Único.
Farsas
Oneshot
Sozinha no último andar do Hotel Sheraton, Marlene Mckinnon debruçou-se sobre o peitoril da sacada, observando a paisagem noturna enquanto bebericava um pouco de champagne. Lá em baixo, na Oitava Avenida de Manhattan, um carro passou buzinando incessantemente, acelerando enquanto o som agudo da buzina e dos pneus ressoava entre os edifícios luminosos.
Rolando os olhos, Marlene pousou a taça sobre o peitoril e massageou as têmporas, reprimindo um gemido de satisfação quando a massagem surtiu efeito. Depois, voltou a saborear sua taça de champagne − a bebida também ajudava a relaxar, afinal.
E ela bem que estava precisando disso: relaxar, ter um pequeno instante em sua própria companhia, com o silêncio da noite cercando-a. Pelo menos, nesse momento, nada parecia melhor do que isso... Longe do grande salão, do barulho da festa de vigésimo aniversário do Sheraton, das vozinhas irritantes, do cheiro de perfume caro, das jóias reluzentes, dos homens muito bem vestidos... De tudo e de todos.
Nesse momento, ela queria paz. E, então, depois, voltaria para a festa, mesclando-se entre gente de elite. De qualquer forma, ela divertia-se horrores fingindo-se de rica – não que ela não desejasse ser realmente rica. Não mesmo. Talvez um dia de sorte em Vegas, quem sabe…
Rindo baixinho, Marlene bebericou mais um pouco de champagne, tamborilando as unhas perfeitamente arranjadas e pintadas sobre o parapeito.
Ela afastara-se do salão há cinco minutos, desejando estar sozinha, mas sabia que ele viria atrás dela. Nesse caso, seu momento de paz acabaria em breve.
Suspirando, Marlene tornou a bebericar a bebida, ouvindo o eco de passos ao longe. Ele bem que poderia vir, refletiu, pois ela sentia vontade de esbofeteá-lo. Quem sabe não o fizesse mesmo.
Chegando, ele parou meio metro atrás dela, enfiando as mãos nos bolsos enquanto deslizava os olhos pelo corpo esguio e curvilíneo, o qual ele jurara a si mesmo que faria arder pelo dele.
Marlene o sentiu, pelo seu cheiro inconfundível, pela sua presença arrogante, quase palpável. De imediato, ficou irritada, lembrando o que ocorrera minutos atrás.
− Quem é você?
Ele ergueu uma sobrancelha em um movimento preguiçoso, contemplando as costas seminuas da mulher à sua frente. Quer dizer, pensou, que merda de pergunta fora aquela?
− Ou será que devo perguntar “quem você pensa que é − lentamente, ela se virou, esboçando um sorriso irônico − Black?”
Sirius riu perversamente ao perceber sobre o que Marlene falava. Obviamente ela não achara muita piada ao fato de ele haver se intrometido descaradamente na conversa entre ela e o babaca do Jon. Mas ele adorara a expressão idiota de Jon quando abraçara Marlene pela cintura, chamando-a de “querida” e deslizando a mão pela lateral de seu tronco. Sirius ainda lembrava bem como Marlene ficara tensa por causa da carícia lenta.
− Só estava me divertindo, querida Lene. − Seus olhos brilharam de riso, como se ele ainda estivesse se divertindo.
− Divertindo! − ela repetiu entre dentes, irritada. − Querida Lene!
− Cuidado… − Sirius apontou em direção à taça que Marlene segurava com bastante força. − Tanta raiva… Não vá quebrar essa taça e se machucar.
− Poupe-me o paternalismo, Black! − Mas ela pousou a taça, antes que fizesse alguma bobagem. Sirius não poderia descontrolá-la. Ela não lhe daria esse gostinho de satisfação, embora tivesse ganas de dar um tapa em seu rosto e desmanchar sua pose arrogante.
Por que tanto ele a irritava, afinal?
Isso começava a ficar preocupante, refletiu.
− Bem − Sirius tirou as mãos dos bolsos e aproximou-se, encostando a lateral do corpo na sacada enquanto apoiava um cotovelo sobre o peitoril. Ninguém melhor do que ele para saber o quanto aquele tipo de proximidade irritava Marlene, e ele adorava provocá-la. − Parece que hoje você não está se divertindo muito…
Sirius sorriu como se estivesse comentando algo ternurento com uma amiga, mas aquilo era apenas mais uma tática para irritar Marlene Mckinnon.
− É difícil me divertir com alguém presente em todas as festas que eu vou − ela ironizou, lembrando o dia em que conhecera Sirius, no evento Bird Sings Opera. Assim como ela, também ele era uma farsa. Mas fora ele quem descobrira primeiro os fatos. E, desde então, Sirius parecia estar em todos os eventos que ela, perseguindo-a, irritando-a… − Você deve estar mesmo louco por mim, não, Black?
Sorrindo, Sirius estendeu a mão direita e pegou uma mecha de cabelo solta do penteado de Marlene, acariciando-a suavemente.
− Louco para levá-la para a minha cama.
Marlene ainda estava surpresa com o gesto, olhando-o desconfiadamente, consciente da perigosa proximidade dos dois. Então, deu um tapa em sua mão, acabando com o encanto momentâneo.
