A Sala Particular
O tempo estava morno pela manha e provavelmente o dia seria muito quente. Pela janela da cozinha Alvo conseguia ver o lago, mas a janela parecia tão alta...
– Alvo pode passar por um pouco e geléia na torrada de Lily, por favor?
– Claro mãe! O que você quer Lily? Uva ou morango? Morango é minha favorita.
– Eu quero o que você comer! – respondeu a irmãzinha em sua cadeira.
Alvo pegou o pode de geléia e sentiu o olhar ansioso da irmã, mas não conseguia abri-lo de jeito nenhum.
– Mamãe? Quantos anos eu tenho? – perguntou a Gina.
– Que pergunta estranha filho.
– Lily deve ter uns três. Da uma última vez que a vi ela parecia mais velha.
De repente Neff apareceu na cena e puxou Lily para ele.
– Deixou sua prima se defender sozinha! Que espécie de Potter você é? – disse as gargalhadas. Tiago apareceu do lado dele rindo também.
– Eu disse que ele é um perdedor!
– Cansei de você me fazer de bobo Tiago! – Alvo gritou para o irmão.
– Eu nunca vou me cansar. Ele tem medo dos testrálios Neff! Não é um idiota?
– Testrálios nem existem!
– Existem! Meu pai disse que existem!
– Seu pai? Meu pai agora. Minha irmã agora. E logo sua prima e eu nos casaremos
– Adeus Alvo. – disse Lily no colo de Neff saindo pela porta da cozinha.
– Mamãe! Mamãe! Neff esta levando Lily!
Gina se virou para o filho.
– Se arrume Alvo; seu pai vai chegar em alguns minutos para entregá-lo aos Dursley.
– Por quê?
– Você achou que poderia voltar para casa depois de tudo que aconteceu? Nós trocamos você por Neff e por ele.
– O que aconteceu? Ele, ele quem?
Um lobisomem apareceu no canto da cozinha, mas era dia... um lobisomem... Neff levou Lily e voltaria para buscar Rose...
Alvo ouvia a voz da mãe muito longe. Abriu os olhos e sensação desconfortável foi passando ao começar a se lembrar que estava na Ala Hospitalar. Fora tudo um pesadelo, só um pesadelo... todos estavam bem.
– Alvo?! Tudo bem aí? – perguntou Escórpio.
– Hã? Eu estava... sonhando com minha casa... com minha família. – Alvo tomou fôlego e sentou na cama.
– Sinto falta da minha casa também. – disse Escórpio.
– Como é ser filho único?
– É legal eu acho; viajo bastante com meus pais. Já estivemos em vários países. Como é ter irmãos e primos?
– Também é legal, no verão vamos todos para Toca. Nadamos no lago, voamos pelo campo, jogamos quadribol e tomamos sorvete que minha avó faz.
– Parece ser mesmo divertido. No ultimo verão uma amiga da minha mãe nos visitou e a filha dela e eu tiramos uma foto juntos. Minha mãe me fez segurar a mão dela, foi muito embaraçoso.
– Que chato. Você pode nos visitar Escórpio; papai nos deu permissão pra convidar amigos para o verão. Tiago fez isso no verão passado!
– Eu vou! Vou sim!
Madame Pomfrey chegou com café e mais uma dose da medicação.
– A dor já diminuiu bastante não?
– Já, obrigado Madame Pomfrey. – disse Alvo.
– Cuidei tanto do seu pai nessa enfermaria. – disse a enfermeira um pouco emocionada.
– Ele me contou dos acidentes que teve na escola. Como está Neff?
– Desidratado, mas vai melhorar. – Madame Pomfrey olhou para os lados. – Ele é um menino horrível. Enfim, tratem de se alimentar; já tem gente esperando por vocês.
– Pode deixá-las entrar. – disse Alvo sorrindo.
– Ora, que pretensioso Sr. Potter. Infelizmente quem os senhores esperam só poderá vê-los mais tarde.
Os garotos trocaram olhares preocupados. Quem os aguardava eram os professores Slughorn e Neville e a diretora McGonagall.
– Estamos aqui para saber de vocês o que aconteceu ontem. Por favor, contem a sua versão dos fatos. – pediu a diretora.
