capítulo único
Miss Invisible
Heres a girl
Who sits under the bleachers
Just another day eating alone
And though she smiles
There is something just hiding
And she cant find a way to relate
Sobreviver à sociedade não era uma coisa muito fácil. Máscaras, personagens, as pessoas sempre encontram um jeito de sobreviver. Talvez seja por não usar uma máscara, ou não inventar um personagem que Marlene era invisível. Sentada em baixo da árvore no pátio da escola, com fones de ouvidos, a garota morena, com cabelos longos e olhos incrivelmente grandes tentava ler. Ela suspirou baixinho ao perceber que o mocinho do livro iria cair em mais uma armadilha do vilão. Lene olhou ao seu redor e percebeu que não tinha ninguém, olhou no seu relógio e viu que o sinal já havia batido faz tempo. Sempre que mergulhava em seu próprio mundo ela perdia a noção do tempo. Saiu correndo, tropeçando em seus próprios pés e entrou na sala de aula. Ninguém a olhou, muito menos a professora que gritou imediatamente.
- Cadê a garota do piano? – Aula de teatro, a professora era muito excêntrica, sempre inventava um novo jeito de apresentar Shakespeare para a plateia. Hamlet já tinha virado um marinheiro, Romeu um vagabundo e Julieta uma prostituta. Marlene sentou e começou lentamente tocar piano. Villa Lobos, O gatinho de papelão, sorriu com a melodia, o piano sempre a acalmava, mas preferia Ludwig van Beethoven. Seus dedos deslizavam no piano. Parou subitamente na hora em que ouviu um grito. – Cadê a Srta. Evans?
- Ela faltou hoje. – informou uma loira, Lene suspirou e colocou os seus fones, a professora iria passar o resto da aula reclamando da irresponsabilidade dos alunos. E fora como o previsto a professora não calou a boca até o último segundo de aula. Todos saíram da sala de aula, Marlene continuou lá, o seguinte período agora era educação física, ninguém iria sentir falta dela lá, ela começou a tocar Beethoven, suspirou fundo e segurou-se para não chorar. Não era nada fácil ser invisível, sempre que chegava em casa sua mãe pedia como tinha sido o dia na escola. Marlene não tinha outra saída e inventava histórias mirabolantes, dizia como a garota mais popular do colégio, Lily Evans virou sua amiga e que agora ela estava bem. Sua mãe não dizia nada, não discordava, apenas sorria. Ela sabia que era mentira, sabia que sua filha era solitária, mas nunca pediu para que ela falasse a verdade. As duas viviam em uma fantasia e nenhuma das duas gostaria de acordar.
Marlene continuava a tocar, sem perceber uma presença na sala. O homem aparentava ter uns vinte e três anos, olhos incrivelmente azuis e cabelos bagunçados. Ele observava a garota com uma certa curiosidade, sorriu ao reconhecer A Nona Sinfonia e Beethoven, quando ela terminou, limpando as lágrimas ele começou a bater palmas, Marlene olhou para trás assustada, não esperava companhia. O homem sorriu e se aproximou.
- Você toca muito bem. – ele falou com um sorriso, ela estava sem palavras, apenas encarava os intensos olhos dele. Uma lágrima involuntária rolou pela sua face, o homem parou de sorrir. – Porque você está chorando?
- Por... porque as glândulas lacrimais têm a função de lubrificar os olhos. Diante de uma emoção elas têm um estímulo que produz lágrimas. – a menina falou rapidamente, ele riu, de todas as respostas que esperava essa era a última. Ele levantou sua mão para cumprimentá-la.
- Sou Sirius Black, o novo coordenador da escola. – Marlene timidamente o cumprimentou.
She just goes unnoticed
As the crowd passes by
And she'll pretend to be busy
When inside she just wants to cry
She'll say...
- Marlene Mckinnon, aluna. – Sirius sorriu, ele tinha um sorriso incrível, Marlene estava ficando vermelha, pegou sua mochila e secou suas lágrimas.
