Considerações Pessoais







Capítulo III







Considerações Pessoais












“Pra quê tanta correria?” pensou Luna enquanto esperava na fila com suas amigas. Era estranho poder chamá-las de “amigas”... Elas não tinham medo nem vergonha de acompanhá-la pelas travessas da vila, e isso fazia com que Luna se sentisse profundamente feliz. Não entendia por que todos pegavam tanto no seu pé e invocavam com o seu jeito calado de ser.

Ser chamada de “aluada” era uma grande ofensa, pois estava sempre ligada em tudo, desde as conversinhas à sua volta, os buchichos e cochichos, até no que dizia as estrelas lá no céu, as rimas e versos dos antigos poemas... via, ouvia e lia tudo, até as entrelinhas.

Sabia que aquela fila demoraria muito para andar, então pensou na solução que mais lhe pareceu lógica no momento: furou a fila, entrou na loja e falou com a famosa Madame Maltikins. Gina e Hermione nem deram por sua falta, devido à animada conversa em que estavam engajadas, mas ficaram surpresas quando seus nomes foram chamados lá na frente.



Gina ouviu seu nome ao longe, mas não reconheceu a dona da voz, então se virou para ver quem era... Uma mulher esguia com uma tesoura na mão e uma fita métrica enrolada ao pescoço... e Luna ao seu lado. Ela ficou surpresa, pois nem havia visto Luna sair do seu lado... Mas agora ela estava lá na frente, à sua espera. As garotas na fila estranharam o fato, e muitas delas reclamaram quando elas pularam a vez de todas, mas o fato é que a espera fora abreviada, e o porquê ainda era um mistério.

– Eu nem acredito que entramos! –disse Hermione muito alegre. –Da outra vez eu tive que marcar com um mês de antecedência para poder ser atendida! E agora...

– Agora nós fomos chamadas lá na frente pela própria Madame Maltikins! –exclamou Gina muito contente com o fato, afinal, esperar sob uma fina garoa gélida era, de longe, algo agradável.

– Isso é coisa da Luna... Você viu quando ela foi lá na frente? –perguntou Hermione ainda confusa.

– Desculpem-me pela minha breve escapulida... mas vocês estavam conversando tão alegremente que resolvi vir sozinha... Mas não se preocupem, já resolvi tudo sozinha! –disse Luna, já em cima de uma banqueta de madeira.



A modista tirava as medidas de Luna com uma fita métrica mágica que media sozinha rapidamente, enquanto isso ela ia anotando tudo num livreto velho e um pouco judiado. Depois que terminou, ela ajudou a garota a descer e disse, afagando sua cabeça:

– Como você cresceu, meu bem! Como vai o seu pai?

– Ele vai indo... Enterrou-se no trabalho desde que a mamãe... se foi. –concluiu Luna, engolindo seco.

– Bem, vamos ao que interessa! –disse Madame Maltikins mudando rapidamente o curso da conversa. –Tem alguma idéia para o seu vestido?

– Para lhe ser franca, nenhuma... Nem queria ir ao baile... –disse Luna com um ar distante e vazio.

Ela sabia porque não queria ir ao baile... queria evitar aborrecimentos e constrangimentos... Luna achava que às vezes isso era inevitável, principalmente na sua vida. Mas para agradar as suas amigas, ela concordou em vir para esta velha e conhecida boutique... Ela ainda possuía o mesmo cheiro e o mesmo papel de parede bordô desbotado... mas em nenhum momento pensou em escolher um modelo para seu vestido, mesmo porquê, ainda faltava muito tempo para o tão esperado Baile de Inverno.



Harry e Neville esperaram Rony retomar o fôlego antes de seguir para as carruagens, onde certamente os garotos esperariam. Eles pensaram em voltar para o ‘Três Vassouras’, mas assim que Neville avistou Draco Malfoy pela janela, eles desistiram da idéia. Os três divisaram Lino Jordan ao longe. Ele esperava por Harry com um grupo de grifinórios que pareciam muito agitados com a sua aproximação. Rony sorriu, pois sabia do que se tratava: Quadribol! “Afinal, porque um monte de rapazes se juntariam bem longe das meninas, se não para falar de Quadribol... e de mulheres?!?”

Primeiro todos cumprimentaram Harry pelo seu confronto com Draco, afinal, ele bem que mereceu! Depois os garotos mais novos, e mais afoitos, perguntaram tudo sobre os testes de segunda-feira. Os mais velhos apenas absorviam cada palavra que Harry dizia sobre dicas, inscrições e requisitos necessários. “Ser capitão é a melhor coisa do mundo!” pensou Harry, enquanto esclarecia todas as dúvidas dos garotos à sua volta. Era uma grande responsabilidade sim, mas ele se sentia merecedor de tudo aquilo.

