Negar
Draco tentava se convencer de que não era amor o que sentia por Hermione. Era apenas desejo. Queria ter em seus braços aquele corpo de curvas suaves, queria sentir em seus lábios a delicadeza da pele macia, queria tê-la submissa a seus impulsos para que pudesse satisfazer não só suas carências, mas também seu ego. Não suportaria imaginar que estava, veja só, apaixonado por ela. Como poderia interessar-se por uma sangue-ruim metida a inteligente? Hermione era exatamente o tipo de gente que ele desprezava, e divertir-se com ela fora seu plano inicial.
Sempre fora comum em sua personalidade forte a propensão a desafios consideráveis. O primeiro deles foi, sem dúvidas, o mais excitante: faria de Hermione Granger, a promissora estudante de Hogwarts, sua amante casual. Conquistá-la-ia para vangloriar-se de seus galanteios, certo de quem nem ela nem nenhuma outra garota era capaz de resistir a seu falso cavalheirismo e sua modéstia disfarçada. Draco não teve de investir muito, porém. Hermione tentou resistir, mas não foi capaz de sustentar a couraça de ódio e indiferença e acabou cedendo às investidas convictas de Draco.
- Onde você está indo, Draco? – Ele ouviu a voz estridente de Pansy Parkinson a suas costas. Virou-se lentamente e encarou-a com um semblante compreensivo. O timbre familiar o despertou de seus devaneios.
- Tive alguns problemas na aula de Transfiguração, querida, e agora devo explicações. – Ele disse, revirando os olhos ao demonstrar descontentamento – Mas não se preocupe. Você sabe, não há nada que eu não possa dar um jeitinho.
Pansy foi se aproximando e sua expressão se converteu em um sorriso encantador. Colocou os braços finos nos ombros de Draco, massageando cuidadosamente os cabelos loiríssimos do rapaz. Quando os lábios da garota iam, por fim, colar-se aos dele, Draco afastou-se de súbito, desnorteado, e mais do que depressa avisou que tinha de ir, atrasar-se para o encontro que tinha só lhe causaria mais problemas. Em passos apressados, mais ainda assim elegantes, Draco afastou-se, deixando Pansy perplexa.
Não pôde acreditar que, ao fechar os olhos para beijar Pansy, a face lívida de Hermione lhe tomara a mente. Os olhos amendoados da sangue-ruim o haviam fitado com uma intensidade assustadora. Não teve outra reação senão sobressaltar-se de surpresa, e dar a Pansy uma desculpa para que não pudesse permanecer com ela nem mais um minuto lhe pareceu a coisa mais sensata a fazer. O que estava havendo com ele, afinal? Granger não era mais do que um mero caso, um divertimento, seu passatempo. Certamente o sorriso angelical que exibia era encantador, mas Malfoy estava habituado a faces bonitas. Dentes brancos e alinhados não o impressionavam dessa forma... Ou será que estava mudando?
Pensou em alterar seu destino. Vê-la agora pareceu perigoso, já que a imagem de seu rosto anguloso lhe perturbava até mesmo quando não estava pensando propriamente nela. Tentou, embora em vão, convencer-se de que seria mais seguro retornar ao Salão Comunal da Sonserina, afundar-se em uma das confortáveis poltronas e tentar explicar para si mesmo o que estava, de fato, ocorrendo; mas por mais que estivesse ciente da estupidez do ato que ia cometer, não foi capaz de forçar-se a desistir. E então prosseguiu, ainda pensativo, para o lugar onde sabia que iria encontrá-la: a biblioteca.
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