DE VOLTA AS ORIGENS!



Ela faria com que tudo fosse perfeito. Cada centímetro, cada recanto, cada detalhe


seria elaborado do modo como desejava e visualizava, até que seu sonho se


tornasse realidade. Afinal, contentar-se com menos do que a perfeição era perda de


tempo. E Hermione Granger não se conformava em perder nada.


 


Aos vinte e cinco anos, já vira e experimentara mais do que muitas pessoas


bem mais velhas. Enquanto as outras garotas ficavam cochichando sobre rapazes


ou preocupando-se com roupas, ela já viajara para Paris e para Bonn, usando trajes


glamourosos e fazendo coisas extraordinárias, já dançara para rainhas e até jantara


com príncipes.


 


Sempre seria grata aos pais, que lhe deram a oportunidade de ter esse estilo


de vida. Devia a eles tudo o que tinha e vivera. Mas chegara a hora de conseguir o


que desejava com o próprio esforço.


 


A dança era seu sonho desde que se conhecia por gente. Segundo o irmão


Harry, era sua obsessão. Mas achava que não havia nada de errado em ser


obcecada, contanto que agisse com segurança e batalhasse muito.


 


Hermione se dedicara muito à dança. Foram vinte anos de aulas, exercícios,


alegrias e sofrimento, suor e sapatilhas de ponta. Sacrifícios também, dela própria e


dos pais. Compreendia como fora difícil para eles deixarem a caçula da família ir


para Nova York para aprimorar sua arte, com apenas dezessete anos. Mas eles só


haviam lhe oferecido encorajamento e apoio.


 


Dançara como profissional durante seis anos, conhecera a luz dos refletores e


a excitação de subir ao palco. Viajara pelo mundo, representara todas as grandes


personagens femininas do bale: Gisele, Aurora, Julieta, dezenas de papéis, trágicos


e triunfantes, e adorara cada momento, cada segundo.


 


Por isso, todos ficaram surpresos quando Mione decidiu abandonar o palco. Só


havia uma explicação para tal atitude: desejava voltar para casa.


 


Queria uma vida de verdade. Por mais que amasse o bale, não estava mais


disposta a abdicar de tudo por ela. Aulas, ensaios, apresentações, viagens,


publicidade... A carreira de bailarina era muito mais do que ficar na ponta dos pés


sob os refletores. Dera-lhe muita alegria, mas ela descobriu que desejava dar algo


de si para as pessoas, já que recebera tanto. E poderia conseguir tudo que desejava


abrindo sua própria escola de bale.


 


As alunas viriam, disse a si mesma, porque tratava-se de Hermione Granger, e esse


nome significava algo importante no mundo da dança e do bale.


 


Era o momento de novos sonhos, refletiu, enquanto percorria a enorme sala


vazia. A escola de bale era sua nova obsessão, e pretendia que fosse tão


compensadora, gratificante e perfeita quanto a antiga.


 


Com as mãos nos quadris, examinou as paredes cinzentas, que um dia


haviam sido brancas. Voltariam a clarear, decidiu. Seria ali que ela poria os pôsteres


emoldurados dos grandes bailarinos, Nureyev, Margot Fontayne, Baryshnikov,


Davidov e Bannion.


 


E as duas paredes mais longas seriam revestidas com espelhos por trás das


barras. Essa vaidade profissional era tão necessária quanto respirar. Uma bailarina


devia estudar cada pequeno movimento, cada arco, cada flexão, para alcançar a


perfeição.


 


Os espelhos em uma sala de dança eram como janelas, pensou Mione, por


onde a bailarina enxergava o bale.


 


O velho teto seria consertado ou substituído, conforme a necessidade. O


mobiliário... Mione esfregou os braços gelados. Bem, sem dúvida seria modificado. As


tábuas do chão receberiam um tratamento para ficarem macias, lisas e perfeitas. E


havia ainda a iluminação e o encanamento, por certo teria alguns reparos elétricos a


fazer.


 


Seu avô fora marceneiro antes de se aposentar, lembrou com afeição.


