*capítulo quatro*
Capítulo Quatro
Ou Crushcrushcrush
“É incrível a paz que a música traz pra nossas vidas. Parece até que ela te faz esquecer o mundo e todas as pessoas medíocres que vivem nele, mas é só você apertar o stop e você percebe que os seus problemas só estavam no pause” – Hayley Williams
Na sexta-feira meu pai tinha ido viajar com Debby e Carl para pescar e buscar novas inspirações aos próximos capítulos de seu novo romance. Já me acostumara às saídas dele, pois eu também tinha as minhas. Certo, elas eram secretas, mas eu as fazia em busca de um alívio. Papai, de certa forma, também agia pensando dessa forma. Eu não gostava quando ele tinha crises de criatividade, porque não tinha vontade de assar nem cookies para mim nesses dias, e isso era mesmo muito deprimente. Os cookies dele eram os melhores.
Claro que, como todas as viagens dele, papai me deixara uma lista do que fazer se “isso” acontecesse, ou se “aquilo” desse errado. Não pude esconder o riso antes de ele partir, porque, além das advertências e conselhos exagerados (“Nunca corra dentro de casa! Sua mãe, um dia, quase morreu porque escorreu no chão da cozinha e bateu a cabeça na quina da mesa!”), aquilo tudo soava como se eu é que precisasse sempre de lembretes sobre “o que fazer” e “o que não fazer”. Caramba, meu pai até mesmo se esquecia de tirar o pijama, se fosse sair. Eu, ao menos, sempre me lembrava de colocar uma calcinha depois do banho.
Sábado chegou tão rápido que achei que tivesse dormido a sexta-feira inteira. Na sexta, a propósito, Sirius tinha passado lá de casa pontualmente às oito e trinta e cinco, para que fôssemos para o colégio juntos, como um casal. Às vezes Remus e James faziam isso, sabe. Davam caronas para as namoradas para que pudessem ficar uns minutinhos a sós com elas para agarrá-las, já que, aparentemente, no caso de James e Lily, os períodos perdidos por conta de encontros picantes em algum ponto da cidade não eram suficientes. Mas eu e Sirius éramos quase comportados nesse sentido. Okay, beijávamo-nos no carro, mas sempre quando não tinha ninguém por perto, e essa era uma das razões que o fazia estacionar o carro perto da caçamba de lixo do refeitório. Só o lixeiro, depois das seis da tarde, passava por lá, já que alunos comuns precisavam deixar seus carros importados longe de lixo e de sujeira. O Sirius não ligava para o lixo, porque se interessava bem mais por mim. Mais precisamente pela minha boca. E, sério, desgrudar-me de Sirius era sempre uma luta. Ele era tão bom para mim e beijava tão bem... que eu apenas pensava “Tudo bem, só mais um...”, mas nossos beijos quase nunca terminavam. Estávamos mesmo muito envolvidos. Eu nem sequer sabia como aquilo realmente começara em mim, só sabia que se o perdesse (e eu sabia que o perderia mais dia ou menos dia, já que ele nem tinha me pedido em namoro e, apesar dos beijos, agíamos como um casal de amigos, daqueles bem comunzinhos) ficaria muito mal. Teria apenas mais um mês e meio para continuar apaixonada, porque depois do colégio partiria para Oxford e o deixaria naquela cidade enjoativa. Eu não suportava pensar em contar os dias, porque sempre que o fazia me desesperava. Contagens regressivas não faziam meu estilo. Tinha pavor de pensar como seria a minha vida sem meus amigos e sem Sirius. Não sabia se poderia partir do zero novamente.
Então, como prometido, Sirius passou lá de casa às duas da tarde. Eu, com a minha cabeça megaperdida, já tinha varrido de meus compromissos ir à festa de James. Estava ouvindo The Ready Set enquanto copiava uns esquemas de Biologia I, quando a campainha soou. Com o pote de sorvete nas mãos, fui atender a porta e dei de cara com Sirius em um calção de banho, sorrindo-me torto como sempre.