Foi um relato breve; Alvo deu ênfase a tentativa de Neff beijar Rose, mas não convenceu Slughorn. Segundo ele isso era coisa de adolescentes com dificuldade de controlar os hormônios. Felizmente a diretora McGonagall e Neville não compartilhavam dessa opinião.
– Não vão fazer nada a respeito disso? – perguntou Alvo irritado.
– Certamente que sim. – respondeu McGonagall olhando feio pra Slughorn. – Os amigos Do Sr. Neff Lancey disseram que vocês mandaram Grope atrás dele.
– Isso é mentira. Grope apareceu e, talvez, tenha percebido que Neff estava nos chateando.
– Um gigante percebe pouca coisa e em surto não reconhecem ninguém. – disse Slughorn.
– Grope nos conhece desde bebês.
– E o Sr. Malfoy? – perguntou Neville. – Ele é o diferencial nesse caso.
– Grope conhece Escórpio. – respondeu Alvo depressa.
– Eles nunca ficaram sozinhos?
– Estou aqui prof. Longbottom, se quiser saber alguma coisa sobre mim pode me perguntar. – disse Escórpio aborrecido.
– Quando eu quiser falar com o senhor... o senhor saberá Sr. Malfoy! – respondeu Neville.
– Por que está protegendo Neff? – Alvo perguntou diretamente ao professor de poções.
– Não estou protegendo ninguém! Sou imparcial com os alunos da minha Casa Sr. Potter! Essa acusação é descabida!
– Não acusei só perguntei.
– Minerva!
– Calma Horácio! Lembre-se de sua saúde. – recomendou McGonagall, mas Slughorn continuou a falar:
– Vocês acharam que Hogwarts seria moleza, mas quando perceberam que estavam muito abaixo do padrão que se esperava de vocês...
– Roubamos a taça e a estátua para chamar atenção. – respondeu Alvo com rispidez. – É isso o que pensam de nós?
– A parte sobre atenção todo mundo concorda! Certo Neville? – disse Slughorn encarando Neville.
– O senhor nos conhece prof. Longbottom; esteve em nossa casa várias vezes.
– Eu os conheço, mas a companhia de Malfoy muda muito minha perspectiva.
– Vou descontar dez pontos da Grifinória por desacato a um professor. – disse a diretora McGonagall. – Podem ir para as suas aulas. Receberam alta.
Os professores saíram apressados; só então Madame Pomfrey liberou os meninos. Deram uma olhada em Neff antes de deixarem de saírem.
– Seria muito maldoso da minha parte dizer que prefiro ele aqui do que atrás de nós por ai? – perguntou Escórpio.
– Ele parece até melhor assim meio esverdeado e, principalmente, com as mãos bem longe da minha prima. Falando nela...
Rose entrou na enfermaria com um largo sorriso.
– Vocês não vão acreditar? A taça e a estátua reapareceram.
– Sério? Onde? – perguntaram Alvo e Escórpio surpresos.
– Estavam escondidas no segundo andar; um elfo as encontrou hoje! Flitwick disse que quem as pegou não resistiu à pressão e acabou devolvendo. Isso acaba definitivamente com as desconfianças sobre vocês!
– É isso legal, mas agora não poderemos provar que Neff as pegou. E nem que Slughorn o encobriu. – disse Alvo.
– Pelo menos ele nos deixará em paz por um tempo. – disse Rose.
– Enquanto Madame Pomfrey troca as fraldas dele. – disse Escórpio e Alvo começou a rir.
– Guily mandou lembranças; e pediu para nos encontrarmos com ele depois das aulas na biblioteca. Que droga a primeira aula hoje ser Herbologia.
– Longbottom nos encarando por uma hora. – lamentou Alvo.
– Alvo, Tiago veio vê-lo na enfermaria. Você já estava dormindo. Escórpio também o viu.
– Legal.
Alvo tomou a frente dos amigos.
– Ele gostou de saber. – Rose murmurou para Escórpio.
Durante a aula de Herbologia Alvo não deu atenção a flor nenhuma; aproveitou para escrever à mãe. O lobisomem na cozinha e Neff carregando a irmã eram imagens vivas e horríveis em sua cabeça.
