Antes das Seis - Mila Alice
FIC: Antes das Seis
Autora: Mila Alice
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Antes das Seis
Prólogo.
Quando não se tem tempo a perder. Quando as consequências chegam, enfim. Quando o amor passa a ser uma ameaça à vida. Quando no jogo se assume perder ou morrer. As horas discorrem insensíveis e impassíveis, simplesmente seguindo seu rumo. Por que então se pode achar que dá para fugir do próprio destino?
E se você tivesse uma hora marcada para pôr fim a tudo? Ou melhor, e se tivesse hora para o fim chegar, simplesmente impondo as regras? Não haveria tempo a perder.
A história de uma traição... (Não se pode confiar nas trevas...) De uma brincadeira de mau gosto do destino... (O que há de acontecer sempre acontece, independente das circunstâncias...) A história de como Marlene e Sirius decidem o rumo de suas vidas.
As horas discorrem... O tempo não volta... Não há mais o que perder.
Antes das Seis
O sorriso dele sempre encheu o ar em volta, num som agradável e macio. Sua gargalhada debochada sempre nos momentos mais imprescindíveis adora me irritar. Este deve ser seu passa-tempo favorito, eu acho. Eu aprendi a adorar isso.
Podem falar o que for, mas... Não acho que estejamos em tempo de pensar muito nas coisas... Ele é Sirius Black, e eu Marlene Mckinnon, isto basta. Basta, finalmente, depois de tanto tempo travando uma guerra desnecessária com o homem mais pertinente e incrível que já conheci. Sim, por que nunca vou me esquecer o quanto eu odiava aquele maroto sem-vergonha que sempre fazia as piores coisas, mas acabava numa boa ao final. E, por incrível que pareça, nas situações mais constrangedoras que as artimanhas dele já provocaram, ele sempre dava um jeito de eu acabar metida no meio. Foi assim que começamos a passar mais tempo junto que o normal... Na escola, detenções. Nas férias, castigos. No trabalho, reuniões fora do turno. É... Eis meu castigo particular: almofadinhas de uma figa!
Quem inventou o amor?
Me explica por favor.
Ri sem querer um pouco sonoramente, e Sirius se remexeu ao meu lado na cama. Minha cama. Minha casa. Eu não queria que ele acordasse. Parecia bom demais vê-lo tranquilo ao meu lado, sem as peripécias que sempre atrapalhavam nossos curtos momentos de paz. Era muito raro ver Sirius assim: calmo e tranquilo. Em seu rosto uma expressão leve, mesmo que eu pudesse visualizar, no canto de seus lábios, a sombra de seu característico riso de deboche, que dava vontade de rir junto. Apesar de que... Ultimamente não temos tido tantos motivos para rir por qualquer coisa.
Eu nunca odiei tanto as escolhas. Bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, divino e profano... Nada parecia mais difícil que isso: a escolha entre duas coisas que eu gosto. A Ordem, ou minha família inteira. A vida de Sirius, ou a minha. Que belo impasse! Contudo, seria fácil optar por um caminho... Tenho tomado decisões difíceis há anos e agora não seria tão diferente, se não fosse algo ter dado errado dentro de mim, ter pendido para onde não devia, e então, posto à prova toda minha lealdade aos meus deveres. Essa falha, esse pequeno e poderoso erro... Por quê?
Quem inventou o amor?
Me explica por favor.
Levantei-me da cama vestindo meu robe preto e caminhei até a mesa rente a janela. O céu estava num profundo azul, e no horizonte, uma fina linha violeta me amedrontava, provocando um surto irrefreável de calafrios. Estava amanhecendo e eu não podia deter o tempo, o clarear do céu, o avançar das horas... Voltei a olhar para dentro do quarto, meio escuro ainda.
Eu queria saber quem inventou as guerras? Quem inventou que eu apostaria minha alma pela minha família, me cedendo para trevas no lugar de quem eu amo? Mas fui traída. Estão todos mortos agora, e minha alma deturpada. Quem diria: eu a procurada amaldiçoada que sou hoje? Quem inventou que Sirius seria minha vítima?
Qualquer um! Eu poderia ter sido encarregada de matar qualquer um, mas Sirius não... Se pelo menos eu não tivesse me apaixonado, ou se ele não tivesse caído neste mesmo erro... Quem inventou de destruir o que se ama? Minhas velhas escolhas... Meus caminhos... Marlene, a comensal... Alguém imaginou? Enquanto Sirius fugia de toda treva que o cercava, seguia para um caminho mais iluminado, conseguido fugir de suas próprias propensões. Fui fraca. Eu não tive saída.