Portanto não era tão ignorante a respeito de reformas. E o que não soubesse,


aprenderia, concluiu. Faria perguntas, até compreender o processo e poder orientar


o empreiteiro que fosse contratar. Era preciso conhecer os assuntos para poder


comandar, pensou.


 


Em um esforço para imaginar como ficaria o ambiente, fechou os olhos,


inclinando o corpo em uma posição de bale. Hermione tinha muita flexibilidade e foi


descendo o tronco até que as nádegas tocaram os calcanhares. Voltou a erguer-se e


baixar de novo.


 


Fizera um coque no alto da cabeça, e com os movimentos continuados, os


cabelos se soltaram e algumas mechas onduladas, castanhas e brilhantes


emolduraram-lhe o rosto. Quando soltas, chegavam até a cintura, emprestando-lhe


um ar romântico que era o ideal para sua imagem no palco.


 


Sorrindo de modo sonhador, o rosto de Hermione parecia brilhar. Herdara a pele


clara da mãe e as maçãs do rosto salientes, os olhos cor de mel e o queixo


voluntarioso, do pai.


 


Era uma combinação atraente e muito feminina. Um misto de sereia e


fada. Os homens olhavam para Hermione, percebiam a delicadeza de suas feições e


concluíam que era uma mulher romântica e frágil. Que erro! Por baixo da


feminilidade havia uma tempera de aço!


 


— Um dia desses não vai conseguir sair dessa posição e vai ter que pular


como um sapo.


 


Hermione deu um salto e abriu os olhos.


 


— Harry! — exclamou, atravessando a sala para atirar-se nos braços do


irmão. — O que faz aqui? Quando chegou? Pensei que estivesse jogando bola em


Porto Rico. Quanto tempo vai ficar?


 


Harry era dois anos mais velho, fato pelo qual costumava martirizá-la


quando crianças, ao contrário da meia-irmã Clarice, mais velha que os dois, e que


nunca se aproveitara disso para dar ordens. Entretanto,Harry era o preferido de


Mione. Na verdade eles eram primos, mais se conseideravam como irmãos tamanho era


o amor entre eles. Os pais de Harry sofreram um acidente de carro em uma viagem a trabalho


e vieram a falecer deixando sua guarda para os Grangers que eram tios e padrinhos do garoto.


 


 


— Que pergunta deseja que responda primeiro? — Rindo, Harry a afastou,


analisando-a de modo rápido, com um olhar divertido. — Ainda é uma magricela.


 


— E você é um bobo — respondeu Mione, beijando-o. — Mamãe e papai não me


disseram que viria para casa.


 


— Não contei. Soube que a nossa Mione estava de volta e achei que deveria


vir fazer uma visita. — Relanceou um olhar pela sala enorme e suja e fez um gesto


de desespero. — Mas creio que cheguei tarde demais.


 


— Vai ficar maravilhoso!


 


- Pode ser, mas no momento é um horror. — Harry passou-lhe um braço


pelo ombro. — Então a rainha do bale vai ser professora.


 


— E a mais maravilhosa! Por que não está em Porto Rico?


 


— Não posso jogar beisebol doze meses por ano. Mione enrugou a testa,


preocupada.


 


 


— Harry ...


 


— Machuquei a perna.


 


— Oh! Muito? Foi ao médico? Vai...


 


— Calma, Maninha! Não foi nada grave. Vou ficar sem jogar alguns meses e


voltar a treinar na primavera. Isso me dará muito tempo para transformar sua vida


em um inferno.


 


— Esse é o lado bom dessa história. Venha, vou mostrar-lhe o resto da casa.


Meu apartamento fica no andar de cima.


 


De modo discreto, observou se o irmão mancava.


 


— Pela situação do teto, seu apartamento poderá ficar no térreo a qualquer


minuto.


 


— O teto é sólido — respondeu Mione com um gesto displicente. — Só está feio,


no momento. Mas tenho planos.


 


— Sempre tem.


 


Harry caminhou com a irmã pelo salão vazio, forçando o peso do corpo na


perna direita. Alcançaram uma pequena sala de entrada muito feia, com paredes


rachadas que mostravam os tijolos. Uma escada conduzia ao segundo andar, que


parecia estar ocupado por ratos, aranhas e insetos, algo em que Harry nem


queria pensar.