Rose não prestou atenção na aula tampouco; manteve o tempo todo o exemplar da revista Transfiguração Hoje aberta sob a bancada.
O dia se arrastou tendo como única novidade a fila em frente a Sala dos Troféus no terceiro andar para curiosos verem a taça que reaparecera.
Guily os aguardava na biblioteca.
– Como estão? Curados? – perguntou aos meninos.
– Sim Guily; está tudo no lugar. – respondeu Escórpio.
– Ótimo. Lembram que comentaram sobre um lugar para ficar quando o tempo mudasse? Sigam-me.
O fantasma os levou a um canto na biblioteca e atravessou uma prateleira cheia de livros até o teto.
– Vejam só! Não é perfeito?
– Guily, não podemos atravessar a parede. – disse Escórpio rindo.
– Ah, que gafe a minha! – o fantasma respondeu colocando a cabeça para fora – Reparem nos livros na fileira de frente pra vocês; eles estão em ordem alfabética. Escolham uma senha; depois um de vocês toca com a varinha nas letras que a formam a palavra.
Escórpio tocou as letras que formaram o nome dos três: REA.
Os livros formaram uma porta que dava para uma pequena sala vazia. Os garotos examinaram cada canto.
– Com alguns livros, uma mesa e poltronas. Teremos nosso próprio Salão Comunal! – disse Rose animada aos meninos.
– Não podem nos achar aqui Guily? – Alvo perguntou ao fantasma.
– Essa sala é muito antiga; quem me contou foi o antigo bibliotecário de Hogwarts: Goliad. Duvido que mais alguém saiba dela.
– Se for mesmo muito antiga é certeza que não aparece no Mapa do Maroto! É perfeita! – exclamou Alvo.
– Mesmo com a biblioteca fechada vocês conseguirão entrar usando a senha que acabaram de criar. – explicou Guily. – Mesmo assim tomem cuidado com Madame Pince.
– Tomaremos! Você disse que alguém lhe contou sobre a sala. Outro fantasma? – perguntou Escórpio.
– Ah, sim; ele é o líder do nosso grupo de terapia fantasma.
– Um grupo de terapia fantasma? – perguntou Alvo trocando olhares com Escórpio e Rose.
– Todas as sextas à meia noite nos reunimos para trocar experiências. Vocês não imaginam como fantasmas têm problemas.
Os garotos se olharam achando a informação tão bizarra quanto engraçada.
– Aqui será perfeito para praticar para o teste; tenho poucos dias e a profª Duggan disse que as outras garotas tiverem dois meses. Ah, e vejam! Um banheiro! Graça a Deus!
– Então vamos começar a equipá-la. Precisamos de poltronas, almofadas, mesas! – disse Escórpio espiando o banheiro.
– Como vão trazê-las sem ninguém perceber? – perguntou Guily.
– Até hoje ninguém deu falta da vassoura que fiz o teste para apanhador. Não será difícil. – respondeu Alvo. – Mesmo assim melhor escolhermos coisas mais velhas que ninguém presta atenção.
– Não é só escolher e trazer! – disse Escórpio. – Temos que passar por Madame Pince. Essa mulher sai da biblioteca para alguma coisa?
– Tenho uma idéia. – disse Alvo. – Guily pode nos ajudar?
– Pode contar comigo.
Com a certeza de terem um lugar seguro para ficar a vontade as crianças tiveram uma semana mais animada. Sem se importarem com os comentários que causavam; começaram a passar mais tempo no Salão Principal e no pátio. Em todas as partes meninas treinavam transfiguração; depois da matéria do prof. Kassin a vaga de assistente mais concorrida era DCAT com a Srta. Duggan disputada mais entre os meninos.
No começo da noite de quinta feira Alvo foi ao corujal despachar algumas cartas; e Rose e Escórpio decidiram dar uma volta para escolherem poltronas para equipar a sala.
– Contou pra sua mãe do teste? – perguntou Escórpio
– Se eu contar ela vai criar expectativas e já estou ansiosa o bastante.
– Acho que você está indo bem; foi muito legal ter transformado as peças de xadrez que Alvo estava usando em pentes. Foi fácil vencê-lo daquele jeito.
