errado com a conhecida de Blaise.


 


  -Talvez não tenha noção com quem está falando, novata. Vai aprender que aqui todos seguem uma certe hierarquia, na qual eu sou o topo e você a base.


 


  Por um instante, Gina teve que se controlar para não falar que sabia muito bem com quem estava lidando, era ele que não tinha ideia do que tinha pela frente. Porém, sua hora ainda chegaria. Engolindo grande parte da sua raiva, apenas olhou para a mão de Malfoy que apertava seu pulso com força.


 


  -É melhor me soltar – ela falou séria.


 


  -Você entendeu o que eu disse, novata? – ele insistiu apertando com mais força.


 


  -O nome dela é Claire – Pansy os interrompeu com a voz mais suave que conseguiu encontrar, passando a mão pelo ombro do amigo que retrucou com aspereza.


 


  -Não estou interessado em seu nome – ele disse ainda fuzilando Gina com os olhos que aceitara o embate de olhares raivosos.


 


  - Solta ela, Draco – pediu Zabini com um tom razoável. Pelo seu rosto, já estava acostumado com aquela cena, mesmo que não gostasse de assisti-la.


 


  -Espero que tenha entendido o recado – finalizou Draco, finalmente a soltando e dando as costas puxando Pansy com ele – Vamos logo, Blaise.


 


  Gina mal conseguia respirar, aqueles olhos pareciam perfurá-la. Foi muita sorte ou burrice dele não ter invadido a sua mente, já que ela estava tão assustada que nem tinha usado a Oclumência que andara praticando.


 


  -Olha, sinto muito por isso. O Draco anda muito estressado – Blaise tentou inutilmente defender o amigo enquanto Gina fazia um esforço sobre-humano para segui-lo como se nada tivesse acontecido. – Ele não é geralmente tão..


 


  -Babaca? – ela completou sem se reprimir. Blaise riu a contragosto.


 


  -Acho que podemos colocar dessa maneira. – ele concordou – espero que ainda queira sentar com a gente.


 


  -Hum, claro. Sem problemas – mentiu descaradamente. Tudo que ela menos queria era se trancar num espaço fechado com os três Sonserinos com risco de ser descoberta. Porém, se não se sentasse com eles, com quem mais sentaria? Ela não conhecia ninguém, pelo menos, não sabia quem Claire de fato conhecia. Afastar-se do grupo de Blaise só daria margem a erros, um luxo que não poderia bancar logo no início.


 


  -Não se preocupe com Draco, não vou o deixar ser um idiota com você – garantiu Zabini, não dando nenhuma garantia a Gina, com base no episódio de minutos atrás.


 


  -Certo – assentiu, puxando a mala e seguindo com raiva o rastro da arrogância de Malfoy, que abria lugar por onde entrava.


 


  Havia algo além da segurança fora de normal em Malfoy, refletiu enquanto ouvia Blaise contar animado sobre suas férias. Talvez ele realmente tivesse estressado. No entanto, Gina duvidara disso. Ele parecia aborrecido. Com o que, ela não fazia ideia. Era um Comensal, estava do lado em vantagem na Guerra, usufruindo de todas as regalias que sua nova situação podia oferecer.


 


  Suspirou contrariada, não passava de um menino mimado que nunca deu valor a nada. Infelizmente, para se vingar, teria que aturar a convivência com aquele ser. Com sorte, ele estaria tão ocupado em torturar a “raça inferior” que não daria atenção a ela.


 


  A viagem de trem se seguiu sem muitos problemas, com Draco conversando com Pansy e ela tentando manter uma conversa normal com Blaise. Foram distraídos com o carrinho de doces, agora servido por um homem com capa preta.


 


  -O que houve com aquela mulher que servia? – perguntou inocentemente antes de se xingar, lembrando que Claire tinha saído de Hogwarts há cinco anos.


 


  -Como se lembraria dela? Não saiu do colégio no segundo ano? – estranhou Malfoy, dando abertura para os olhares desconfiados.


 


  -Acho que eu só tenho uma boa memória, deve ser isso – ela se desviou da questão, voltando seu olhar a Zabini.


 


  -Se é assim, deve lembrar o que escondeu nas minhas coisas há um tempo? – ele perguntou com um sorriso cúmplice.


 


  -Sim, as sapatilhas – falou sorrindo, agradecendo mentalmente a Claire por ter mencionado o episódio que, por alguma razão, parecia tão especial. – Quem podia adivinhar que era um dançarino?


 


  -Tinha que ver a cara do meu pai depois que saiu – Zabini comentou franzindo a testa. – Acho que ele acredita que menti sobre aquilo até hoje.


 


  -Eu não duvidaria – disse Gina, prevendo como os pais daqueles sujeitos não deviam ser.


 


  -Se vocês pararam com a sessão-nostalgia, temos coisas importantes a tratar – interrompeu Malfoy, Gina reprimiu o desejo de revirar os olhos.


 


  -Como o que? – quis saber Pansy, repentinamente animada.


 


  -Vocês sabem que algumas pessoas conseguiram fugir da última missão que tive e estou tentando localizar eles – narrou Malfoy como se aquilo fosse óbvio. – Normalmente, eu não estaria compartilhando esse tipo de informação com uma completa desconhecida, mas como Zabini me garantiu que você é de confiança..


 


  Gina cruzou os braços, esperando impacientemente aquele discurso dele acabar. Blaise logo percebeu sua irritação.


 


  -Draco, prossiga – pediu.


 


  -Vocês lembram daquela velha maluca, Trelawney? – perguntou ele e os demais assentiram – Ela já estava há alguns meses em cativeiro, sem muita utilidade. No dia que os dois Weasleys conseguiram fugir, ela voltou a falar.


