Os destroços

 

 

A sala comunal estava vazia e silenciosa. Hogwarts inteira agora estava mergulhada num silêncio perturbador.

Rony maneou a cabeça para o lado e viu alguns destroços pelo chão, uma sensação de nostalgia o fez apertar os olhos com força. Depois de meses, ele finalmente se sentia, de algum modo, em casa, mas ao contrário do que imaginava isso não o fazia feliz.
 

A maior parte das pessoas havia ido embora, mas ele ainda estava ali, não sentia vontade alguma de ir a qualquer outro lugar naquele momento. Seu corpo doía, cada osso seu parecia ter sido quebrado em milhares de pedaços, mas isso definitivamente não importava. A dor que sentia nas costas e nas costelas não era nada se comparada a dor que comprimia seu peito.

Fechou os olhos e uma lágrima escorreu silenciosa. Sua cabeça também doía, precisava descansar, seu corpo estava no limite, sabia disso, mas sentia-se incapaz de dormir. Tinha a sensação de que nunca mais seria capaz de sorrir, ou de sentir algum tipo de alegria.

Ouviu um barulho, alguém estava entrando na sala, mas ele se recusava a abrir os olhos.

Sentiu mais algumas lágrimas quentes escorrerem pelo rosto, e não teve forças nem mesmo para se amaldiçoar por elas estarem denunciando seus sentimentos a quem quer que estivesse entrando na sala.

- Rony. – A voz atingiu seus ouvidos como o mais doce dos alentos. E ele se deu conta que estava enganado ao pensar que nunca mais seria capaz de se sentir feliz. Hermione estava viva, e seu coração reagia ao som da voz dela, vibrando contra seu peito.

Abriu os olhos ao sentir os dedos delicados limparem as lágrimas que manchavam seu rosto. Um arrepio percorreu-lhe o corpo, causando uma estranha sensação de conforto e bem-estar. Notou que ela também tinha o rosto manchado por lágrimas e os olhos vermelhos e inchados.

Hermione deixou que seus olhos se perdessem na dor que havia naqueles olhos azuis que tanto amava, incapaz de pensar em algo para dizer naquele momento. Ficou de joelhos, diante da poltrona em que Rony estava sentado, e fez a única coisa que poderia fazer, abraçou Ron sem reservas, depositando naquele gesto todo o carinho e conforto que o ruivo precisava.

Passado o susto inicial, ele a envolveu com os braços, apertando-a contra seu peito o mais forte que pode, sentindo mais lágrimas deslizarem pelo seu rosto. Em outro momento, estaria se culpando por estar sendo tão fraco, por estar expondo tão abertamente seus sentimentos, mas Hermione era sua melhor amiga, era a garota da sua vida, e ele não temeria que ela o julgasse fraco por estar chorando a morte do seu irmão.

Ficaram um longo tempo em silêncio, sentindo o calor e o conforto dos braços um do outro.

Rony alisou os cabelos fofos dela, que incrivelmente ainda exalavam um cheiro levemente doce que o transportava para um outro mundo, onde a única coisa que importava era Hermione Granger.

- Estou cansada. – Ouviu a voz fraca dela, e afastou-se para poder olhá-la nos olhos. 

A exaustão, que os últimos meses tinham provocado, era evidente no rosto de ambos.

Rony queria tanto ter evitado todo aquele sofrimento, toda a dor que ela havia vivenciado ao longo daquele ano, mas não fora capaz. Hermione estava magra, abatida, tinha cicatrizes pelo corpo.

Uma onda de pânico o fez abraçá-la mais uma vez. Merlim, o que seria dele se tivesse perdido Hermione?

- Me perdoa. – Hermione pareceu assustada ao ouvir o tom de voz aflito, quase desesperado de Rony. Empurrou o garoto, erguendo-se do chão, e sentou ao lado dele.

- Perdoar você? Pelo que Ron? – Seus olhos incrédulos fitavam a face angustiada do garoto.

