Me Faltarás
Me Faltarás
Para todos aqueles que acreditam em final feliz...
Para todos aqueles que sorriram ao ver o príncipe da história encaminhar-se até sua amada...
Para todos aqueles que torceram fielmente para que pudessem ficar juntos...
Para todos aqueles que se emocionaram com histórias como as minhas...
Peço que nesse momento parem.
Parem, porque a realidade não está nem tão próxima de uma história de amor.
Para quem pensou que um dia, nós amantes, pudéssemos ser felizes, alargo meu sorriso com um toque de tristeza que irá tocar-lhe, pois é aí que a verdade se esconde.
Tantos contos, tantos amores, tantos romances, em vão.
Mocinho não fica com mocinha.
Nobre não se apaixona por plebéia. E se ambos se apaixonam...
Famílias com rixa não são tão simples de resolver.
Me faltarás se for embora
Me faltará a sua serenidade
As tuas palavras, como canções ao vento
E o amor que agora levas embora
Uma verdade que sempre foi dita: o verdadeiro amor permite a liberdade.
Eu lhe dei. E como aquilo me dói até hoje.
Passaram-se dez anos desde sua ida. Ele fora com a certeza de quem não deveria olhar para trás. E eu fiquei com a certeza de quem não conseguiria caminhar para frente.
Trabalhei por anos nos Ministério, tentando entender o porquê daquilo acontecer. Nada me veio a cabeça, até o dia em que desisti de tudo, não iria me importar o quanto fora bom passar anos em sua presença, eu o arrancaria de meu peito para sempre.
Ele não teria passado de um mero colega de escola. Esqueceria sua voz, seus olhos, sua boca, seus cabelos, seu jeito de andar, seu sorriso, sua expressão de tristeza, tudo...
Me faltarás se for embora
Agora e para sempre não sei como viverei
E a alegria que era minha amiga
Vai embora com você
Era o melhor que eu podia fazer, minha ilusão de um dia encontrá-lo já parecia em vão. Ele fora para nunca mais voltar.
Passaram-se mais três anos da minha vida, e eu não me lembrava mais de nada.
Meu passado ficara guardado em alguma estante qualquer, junto com os antigos livros empoeirados que já eram inúteis.
Eu já era uma adulta, não uma adolescente que segue aquilo que acredita, que luta pelos ideias até conseguir mover para longe todos os desafios. Eu me conformei, e por ter me conformado sentia uma angustia enorme.
Me faltarás me faltarás
Porque vai embora?
Porque o amor em você se apagou?
Porque, porque?
Não mudará nada eu sei
E dentro sinto você
Eu acabara de sair de uma loja no Beco. Senti o vento frio dançar em volta de mim, enquanto minha roupa acompanhava seus movimentos. Senti-me uma criança por meros minutos. Fechei os olhos e imaginei-me em um campo, o Sol sorrindo para mim, assim como tudo o que me cercava. Ali estava ele ao meu lado, sorrindo junto ao Sol, junto às flores... O choro ficou entalado na garganta.
- Rose? – Ouvi um sussurro próximo a mim. Abri lentamente meus olhos e minha respiração paralisou-se por alguns instantes. O mesmo homem do meu sonho estava à minha frente. O choro que teimava em vir agora parecia ter encontrado uma brecha.
- Scorpius? – Consegui murmurar como uma criança tímida. Ele sorriu gentilmente e senti uma vontade enorme de abraçar-lhe e parar meu choro em seus ombros, porém eu não me atreveria.
- Rose – ouvi chamar-me. Me virei para o homem ao meu lado. Ele sorriu para mim, acanhado pela cena. Suspirei pesadamente olhando para os dois homens. Scorpius não me encarava mais. Prendi o choro e enxuguei as lágrimas que haviam saído. Estava na hora de por novamente minha máscara.
- Foi um prazer revê-lo – disse simplesmente enquanto meu marido me segurava pela mão e lançava um sorriso a Scorpius. Vi o loiro que um dia havia sido meu, lançar um sorriso triste para nós dois. Meu marido guiou-me para longe dali, porém eu não era como Scorpius. Eu olhava para trás, e assim que o olhei vi que ele ainda me encarava, me encarava com lágrimas nos olhos e com um aceno virou-se para trás e desapareceu.
Eu sabia que ele havia concordado com aquilo, eu sabia que ele me permitira partir, porque como eu já sabia, quem ama permite o outro a liberdade.
Me faltará a imensidão
Dos nossos dias e noites juntos
O teu sorriso quando fica escuro
A tua ingenuidade de uma criança
Tive filhos, dois.
Subi na carreira, vi com orgulho meus filhos crescerem, amei meu marido até meu último suspiro. Um suspiro aliviado depois de uma vida com um fardo tão grande que tive que aguentar. Era hora de partir, e eu sabia que dessa vez não poderia olhar para trás.
Me faltarás meu amor
Olho para mim e vejo um vazio
Aqui dentro
Eu era uma simples menina novamente...
Senti o vento bater em meu rosto enquanto corria pelo campo. Moro longe da cidade, com minha família. Tenho quatro irmãos, sou uma bruxinha iniciante.
Olhei para o céu esticando meus braços. Ele sorria para mim, como nunca havia feito. O céu parecia brincar, as nuvens dançavam, uma valsa linda.
- Olá – ouvi alguém sussurrar e olhei para a frente. Um menininho loiro me encarava, os olhos verdes brilhando. Seu sorriso era tímido e com toda a certeza deveria ser novo ali naquela área. Eu nunca o havia visto por ali, porém, senti que já o conhecia.
- Oi – murmurei sorrindo de volta. Aquilo pareceu o alegrar.
- Me chamo Mike – disse estendendo a mão.
- Me chamo Sophie – respondi apertando-lhe as mãos.
- Você... você gostaria de brincar comigo? – Perguntou-me acanhado. Fiz que sim e começamos a correr por aquele campo verde imenso que estendia-se por nós. Quando sentimos falta de ar, paramos perto da casa onde ele deveria morar. Mike virou-se para mim e sussurrou angustiado:
- Eu te conheço?
Dei de ombros com incerteza.
Eu nunca o havia visto na minha vida...
Mas mesmo criança eu tinha certeza de uma coisa...
A presença daquele garoto emanava um sentimento que eu não consegui distinguir.
Anos mais tardes, já adulta, quando o via sair pela porta de casa à viagem ou à trabalho, entendia perfeitamente o sentimento.
Era apenas saudades.
E a alegria que era minha amiga
Vai embora com você
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