- E aí? – ele falou rindo. Passara os olhos por mim, obviamente, e percebera que eu não estava bem arrumada para uma festa na piscina.
Não liguei, afinal, eu não era do tipo que me confortava ao vestir um biquíni e ser julgada pelas outras meninas. Na verdade, eu não era do tipo que vestia menos do que calça jeans, blusa simples e confortável (sem decotes, a grande maioria) e All Stars. Lily e Dorcas usavam aquelas roupas das populares, sabe. Saias curtas, blusas que mostravam as alças dos sutiãs (que, aliás, não é nada elegante, segundo sei-lá-quem que tinha visto um dia na TV) e sapatos altíssimos. Elas viviam me aporrinhando para eu me aderir ao estilo delas, mas eu estava muito bem com o meu. E ficava pensando muito no que tinha de fato errado em mim. Então, quer dizer que só porque eu era bem básica nenhum cara se permitiria gostar de mim? Só por conta de minhas roupas? Eu sempre soube que, tipo, temos que ser felizes com o que temos e com o que nos deixa confortáveis. Não achava que precisava mudar para ser aceita, porque sempre que pensei que o amor (mesmo que eu o evitasse e tudo) era compreensível. Que, tipo, tínhamos que nos aceitar para a outra pessoa também nos aceitar. E eu já estava muito mais do que conformada com a Marlene Mckinnon que era.
Além do mais, o Sirius nunca tinha feito nenhum comentário sobre as minhas roupas. A única coisa que realmente pedira tinha sido para eu andar mais vezes com o cabelo solto. Dizia que gostava de ver quando minhas ondas balançavam.
- Hey – sorri. Queria largar o pote de sorvete e abraçá-lo.
Eu ficava feliz só de vê-lo. É, além de apaixonada, eu era bastante retardada.
- Hm, não está pronta, está? – ele riu de um jeito fofo, ainda parado no corredor.
- Para...? – inquiri com o mesmo tom que ele.
- A festa do Jay, Lene! – Sirius riu mais um pouco.
- Ah. É verdade – eu disse bem devagar.
Eu em um biquíni na frente de Sirius e de quase metade da escola? Hm, obrigada, mas passo.
- Então, vá lá colocar um biquíni – ele sugeriu, agora dando um passo para frente e entrando em casa. Tirou o pote de sorvete de minhas mãos, provou uma colher e me beijou nos lábios.
- Hm, não vou colocar biquíni nenhum – comuniquei.
- Lene, é uma festa na piscina. Como espera entrar na água ou tomar Sol com calça jeans e camiseta de patinhas de cachorros? – Sirius olhou para a minha camiseta e riu.
Tanto faz. Ele gostava de cachorros. Já tinha conhecido o Nugget e ele era do tipo cachorro-bobão-feliz-e-tarado. Sério.
- Não sou fã de festas na piscina – dei de ombros.
- Tudo bem, então – ele falou – Pegue seu óculos de Sol e vamos.
Fiquei olhando para ele. Ele não tentaria nem me chantagear? Que tipo de garoto Sirius era? O James vivia implorando para Lily fazer, tipo, um striptease para ele; e o Remus, apesar da nerdice, gostava muito de ver a namorada de biquíni.
- Você quer mesmo ir para a festa? – eu quis saber. Não perguntei isso porque planejava ficar com ele ali no apartamento, mas porque naquela tarde eu não estava em clima de festa. Principalmente o do tipo “na piscina”.
- Lembra que eu tinha lhe dito que você iria se divertir sempre que estivesse comigo? – ele ergueu as sobrancelhas.
Okay, ele tinha mesmo prometido. Foi naquela noite que ele me fizera dar uma saída no meio da madrugada para ver a hidrelétrica funcionando e brilhando.
- Só não estou no clima – me desculpei.
- Não me faça querer chantageá-la, Marlene – Sirius falou suspirando. Quando ele dizia meu nome era porque eu estava um pouquinho enrascada.
- Precisamos mesmo ir?