Foi então que Harry se lembrou que nem queria vir para Hogsmead... estava mal com o que se passava dentro da sua cabeça... mas tudo valeu a pena. Gina estava certa afinal, pois se tivesse ficado sentado naquela poltrona teria perdido um grande final de semana. Harry riu consigo mesmo quando se lembrou de Gina... e lançou um sorriso muito carinhoso para a menina de cabelos cor-de-fogo que se aproximava da carruagem naquele momento.



Gina era toda alegria quando saiu da boutique, nem acreditava no maravilhoso vestido que havia encomendado... E o preço, apesar de absurdo, seria posto na conta dos gêmeos, que se ofereceram para pagar a ela o vestido mais bonito de todo o mundo mágico. Hermione e Luna também estavam contentes, mas Gina sabia que Mione ainda mudaria de modelo algumas vezes até que encontrasse o “vestido perfeito”. Ela era assim mesmo, sempre perfeccionista.

Elas finalmente entenderam o porquê de serem chamadas lá na frente assim que Luna se explicou. Sua mãe era uma velha amiga e cliente da Madame Maltikins, por isso a afeição da modista e o gesto bondoso. Já era tarde quando elas finalmente alcançaram as carruagens.

Em vinte minutos eles voltariam para Hogwarts, e ai seria um bom tempo sem cervejas amanteigadas e tortas de presunto... a não ser que eles usassem o velho mapa e a capa de Harry. Certa vez Harry chegou até Hogsmead por um caminho secreto que apenas os gêmeos conheciam. Todos sabiam que era arriscado, e Hermione nunca deixaria... por isso Rony e Harry faziam isso com freqüência, mesmo sabendo dos riscos dos comensais do Lord das Trevas.

Gina seguia alegre pelo caminho, quando avistou Harry ao longe, rodeado de garotos loucos por uma vaga no time do famoso “Menino-que-sobreviveu”. Uma angústia tomou o seu peito, e ela até começou a duvidar de sua capacidade... “Seria mesmo possível que Harry, por um momento, realmente quisesse me escolher para o time, ou teria ele me treinado as férias inteiras apenas por pena?” indagou Gina ainda mais confusa. Qualquer que fosse a intenção, os bons momentos ao lado de Harry teriam valido a pena, e ela faria jus à dedicação de seus irmãos e de seu... “grande amigo”.

Seu olhar insistente foi percebido por “ele”, que logo correspondeu com um largo sorriso... Era incrível o poder que Harry ainda exercia sobre ela... Com apenas um sorriso ele era capaz de iluminar o seu dia, desanuviar sua mente e espantar qualquer pensamento negativo... “O que eu não faço por esse sorriso?” pensou Gina enquanto se aproximava do grupo.



Hermione se aproximou do grupo receosa. Não sabia se deveria cumprimentar ou não Rony, então só deu um “Alô!” coletivo. Eles se contentaram apenas em trocar olhares e sorrisos, e todos os garotos perceberam aos poucos que os dois queriam ficar a sós, por isso foram logo se dispersando. Mione ficou preocupada com a aparência abatida de Rony, por isso interrogou Harry e Neville.

Os dois quase a convenceram, não fosse a tremedeira de Neville quando ela se dirigia a ele. Hermione sabia muito bem usar o seu tom inquisitório para arrancar dos mais fracos aquilo que ela queria saber, e Neville acabou entregando o serviço todinho sem nem ao menos dizer uma palavra.

– Você está de novo fazendo aqueles testes malucos? –indagou Mione, já sabendo a resposta.

– Não é bem isso, Mione... –Rony falou meio sem jeito.

– Você disse que havia parado! Disse que não ia mais fazer isso! –continuou Mione com o seu discurso, mesmo sabendo que seria em vão. –Quantas vezes eu vou ter que falar para você parar com isso? Será que você é surdo, Ronald Weasley?!?

– Desculpe-me, Mionezinha... –completou Rony em tom resignado, sabendo que quando ela o chamava pelo nome completo, com certeza ficaria brigada com ele por um bom tempo.

– Sem desculpas desta vez! –disse ela por fim, entrando na carruagem mais próxima e batendo a porta às suas costas.

– Por que ela tem que ser assim tão difícil? –ponderou Rony ainda chateado.



No caminho de volta o casalzinho se manteve calado e Neville dividiu a revista com Luna, que começou a ler sobre um antigo templo Inca que havia sido atacado por trouxas semana passada. Harry e Gina sentaram-se lado a lado, mas toda essa proximidade incomodava um pouco.

O silêncio se fez na cabine até a metade do caminho, e Harry, que estava achando aquilo tudo muito estranho, resolver quebrar o gelo:

– Errr... Eu queria te agradecer de novo... –disse ele ainda olhando para a chuva fina que escorria pela janela da carruagem.

– Pelo quê? –perguntou Gina, meio distraída com o seu cordão.

– Se não fosse por você, eu nem teria me levantado daquela poltrona... Provavelmente ainda estaria sentado lá, pensando besteiras... e acabaria perdendo um dia maravilhoso ao lado dos meus amigos...

– Bem, acho que você poderia me ouvir mais vezes então... –corou ela levemente, ainda brincando com o seu cordão.