– Quem mandou ele me desconcentrar toda hora me pedindo pra mover as peças para ele?
– Foi engraçado. Esse teste Rose... é tão importante assim para você?
– Agora que me inscrevi é. Por quê?
– Como assistente você vai ter que passar muito tempo com Kassin e ajudá-lo a preparar o material para as aulas. Vai te deixar com pouco tempo para outras coisas.
– Você acha que posso vencer? – perguntou Rose sorrindo.
– Claro.
– Que tal essa? – Rose apontou para uma poltrona verde velha cheia de remendos num canto.
– Você pode tirar esse cheiro dela?
– Acho que sim.
– Tudo bem, mas se não conseguir Alvo é que fica com ela.
Escórpio contou sobre o convite para o verão. Faltava tanto tempo, mas começaram a fazer planos. Os dois passearam pelo castelo conversando e rindo.
– Qual seu inseto favorito? – Escórpio perguntou.
– Eu gosto de cigarras. Você já caiu da vassoura?
– Já! Quebrei esse dente, veja. Você gosta de nadar?
– Muito!
Meia hora depois passaram por Camile e Victorie tão absortos na conversa que nem repararam nelas. Camile achou graça, mas Victorie não.
– Odeio aranhas, como meu pai.
– Já me perdi dos meus pais no Beco Diagonal e tentei aparatar para casa de dentro de uma lareira. Mamãe levou muito tempo para me limpar.
– Transformei o carrinho de bebê do meu irmão numa piscina.
Antes de subir para a Torre da Grifinória Rose disse que iria escrever para mãe falando sobre o teste.
– Ela vai gostar de saber que vou participar de alguma coisa da escola. Ela pensa que eu gosto daqui.
– Não gosta de nada?
– Agora gosto um pouco. – respondeu Rose sorrindo.
Os meninos conseguiram pegar algumas almofadas pelo castelo nas noites seguintes e espalharam pelo chão da Sala Particular, nome que escolheram depois de uma votação. O plano de Alvo para levar a mobília mais pesada contava com alguns detalhes que demorariam a ser adquiridos.
– Conto a vocês quando estiver tudo pronto... – dizia ele num tom misterioso.
Na véspera do teste Rose percebeu que as outras garotas inscritas foram se deitar cedo. Ansiosa demais para dormir e sem tempo hábil para praticar mais a garota preferiu ficar na Sala Particular jogando xadrez e rindo das imitações de Guily.
De volta ao dormitório guardou os livros e procurou na cabeceira da cama uma caixinha; um presente que os pais haviam lhe dado no dia que a carta de Hogwarts chegou. Um broche de ouro na forma de uma pequena rosa. Revirou a gaveta e o malão, mas não o encontrou. Tinha certeza que tinha trazido; de repente se sentiu solitária como se nada a ligasse aos pais. Passou a noite toda acordada ouvindo ocasionalmente ruídos que não conseguia identificar. Nos primeiros sinais de sol levantou e saiu; a escola parecia deserta. Resolveu ir ver Hagrid e Grope.
– Você não preferia tomar café na mesa da Grifinória Rose? – perguntou Hagrid.
– Na verdade não. – Rose respondeu brincando com Edgar, o único dos morcegos a ficar com Hagrid. Pela janela Grope estava sentado beliscando um pedaço de pão.
– Nenhum curandeiro quis vir vê-lo. – disse Hagrid reparando que menina observava o irmão.
– Ele parece melhor.
– Está medicado e há um escudo mágico em volta dele. Ele já tentou correr para floresta muitas vezes; pedi a Kassin que fizesse mais esse favor pra mim. Ele gosta de Grope, tentou conversar com ele e entender o que está se passando na cabeça dele.
– Se alguém pode é o prof. Kassin. Falando nisso tenho que ir.
– Boa sorte venha cá.
Hagrid abraçou Rose com muito carinho e cuidado.
– Vá lá e mostre que você puxou mais da sua mãe do que esses lindos olhos castanhos!
A caminho do castelo Rose começou a ficar nervosa; e se tivesse puxado o nervosismo do pai em momentos de estresse? Rony quase morreu do coração no dia que Hugo nasceu e Rose tinha isso na memória; o pai esqueceu até de se vestir, fez uma tremenda confusão na rua e quase foi preso pelos trouxas.