- Não. Você precisa ir.
Revirei os olhos.
- E está um calor do inferno aqui dentro – completou olhando pela sala/cozinha.
- Eu gosto – falei timidamente.
- Ou então podíamos tomar um banho de chuveiro juntos e depois...
- Sirius – falei aborrecida.
- É você quem sabe – ele sorriu, alcançando meus lábios com o dedo polegar.
- Você é um chantagista da CIA – xinguei, voltando para o quarto para procurar as chaves do carro e um óculos de Sol.
Antes de sair com o Sirius, olhei-me no espelho.
O que havia de errado comigo? Eu gostava da Marlene humilde e simples. Talvez o Sirius também gostasse.
- Prontinho – cheguei na sala/cozinha e sorri.
- Não precisa das chaves, vamos no meu carro – Sirius tirou minhas chaves de meus dedos e a largou em cima da mesinha de centro.
Já em seu carro, Sirius me pegou. Quero dizer, só começou a me beijar. Achei que se tivesse que rolar beijos, eles seriam dados lá dentro do apartamento, mas ele não se incomodou com as pessoas que pela calçada passavam. Estranhei um pouco, mas logo relaxei. Talvez deveríamos abrir o jogo com nossos amigos. Não perguntei isso a ele, porque, como as coisas estavam (bem demais), se eu fizesse uma só coisa era bem provável que eu estragasse tudo.
- Sirius – chamei por entre a dança de nossas bocas.
- Hm – ele gemeu.
- E se... – tentei me separar dele, mas ele não permitiu. Ofeguei entregue àquilo.
- Hm – ele repetiu.
Franzi a testa e coloquei minhas mãos no peito dele. Empurrei-o de leve, para que ele me deixasse.
- Hey – ele pareceu se decepcionar com a minha atitude.
- Desculpa – sorri pequeno, sentindo-me culpada – Mas preciso, hm, saber de uma coisa.
Ele rolou os olhos, divertido.
- De quê?
Não sabia por que me sentia tão envergonhada. Era apenas uma pergunta. Ela estava acumulada em mim há quase duas semanas... e tinha que me livrar dela o mais rápido possível.
- Essas coisas, você sabe, nossos beijos... – mordi meu lábio – São apenas divertimento, não são?
- Eu já disse que gosto de você, Lene – Sirius estava sério e pegou uma mecha de meu cabelo.
- Eu sei, eu também gosto de você... mas só estamos nos divertindo, certo?
- Você não quer se divertir comigo? – ele riu, tentando chegar mais perto de minha boca.
- Quero – surpreendi-me – Mas, bem, nunca vai passar disso, vai?
- Por que tudo isso agora?
- Não sei. Sou meio insegura, às vezes – sorri pequeno.
- E é por isso que se esconde tanto por trás de livros e de estudos?
Inclinei minha cabeça um pouco. Nunca tinha pensado diretamente nas coisas daquele jeito.
- Não – minha voz saiu hesitante. Não sabia qual era a resposta adequada.
- Eu estou tentando fazê-la aproveitar um pouco dos seus dezoito anos, Lene. É apenas isso. Você tem que parar de ser insegura, então. Porque quero que faça e diga coisas convictamente. Toda menina, um dia, precisa saber em quem confiar.
- Hm... e isso significa que... – fiz uma careta discreta.
- Que eu gosto de você e que estamos aproveitando o resto de nossos dias escolares juntos – resumiu.
- Ah – não sabia se tinha me decepcionado ou me aliviado.
E se eu estivesse muito apaixonada por ele? Tanto que, se ele me dispensasse, eu me machucaria?
- Tudo bem? – ele me questionou, porque eu não tinha expressado nenhuma reação.
- Sim – respondi mecanicamente.
E se eu respondesse “não”?
- Hm, vamos para o Jay? – perguntei rindo sem emoção.
- Claro – ele retribuiu o sorriso, antes de arrancar com o carro.