 


— Mione, este lugar...


 


— Tem potencial — ela cortou com firmeza. — E história. Foi construído antes


da Guerra Civil.


 


— Acho que antes da era da pedra lascada — corrigiu o irmão com ironia. Era


um homem que gostava de tudo simples e em ordem. — Tem idéia do quanto irá lhe


custar deixar este lugar apresentável?


 


— Mais ou menos. Vou saber quando conversar com o empreiteiro. É meu,


Harry! Lembra-se de quando éramos crianças, e você, Clarice e eu vínhamos


caminhar aqui nos arredores?


 


— Claro! Era um bar, depois tornou-se uma loja, depois...


 


— Já foi muita coisa — interrompeu Mione. — Começou como uma taverna, em


meados de mil e oitocentos. Ninguém nunca deu muita atenção a este lugar, é


verdade. Mas eu costumava ficar observando estas paredes e pensava no quanto


gostaria de morar aqui, olhar pelas janelas enormes e caminhar por todos os


quartos.


 


Um leve rubor aflorou às faces de Mione, e os olhos adquiriram um tom muito


escuro, sinal de que estava sonhando, em seu mundo particular, pensou Harry.


 


— Pensar assim quando se tem oito anos é muito diferente de adquirir um


prédio decadente quando se fica adulto.


 


— Sim, é verdade, mano. Na primavera passada, quando vim aqui, estava à


venda. Outra vez. Não consegui parar de pensar a respeito. — Mione circundou o


salão. Podia visualizá-lo do modo como iria ficar. A madeira reluzente, as paredes


pintadas em tom claro. — Voltei para Nova York e para o trabalho, mas não


conseguia tirar este lugar da cabeça.


 


— Costuma ter os pensamentos mais absurdos!Mione deu de ombros ante o


comentário do irmão.


 


— Mas agora isto é meu. Tive certeza assim que entrei. Nunca sentiu uma


sensação assim?


 


Sim, pensou Harry. Sentira aquilo na primeira vez que entrara em um


campo de jogo. Concluíra então que a maioria das pessoas de bom senso teria lhe


 


dito que jogar bola era um sonho de criança. Mas seus pais nunca disseram isso, do


mesmo modo que jamais haviam desencorajado Mione e seus sonhos de bale.


 


— Sim — falou em voz alta. — Já tive essa sensação. Mas o problema é que


com você as coisas estão indo depressa demais. Estou acostumado a vê-la agir com


paciência. E persistência.


 


— Isso não mudou — respondeu Hermione com um sorriso. — Quando decidi me


retirar dos palcos, sabia que desejava ser professora de dança. E sabia que a minha


escola seria neste lugar. E, mais do que tudo, desejava voltar para casa.


 


— Está certo — disse Harry, passando de novo um braço pelo ombro da


irmã e beijando-a na testa. — Então vamos fazer acontecer. Mas, no momento, que


tal sairmos daqui? Este salão está gelado.


 


— Um novo sistema de calefação é uma das minhas prioridades.


 


Harry deu um último olhar para a sala e comentou:


 


— Sua lista de prioridades vai ser bem longa...


 


 


 


Caminharam abraçados, envoltos pelo vento frio de dezembro, como faziam


nos tempos de criança, por caminhos desnivelados e difíceis, sob as árvores que


exibiam os galhos desnudos, e um céu cinzento, pesado de nuvens.


 


Hermione podia sentir o cheiro da neve no ar, e isso a excitava.


 


As fachadas das casas já estavam decoradas para o Natal, com bonecos


sorridentes e rosados, representando Papai Noel, e fios de lâmpadas, renas


voadoras e homens de neve.


 


Mas a melhor de todas as decorações, como sempre, era a da Casa da


Alegria. A vitrine central da loja de brinquedos estava abarrotada de surpresas.


Trenós em miniatura, ursos de pelúcia enormes, bonecas vestidas de modo ele-


gante, esportivo ou caseiro, caminhões vermelhos e brilhantes, castelos feitos de


blocos de madeira.


