A gaiola dourada
Parte dois
A segunda mensagem
A gaiola dourada
Eu estava a caminho de casa. A cachorrinha parecia me entender. Ela estava quietinha na caixa. Eu cheguei a frente de casa. Pela janela de vidro, vi a luz amarela da lâmpada estar em toda a sala. Gina entregava seu presente a Hermione e a abraçava. Eu ri. Hermione estava abrindo o pacote. Eu caminhei devagar até chegar a porta. Ela estava entreaberta. Olhei pela fresta Hermione olhar Gina preocupada e falar:
– Será que o Rony não vem?
Gina passou a mão nos cabelos de Hermione e fez um bico. Eu abri a porta a empurrando com o pé. Entrei com o presente de Hermione nas mãos. Quando ela me viu, um lindo sorriso se formou. Ela foi correndo até mim.
– Bem, é.. hum..é para você.
Ela sorriu. Pegou a caixa e logo viu que era pesada. Ela sacudiu devagar.
– Não deveria fazer isso – murmurei.
– O que é?
Ela colocou em cima da mesinha de centro da sala. Ela viu que a caixa começou a se mexer e deu um pulo para trás. Gina já estava agarrada ao braço de Harry e eu observando tudo, quieto. A fita estava bem amarrada ao meio da caixa.
– Puxa o laço. – eu sugeri. – Confie em mim.
Ela me olhou, sentiu que não estava brincando. Ela chegou perto da caixa, agora sem medo, e puxou o laço. Os olhos castanhos das duas se chocaram. A cachorrinha colocou as patinhas na bordinha da caixa e balançou o rabinho, com rapidez. Hermione abriu o sorriso mais lindo que ela pode encontrar nela.
– Rony, ela é linda.
Eu estranhei. Como ela sabia que era ela?
– Como você sabe que é ela?
– Não sei. Simplesmente sei.
Ela pegou a Cocker no colo. Abraçou e beijou o pelo macio da cachorrinha. Hoje não teríamos jogo de cartas, teríamos muito mais que isso, teríamos que cuidar do nosso bebê. A nossa cachorrinha.
No outro dia, acordei inchado de tanto comer. As pizzas que Hermione encomendou ontem estavam ótimas. Me espreguicei como de costume e percebi que não estava sozinho: algo quente estava em cima dos meus pés.
– Ela gostou de você.
– É que foi amor a primeira vista, eu e ela.
Hermione riu.
A cachorrinha estava em cima de meus pés, adormecida. Percebi que era cedo. O cheiro de café estava no ar. Hermione estava sorridente, e eu nem tinha falado sobre meu amor para ela. Resolvi que ia falar algo para ela depois que Harry e Gina saíssem para o trabalho. Tomamos café. A cada mordida no meu pão com manteiga eu suava mais. Eu tinha que falar algo para Hermione, tinha que tomar a atitude de Tom. Me senti confiante, e um tanto imaturo.
– Bem, então, até mais tarde. Se cuidem – disse Gina, saindo pela porta da frente.
Eu olhei para Hermione apreensivo. Ela estava olhando para o pão. Eu dei uma rápida olhada para a cachorrinha, ainda sem nome. Ela dormia em cima do cobertor e aonde o sol iluminava.
– Rony.
– OI!
Hermione se assustou e eu também.
– Hm..Obrigada pelo presente. Depois do Bichento, eu não achava que ia ter essa afeição por um animal.
– Ah Hermione. Todos sabemos que Bichento teve que ficar com seus pais. Não tinha outra escolha. E acredite, todos sentimos falta dele – coloquei minha mão sobre a de Hermione.
– Você está diferente Rony.
– Como assim?
– Para melhor.
Ela sorriu para mim, e esse era o meu momento.
– Hermione eu tenho que te contar algo.
– O que? – ela ficou preocupada.
– É algo importante e meio estranho.
– Fala Ronald, ta me deixando nervosa.
Eu empurrei minha cadeira até o lado da dela.
– Você vai me matar.
– Rony, você ta me deixando nervosa.
– Isso é bom.
– O que é bom?
– Eu te deixar nervosa.
– Ron...
Eu não a deixei terminar. Tomei seus cabelos entre meus dedos gélidos de tamanho pavor. Eu a puxei para mim com muita rispidez. Eu a beijei. Foi estranho. Eu encostei meus lábios aos de Hermione e iniciei um beijo. No começo ela resistiu. E depois se entregou. Nossas bocas em sincronia e minha outra mão encontrou o pescoço dela. Senti ela estremecer ao meu toque.
Quando me dei conta do que fiz, era tarde de mais. Eu parei aquele beijo, apavorado. Ela não me olhou nos olhos. Olhava para os lados procurando uma forma de “fugir” daquele momento. Ela ficou piscando e procurando em sua mente algo para falar.
– Bem..an...eu andei pensando em uns nomes para a cachorrinha.
–Ótimo. Quais?
– Ah. Depois eu te falo.
Ela levou da mês e deixou sem querer levou a toalha da mesa consigo. Ela virou para trás e eu já estava com o bule de chá nas minhas mãos. Foi rápido. Eu percebi que ia cair e coloquei a mão para a frente e agarrei o bule. Hermione me encarava, apreensiva. Aquele dia estava começando estranho, e estava prestes a ficar mais ainda...
Era dez horas da manhã, e eu estava na rua última rua da carta de Paus. Rua Adda Maskarenhas, número 9. Eu esperava apreensivo pelo que poderia vir a acontecer. Cada coisa que estava acontecendo comigo estava me deixando bem perturbado. Era estranho você observar a vida dos outros e depois ter que ajudar de alguma forma.