 


  -Ela profetizou alguma coisa? – perguntou Gina, subitamente interessada. As últimas palavras de Ron lhe vieram a cabeça imediatamente. “Ala de Mistérios”. De repente, estava grata de estar naquela cabine.


 


  -Sim, mas foi estranho, porque não há como isso ter acontecido. Ela falou..


 


 


 


Início de Flashback


 


 


 


  Draco e seu pai observavam a velha charlatã torcer sua cabeça violentamente. Os óculos caíram no chão e ela se contorceu outra vez.


 


  “Ainda vive a última dos Weasley. Ela será a ruína do mundo que hoje conhecemos, e junto com o Escolhido, acabará com o império de Trevas. Sua vingança terá ajuda inesperada e começará onde tudo começou?”


 


  Ela mordeu os lábios, tentando se impedir de continuar. Lucius se curvou para obrigá-la a falar, abrindo sua boca com as próprias mãos.


 


  -Onde tudo começou?


 


  “Onde tudo se constrói, onde tudo se aprende. O único lugar, onde Arte das Trevas sempre foi permitida.”


 


  -Quem a está ajudando?


 


  Trelawney repentinamente abriu os olhos e se ergueu cambaleante. Por achar que aquilo fazia parte da profecia, nenhum deles ousou azará-la. Ela olhou para a janela e antes de se atirar para fora, permitindo que seu corpo caísse entre os arbustos afiados cinco andares abaixo, gargalhou afirmando.


 


  “Nunca irão saber.”


 


 Fim do Flashback


 


 


 


  -Parece mais uma maldição – resmungou Pansy passando as mãos pelos braços arrepiados.


 


  -Infelizmente, uma bem real. A Weasley fêmea escapou e até agora, ninguém a encontrou – contou Malfoy preocupado. Gina torceu para que todos fossem estúpidos o suficiente para que não percebessem a verdade bem ali, parada de frente a eles. – Ela está aqui. Aqui em Durmstrang.


 


  -Como sabe disso? –perguntou Zabini.


 


  -Qual o único lugar onde se aprende, foi a primeira escola bruxa e sempre foi permitida Arte das Trevas?


 


  A pergunta retórica de Draco fez com que Gina abaixasse a cabeça quase imperceptivelmente fingindo ajeitar uma parte da blusa.


 


  -Parece muito quieta, Claire – observou Pansy.


 


  Gina procurou ser imparcial. Desviar-se da questão seria muito suspeito.


 


  -Parece-me burrice para uma fugitiva vir se meter logo na maior concentração de Comensais – disse sacudindo os ombros como se aquilo fosse óbvio.


 


  -Bom, ela nunca me pareceu tão esperta – falou Zabini e Gina mordeu a língua para não se defender. 


 


  -Burrice ou não, a profecia não é falha – comentou Malfoy pensativo.


 


  -Talvez Trelawney tenha tentado enganá-los - arriscou Gina.


 


 -E o que você saberia sobre isso, Lancaster? Logo você que andou sumida por anos – Malfoy retrucou, mostrando seu talento para a grosseria.


 


  -Nada, suponho – falou desviando os olhos para os campos verdes, fingindo que aquilo não lhe interessava. E que o seu coração não estivesse prestes a sair pela boca. Por sorte, ela havia se tornado uma ótima mentirosa.


 


  -Foi o que pensei – comentei Malfoy. – Não, ela está aqui, posso sentir. Mas não se preocupem, eu vou achá-la. E quando isso acontecer, terei o passaporte para a localização do Potter em minhas mãos.


 


  Gina fechou os olhos, simulando um cochilo. Ao que parecia, as ramificações de seu plano estavam se fechando, prendendo-a numa teia de aranhas perigosa. Não só precisava cumprir o que prometera a Claire e se vingar, como escapar de lá o mais cedo possível. Havia mais em jogo que seu próprios interesses, o mundo bruxo dependia de seu existência. E por mais que não gostasse do peso da responsabilidade em seus ombros, tinha consciência que não podia fugir daquilo como fugiu do massacre.


 


  Pensou nas palavras de Claire pouco antes de fechar os olhos e entregar sua identidade a ela.


 


  “Boa sorte.”


 


  Sim, ela definitivamente ia precisar de muita.


 


 


 


 


 


 


 


N/A: EBAAA!  Finalmente, veio tempo e ideias. Comentários foram bônus para mim e ajudaram a sair logo o capítulo. :)


 


A capa deve chegar em breve!


 


O nome do próximo capítulo é “Ritual de iniciação”. O que espera dele?

 Esse capítulo está em homenagem a Kiki, faz um ano que essa leitora mais que fiel se tornou amiga! Brigada a todas as conversas e palavras de apoio, Kiki :)


 


Acho que sai em uma semana, mas nada garanto já que tem outras para atualizar. Mais uma vez, obrigada a todos que estão acompanhando.

Resposta aos coments:

*Felipe S. - Aumentei os capítulos, espero que goste! Desculpe a demora, nem sei quanto tempo não posto essa fic HAHAHAH espero que continue acompanhando:) 

*Alice Absolut: Adorei saber que gostou, espero mais coments a respeito desse capítulo :)

*Dih Potter: EBAA, outra leitora! Tomara que acompanhe mesmo hehehe brigada por comentar, viu? 


 


Fui!

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Comentários (1)

  • Thamiris Santos Lupin

    sua fic é muito boa, estou adorando le-la, espero que  a gina encontre logo o harry ... e que Draco seja torturado até a loucura por Voldemort, ele não podia matar o tiao Artur =(..Não demore a escrever. beijos, sua fã 

    2015-01-12
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