 


A visão geral era de uma alegre e divertida confusão, pensou Hermione. Havia o


propósito deliberado de dar a impressão de que os brinquedos tinham sido jogados


ali ao acaso. Mas ela sabia que tudo fora feito com muito cuidado e um profundo e


amoroso conhecimento das crianças, para criar aquele efeito maravilhoso.


 


Ao entrar na loja com o irmão, sinetas tocaram na porta.


 


Os clientes perambulavam de um lado para o outro. Um menino brincava nas


teclas de um piano a um canto. Atrás do balcão, Annie Maynard colocava em uma


caixa de presentes um bicho de pelúcia com orelhas enormes.


 


— É um de meus favoritos — dizia para o comprador. — Sua sobrinha vai


adorar.


 


Os óculos deslizaram para a ponta do nariz, enquanto amarrava uma fita


vermelha ao redor da caixa. Então, ergueu a cabeça, piscou várias vezes e


exclamou em tom estridente:


 


— Harry... Jane, venha ver quem está aqui! Oh! Dê-me um beijo,


belezoca!


 


— O rapaz obedeceu e deu a volta no balcão, enquanto Annie se derretia na


frente dele.


 


— Estou casada há vinte e cinco anos — comentou com o cliente —, mas


esse menino me faz sentir jovem de novo. Feliz Natal! Vou chamar sua mãe.


 


— Não. Pode deixar que vou atrás dela — disse Hermione, sorrindo. — Harry


fica aqui para flertar com você.


 


— Então, pode demorar à vontade — disse Annie, piscando o olho.


 


 


O irmão, pensou Mione com benevolência, encantava as mulheres desde


pequeno porque era muito bonito. Não, corrigiu para si mesma, enquanto andava


pela loja que conhecia desde criança, era mais do que simples aparência física,


tratava-se de um charme que ele sabia esbanjar com generosidade, sempre que


queria e os seus belo par de olhos verdes ajudava muito pensou.


Há muito descobrira que o irmão possuía uma certa magia.


 


Alguns homens não precisavam fazer nada para deixar as mulheres estáticas.


Pensando nisso,Mione deu a volta na seção de Ursos de pelúcia e abriu caminho


entre uma pequena multidão de compradores.


 


Foi então que avistou o homem desconhecido. Era lindo, pensou. Não. O


termo era muito feminino, corrigiu para si mesma. "Viril" era um adjetivo melhor. Ele


era... um homem e tanto!


 


Mais de um metro e oitenta de altura, usava jeans desbotado, camisa de


flanela e uma jaqueta muito leve para o inverno.


 


As botas de trabalho pareciam velhas, mas resistentes. Quem diria que um


tipo tão displicente podia ser tão sexy?


 


E havia o detalhe dos cabelos também, observou Hermione. Ruivos,


lisos, circundando um rosto de traços fortes. Hermione não soube como descrever


suas feições, pois não eram vulgares nem clássicas. A boca era cheia e parecia ser


a única coisa macia no corpo rijo e forte. O nariz era reto, as maçãs do rosto salientes, e os


olhos...


 


Mione não podia ver bem esse detalhe, pois os cílios eram muito longos e


estavam abaixados. Mas pareciam ser claros.


 


Desviou a atenção para as mãos, quando o homem foi pegar um ursinho.


Eram grandes, com dedos longos e fortes.


 


E enquanto deixava-se levar por um momento do mais completo deleite


visual, Mione tropeçou em uma série de ursinhos no chão.


 


O barulho a fez acordar para a realidade e chamou a atenção do


desconhecido que cravou nela os olhos espantados, muito azuis e brilhantes.


 


Acertei, pensou Hermione, enquanto dizia em voz alta:


 


— Desculpe... — Riu e abaixou-se para recolher os brinquedos. — Espero


não ter causado um grave acidente.


 


— Temos uma enfermeira bem aqui, se for o caso — respondeu o homem,


exibindo um ursinho vestido como enfermeira e inclinando-se também para


ajudá-la.