- Você não deveria estar em aula? – ela assentiu e saiu aos tropeços da sala de aula. Pela primeira vez em anos alguém realmente falou com ela, não apenas para pedir uma borracha emprestada, ou para mandar sair da frente. Pela primeira vez alguém se incomodou em pedir seu nome. Ela sorriu, talvez tenha sido apenas compaixão da parte dele, ver uma garota sozinha e pedir se ela estava bem, ou talvez ele iria apenas xingá-la, pois não estava na aula. Ela não sabia, mas estava feliz, anos não se sentia assim. Quando chegou em casa conversou com sua mãe, pediu da vida dela, como ela estava. Desde que seu pai morrera ela não falava direito com sua mãe. Mary já tinha levado sua filha para vários psicólogos, mas a resposta era sempre a mesma: É apenas tímida, com um impacto desse só o tempo passaria. Foi o único dia que Mary não pediu sobre seus amigos, o único dia que Marlene não mentira.
Take a little look at the life of Miss Always Invisible
Look a little harder, I really really want you to put yourself in her shoes
Take another look at the face of Miss Always Invisible
Look a little harder and maybe then you will see why she waits for the day
When you'll ask her her name
- Você sempre almoça aqui? – pediu Sirius a garota, que levou um susto tirando os seus fones de ouvido. Os dois se encontravam embaixo da arquibancada, ela o olhou assustada. – Desculpe, não queria te assustar.
- Você pergunta demais. – ela falou finalmente, mordendo o seu sanduíche e vendo ele sentar ao seu lado, rindo. – Mas sim, eu sempre almoço aqui.
- E suas amigas? – ele pediu, ajeitando o seu casaco. A garota subitamente ficou quieta e ele entendera, ela não tinha amigas. – Posso lhe fazer companhia?
- Você já está. – a menina sorriu tímida. Sirius não sabia o porque, mas estava intrigado com o comportamento daquela garota, nunca vira alguém que ficasse mais vermelha que ela e frequentemente. – Qual é a sua história?
- Minha história? – ele repetira a pergunta e ela só assentiu com a cabeça, mordendo mais um pedaço de seu sanduíche. – Eu estou aqui como coordenador da escola, é um estágio para terminar minha faculdade e meus pais acham que eu sou um desperdício de espaço no mundo. E a sua?
The begining, in the first weeks of class
She did everything to try and fit in
But the others they couldnt seem to get past all the things that mismatched on the surface
- Eu tenho dezoito anos, sem amigas, toco piano desde os quatro e moro só com a minha mãe e pretendo ser música. – ela sorriu, ofereceu para ele sua água ele tomou um gole.
- E o seu pai? – Sirius pediu, devolvendo a água. Marlene suspirou.
- Morreu quando eu tinha seis anos. – Ela encolheu os ombros, Sirius logo se arrependeu de ter falado.
- Sinto muito.
- Não, não sente, mas tudo bem. – ela sorriu dando sua última mordida no sanduíche.
- E porque você não tem amigas? – Sirius passou a mão em seus cabelos, tentando ajeitá-los.
- Você tem certeza que não é o psicólogo da escola com todas essas perguntas? – ela pediu se levantando, pegando sua mochila, ele riu com a pergunta.
- Absoluta, sou apenas um coordenador tentando conhecer uma aluna. – Sirius se levantou também, limpando suas vestes.
- Eu não tenho amigas por que... Eu não sei por quê... – ela pensou um pouco antes de continuar. - ... Não sei mesmo, eu me faço essa pergunta desde a segunda série.
- Talvez você devesse tentar fazer amigas, comece puxando um simples oi e seja você mesma. Tenho certeza que elas vão gostar de ti. – ele sorriu, com certeza ele tinha gostado dela. Se pelo menos tivesse a conhecido em sua época. Marlene assentiu, os dois seguiram para a escola, já havia batido. Por um motivo desconhecido todos começaram a olhar os dois a medida que eles se aproximavam da escola. Marlene sentiu suas bochechas ficarem vermelha, se despediu de Sirius e começou a correr para sua sala de aula, era teatro de novo. Ela entrou na sala e todos continuavam a encará-la, Lene sentou rapidamente em seu lugar. A professora entrou fazendo um estardalhaço, olhou ao redor e seus olhos pararam em uma ruiva.