Alvo apareceu em sua frente.
– Onde você estava? Rápido as outras garotas já estão no pátio!
– O que? Mas não está na hora ainda!
– Mudaram o horário do teste; anteciparam. Você tem que correr! – disse Escórpio puxando Rose pela mão.
Vinte cinco garotas muito nervosas estavam frente a frente com a diretora McGonagall.
– Trouxe a varinha pelo menos? – disse Cinthia quando Rose se reuniu ao grupo.
Rose puxou a varinha da cintura e a segurou firme.
– Quando mudou o horário do teste?
– Dois dias atrás, mas você não fico muito no Salão Comunal. sei que alguém poderia ter avisado, mas você não tem amigos...
A diretora McGonagall começou a falar:
– Quando colocaram seus nomes no pergaminho de inscrição senhoritas, não importando o motivo pelo qual fizeram isso; leram como seria o teste...
– Essa não... – murmurou Rose. Não tinha idéia de regra nenhuma.
– Você é patética Weasley.
– Silêncio! – pediu a diretora McGonagall. – Prestem atenção! A frente de vocês aparecera alguns objetos simples e vocês devem transfigurá-los no que eu pedir. Quem errar será eliminada. A cada etapa darei mais detalhes.
A frente de cada uma surgiu uma mesa com os objetos mais variados.
– Boa sorte. – disse uma garota da Corvinal à amiga do lado.
– Primeiro objeto. Uma lâmpada trouxa vocês devem transfigurá-la em uma simples xícara de chá. Já!
A fileira de lâmpadas se transformou numa fileira de xícaras.
Depois de cinco transfigurações ninguém havia errado; então McGonagall disse que na segunda rodada os objetos transfigurados deveriam permanecer mais de cinco minutos em sua nova forma. Foram os minutos mais longos para Rose, mas ela manteve o castiçal transfigurado em agenda o tempo necessário. Sentiu a diretora passar atrás dela; a diretora colocava a mão no ombro das meninas cujos objetos voltavam à forma normal antes do tempo ou que não conseguisse abrir ou folhear as paginas. Uma garota achou que pudesse enganá-la transfigurando novamente o castiçal, mas o nervosismo fez com que ao invés de uma agenda aparecesse uma mistura estanha dos dois objetos.
– Pode sair Srta. O’Neal; cinco pontos a menos para Lufa-Lufa por tentar me enganar e menos dez pelo péssimo resultado. Próxima rodada: dez minutos. Caixa de lápis cheia em um cabide. Valendo!
Rose contou mentalmente a quantidade de lápis e suas cores; visualizou seu guarda roupa os cabides com vestidos que a mãe comprara no último verão. A mãe arrumando os vestidos e sorrindo para ela. Tocou a varinha e foi a única que conseguiu um resultado diferente; não era um simples cabide era o seu cabide.
– Agora o cabide em pergaminho. – mandou a diretora.
– Isso é uma moleza! Por que está suando tanto Weasley? – perguntou Cinthia.
– Cala a boca!
– A caixa de lápis original agora. – mandou McGonagall.
Mais uma vez a diretora correu os olhos pelas caixas. Desclassificando as transfigurações incompletas.
– Cores repetidas Srta. Marshall!
Restaram dez garotas.
– Agora os objetos devem funcionar corretamente.
– Utilius! – Rose disse a si mesma. Estava surpresa como conseguiu decorar tantos feitiços.
– Esse prato em relógio de pulso. – mandou a diretora.
O relógio de Rose marcava onze horas em ponto. O de Cinthia tinha uma bela pulseira de couro marrom.
– Agora as senhoritas deverão transformar os objetos no que quiserem. Será desclassificada a transfiguração em objetos que já vimos hoje. Devem ser originais, rápidas e precisas.
A imagem de um dia incrivelmente chuvoso veio à mente de Rose. Hugo atrás dela pela casa toda fazendo perguntas. Lembrou-se que respondia a primeira coisa que lhe vinha à cabeça.
– Rose por que as estrelas não aparecem de dia?