 


— Obrigada. Se conseguirmos sair daqui antes que a polícia chegue, talvez


fique livre da cadeia — brincou Hermione, sentindo o aroma amadeirado da loção pós-


barba. — Vem sempre aqui?


 


— Na verdade, sim. — Ele a encarou por um longo tempo, fazendo-a


perceber um brilho interessado no olhar. — Os homens são eternas crianças, não


acha?


 


— Ouvi falar. Gostar de brincar?


 


O estranho ergueu as sobrancelhas. Não era comum encontrar uma bela e


provocante mulher em uma loja para crianças, numa quarta-feira à tarde, ponderou


consigo mesmo.


 


— Depende do jogo. Qual você prefere?


 


Mione riu, puxando para trás uma mecha de cabelos que caíra sobre o rosto.


 


— Oh! Gosto de todos os tipos de jogos... principalmente quando ganho.


 


Começou a levantar-se, mas ele foi mais rápido, esticando as longas pernas e


estendendo-lhe a mão, que Mione aceitou, sentindo, com satisfação, sua força.


 


— Obrigada. Sou Hermione. 


 


 


 


— Rony. — Ofereceu um conversível azul que segurava. — Quer um carro?


 


— Hoje, não. Estou só olhando, até ver o que me agrada — falou sem pensar,


maravilhada com o charme daquele homem.


 


Sorriu de novo, flertando abertamente.


 


Rony precisou conter-se para não suspirar. Já conhecera muitas garotas,


mas nenhuma como aquela. Impusera-se uma certa distância do sexo feminino há


muito tempo... Aliás, pensou, começava a achar que por tempo demais.


 


— Hermione — murmurou, encostando-se em uma prateleira e ficando de frente


para ela, em uma postura também sedutora. — Por que não vamos...


 


— Mione! Não sabia que viria aqui! — exclamou Jane Granger, correndo


pela loja e empurrando uma enorme casa de bonecas.


 


— Trouxe-lhe uma surpresa — disse Mione sorrindo.


 


— Adoro surpresas! Mas, primeiro... — voltou-se para o rapaz. — Aqui está,


Rony, conforme prometi. Chegou na segunda-feira e reservei para você.


 


— Ótimo! — A expressão sedutora e calculada deu lugar a um riso


espontâneo. — Perfeito! Nenci vai vibrar!


 


— O fabricante faz esses brinquedos para durar. Esta casinha é algo para


divertir uma criança durante anos, não por apenas uma semana depois do Natal. —


Jane deu o braço a Mione e perguntou: — Já conheceu minha filha?


 


Rony ergueu o olhar do brinquedo, surpreso.


 


— Filha?!


 


Então, concluiu para si mesmo, aquela era a bailarina. Fazia sentido...


 


— Acabamos de nos conhecer, devido a um ligeiro acidente de trânsito —


disse Mione, sempre sorrindo, mas indagou com um pressentimento sombrio: — Nenci


é sua sobrinha?


 


— Minha filha.


 


— Oh!


 


As fantasias que já criara desvaneceram-se no ar. Que descarado aquele!


Casado e flertando! E não importava quem fora que começara com a provocação,


pensou. Ela não era casada.


 


— Tenho certeza de que vai adorar o presente — falou com frieza, virando-se


para Jane. — Mamãe...


 


— Mione, estava conversando com Rony a respeito de sua escola de dança.


Creio que gostaria que ele desse uma olhada.


 


— Para quê?


 


— Rony é empreiteiro. E um excelente marceneiro. Remodelou o escritório


de seu pai no ano passado e vai reformar minha cozinha. Minha filha exige sempre o


melhor — acrescentou Jane para Rony, os olhos sorridentes. — Portanto, é


claro que me lembrei de você.


 


— Agradeço.


 


— Sou eu que fico agradecida, porque sei que seu trabalho é da melhor


qualidade, com um preço justo. — A mãe de Mione apertou o braço de Rony. — Eu e


César agradeceríamos se fosse ver o prédio.


