~prólogo~
Prólogo
Ou Invisible
Nem sempre fui um ótimo cara. Às vezes fui egocêntrico, teimoso e orgulhoso. Naquela manhã fria de novembro estava sendo o pior cara do mundo com a mulher da minha vida.
- Você não pode me abandonar – minha voz saiu rugida e ríspida.
Marlene, vestindo uma saia rosa-pink de pregas estilos anos 60, camiseta das The Runaways e um sapato alto, estava sentada no nosso sofá vermelho. Sua testa estava apoiada nas mãos, enquanto estas, por sua vez, eram sustentadas por seus joelhos. Sua coluna estava recurvada, como um bebê em posição fetal. Estava tão encolhida, que parecia estar naquela situação propositalmente; como se estivesse me repelindo, obrigando a me meter apenas ao seu lado, sem poder abraçá-la corretamente.
- Não o estou abandonando – ela resmungou baixo. Seu tom estava pesado, como se tivesse acabado de acordar.
Eu já tinha proferido tais palavras umas cinco vezes desde a entrada dela em nosso apartamento. E ela tinha me atirado a mesma resposta. Parecia estar exaurida, depois de me ouvir ser tão imbecil.
Bem, era claro que parte de mim estava muito orgulhosa dela. E queria que ela fosse para o Congo. Mas a outra metade, a que parecia estar lutando constantemente, como um animal selvagem, não conseguia aceitar sua partida. Essa parte louca de mim que não queria deixá-la, estava relevando ser a pior das partes já mostradas minha.
Não gostava de ser possessivo ou egoísta, mas muitas vezes esses sentimentos se afloravam e eu não os conseguia conter, principalmente tratando-se de Marlene.
- É o que está fazendo – enfatizei mais uma vez.
- Sirius... – ela levantou a cabeça, olhando-me paciente – Não torne isso pior do que já é.
- Ah é? Eu estou piorando tudo? Não foi você que acabou de me dizer que vai passar um ano longe de mim? – minha voz, por mais que eu a tentava controlar, não saia exatamente tranqüila. Eu mais parecia com um garoto mimado do que com o Sirius Black que todos conheciam.
- Não se faça de vítima, por favor – ela me aconselhou aborrecida.
A risada rouca nasceu ruidosa e incrédula. O quê? Como ela estava me acusando de ser uma vítima? Justo, eu, Sirius Black?
- Essa foi ótima, Marlene – eu disse.
Ela fez um silêncio. Talvez apenas estivesse escolhendo suas palavras.
- Achei que você fosse me apoiar – ela me falou, em um tom magoado.
- Eu a estou apoiando, só não quero que vá.
- Então, isso não é estar me apoiando, Sirius – sua voz saiu amarga, e eu me surpreendi.
Suspirei. Não gostava de brigar com ela. Marlene Mckinnon era o meu tudo. Não podia largá-la, tal como ela não podia me largar. Mas, aparentemente, ela queria me largar.
Sabia que era por uma boa coisa, no entanto meu cérebro apenas registrara a parte da conversa que ela disse sobre ficar oito meses ou um ano fora do nosso apartamento, longe de mim, a milhas de quilômetros.
Naquele momento, eu não estava nem aí para os bebezinhos do Congo. Eu apenas queria a minha mulher perto de mim.
- Marlene, não exagere – pedi ridiculamente.
Foi a vez dela de rir descrente.
- É, estou mesmo exagerando – ela falou sarcástica. Então, esticou a coluna, mudando, finalmente, de posição. Olhou para mim: - Olha, se não quer me apoiar, tudo bem. Achei mesmo que você não fosse aceitar muito bem essa nova condição da minha vida... mas não me culpe, okay? Acha que eu pedi para que isso acontecesse? Porque não pedi.
- Sei que não, Lene... – respondi baixo, pesaroso.
- É uma grande oportunidade. Você sabe que sempre quis fazer algo mais humanitário do que costumeiramente faço e essa viagem é um sonho para mim.
- Eu sei, Marlene. Eu sei – perdi a paciência e disse em um tom muito enfurecido – Mas por que tanto tempo? Por que você não pode apenas passar duas semanas ou um mês lá? Por que quase um ano?
- Por que faz parte do projeto do hospital, Sirius – ela me explicou cansada. Já tinha me dito isso três vezes, eu tinha certeza, mas eu apenas não queria ouvir.
- E por que tem que ser justo você? Não existem outras pediatras no hospital, por acaso? – meu tom aturdido estava me incomodando, mas não conseguia me livrar dele.
- Existem, mas o projeto abrange o meu departamento inteiro. Não posso deixar de comparecer só porque meu namorado acha que vai me perder.
Senti-me enfrentado e magoado.
É, e daí que eu estava mesmo com medo de perdê-la? Isso fazia de mim um cara desmerecedor de sentimentos?
- Não diga assim – falei rápido, grosseiramente.
Marlene voltou a descansar a testa nas palmas das mãos.
- Podemos não falar sobre isso até a semana que vem? – perguntei.