Rony engoliu o bolo que se formou em sua garganta, e mais uma vez as lágrimas estavam lá, rolando pelo seu rosto sardento. –Eu... – um soluço escapou, causando certo pânico em Hermione. Ela nunca o vira tão frágil e infeliz.

- Ron, por favor... – pediu desesperada, as lágrimas caindo copiosamente.

- Hermione, eu... eu não fui capaz de impedir que você fosse torturada por aquela vaca da Belatriz – ele passou os dedos pela cicatriz em que se lia sangue-ruim no braço da garota. Não sabia por que isso de repente o causava tanta dor. Todas as lembranças ruins pareciam invadir seus pensamentos naquele momento.  A voz de Harry ressoou em meio às lembranças “Ela chorou por semanas.”

- Ron, olha para mim? – Ela pediu suave, colocando sua mão sobre a dele. – Você salvou a minha vida aquele dia.

- NÃO, eu... foi Dobby quem salvou nossas vidas, e ele... e ele – Rony parecia incapaz de controlar o choro desesperado que fazia seu corpo sacudir violentamente. – Dobby está morto, FRED ESTÁ MORTO! – Gritou desesperado em meio ao choro descontrolado.

- Ron... não é culpa sua – Hermione segurou o rosto do garoto com as duas mãos, fazendo com que ele olhasse para ela, sentindo a dor dele rasgar seu coração.

- Por que o Fred, Mione? Por quê?

- Eu... eu não sei, Ron! – Ela sabia que Rony esperava por uma resposta que o fizesse se sentir melhor, que explicasse porque aquele horror estava acontecendo com sua família, mas ela não sabia, não tinha uma explicação para confortar o coração de Rony! Com um suspiro triste, ele levantou, se afastando dela.

- Você estava com Gina e Harry antes de vir para cá? – Mudou de assunto, querendo controlar sua dor.

- Sim. – respondeu temerosa.

- E como ela está? – Ela notou que ele se esforçou para não voltar a chorar.

- Precisando de você. – Hermione levantou e andou até ele. – Ron, você vai precisar ser forte, Gina, sua mãe, elas precisam de você.

Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos. – Eu sei. – Disse por fim, num tom cansado. – Eles já foram?

- Sim, e Harry foi com eles, Gina, praticamente, o obrigou a ir. – Ela deu um sorriso triste. – Prometi a sua mãe que cuidaria de você – confessou envergonhada - e nós realmente precisamos descansar – disse entrelaçando seus dedos aos de Rony; não sentiu medo de ser rejeitada, sabia o quanto precisavam um do outro, não havia mais espaço para dúvidas.

Rony lhe devolveu o sorriso triste, e apertou com força a mão dela na sua.

 

.................

 

Era inacreditável que os dormitórios ainda estivessem em condições habitáveis, e Rony agradeceu intimamente que pudesse deitar em uma cama.

Hermione soltou sua mão, parecendo de repente tímida e tensa.

- Vou para o dormitório das meninas, boa noite, Ron. – Ela ficou na ponta dos pés e lhe beijou o rosto; exatamente como fizera no quinto ano, antes do primeiro jogo de Rony como goleiro pela Grifinória.

- Hermione – chamou assim que ela lhe deu as costas. Ela se virou, encarando-o com as bochechas coradas. – Fica comigo essa noite?! – Rony sentiu sua voz falhar, seu coração de repente começou a bater num ritmo frenético; e o temor da resposta o fez sentir as mãos suarem frio.

Ela abriu a boca uma ou duas vezes, parecendo incapaz de dizer alguma coisa. Por fim, apenas acenou positivamente com a cabeça, entrando no dormitório com ele.

- Er... Acho que posso dormir na cama do Harry. – Disse tentando disfarçar seu nervosismo, sentando na beirada da cama do amigo.

Rony não disse nada, apenas a fitou por alguns instantes; os olhos azuis a perfuraram com tanta intensidade que a fizeram se sentir tonta e desestabilizada.

 

...