 


— Cheguei há dois dias, mamãe. Não vamos nos apressar. Mas encontrei


alguém quando estava lá há pouco... Ficou na entrada, encantando Annie.


 


— O quê? Harry?! Por que não disse antes? Enquanto Jane saía quase


correndo, Mione voltou-se para Rony.


 


— Foi um prazer conhecê-lo.


 


— Igualmente. Telefone-me caso deseje que vá ver o prédio.


 


 


 


— Claro! — Hermione recolocou na prateleira o carrinho que ele lhe dera. — Tenho


certeza de que sua filha vai adorar o presente. Só tem Nenci?


 


— Sim, é minha única filha.


 


— Deve manter você e sua esposa muito ocupados. Agora, se me der


licença...


 


— A mãe de Nenci morreu há quatro anos. Mas, sim, ela me ocupa bastante.


Cuidado para não cometer mais acidentes de trânsito, Hermione — advertiu, pondo a


bcasa de bonecas no carrinho de compras e afastando-se.


 


— Belo começo... — murmurou Hermione por entre os dentes.


 


 


 


Uma das melhores coisas em ser seu próprio patrão, na opinião de Rony, era


poder elaborar sua própria agenda de compromissos. Por outro lado, havia muita dor


de cabeça, responsabilidades, papeladas, clientes caloteiros... sem mencionar os


períodos em que nem havia clientes. Mas a liberdade de ação compensava todos os


aborrecimentos.


 


Nos últimos seis anos, sua prioridade tinha um nome: Nenci.


 


Depois de esconder a casinha sob um pedaço de lona, no banco de trás da


picape, foi até um canteiro de obras para ver o andamento dos trabalhos, telefonou


para um fornecedor para alertar sobre uma entrega especial e parou em outra obra


para dar a um cliente em potencial uma estimativa sobre o preço da reforma de um


banheiro. Depois foi para casa. Às segundas, quartas e sextas-feiras, fazia questão


de estar em casa antes que o ônibus escolar apontasse no final da rua. Nos outros


dois dias de escola e, de vez em quando, por um atraso imprevisto, Nenci ficava na


casa dos Malfoys, onde podia passar algumas horas com sua melhor, Jana, sob


a vigilância de Luna Malfoy.


 


Rony devia muito a Luna e Draco Malfoy, em especial pelo fato de


proporcionarem um ambiente seguro e feliz quando Nenci não podia ficar na própria


casa. Fazia dez meses que Rony voltara a Ottery St. Catchpole e lembrava-se, quase


todos os dias, como as cidades pequenas podiam ser agradáveis.


 


Com 28 anos, ficava surpreso ao pensar como abandonara aquela cidade


sem olhar para trás, dez anos antes. Bem, ponderou, ao fazer a curva na esquina de


casa, nada era por acaso. Se não tivesse deixado o lar, determinado a abrir caminho


para o sucesso, não teria aprendido tanto na vida, não teria conhecido Connie, nem


tido Nenci.


 


Quase fechara o círculo, e estava acabando de transpor as barreiras para


reconquistar os pais. Ou, corrigiu em pensamento, Nenci estava. Seu pai podia ter


ressentimentos em relação ao filho, mas não resistira a neta.


 


Fizera bem em voltar para casa, refletiu, olhando para os bosques que


cresciam de cada lado da estrada. Finos flocos de neve começavam a cair do céu


cinzento.


 


Era um bom lugar para se educar uma criança, concluiu Rony com


satisfação. Era melhor viverem em uma cidade pequena, onde Nenci tinha uma


família, e começarem a conhecer um ao outro de verdade.


 


E os parentes teriam que amá-lo pelo que era, e não como uma lembrança do


passado.


 


Rony manobrou e estacionou o carro. O ônibus chegaria em poucos minutos,


e nenci desceria correndo e entraria na picape, preenchendo o espaço com as


exclamações e novidades do dia. Era uma pena que não pudesse compartilhar com


a filha certas confidencias também, pensou. Dizer a ela que conhecera uma mulher


que fizera seu sangue se agitar de novo. Não apenas um ligeiro interesse, mas um


verdadeiro terremoto...