− Você não tem jeito para romance, Black − ela arreliou, intimamente sabendo que mentia.
Ele riu alto, recuando um passo.
− Sabe porque eu gosto de você, Mckinnon? − Sirius afastou-se, caminhando pela sacada de mãos nos bolsos. − Você torna tudo isso muito mais interessante, bem mais excitante.
Descrente, Marlene ergueu as duas sobrancelhas.
− Sério? − Ela fingiu espanto, abrindo os olhos e entreabrindo os lábios. − Droga! Não era minha intenção! Pensei que você estivesse entendendo bem a mensagem…
− Querida Lene, quem tem de estar entendendo a mensagem é você; não eu.
Sirius decidiu que Marlene já brincara o suficiente. Além disso, ele não estava mais com vontade de brincar.
− Agora, eu pergunto − ele voltou a aproximar-se, mas dessa vez apoiou os braços sobre o peitoril, de cada lado de seu corpo, aprisionando-a −, você está entendendo bem a minha mensagem?
− Eu não tenho de entender nada! − ela rebateu, irritadíssima.
− Não me parece − abrupto, Sirius passou o braço direito ao redor de sua cintura, puxando-a de encontro ao seu corpo. − Acho que você vai ter de entender isso aqui…
Então, segurou seu rosto com a mão livre, baixando a cabeça. Seu hálito quente serpenteou pelos lábios de Marlene, enquanto ele aproximava a boca, tocando, acariciando, deslizando, mas sem nunca beijá-la verdadeiramente.
Por um louco momento, Marlene desejou que Sirius a beijasse de uma vez, pois ela esperara algo parecido a um beijo altamente sexual e de tirar o fôlego. Mas, ao invés disso, Sirius permanecia com lábios suaves e preguiçosos, carícias lentas e delicadas.
Ela corou, não imaginando ser tratada desse jeito por Sirius Black.
E depois odiou sentir-se embaraçada devido a Sirius Black.
Então seu ódio aumentou quando ele, subitamente, riu contra seus lábios − era como se tivesse escutado seus pensamentos. Obviamente ele planejara tudo aquilo, Marlene concluiu, ao lembrar-se das palavras dele: Acho que você vai ter de entender isso aqui…
Canalha! Quem queria enganar? O maior safado à face da Terra…
Bufando, Marlene remexeu-se furiosamente, conseguindo soltar-se de seu abraço e empurrá-lo para longe.
− Ah, vá à merda, Black! − Ela estava tão confusa! E como o odiava por isso!
Sirius riu arrogantemente.
− Não creio que fui assim tão mau…
Ela ficou irritada por ele ter desviado o assunto para aqueles lados.
− Você só tem fama, Black.
Agora Sirius não parecia estar gostando da brincadeira.
− Por isso que eu senti você derreter em meus braços. − Ele esboçou um sorriso irônico. − Admita, Marlene… Você está apaixonada por mim.
− Eu estou apaixonada. Mas não é por você. − Ela mentia tão bem, pensou. Sirius estava possesso.
− Engane a quem quiser, Mckinnon. Engane a si própria, inclusive. Mas a mim − ele aproximou-se, como que desejando intimidá-la −, não. Sei ver quando uma mulher está apaixonadíssima por mim.
− Pela primeira vez − sua voz possuía certo tom de desprezo −, você deve estar vendo errado.
Escutar aquilo teve um sabor amargo. Mas ele também sabia responder à altura.
− Querida Lene, você vai comer na minha mão, como todas as outras, e aí eu vou comer você, como a todas as outras. − Sirius sabia exatamente como a irritar, e muito embora não fosse de seu gênero usar tal vocabulário, o que viu nos olhos da mulher o levou ao êxtase. Bela e furiosa. Uma delícia.
Sem pensar, irada, Marlene pegou a taça de champagne e jogou-a na direção de Sirius, que se desviou do objeto correndo e rindo, em direção à porta de saída.
− Fogosa. − Olhou por cima do ombro, piscando. − Adoro provocar você… Esse fogo.
− Você nunca me terá, Black.
Sirius parou ao lado do batente da porta.
− Você já é minha, Mckinnon.
E, então, ele sumiu, sem precisar dizer mais nada.
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N/A: a idéia dessa fic surgiu de uma insana vontade de escrever uma oneshot sobre esse casal bem complicadinho. Eu adoro casais complicados. Um Sirius Black apaixonado, mas longe de admitir isso. Então, o que ele faz? Fica marcando território, kkkkkkk. “Você já é minha.” Ai ai. Quanta arrogância, Sirius. E uma Marlene começando a ter consciência de que está apaixonada pelo maior safado à face da Terra, desejando voltar atrás no tempo e desapaixonar-se, kkkkkkk. Oh, o amor! O amor … Que dor de cabeça! KKKKKK.
Bom, espero receber alguns comentários – pelo menos será importante para eu continuar escrevendo =) e saber a opinião de vocês. Adorei escrever essa fic, e espero que tenham adorado lê-la! Possivelmente o final ficou com um gostinho de quero mais, mas… quem sabe eu tenha outra insana vontade de… rsrsrsrsrsrs.
Mil e um beijooos,
Evans B. Potter
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