Vem e me diz o que aconteceu
Faz de conta que passou.
Quem inventou o amor?
Me explica por favor.
Antes das seis estarei vestindo minha armadura de gelo, e Sirius estará de joelhos em frente à morte... E só de imaginar, estremeço por dentro e minhas lágrimas de cobra descem pelo meu rosto. Como eu queria não ser quem me tornei... No espelho o reflexo de uma perfeita refém irrevogável da morte: alva, fria, bela e poderosa. O atrativo perfeito para qualquer fera... Meu maior prazer era continuar assim, acima de todos. Traumatizada pelo passado, uma marca que serpenteia em minhas veias. Tornou-me poderosa. Ninguém seria obstáculo, ninguém era páreo. Ninguém até ele...
Sirius voltou do passado, mais forte do que eu lembrava, mais intenso que o natural... Domou-me à força. Brinquei com seu desejo, que antes fosse de me matar, mas agora era de estar comigo. Exatamente: tudo minha culpa. Foi a armadilha infalível que deu errado! Eu não podia mais me esconder da minha sina, e não podia me esconder com Sirius pra sempre... Andei de volta pra cama, aterrorizada com minha própria fraqueza. Sentei próxima ao espelho da cama e me aninhei ao lado da cabeça de Sirius, acariciando seus cabelos para que não acordasse, que dormisse os últimos minutos das nossas vidas. Eram também os últimos minutos do meu sonho, meu desejo proibido. Nunca desejei tanto não acordar... Ali, próxima ao perfume penetrante dele, seu braço inconscientemente se fechando ao meu redor, seus carinhos fatalmente proibidos. Era pior que estar sob efeito do beijo da morte. Era melhor do que não sentir beijo algum...
Daqui vejo seu descanso
Perto do seu travesseiro
Depois quero ver se acerto
Dos dois quem acorda primeiro.
Quando minha mente chegava ao limite, quando meu medo tomou conta de mim, me afundei no colchão e me abracei a Sirius com toda força da minha covardia, minha fraqueza, meu amor. Ele despertou de sobressalto, sentando, mas não me soltou. Assim ele era: poderia mil inimigos correr atrás dele, mas ele nunca largava quem quer que esteja protegendo, guardando ou amando. E como eu era desmerecedora de tudo isso...
— Que horas são? – Ele perguntou de imediato. Sua voz rouca tentando me acalmar. Eu não queria ter que deixar de ouvi-la... Não...
— Cinco – sussurrei de volta afundando meu rosto em seu peito, desfalecendo por ser tão abominável.
— Ainda há tempo... Ainda somos eu e você...
— É uma profecia, Sirius...
— É um detalhe, meu amor... Só um detalhe... – Desta vez sua segurança vacilou.
— É o fim.
— Vamos acreditar que seja um recomeço... Depois das seis, apenas uma mudança de um plano para outro. – Sirius propôs segurando meu rosto em suas mãos, próximo aos olhos dele... Lágrimas que eu causei.
Alcancei a mecha de seu cabelo que ameaçava cair em seus olhos. Ele sorriu o sorriso mais sarcástico e triste que já vi. Como ele era lindo. Tomou-me em seus braços e roçou seus lábios nos meus, fazendo de cada segundo uma nota melancólica e prazerosa dos nossos últimos instantes. Deitei-me sobre a cama e o trouxe para perto de vagar. Sirius aproximou seus lábios de mim e beijou meus olhos, provando minhas lágrimas enquanto as suas próprias caiam em meu rosto. Queria poder dar algo de bom para aquele anjo de destino tão cruel, mas nada que vinha de mim poderia ser bom... Beijei sua garganta, o sentindo vivo, quente e pulsante, como deveria permanecer.
Quem inventou o amor?
Me explica por favor.
Quem inventou o amor?
Me explica por favor.
Minha temperatura repelia o toque de qualquer homem, qualquer comum. Eu nunca me sentia tão satisfeita e amada quanto com Sirius, o único que não parece se importar se sou conviva da morte, se sou uma condenada às trevas, de alma manchada. Ele me fazia voltar à escola, ao meu trabalho, quando eu não era corrompida, me fazendo sentir uma fina esperança de que havia solução pra mim. Por que ele nunca esteve por perto? Por que ele teve de ter ido embora naqueles tempos difíceis? Se eu não tivesse apostado minha alma em vão...