– Esse é o cordão que eu te dei? –disse Harry tentando continuar a conversa. –Ele combina com você... e a sua roupa também...

Ela apenas sorriu... e corou violentamente. Depois virou o rosto para o outro lado para observar os dois bicudos que ainda se mantinham calados, deixando a cabine em silêncio mais uma vez. Harry pensou rápido, precisava continuar falando ou logo ficaria sem assuntos.

– Preparada para o teste de amanhã? –perguntou ele, fazendo a menina corar ainda mais.



Gina sentou-se ao lado de Harry na cabine. Mal conseguia se conter de emoção... “Mas eu não sou mais assim!!! Essa é a velha Gina! Aquela menina bobinha ficou para trás!” dizia para si mesma tentando se convencer de que não sentia mais nada por Harry. Ela sentia seu joelho descoberto tocando na perna dele e isso a incomodava muito. “Se estivéssemos sozinhos seria diferente... Argh! Não posso pensar assim!” brigava ela mais uma vez consigo mesma.

A verdade é que sempre que Gina estava ao lado de Harry, ela perdia o controle... Ele era como algo fascinante, e ao mesmo tempo intocável... e ela deveria abster-se da sua presença para não cair em tentação e tentar tomá-lo para si... Assim era Harry: o “menino-que-sobreviveu”, o capitão do time, o ídolo de todos... o seu maior desejo e o seu maior pecado...

Finalmente Harry pareceu perceber sua presença ali na cabine. Ele suspirou fundo e, ainda olhando para fora, disse meio sem jeito:

– Errr... Eu queria te agradecer de novo...

– Pelo quê? –perguntou ela fingindo desinteresse, tentando se distrair com o cordão.

– Se não fosse por você, eu nem teria me levantado daquela poltrona... Provavelmente ainda estaria sentado lá, pensando besteiras... e acabaria perdendo um dia maravilhoso ao lado dos meus amigos...

– Bem, acho que você poderia me ouvir mais vezes então... –disse tentando disfarçar as bochechas coradas, ainda segurando o seu cordão.

– Esse é o cordão que eu te dei? –disse Harry. –Ele combina com você... e a sua roupa também...

“Ele reparou!” pensou Gina corando violentamente. “Ele reparou no cordão...” continuou, ainda meio boba, virando o rosto para que ele não percebesse os vários tons avermelhados que haviam em seu rosto.

Ela esboçou um largo sorriso para Hermione ao seu lado, que estava atenta a tudo. Rony percebeu o que estava acontecendo e sorriu também... foi o único momento durante a viagem toda em que Mione trocou sorrisos e olhares significativos com Rony, mas assim que ela se deu conta do que estava fazendo, fechou a cara e continuou a olhar janela à fora.

– Preparada para o teste de amanhã? –perguntou Harry inesperadamente.

“Ah! O teste...” pensou. “Me preparei tanto pra ele, esperei tanto tempo por ele... e já é amanhã!” concluiu Gina num suspiro profundo. Lembrou-se do que havia pensado quando o viu rodeado de candidatos à vaga do time e depois disse:

– Eu estava me perguntando agora a pouco se eu estava a altura do time... Se eu era realmente capaz de dar conta de tudo... e se você realmente me escolheria, se eu fosse competente... Ou se você estava apenas tentando ser gentil comigo nas férias, quando me disse que eu deveria confiar mais em mim e acreditar nos meus sonhos...

Harry ficou calado, e por um momento Gina pensou ter visto ele fraquejar. Mas depois ele se virou para ela, olhou no fundo dos seus olhos e disse com muita segurança:

– Eu acredito em você Gina... Acredito também que eu serei um capitão bom e justo... e eu não vou permitir que nada se interponha no meu caminho, nem mesmo a nossa amizade... Portanto, se você fizer parte do time da casa, espero que esteja sempre certa de que tem o seu lugar lá porque o merece! Nunca duvide disso...

Gina sorriu, talvez um sorriso aliviado, ou então um sorrido admirado, mas foi um sorriso que veio do fundo da alma. Depois ela tomou o braço do garoto, recostou-se no seu ombro e se manteve junto dele por todo o restante da viagem. Ela olhava pela outra janela a noite cair com a tempestade que se anunciava.

O tempo amanhã não ajudaria os participantes, mas fazendo chuva ou sol, Gina estaria lá no Campo de Quadribol amanhã com toda sua garra e coragem, pronta para dar o melhor de si...






=============================================


P.S.: Não pensem que vcs viram um Deja Vu, viu? Eu REALMENTE repito um trecho da história para mostrar como Harry e Gina vem a mesma situação sob pontos de vista diferentes e como ele pensam/ reagem mediante a mesma situação! Não é à toa que o capítulo chama CONSIDERAÇÕES PESSOAIS, sacaram?

Mesmo porque eu quero deixar bem claro como é essa relação dos dois no começo, pq no meio e no final, isso muda MUITO, então tentem entender qual a importância disso agora, certo?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.