A casa do James não era tão longe da minha. Tínhamos que pegar a Avenida das Flores e seguir até o final dela. Não sei por que, mas senti que o clima ali dentro do carro ficou um tanto quanto diferente, modificado. Achei que Sirius tinha se chateado comigo. Achei que tinha sido por fato de eu ser insegura, às vezes, até com ele. Mas o que eu podia fazer? Eu era mesmo assim, oras. Além do mais, por mais que eu confiasse nele muito, não sabia se ele retribuía da mesma forma. Bem, ele dissera que estávamos aproveitando o resto de nossos dias escolares. Os últimos dias realmente juntos. Tinha um que de despedida naquilo. Não tinha? Ou era só minha imaginação?
Ouvíamos Bad, do Michael Jackson, na rádio de canções antigas e nem eu nem ele falamos algo. Olhávamo-nos, sorríamos e focávamos em outra coisa.
Okay, tinha mesmo um clima estranho ali.
Bem, eu não tinha necessariamente me chateado. Eu também estava achando aquele lance com Sirius uma diversão muito boa. Ao menos ele me distraía e me fazia feliz. Eu já comia com regularidade (Sirius comprava um monte de comida para mim), tinha uma noite quase tranqüila de sono (elas só eram interrompidas por algumas escapelas com Sirius) e ria muito mais.
Depois do colégio, eu suportaria viver em Oxford sem Sirius e suas idéias engenhosas? Não queria pensar naquilo.
Lily e Dorcas já estavam na piscina de James. Ambas com biquínis brasileiros e óculos de Sol. Lily, que era bem ruiva, não estava no Sol, mas Dorcas não se incomodava com sua pele queimando.
- Cara, até pensei que vocês não viriam – Lily me cutucou com força nas costelas. Olhei feio para ela. Tinha doído.
- Eu disse que a traria – Sirius disse, sorrindo-me confortável – Nem precisei chantageá-la muito – seu sorriso se intensificou e eu quis sumir. É, banho de chuveiro.
- Mas você de novo não está de biquíni, Marlene – o nariz bonitinho de Dorcas se contorceu todo insatisfeito.
- Não estou com tanto calor assim – menti.
Tanto faz. Elas sabiam que eu não gostava daquelas coisas.
- A Lene não é uma idiota, Sirius? – Lily riu toda brincando.
Olhei para mim. Hey, eu estava de chinelo Havaianas. Já era um progresso, oras.
Olhei para Sirius. Ele concordaria.
- Eu não me incomodo – Sirius deu de ombros e abriu aquele meu sorrisinho preferido tão discretamente que tive certeza que ninguém além de mim o percebera.
Maravilhada e completamente agradecida sorri profusamente para ele sem me importar com as meninas.
- O que foi? – Dorcas perguntou.
- E eu é que sei? – Sirius riu, desviando os olhos de mim.
- Vocês são tão estranhos. Sério – Lily declarou e depois foi pegar uma taça de saquê.
Dorcas saiu da água e se enfiou em algum quarto com Remus. Lily, depois que James declarou que todo mundo que ele convidara já estava ali, também desapareceu com o namorado.
Eu me sentei em uma das espreguiçadeiras (a única que não estava ocupada por uma menina com zero de vergonha no corpo) e fiquei apreciando o movimento da festa.
E se eu ficasse sozinha para sempre, depois da escola? Quero dizer, Sirius foi praticamente a única coisa que fez o meu ano valer realmente a pena. Eu lá me matando de estudar, enquanto podia estar sendo uma menina normal... mas não, garotas normais não querem ser aceitas em Oxford por bolsa. Elas só querem um namorado e talvez bastante dinheiro para comprar roupas. E se formos analisar, talvez eu detestasse os “normais”. Eles eram tão... sei lá, fúteis em alguns pontos. Nada de ambições, nada de planejar o futuro, nada de nada. Sirius, apesar de até ser bastante normal, compartilhava comigo o desejo de uma boa faculdade, um futuro estável e garantia de felicidade. Mas, por trás de toda aquela “convencionalidade”, existia um Sirius muito diferente do imaginado. Ele conseguia ser um amor e fofo quando queria e também muito desregrado. Eu não era muito de gostar de perigo, porém com ele aquilo era excitante, era instigante, sabe.