 

O horror de horas atrás não o deixava dormir, sua cabeça continuava latejando dolorosamente. Os gritos e o pânico ainda estavam presentes e pareciam ecoar em seus ouvidos.

Rony passou as mãos pelo rosto, seria bom se pudesse dormir e no dia seguinte, ao acordar, descobrir que a morte de Fred havia sido apenas um doloroso pesadelo. Hermione se mexeu na cama de Harry, chamando sua atenção.

Virou a cabeça, e ficou alguns longos minutos a observando. Os cabelos dela ainda estavam úmidos, espalhados pelo travesseiro. O rosto cansado parecia finalmente ter encontrado descanso. Rony não pareceu pensar ou ponderar seus atos, apenas se levantou, acomodando-se, em seguida, na cama ao lado. Ela se mexeu novamente, aconchegando-se a ele, mas não acordou, e Rony respirou aliviado. Passou os dedos pelos cabelos, estavam macios e cheiram tão bem. A pele agora limpa parecia ainda mais machucada.

Hermione havia se sacrificado mais do que qualquer um, ele sabia disso, mas ela nunca reclamou, nunca fraquejou.

Rony sentiu o braço de Hermione pousar sobre sua barriga e ela se aproximou ainda mais, a respiração calma e morna dela batia contra seu pescoço, e uma sensação desconhecida percorreu cada célula do seu corpo. Afastou um pouco o rosto, notando o quão próximo os lábios de Hermione estavam.

Passou os dedos delicadamente pelo rosto dela, notando que havia um corte muito grande próximo a sobrancelha.

Hermione abriu os olhos lentamente, ainda sonolenta, encontrando os de Rony a fitando assustados.

- Ron... o quê? – Ela o olhou sem entender.

- Eu preciso sentir que você está viva para poder dormir. – Disse num ímpeto, sem temer a reação dela. Notou o olhar intrigado que ela lhe dirigiu, e sem pensar aproximou seus lábios dos dela. O beijo começou calmo, diferente do que haviam trocado mais cedo, em meio a batalha. Primeiro um leve roçar de lábios, uma descoberta lenta de gosto, textura... Hermione fechou os olhos, deixando-se levar por sensações desconhecidas que a faziam esquecer todas as dores e angústias.

Separaram-se ligeiramente ofegantes depois de o beijo ter se tornado urgente e intenso. Rony colou a testa na dela, segurando seu rosto entre as mãos.

- Obrigado, Hermione. – sussurrou ofegante.

Ela abriu os olhos, encontrando os azuis marejados de Rony a fitando.

- Pelo que, Ron? – Perguntou sem entender, enquanto sentia seus batimentos desacelerarem lentamente.

- Por estar viva. – Uma lágrima rolou pelo rosto do garoto, e Hermione não foi capaz de conter as suas. Beijou levemente os lábios do ruivo, voltando a se aconchegar contra o peito dele.

Naquele momento, uma onda quente percorreu o corpo dela, aquecendo seu peito, como se fosse o primeiro gole de uma xícara de chá quente, deixando claro que tudo ficaria bem.

- Boa noite, Ron. – sussurrou baixinho, sentindo-se culpada por estar feliz.


 


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N/A: Então, só mais uma tentativa de imaginar o que aconteceu após a batalha. Sei que a oneshot está longe de ser algo digno de Ron e Hermione, como todas as minhas fics, na verdade; às vezes fico pensando no desespero da J.K. se descobrisse o que faço com a história brilhante que ela criou...rs...; e, bem, peço desculpa aqueles que chegaram ao fim da fic e pensaram na perda de tempo que foi ter lido!
 
Quero mais uma vez agradecer imensamente a minha Beta, Viviane Barreda, que ultimamente tem contribuindo, e muito, para que as minhas Fics fiquem menos terríveis. As outras betas que me desculpem, mas a minha é mais Bloody Brilliant! :)

E obrigada a todos que leram! Um grande beijo!
Dieimi Somers.

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