And she would close her eyes when they left and she fell down the stairs
And the more that they joked
And the more that they screamed
She retreated to where she is now
And she'll sing...
- Srta. Evans, que bondade a sua de aparecer em minha aula, sendo que a senhorita é a personagem principal desse espetáculo! – falou a professora histérica. A ruiva apenas revirou os olhos e foi ao seu lugar. Marlene começou a tocar, fechou os olhos, parecia que ela via as notas em sua mente, sorriu, isso a acalmava, era a sua melhor terapia. No final da aula, Marlene ficou sentada ainda em seu piano, a maioria dos alunos estavam saindo da sala.
- Você toca muito bem. – Marlene ouviu uma voz feminina, ela se virou e viu Lily Evans parada a encarando, sorrindo. – Acho que nunca fomos apresentadas antes, Lily Evans.
- Marlene Mckinnon, na verdade é a quinta vez que você se apresenta para mim esse ano. – Marlene ficou vermelha ao falar isso e pegou sua mochila, Lily se limitou a rir.
- Eu e minha memória, que aula você tem agora? – pediu a ruiva, com um sorriso amigável, Lene não conseguia acreditar no que ouvia, nem que estava falando com a garota mais popular da escola.
- Literatura. – respondeu sorrindo, passando as mão em seus cabelos.
- Eu também! Que coincidência, Lene. Posso te chamar de Lene? – Marlene só assentiu e seguiu Lily pelos corredores, agora sim as pessoas a olhavam mais intensamente. Marlene avistou Sirius e sorriu, ele acenou e sorriu discretamente ao ver a menina com uma amiga. Talvez tenha sido por causa dos rumores que logo surgiram quando as pessoas a viram saindo das arquibancadas com ele, ou talvez não.
Fazia algumas semanas e Lene já havia feito uma amizade, uma só amizade, mas era um começo. Na realidade, Sirius poderia ser considerado o seu amigo também, então já eram duas amizades. Não precisava mentir para sua mãe agora sobre realmente ser amiga de Lily Evans, poderia contar a verdade. Lene ainda não tinha perdido o hábito de almoçar embaixo da arquibancada, com seus fones de ouvidos ela canta baixinho junto com a Taylor Swift.
Take a little look at the life of Miss Always Invisible
Look a little harder I really really want you to put yourself in her shoes
- Acho que estou começando a gostar daqui. – falou Sirius, segurando um sanduíche também e sentando-se ao lado de Lene. A garota tirou os fones e sorriu. – Porque você não está em uma mesa como qualquer pessoa normal almoçando?
- Eu não sou normal. – Sirius riu definitivamente ela não era normal, ele abriu o seu sanduíche e deu uma mordida. – Está gostando de ser coordenador?
- Para falar a verdade, nem um pouco. – Lene riu, iria se admirar se ele tivesse falado sim, ela assentiu e ofereceu novamente água para ele. – Mas eu já estou terminando meu estágio, essa semana é a minha última.
- Mesmo? – ela não pode deixar de sentir uma pontada, iria perder mais uma vez alguém.
- Sim, mas não pense que se livrará de mim assim tão fácil. – ele falou rindo, Lene ficou vermelha quando sentiu a mão de Sirius ajeitando seu cabelo.
- E nem quero. – Lene guardou se sanduíche e começou a arrumar suas coisas. – Tenho que ir, preciso praticar, a apresentação do teatro será nessa sexta.