As meninas que mal olhavam para mim no colégio continuaram a me ignorar, mas não me importei. Eu não me importava com muitas coisas. Ao menos eu iria para Oxford. Elas nem sabiam que curso queriam. Está vendo? Parece que não há diferenças, mas sempre há. Começando pelos meus All Stars, claro.
Depois de um tempo, Sirius se juntou a mim. Apenas ficou ao meu lado, calado. Sirius não era assim.
- Por que você não diz nada? – perguntei.
- Por que você não diz, então? – ele riu.
- O que você tem?
- Não tenho nada. Pareço ter algo?
- Sirius... você ficou estranho, de repente – comentei cautelosa.
- Só não estou a fim de falar – ele deu de ombros.
Mas ele com certeza tinha alguma coisa. Uma coisa muito errada.
Então, sem agüentar mais ficar ao seu lado calada, levantei-me da espreguiçadeira com brutalidade.
- Aonde vai? – ele me perguntou demonstrando surpresa.
- Não sei. Por aí – sacudi os ombros fazendo pouco caso.
- Vou com você.
- Não quero. Se você prefere ficar calado sem me contar o que está havendo, é melhor não me acompanhar – falei um tanto quanto fria.
- Eu só não estou a fim de falar, Lene – Sirius riu.
- Mas eu quero falar.
- Então fale. Não estou a impedindo.
Passei minhas mãos pelos cabelos. Eu estava suando. Eca, que meleca. Suspirei frustrada.
- Tanto faz. Vou dar uma caminhada – falei.
- Acho que quem está com problemas é você – ele assimilou, chutando.
- Claro que sim. Você está com problemas e não quer me falar.
- Por que tenho que contar?
- Então você tem algum problema mesmo?
- Eu não disse isso. Eu fiz uma pergunta.
- É, e ela responde a minha pergunta – respondi aborrecida.
Se estávamos brigando, a sensação não era boa. Brigar com amigos não é nada legal.
Saí andando e flanqueando a borda da piscina sem olhar para trás.
- Espere aí – a voz de Sirius ricocheteou em meus ouvidos, pois ele tinha me segurado pelo antebraço com muita facilidade (mas sem me machucar; seus dedos estavam leves em mim) – Sério? Você está me dispensando só porque não estou dividindo uma coisinha com você?
- Ah é? Quer saber de uma coisa? A última vez que alguém escondeu de mim uma coisinha, eu perdi a minha mãe para o cabeleireiro dela e tive que me virar em um apartamento horroroso com o meu pai! Se ela tivesse me contado que estava nos traindo, talvez eu pudesse perdoá-la! – não tive certeza, mas acho que berrei.
É, berrei. As meninas que estavam dentro da piscina tinham parado com o jogo de vôlei aquático.
Tentei disfarçar e me soltar de Sirius, mas não consegui.
- Você tem sérios problemas com segurança, hein. Ou talvez com fidelidade – Sirius me disse.
- É, isso aí. Eu tenho mesmo – concordei com selvageria – O que vai fazer, me largar de vez?
- Eu nunca a larguei desde aquela primeira quinta-feira, Marlene – Sirius me lembrou em um tom raivoso.
- Olha, isso não vai dar certo. Não está mais, está vendo?
- Só porque estamos, pela primeira vez, discordando em um ponto de vista? – ele riu.
- Não é um ponto de vista! É em um fato! Porque existe um problema e você acha que sou burra o bastante para não o compreender!
- Você está tirando conclusões precipitadas – ele suspirou - Primeiro: nós não temos nada a sério de verdade para você me cobrar tanto feedback. Segundo: você tem um monte de segredos que com certeza não está a fim de revelá-los a mim, e eu nunca reclamei. Terceiro: de onde tirou que estou com algum problema? E quarto: eu não a acho burra. O seu problema é só Química e isso não a torna idiota.