 


Fazia tanto tempo que não tinha esse tipo de sensação... E, que mal havia,


afinal? Uma moça atraente que, percebera, era desinibida e não se importava em


demonstrar o interesse que sentira por ele.


 


Mas um aperto no coração o fez perceber que alguém podia sair magoado.


Entretanto, o risco poderia valer a pena... se não se tratasse da filha de Jane e


César Granger.


 


Conhecia muita coisa a respeito de Hermione Granger. Bailarina, socialite e amiga


das artes. Rony preferia ir ao dentista do que assistir a um espetáculo de bale e já


se fartara de cultura na época de seu breve casamento.


 


Mas Connie fora especial. Uma pessoa simples e natural em um ambiente


pomposo e arrogante. Mesmo assim, fora difícil para os dois, lembrou Rony. Jamais


saberia se continuariam a percorrer o caminho juntos, se ela continuasse viva,


porém gostava de pensar que sim.


 


Por mais que a amasse, o casamento lhe ensinara que era mais fácil viver ao


lado das pessoas de sua terra natal.


 


Voltando ao presente, felicitou-se por ter resistido à tentação de convidar Hermione


Granger para sair. Ainda bem que descobrira quem ela era antes de flertar


abertamente. A paternidade apagara de seu caráter a arrogância e a temeridade dos


tempos de rapaz, transformando-o em um homem amadurecido.


 


Naquele instante, ouviu o motor do ônibus que se aproximava e aprumou-se


no assento da picape, todo sorridente. Não havia lugar no mundo, pensou, onde


gostaria de estar, além de Ottery St. Catchpole.


 


O grande ônibus amarelo parou com um gemido, os faróis brilhando. O


motorista acenou, da maneira atenciosa e alegre das cidades pequenas. Rony


cumprimentou também, e viu sua filha vir correndo.


 


Nenci era uma menina forte. O rosto era redondo e alegre, os olhos eram azuis


como os do pai e as sardas espelhadas pelo rosto,os cabelos eram loiros como o da mãe e davam


a ela a forma perfeita de um anjinho, a boca ainda mostrava a inocência da infância.


 


Observando a filha, sentiu uma onda de carinho e amor inundar-lhe o


coração. Então a porta da picape se abriu, e a menina entrou, estabanada como um


cãozinho novo.


 


— Olá, papai! Está nevando! Talvez a neve cubra tudo e não tenha aula


amanhã, e a gente possa ficar fazendo bonecos de neve. Que tal?


 


— Se isso acontecer, prometo que faremos os bonecos e andaremos de


trenó.


 


— Verdade?


 


— Sim. Sem dúvida.


 


— Oba! Adivinhe!


 


Rony ligou o motor do carro.


 


— O quê?


 


— Faltam só quinze dias para o Natal. A vovó diz que o tempo voa, portanto o


Natal praticamente já chegou.


 


— Praticamente — repetiu Rony, estacionando em frente à casa de três


andares.


 


— Então — continuou Nenci entusiasmada —, se é quase Natal, posso ganhar


um presente?


 


Rony franziu o cenho e cerrou os lábios, como se estivesse pensando muito


no assunto, depois disse:


 


— Sabe, Nenci? Foi uma boa tentativa.


 


— Ora! — exclamou a menina, desapontada. Rony riu, abraçando a garota.


 


— Mas se me der um abraço, farei a famosa Pizza Mágica dos Weasley's para


o jantar.


 


— Certo! — respondeu Nenci, passando os braços pelo pescoço do pai.


 


Rony sentiu-se em casa. 

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Está é a minha primeira fic, então não acredito que seja das melhores mais não esta tão ruim assim, dá pra quebrar o galho rsrsrs
Eu estou amando escreve - lá e espero que os leitores aprovem .... Aceito criticas, sugestões, opniões e tudo mais, até mesmo pq eu sou novata aqui!
ja tenho o segundo capitulo pronto, mais vou esperar por algum comentário positivo pra saber se posto ou não hehe ... desde já agradeço a todos que lerem .... beijos!  

Obs.: desculpem pelos erros de ortografia que possam aparecer =/  

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