Capítulo 1
"Oh Merlin, não acredito!". A mulher levantou novamente o jornal que havia em suas mãos. Com os olhos marejados, tentou reler o título da matéria do "Profeta Diário". Dessa vez só conseguiu distinguir as palavras "morte" e "Weasley" mas, nem se quisesse, esqueceria o que tinha acabado de ler. Arthur Weasley havia sido atacado por um bruxo das trevas. Depois da derrota de Voldemort, há quase cinco anos, vários de seus seguidores estavam tentando conquistar seu posto de "o mais temido", nenhum havia conseguido até então, mas estavam dando muito trabalho aos aurores, principalmente para Harry Potter, que havia se tornado o chefe do Quartel-General dos aurores.
Arthur era muito querido por Hermione, nunca conviveram tanto, mas a figura do homem era muito amorosa e reconfortante, era fácil gostar dele, se admirar com sua humildade. Ela tinha que ir. Ela tinha que voltar. Ela iria no enterro, era o mínimo que podia fazer. Mesmo no meio de uma missão, e tentando manter o seu "pequeno" segredo, seria egoísmo não prestar essa última homenagem àquele homem.
Sentiu uma tremida na barriga, baixou seus olhos até seu ventre, largou o jornal e começou a acariciá-lo. Com os olhos ainda marejados, sorriu.
- Nós vamos voltar. – anunciou para a própria barriga. – E você está já enorme, todo mundo vai te notar.
Hermione levantou com certa dificuldade, foi até seu quarto, um lugar muito arrumado e, por ainda ser manhã, muito claro. Parou em frente ao seu espelho e se analisou. Ficou um bom tempo se olhando, fazendo longas paradas em sua barriga. A gravidez havia deixado-a ainda mais bonita. Como era magrinha, não engordou muito, apenas ficou mais torneada, parecia que tinha crescido, como se isso fosse uma medida de segurança para se ter um bebê. E o rosto, delicado como sempre, estava mais bonito, radiante, combinando com o brilhoso castanho de seu cabelo. A própria bruxa mal percebera tais mudanças, havia desenvolvido muito sua vaidade desde a escola, mas ainda não sabia todo o potencial que tinha.
Uma coruja negra apareceu em sua janela. A mulher sorriu e seu coração acelerou, era uma carta, do Harry. Desde sua mudança para França, cada noticia de seus amigos era valiosa, fazia ela se sentir menos sozinha. Pegou a carta que havia sido trazida e deu um pouco de água e alimento para a ave.
- Você deve estar muito cansada, Alba – Fez um carinho na coruja – Voou quase a madrugada toda. Harry judia muito de você, ele acha que a Inglaterra é perto da França, mudaria de idéia se tivesse que vir voando. – Concluiu, sorrindo com o possível feito do amigo.
Sentou-se no sofá, e abriu a carta, já imaginando o que estaria nela.
"Mi,
Você deve ter ficado sabendo da morte do Arthur. Sei que você está em missão aí na França, mas acho que deveria vir para o enterro, que será amanhã à tarde. A Toca não está num clima muito bom, por isso acho melhor você vir para minha casa. Como não sei se você anda praticando aparatar para longas distâncias, tomei a liberdade de transformar essa carta em uma Chave de Portal, ela será ativada com a sua voz, basta dizer "Dumbledore" (Achei esse modo mais seguro, já que Alba poderia ser interceptada, o que faria meu inimigo vir direto para minha sala. E não diga que abuso da minha influencia no Ministério). Faça o que achar melhor, querida, sou seu chefe, mas você já está grande o suficiente para saber o que faz, se não puder vir, entenderemos, mas eu peço que tente voltar, pelos Weasley e por mim.
Saudades,
Harry"
Fazia um pouco mais de três meses que estava morando na França. Havia pedido um afastamento ao descobrir que estava grávida, sabia que correria riscos se continuasse em missões com os outros aurores, e agora, não era só com ela que tinha que se preocupar. Como Harry era seu chefe, não fora tão difícil conseguir tal regalia, o problema havia sido encontrar uma desculpa plausível para tal decisão, já que contar que estava grávida não era uma opção. Foi então que chegou a notícia que a salvou, o Ministério da Magia da França precisava de ajuda na investigação de rituais que estavam sendo muito utilizados por bruxos das trevas. Rituais esses que só possuíam registros escritos em runas, e que ninguém do Ministério havia conseguido traduzi-los inteiros. Hermione rapidamente se ofereceu para ajudar, alegando para Harry que, além de entender muito bem a escrita, estava muito cansada de lutar, que queria descansar seu físico e cansar seu intelecto. O amigo e chefe, sempre muito compreensivo, aceitou, mas não antes de lamentar horrores sobre a falta que ela iria fazer.
"Vocês vão conseguir sem mim" – Ela alegou, com um modesto sorriso nos lábios, mas com um certo medo transparecendo nos seus olhos, algo que não passou desapercebido por Harry, que estava sentado no outro lado da mesa.
"Eles vão conseguir sem você" – Disse o homem ao pegar a mão da amiga – "Você vai conseguir sem eles, mas eu não vou conseguir sem você."
Hermione tremeu ao se lembrar do olhar que o amigo a deu naquele momento, tão penetrante e ao mesmo tempo tão sincero. Ela sabia que ele estava tentando acalmá-la, já que a garota, sempre rodeada de amigos e familiares, iria morar em um país estranho, totalmente sozinha. A mulher achou graça, riu alto, uma risada gostosa e sincera.
-Harry ainda acha que sou uma criança! Mal sabe que essa criança terá outra criança. - De repente parou, sua face voltou a se tornar séria. – Ou melhor, ainda não sabe.
Ficou desesperada, tinha que pensar em algo, decidir o que iria falar para todos na Inglaterra. Ou apenas não falar, afinal, era sua vida.
Enquanto arrumava sua mala, decidiu, iria deixar rolar, ver o que acontecia, não adiantaria bolar um plano mirabolante. A escolha de sua roupa nunca foi tão demorada, queria estar bonita, além de disfarçar um pouco sua barriga. Ao fuçar no guarda-roupa inteiro concluiu, cansada: "Não tem como disfarçar uma barriga dessas!". Como era inverno, colocou uma blusa de frio preta e uma calça jeans, que antes era um pouco larga, mas que agora estava bem justa. Foi até seu espelho, viu que a blusa também estava justa, mas por ser preta, até deixava sua barriga mais discreta. Não achando o suficiente, colocou um cachecol vermelho. Vestiu sua bota preta sem salto e voltou ao espelho.
- Pronto. – Percebeu que tremia levemente - É agora ou nunca!
Foi até seu criado-mudo, pegou a carta. Respirou pesadamente, não tinha imaginado que voltaria naquela situação, estava nervosa, mais do que muitas vezes se sentira ao ir para uma missão. Mas não tinha mais o que fazer, pegou sua mala, a carta, e disse nitidamente: "Dumbledore".
Sentiu um puxão, teve a sensação de estar sendo sugada, e de repente sentiu o chão sob seus pés, e estava vendo quem mais queria, mas não do jeito que esperava.
- MERLIN! O que fizeram com você, Harry Potter?
- O que fizeram com VOCÊ, Hermione?
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