Respirei fundo e de repente murchei.
É, não tínhamos especificado que tipo de relação mantínhamos. Mas naquele minuto ficou claro: na verdade, não tínhamos nenhum tipo de relacionamento sólido. Éramos como primos brincando de Médico e Paciente.
- Tudo bem – eu falei.
- O quê? Tudo bem o quê? – ele exigiu saber.
- Não sei. Mas... se você quiser, tipo, procurar outra menina, por mim tud...
- Cala a boca, Marlene! – ele berrou, muito, mas muito raivoso.
E então saiu de minha frente.
Andou enfezado para o interior da casa de James e desapareceu de minha visão. Pisquei e pisquei.
Ele tinha ido embora?
É, ele tinha.
O calor deixou minha respiração pesada e difícil.
Fui para o jardim na frente da casa, onde a mãe de James cultivava rosas. Sentiu-me na grama de pernas cruzadas e apoiei meu queixo nas palmas das mãos, que, por sua vez, eram sustentadas por meus joelhos. O Sol me cegava, fazia minha pele arder e meu corpo começou a ficar muito quente. Queria tirar a roupa de tão quente que eu estava ali. Depois de um tempo, não sabia como nem por quê, senti grossas lágrimas traçarem caminhos pelas minhas bochechas.
Talvez eu não fosse nada para Sirius. Era só mais uma. Ah, maravilha.
- Lene?
Assustei-me e tentei limpar as lágrimas.
Lily surgiu na minha frente com a expressão preocupada. Agachou-se de frente para mim e fiquei me observando, até que perguntou:
- O que aconteceu?
- É a pressão de final de colégio – meu sorriso lacrimejante esmoreceu assim que menti.
- Você não choraria por isso. Você é acostumada a pressão. E você se sai bem dela.
Eu devia ter contado a elas desde o início. Éramos amigas; o que elas fariam? Eu não fiz objeção alguma quando a Lily contara que amava o James. Eu só tinha ficado feliz por ela.
- Sabe quando você e a Dorcas ficam chateadas quando eu não quero dividir meus segredos com vocês? – perguntei.
- É, você nos faz ficar chateadas por isso praticamente todos os dias – ela riu.
- Então, agora sei por que ficam tão chateadas – confessei.
- Ah é?
- É, e é melhor procurarmos a Dorcas, porque vocês têm o direito de saber do meu último segredo – falei e logo me levantei da grama.
- Mas como assim? Que segredo é esse? – Lily ficou ansiosa, mas me seguiu.
Quando passei pela piscina novamente vi Sirius conversando com Marion (a nerd-mór da turma) e fingi não sentir nada.
Dorcas estava servindo umas garotas que estavam na sala de TV de patezinho.
- Hey – ela sorriu quando nos viu, mas sua expressão ficou mais séria quando viu a minha cara – Ai, meu Deus, o que aconteceu? Alguém morreu? – ela deixou a bandeja nas mãos de uma das loiras e colocou a mão na boca.
- Não, sua tonta – Lily falou – A Lene precisa contar uma coisa para nós.
As meninas sentadas no sofá gigante olharam para nós, ansiosas.
- Hm, só para as duas – expliquei e as conduzi para o quarto de James.
Sentamo-nos todas na cama macia de Jay, mas fiz um longo silêncio. Estava repensando nos prós e contras da revelação daquele segredinho.
- Eu e o Sirius estamos tendo uma coisa – soltei de uma vez, sem rodeios.
Elas se entreolharam e arregalaram os olhos.
- Eu sabia! Vocês estão muito amiguinhos para o meu gosto! Já a vi indo para a escola no horário certinho, no carro dele! – Lily comemorou.
- E aí, ele é bom? – Dorcas perguntou.
- O quê? - Minha boca estava seca e aquele quarto muito quente, o que aparentemente estava me deixando bem lentinha.
- Você sabe – as duas falaram juntas.
- Ah meu Deus, qual é o problema de vocês? – exclamei chateada – Eu disse que estou tendo “uma coisa” com ele, não que estou transando com ele!