E então o leão se atraiu pela serpente!
— Você me perdoa por eu ser o que sou? – Perguntei fazendo Sirius parar seu trajeto de beijos pelos meus ombros.
Ele ergueu o rosto pra mim, com seu brilho ávido sobrevivendo contra sua iminente aflição. Eu sabia que ele não gostava quando eu falava disso... Fui induzida a ser isto pelos maus conselhos do desespero. Mesmo assim, eu não tinha o direito...
— E você, me perdoa por te amar? – Ele contrapôs.
Sempre sabendo me pôr numa saia justa. Sempre sabendo inverter o jogo contra mim. Exceto que, nesta situação, nem assim ele sairia ileso.
— Nos metemos na pior encrenca que poderíamos encontrar... – Brinquei, infeliz, e Sirius sorriu triste, mordendo meu ombro e meu lábio, maroto.
— Desta vez não foi minha culpa! – Brincou ele, me fazendo rir, fazendo doer meu coração dolente.
— Estamos condenados...
— Dane-se! – Murmurou tomando meus lábios em seguida. Único momento em que meu corpo podia sentir vida de novo, calor de novo...
Quem inventou o amor?
Me explica por favor
Quem inventou o amor?
Me explica por favor.
[...]
— Você confia em mim?
— Sim. – Respondi sem hesitar. Eu não podia oscilar perante a única coisa que eu ansiava avidamente no mundo.
Virei de costas e Sirius atou os cordões das minhas vestes negras. Voltei-me para ele e amarrei sua capa. O som do relógio pareceu mais alto e perturbador do que já foi algum dia, e voltei a me aterrorizar. Sirius apertou minhas mãos frias e me abraçou apertado. Seja lá o que acontecesse... Não queríamos ter planos. Não queríamos pensar agora. Não acho que estejamos em tempo de pensar muito nas coisas... Ele é Sirius Black, e eu Marlene Mckinnon, isto basta. Faremos nossos papeis até onde pudermos, e se falharmos... Bem... Podemos nos considerar com sorte.
— Está tarde? – Perguntei quando senti seus braços afrouxarem minha cintura.
— Está na hora...
Sirius me beijou pela última vez, me fazendo sentir o fervor de sua paixão, sua altivez, seu poder, sua força. Beijou-me tão forte que eu não sabia mais se era por desespero ou para mostrar que não estava inclinado a desistir.
E é isso. Uns cedem ao amor, outros ao ódio. Mas uma coisa é certa: não se pode servir aos dois, pois a morte sempre é a mediadora. Pelo menos no mundo onde vivemos. Eu só queria ter tido uma segunda chance, se eu soubesse que apostaria em vão. Enquanto Sirius só queria ter chegado a tempo. Eu queria que não tivéssemos esta sina.
Enquanto a vida vai e vem
Você procura achar alguém
Que um dia possa lhe dizer...
Aparatei primeiro, mas antes, gravei na memória o rosto íntegro de Sirius, seu olhar bondoso retido em sua máscara impassível. Assumimos nossas posições.
... - Quero só ficar com você!
O bem e o mal, o certo e o errado... Fazemos um e outro o tempo todo... Fazemos o certo agindo errado, o que é mal, mas que pode ser em função de um bem. Por mais que tentemos, é difícil separar duas coisas tão opostas. Quem inventou deteriorar meu destino? Quem inventou esta atração? Quem inventou que eu me apaixonaria? Quem inventou que seríamos tão iguais e tão adversos? Seja lá quem foi, só sei que não temos mais tempo...
Quem inventou o amor?
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N/A:
Olá,
Sou Alice, mas também podem me chamar de Mila!
Bem, assim como imagino que muitos de vocês sejam, sou apaixonada pelo o casal Marlene e Sirius, talvez por que é possível imaginar abertamente o que esses dois poderiam ter sido dentro da história que não foi escrita sobre eles...
Eu não resisto a amores difíceis (não que eu seja dramática ou negativista), mas sempre nos faz pensar... Chega com mais força à consciência das pessoas. Lancei mão de uma abordagem quase extrema... Marlene comensal! Mas achei que ela tentaria coisas drásticas para salvar a família ameaçada de morte, antes de entregar o jogo ou ela mesma ser morta. Tornou-se o que mais temia: algo distante de Sirius. Mas um amor sempre acontece quando há de acontecer, independente das circunstâncias. As consequências, então, passam a ser menos intragáveis depois...
Então me despeço por aqui.
Abraços,
Alice.
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