- Se importa se eu for junto? – Lene balançou a cabeça negativamente e levantou-se, os dois foram para a sala de aula. A essa altura as pessoas já estavam acostumadas de os verem juntos. Lily acenou de longe para Lene, que retribuiu, para falar a verdade não almoçava com Lily, pois não era muito bem vinda por suas amigas, podia jurar que elas sentiam ciúmes de sua nova amizade. Marlene sentou e largou sua mochila, Sirius pegou uma cadeira e ficou atrás da garota, mantendo a distância, ele não queria a distrair. Marlene suspirou e começou a tocar lentamente Villa Lobos, Sirius a admirava. Ele não queria admitir, mas sentia uma atração pela menina. Seus pensamentos voaram enquanto ela tocava, sua mente lutava contra sua vontade de convidá-la para sair. Suspirou fundo, não podia, pelo menos não enquanto trabalhasse ali. Ele terminou de comer seu sanduíche, olhou para seu relógio e faltava apenas dez minutos para bater, levantou da cadeira e a colocou em seu lugar. Marlene parou de tocar e ficou encarando seu piano, por algum motivo Sirius a deixava nervosa.
Take a little look at the face of Miss Always Invisible
Look a little harder and maybe then you will see why she waits for the day that you will ask her...her name
- Eu tenho que ir. – ele falou e a garota sem olhar para trás assentiu, ela era um mistério para ele. – Uma moeda por seus pensamentos.
- Eu... Eu vou sentir sua falta. – Lene falou timidamente, ele sorriu e sentou ao seu lado, no piano, ela ficou vermelha.
- Eu também vou sentir sua falta. – Sirius respondeu, deu-lhe um beijo doce em sua bochecha. Seu corpo queria que esse beijo tivesse sido em outro lugar, mas antes que fizesse algo se levantou e saiu da sala, deixando-a ali, com seu piano.
A semana passou voando, os ensaios do teatro ficaram cada vez mais intensos. Lily iria ser uma ótima atriz, todos sabiam disso. Marlene ficava depois da aula para ensaiar, nunca admitiu isso para ninguém, mas sentia medo de enfrentar uma plateia. Sexta feira amanheceu chuvosa, desde manhã cedo Marlene tinha a sensação de que iria passar mal, mas sobreviveu ao dia. Antes de sair de casa com sua mãe, Lene se olhou no espelho. Nunca tinha usado um vestido tão bonito como esse, preto, tomara que caia, simples, mas lindo. Chegaram no teatro da escola e estava lotado, Marlene foi aos bastidores e ficou suspirando fundo a cada cinco minutos. Na multidão apenas reconhecia sua mãe e Sirius, ela suspirou pela última vez ao ver como ele estava lindo com seu terno preto, camisa branca e gravata preta. Era errado pensar nisso, ela logo começou a pensar em Villa Lobos. Ela seria a primeira a entrar no palco e sentar em seu piano, ela segurou firme sua respiração e não conseguiu não ficar vermelha quando ouviu os aplausos quando entrou. Marlene fez uma reverência e logo se sentou em seu lugar. Fechou seus olhos como de costume e começou a tocar O gatinho de papelão.
Para ela passaram cinco minutos, para o público uma hora. Todos levantaram e aplaudiram o espetáculo, Lene não deixou de sorrir quando Sirius piscou para ela na plateia. Ela não suspeitava, mas depois do espetáculo Sirius iria a convidar para sair, ela iria aceitar é claro. Afinal, ele foi o único que a viu quando era invisível, o único que conseguiu fazer com que ela tivesse coragem e conversasse com alguém. Ela também não sabia que iria se apaixonar por ele, nem Sirius sabia que ia lhe acontecer o mesmo. Talvez tenha sido o destino, ou coincidência, ou apenas a vida que aconteceu com Marlene, mas nos próximos anos ela não iria chorar. Marlene apenas iria sorrir e quando lhe pedisse porque estava sorrindo, iria responder:
- O sorriso estimula a produção de endorfinas, analgésicos naturais do corpo e agentes da sensação de bem-estar que ajudam a aliviar o estresse.
And one day just the same as the last
Just the days been in counting the time
Came a boy that sat under the bleachers just a little bit further behind...
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Comentários (1)
Muito boa parabéns!
2011-03-15