- Ah – elas se decepcionaram.
- Então você estava chorando por causa dele? Tipo... você viu ele beijando outra? – Lily me perguntou.
- Ah, Lene, você estava chorando? Por quê? – Dorcas se preocupou.
Suspirei.
- Eu não sei. Ele está me escondendo alguma coisa, sabem. E eu não quero que ele faça isso. Achei que tínhamos uma relação aberta, que podíamos contar tudo um para o outro.
- Você já contou tudo para ele? Até sobre coisas que não conversa nem comigo e com Dorcas? – Lily quis saber.
- Depende do assunto. Mas eu achei que ele estivesse mesmo gostando de mim, sabe.
- Mas, Lene, só porque ele não quer lhe contar sobre um segredo, não quer dizer que não a esteja amando. Todos precisam de um pouco de privacidade. Tipo, eu não fico contando para o Reminho sobre coisas de garotas. E ele não fica contando a mim as coisas de garoto dele – Dorcas explicou.
Não me convenci. Eu não queria que ele me escondesse algo. Eu escondia porque... bem, porque nunca tivera confiança nas pessoas, sempre precisava manter uma certa distância. O lance de intimidade não era comigo.
- Acho que ele não gosta de mim quanto eu gosto dele – falei.
- Ah meu Deus, você está apaixonada por ele, Lene! – os olhinhos de Dorcas só faltaram brilhar.
- Eu não... não é isso – pisquei por um tempo enquanto elas esperavam pela confirmação. Relaxei meu ombros cedendo: - É, eu estou apaixonada por ele.
- Uaaaaaau – Lily cantou.
- Ah, Lene, não ligue para isso. Não vai querer mesmo brigar por pouco, vai? – Dorcas falou.
- Eu não sei. Estou tão confusa. Eu não queria brigar com ele, o Sirius me faz muito feliz, sabem – admiti.
- Uma simples palavra pode mudar tudo – Dorcas disse.
- Não seriam três? “Eu amo você”? – Lily estranhou.
- Não, sua babaca. Estou falando de “desculpa” – Dorcas rolou os olhos.
- Aaaah – Lily fez.
- Você acha? – esperei confirmação.
- Com certeza – ela sorriu, confirmando-me.
Ficamos lá dentro por mais um tempo enquanto elas contavam sobre as últimas fofocas e saí. Fui direto para a piscina, mas ele não estava mais lá. Gelei. Ele teria ido embora e me deixado lá? Assim, tão frio? Não, ele não faria aquilo. Andei até a frente da casa, esperando ainda ver o carro de Sirius estacionado. O carro estava ainda parado no meio fio e Sirius estava dentro dele. Timidamente, bati no vidro fechado, pois o ar condicionado estava ligado. Ele destravou as portas e pude ouvir Hot N Cold, da Katy Perry, no rádio.
- Posso entrar um minutinho? – perguntei, antes de me acomodar no banco ao seu lado. Ele deu de ombros, como se tanto fizesse para ele.
Ali dentro estava muito mais gostoso e refrescante. O dia estava mesmo muito bom para um banho de piscina.
- Sirius...
- Olha, se vai começar de novo, vou ter que pedir que saia – ele me interceptou com a voz impaciente.
- Não, não. Não vou começar de novo. Sei que não devia cobrar nada de você, porque só estamos nos divertindo e é isso. Além do mais, eu tenho um monte de coisas que nunca contei a ninguém guardadas comigo, então foi uma estupidez eu ter sido uma idiota com você àquela hora.
- Não precisa se depreciar – ele falou.
- Se você me desculpar, podemos esquecer isso, ir tomar um sorvete e depois ir ao parque andar de montanha-russa. Não vou estudar hoje, não quero estudar hoje. Só quero ficar com você – não dei ouvidos ao seu comentário e continuei.
- Isso é um pedido mesmo de desculpas? – Sirius riu, descontraindo a ar.
- É – assenti.
