Prólogo



Mote: Marchando em uma estrada sem saída
Marching on a dead end road

(Arch Enemy, "Marching on a dead end road", instrumental)


1998

Aproximou-se da lápide, arrastando os pés. Sua boca estava seca e a cabeça pesava: sua poção estava deixando de fazer efeito. Sentia a agonia perto.
- Agora acabou, Remo – murmurou para a pedra que repousava sobre o chão, observando as palavras nela inscritas.
Um rapaz estava ali, parado ao seu lado, com uma tulipa nas mãos, olhando o mesmo epitáfio. Ela não se importava que ele a ouvisse falando com os mortos, nem o conhecia (embora soubesse, assim que vira seus olhos azuis, quem ele era).
- Todos nós jazeremos um dia – ela continuou, pálida. - Todos.
Depositou uma rosa branca sobre o túmulo e virou as costas. Enquanto caminhava para os portões do cemitério, tirou um frasco de metal do bolso e tomou um longo gole de vodca pura. Só para se sentir melhor.
Desejava muito que tivessem confiado nela. Ela merecia aquilo, merecia mais que tudo e que ninguém.
- Mas acabou, não é? - suspirou para si mesma. - O que restou? Aberração.
Mais um gole de bebida, e o frasco foi ao chão, vazio. Lá ficou.
A mulher caminhou para fora do campo santo e secou as lágrimas. Andar, só queria andar. Andar pra espairecer, mas não esquecer. Ela nunca esquecia. Por tudo o que já tinha passado, por sua vida toda... ela jamais esqueceria cada um dos mortos que enterrou. Era errado dizer que só ela sobrara, mas e daí? Olhou para o homem que a esperava encostado em um poste, mãos nos bolsos.
- Vamos?
- Tony, quero ficar sozinha um pouco, vou dar uma volta. Preciso andar um pouco, só andar – um suspiro profundo e sincero. - Obrigada por ter vindo comigo até aqui, mesmo que não tenha sido amigo do Remo.
- Foi bom ir com você visitar o Zé e seus pais, não tinha porque te deixar sozinha depois disso. É sempre triste ver túmulos, mas eu queria que você soubesse que podia contar comigo.
- Eu sei disso, eu sei.
Eles se abraçaram apertado e Tony Kirk aparatou para longe dali.
Viviane Lloyd caminhou para o sol que se punha. Colocara várias rosas brancas em túmulos naquele dia. Mais do que um dia imaginou fazer.

Tony Kirk, sonolento, abriu o jornal pela manhã. Leu as manchetes e revirou até a página de notas musicas, pálido. As palavras levaram alguns segundos para penetrar em seu cérebro, e, quando conseguiram, algo gelatinoso e frio pareceu escorrer por sua espinha.
“Poções do sono”.
Sentiu seus olhos quentes.
“Ontem à noite”.
As lágrimas transbordaram.
“Ícone do roque”.
Começou a soluçar.
“Morte por overdose”.
Amassou a folha e socou a mesa. Deu um grito de dor, a visão turva.
- Ah, Viviane... por quê? Por que você fez isso?
Caminhou lentamente para o seu quarto, escolheu uma roupa ao acaso. A morte de sua amiga e sócia lhe pesava fundo no peito. Por fim, seu choro reduziu-se a lágrimas silenciosas e abundantes.
Aparatou à frente do prédio onde ela morava. Havia aurores, curandeiros e algumas pessoas com cartazes. Após palavras rápidas com as autoridades, uma mulher o puxou para um canto mais afastado:
- Acalme-se, sabíamos que isso ia acontecer... - ela falou, ao reparar no rosto inchado e molhado dele. - Tome, isso estava na mão dela.
A mulher lhe entregou um pedaço amassado de pergaminho e foi para longe. Nele, em uma caligrafia inclinada para a esquerda, Tony leu:

Tony,
eles me esperam. Nos vemos no inferno.
V.L.


***
N/As

1 - Se ler sobre sofrimentos, drogas e mortes te dá aflição, melhor fechar essa janela e não abrir mais.
2 - Comentários servem para dizer o que achou e estimulam o autor, sabia? Pois é. Então comentem.
Beijos a todos, L.W.

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