- Semana que vem eu estarei em outro continente – ela me lembrou.
Meu coração se esmigalhou, enfadado e embolorado.
- Ótimo – olhei para ela com ódio e me retirei da sala, deixando-a sozinha.
Nos dias posteriores àquela conversa, eu fingi que estava bem. Sorria, ria, mas estava fingindo. Não queria que aquela terça-feira se aproximasse. Marlene seria arrancada de meus braços, e eu não tinha feito nada para merecer aquilo.
Visitamos seus lugares preferidos da cidade, comemos cachorro-quente, algodão-doce e maçã do amor. Parecia estar tudo nos conformes. Mas eu não conseguia me esquecer daquela terça-feira. Ela me separaria da minha menina. Poderia existir coisa pior? Bem, okay, poderia. Ela poderia nunca mais voltar, mas não eu não queria cogitar possibilidades. Elas me destruiriam.
Na noite anterior à sua partida, estávamos enrolados nos lençóis, olhando um para o outro, em silêncio. Eu apreciava o silêncio junto a Marlene. Ás vezes, quando encontramos a pessoa da nossa vida, silêncios são prolongamentos de conversas baixas.
- Por que está tão sério? – ela me perguntou, passeando seu dedo indicador por meu nariz.
- Por que pergunta se já sabe a resposta? – rebati, tranqüilamente.
Ela permaneceu no encarando e sorrindo. Mas esse sorriso estava morto. Apenas estava lá, tentando mascarar seus sentimentos.
- Você sabe que não vai me perder – ela me assegurou.
- E se você se apaixonar?
- Não irei me apaixonar. O cara de quem preciso está completamente apaixonado por mim. Eu seria uma idiota se o largasse – seu sorriso se coloriu fracamente.
- Eu estou falando sério, Marlene – falei.
- Pare de ser inseguro, Sirius – ela franziu a testa e sua face ficou carregada.
- E se eu me apaixonar? – comentei.
- Atravesso o Oceano Atlântico a nado especialmente para chutar a sua bunda – ela riu, encaixando sua cabeça por entre meus braços.
- Agora estou bastante confortado - balbuciei.
- Pare com isso, Six – ela mandou, com a voz melosa – Nada vai mudar, prometo.
- Mas e se m...
- Cale a boca e me beije, okay? Só isso – ela me disse.
Beijei-a, mas não me senti melhor.
Na manhã do dia seguinte, quando despertei, Marlene já estava de pé, arrumando-se.
- Bom dia – ela me disse, abrindo um sorriso. Colocava os brincos rapidamente.
Olhou-se no espelho e passou as mãos sobre o vestido de outono, florido.
- O que acha? – ela me perguntou, obviamente esperando uma resposta por sua vestimenta.
- Que você poderia não viajar e fazer amor comigo a manhã toda – respondi.
Ela riu baixo. Apoleirou-se ao meu lado e passou as mãos pelo meu cabelo.
- Não seja um garoto cruel – ela me falou.
- Só quero aproveitar os últimos minutos com você – supliquei.
- Se eu pudesse o levava junto, mas não é permitido familiares – ela suspirou, abaixando seus lábios até os meus.
- Promete que não vai me esquecer? – indaguei-lhe.
- Se eu me esquecesse de você, não saberia quem eu sou – Marlene sorriu doce.
Em seguida ela me apressou. Queria que eu a levasse até ao aeroporto.
Seria difícil. Não queria deixá-la partir tão facilmente.
Já no saguão de embarque, prometi:
- Eu a amo.
- Sei que sim, Six – com seus olhos marejados, ela me disse – Sabe que você é o melhor cara do mundo, certo? Você é o meu garoto – pontuou a frase com outro sorriso.
Eu não ia mais suportar.
- Não quero perdê-la – sussurrei.
- Ligarei assim que pousarmos, okay? – sugeriu ela.
- Tudo bem.
Abracei-a. Beijei-a. Então, vagarosamente, nossos corpos perderam contato, e eu só sentia o vazio me abraçar.
- Eu a amo – repeti.
- Nunca duvidei disso. Eu o amo também. Mais do que tudo – Marlene me contou.
Então, ela se foi.
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N/a: Olá, meu amores. Eu, aqui, mais uma vez postando mais uma fic. Eu deveria parar de me inspirar em tudo o que está a minha volta, porque acabo me enrolando para escrever tantas histórias diferentes ;/ Bem, é isso. O prólogo é um pouco babaca e pequeno, mas foi o que consegui escrever. Comentem, que o capítulo um logo sai (: Amo vocês.
Nina H.
19/01/201
Comentários (2)
Adorei! Que coisa mais fofa :)
2011-11-03Owwnt! *--* Nina, Nina... esse Sirius apaixonado e inseguro me mata um dia, sabia? Remembering Sunday nem é uma música perfeita. S/M nem é o casal perfeito. Sua escrita neeeem é perfeita... ^^ AMANDOO! *__________*
2011-05-11