A casa era diferente, era quebrada e totalmente escura. Ela era um tipo de casa mal assombrada. Me lembrou a casa dos gritos. Alguém viveria ali? Tinha alguém morando naquele lugar?
– Alguém? Alguém está aqui? – eu gritei.
Ninguém respondeu. Ao abrir a porta, a porta rangeu. Eu estremeci. Caminhei alguns passos e fiquei observando. Será que a minha missão seria arrumar a casa? Comecei a caminhar pela casa e fui notando que não era só o rall de entrada que era todo quebrado e velho. O resto da casa também. Já não estava surpreso ver ratos passando rapidamente pelo meu lado, mosquitos estarem picando meus braços e alguns barulhos de asas batendo vindo do segundo andar da casa.
O primeiro andar, todinho, eu tinha conseguido ver. Quando cheguei até a porta da frente para sair da casa. Eu congelei, de medo e de pavor. A frente da casa, um homem de preto e óculos escuros olhava fixamente nos meus olhos. Por trás daqueles óculos eu podia sentir ele me olhando. Um casaco preto de gola alta estava com ele. Ele levantou a mão, levantou seu indicador e fez um sinal de não.
Eu entendi. Eu não tinha completado a missão. Tentei abrir a porta, sem sucesso. Eu pensei em tentar arrombar a porta, mas foi em vão. Pela janela eu consegui ver algo a empurrando, algo do tipo de um armário velho. Então comecei a correr pela casa. Certamente eu tinha um medo de casas mal assombradas, mas depois de tudo o que eu já tinha enfrentado essa casa parecia não me dar medo.
A casa, o recado me deu medo. Depois de eu correr todo o primeiro andar pela segunda vez, chegando a escada, eu vi algo novo, algo inédito. Uma gaiola dourada, aberta, junto a ela parecia ser uma porta velha, escrita de sangue: Muito sangue já foi derramado para sustentar o seu paladar. Minhas pernas ficaram bambas. Essa era a missão mais estranha de todas. Adda Maskarenhas, esse nome agora, me dava arrepios.
Eu resolvi subir as escadas rapidamente, encurtando os degraus, os pulando de dois em dois, em passos rápidos. Eu queria sair daquele lugar, daquela agonia, daquele escuro. Quando cheguei no ultimo degrau da escada enorme encontrei algo que eu temia, muito: ARANHAS! Uma teia enorme, cheia delas. Elas eram pequenas e nada peludas. Normais. Mas sim, eu tinha um medo abominável de aranhas.
Respirando rapidamente eu fui indo para trás. Um barulho vindo de fora da casa me surpreendeu: Máquinas enormes com aquelas bolas de concreto estavam ali na frente. Chegando junto a carros da prefeitura. A casa ia ser demolida.
– Ei, não façam isso! Eu estou aqui! Ei!
– Eles não vão te escutar Ronald.
Eu fiquei imóvel. Parado, sem nenhum movimento. Senti até ficar difícil de respirar. Fui me virando de vagar. A pessoa do outro lado da teia era a mesma da rua. Ela apenas abriu a porta em frente a escada. Lá estava uma gaiola dourada, com um pássaro amarelo claro.
O homem sumiu. Não sei como, não percebi ele sair. Apenas fiquei fitando o animal. Qual era a moral? Agora não importava, eu tinha que vencer o meu maior medo: Aranhas! Eu fechei os olhos e fui em direção a teia. Passei por ela. Sorri. Olhei para o meu casaco e ele estava dominado por aranhas e teia. Eu tirei o casaco e joguei para baixo da escada. Passando as mãos sobre meus cabelos rapidamente eu pude sentir que estava bem, por enquanto.
O barulho da porta da frente da casa ser quebrada pela bola de concreto foi ando estrondoso. Eu me agachei. Senti os pedaços de madeira passarem a milímetros de mim. Outra vez. A janela a esquerda da porta foi derrubada junto a um pedaço da parede. Agora a madeiram e atingiu. Meu braço foi seriamente cortado. Me arrastando até a porta do quarto do pássaro, sentindo dor e angustia. Fechei a porta e escutei mais um barulho horrível.
Meus ouvidos estavam dominados por aqueles barulhos. Eu olhei para o conjunto do quarto: Ele era branco, alguns desenhos de giz de cera nas paredes: Pássaros. Parecia ter sido obra de alguma garotinha. O quarto também tinha o carpete em um tom de rosa claro.
Me arrastei até a gaiola. A abri, peguei o animal com a minha mão e abri a janela, o jogando para fora. BAM! A porta do quarto foi estourada pela bola enorme que passou ao meu lado. Eu sabia que ela voltaria com o impulso que ela estava, e me atingiria. Ao olhar para fora, vi o pássaro passar pelas casas de telhado baixo e voar.
Eu subi na janela. A bola estava voltando, pude perceber aquele pontinho preto ficar cada vez maior, e cada vez mais apavorante. Minha missão estava pronta. Adeus carta de Paus.
Pulei da janela. Não olhei para onde ia cair. Amorteci. Eram muitas folhas de inverno, juntas, e empilhadas no fundo da casa. Eu sorri. Mas logo parei de sorrir. A bola atingiu a janela do quarto. E lançou a gaiola para fora do quarto, quando levantei minha cabeça, a ultima imagem que vi, foi a gaiola dourada em minha testa.
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