Torto
Dizem que pau que nasce torto morre torto...
Comprovei o fato não apenas em plantas, como a árvore que encarava logo a minha frente. Percebi que eu era o exemplo vivo desse ditado.
Desde pequeno fui ridicularizado por ser muito inteligente, mas pouco dotado de porte atlético. No começo era triste, mas tristeza não resolve nada, como descobri pouco tempo depois. O que me trouxe resultados foi a vingança, mesmo tendo sido advertido de que não era bom. No entanto, foi o único método que reconheci como bom para mim. Peguei gosto pelo ato de amedrontar, ameaçar e até mesmo maltratar aqueles que sabia serem piores que eu e ganhar amizade dos adultos para que estes me protegessem.
Faço-o desde pequeno, aperfeiçoando técnicas malévolas, como diriam, mas para mim apenas um modo de vida. Um passatempo divertido. Como uma árvore, cresci – mesmo torto – e tudo tendeu a piorar. Não para mim, claro, mas para os que estavam ao meu redor. Eu encantava os mais sábios, para me tornar mais forte, e subjugava os mais fracos com minha inteligência, para fazê-los obedecer todas as minhas vontades.
Até chegar onde estou agora: reverenciado e temido como jamais outro bruxo das trevas foi.
Sorri malevolamente. Eu era aquela árvore retorcida e sabia...
...que nasci torto e acabaria morrendo torto como aquela árvore.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!