- Quero brigar mais vezes com você – ele sorriu.
Não sorri. Brigar com alguém não é saudável. Machucamo-nos e até pode ser que a cicatriz nunca desapareça.
Acheguei-me em seu tronco, toda carente, como se fosse um gato idiota.
- Está tudo bem agora, Lene – ele me assegurou, beijando o topo da minha cabeça e acariciando meus cabelos ondulados.
- Juro que não serei mais idiota com você, okay? – prometi, erguendo meu rosto de seu peito para olhá-lo.
- Quem você é não é o que você faz – Sirius falou.
E então, ele me beijou. Mas beijou de verdade. Não foi um beijo cauteloso como quando tínhamos que nos esconder da Lily ou de Remus.
- Hm, eu contei para as meninas sobre nós – contei.
-Ah – Sirius falou – E tudo bem para elas?
- Acho que sim – sorri.
Ele deu partida e fomos até a sorveteria perto de minha casa. Dividimos um sundae de baunilha com cobertura de chocolate e de morango. Encomendamos um pote de sorvete de menta com chocolate e fomos lá para o apartamento. Passamos o resto da tarde falando besteira, comendo pizza e vendo TV. Aquele sábado, apesar dos meus conceitos iniciais, estava sendo um dos melhores. Sentia-me mais leve por ter contado sobre mim e Sirius para as meninas e feliz por terem me apoiado. Apesar do lance da cama.
Mas perto das onze eu vim a descobrir o lance da cama. Não me lembro como começou. Estávamos no meu quarto, numa boa, conversando sobre qualquer coisa e então nos cansamos de tanto falar e iniciamos de novo os beijos. Só que eles meio que foram diferentes. Tinham, talvez, um propósito diferente.
- Somos amigos, não somos? – perguntei.
- Um pouco mais do que amigos. Amizade colorida? – ele riu da última frase, pendendo sua testa em meu ombro.
- Talvez – falei incerta.
E logo em seguida ele me beijou de novo na boca.
Tudo bem, eu já tinha feito aquilo. Não tinha contado para a Lily e para a Dorcas, porque eu era diferente. Eu tinha prioridades diferentes das delas. Elas eram muito mais abertas do que eu, conseguiam contar o mínimo detalhe da uma coisa, mas eu não. Não por vergonha, mas porque aquela era eu. Eu era como uma caverna. Até certo ponto a luz iluminava o interior dela, mas depois dele só restava escuridão, e aquela escuridão era a parte de mim que nunca ninguém acessaria.
Não sabia bem o que Sirius esperava com aquilo, mas não o impedi. Ele me fazia feliz. Tinha que impedir que a felicidade não se fosse, não tinha?
Minutos depois, ofeguei quando os lábios dele escorregaram de minha orelha para meu pescoço, antes de Sirius ter conseguido despir minha blusa de alcinhas com cuidado, porém com certa urgência.
x.x.x
N/a: Yeey, oi :B Hm, sei que a época do Natal/Ano Novo é corrida, mas poxinha, cadê os comentários lecais ali, gente? Isso me deixou um pouco triste, mas enfim, ainda amo vocês, tri. Então, espero que passando o Ano Novo, vocês voltem ao "normal" e continuem me motivando. Sem motivações, não serei capaz de retribui-los :/
#Comentem, por favor. Nem que seja "Uh, idiota!". Tá valendo. Tudo vale (:
# FELIZ ANO NOVO, meus amores *---*
Nina H.
31/12/2010
Comentários (2)
Nossa acho que o Sirius está apaixonado por elaPorque depois da conversa que ele ficou meio assim, e talvez tenha se chaetado com elaahhhhhhhhhhh amando a fanfic *------------------*Tipo a Lene deveria se abrir mais com as amigas....beijoos *-*
2012-09-10*takeabreath* ahhhh! que lindoooos! *----* Mas o que será que o Sirius tá escondendo?? O_O Vc escreve bem demaaaaaaaaaais, Ninaa! *--* Parabéns!
2011-05-09