– Elas são tímidas.
– O que são animagos?
– São pássaros... ou não.
– Por que mamãe não tem irmãos?
– Por que EU tenho que ter?
– Por que papai é mais alto do que o tio Jorge se o tio Jorge é mais velho?
– Papai mentiu; ele é mais velho que o tio Jorge. Você sabe por que garotinhos como você não tem cócegas?
– Eu tenho cócegas!
– Ah, é?
Rose empurrou o irmão no tapete o fazendo gargalhar.
Como a probabilidade das outras garotas terem um irmão como Hugo era pequena; Rose, de alguma forma, se sentiu preparada para a penúltima etapa do teste. O primeiro objeto foi um novelo de lã que Rose transformou num saleiro.
Só restaram três garotas: Cinthia Oleson, Rose e a garota da Corvinal que desejou boa sorte a amiga.
A última parte era transformar três objetos dentro de uma cesta em qualquer outra cosia. Parecia fácil demais, mas desta vez a diretora McGonagall pediu a presença de Kassin.
O coração de Rose disparou; não sabia explicar porque o professor a deixava fora de sintonia com que acontecia a sua volta. Não era a única; Cinthia e a outra garota também não conseguiam tirar os olhos dele.
– Garotas! Garotas! Ah, por favor, Kassin! – disse McGonagall zangada.
– Muito bem senhoritas... Comecem!
Nenhuma delas se mexeu de imediato.
Na cesta de Rose havia um ioiô, uma pedra e uma agulha.
Nada lhe vinha à cabeça parecia que nunca aprendera nada na vida; se sentia incapaz de responder até mesmo seu nome. Foi quando entendeu a intenção da presença de Kassin na última etapa: concentração. Enquanto a diretora McGonagall verificava o resultado, Rose se sentia tão cansada mentalmente que nem se lembrava o que acabara de transfigurar.
– Parece que transfigurou só dois objetos Srta. Weasley. O terceiro objeto nem está aqui... – disse a diretora vasculhando a cesta de Rose. – Nesse caso a vencedora é a Srta. Cinthia Oleson.
– Foi uma pena, você é muito boa. – disse a garota da Corvinal a Rose.
A diretora e o professor cumprimentaram Cinthia que se virou para Rose e a outra garota.
– Perdedoras!
– Não precisa ser grossa! – respondeu a garota. – E ainda mais quando foi por tão pouco.
– Por pouco não é ganhar! – zombou Cinthia.
– Não esperem! – Rose disse depressa. – Tenho certeza que transfigurei os três objetos. Por favor, olhe de novo diretora!
A diretora McGonagall olhou com mais atenção a cesta de Rose.
– Sim parece que há alguma coisa aqui que eu não tinha visto. Um par de abotoaduras! A Srta. Weasley transformou a pedra num par de abotoaduras! Impressionante! Muito bem.
– Eu me esqueci delas quando a senhora disse que Cinthia havia vencido. – explicou Rose.
– Esqueceu, mas as abotoaduras continuam aqui. Pode fazê-las voltar ao normal? – pediu a diretora fechando a mão.
Rose apontou a varinha e McGonagall abriu a mão; as abotoaduras se uniram e aumentaram de tamanho voltando a ser a uma pedra.
– Srta. Weasley consegue manter objetos transfigurados sem contato visual. Muito raro para sua idade. Acho que isso vale um empate. – disse a diretora.
– Vamos desempatar então. – disse Cinthia rispidamente, mas a diretora a ignorou.
– Kassin, você decide.
– Acho as duas muito talentosas e seria um prazer trabalhar com ambas. Diretora?
– Então está decidido! Empate! Agora, tenho que cuidar de outros assuntos; faremos uma homenagem a todos os alunos que passaram no teste. Trinta pontos para Grifinória e bom dia meninas!
– Estejam segunda-feira na minha sala às sete horas da noite. – disse Kassin e saiu acompanhando a diretora.
– Não acredito nisso Weasley! – disse Cinthia muito zangada.
– Nem eu! Tenho que contar ao Hagrid... Escórpio, Alvo e pra mamãe!
– Queria ter visto a cara de fuinha de Cinthia! – disse Alvo quando ele, Escórpio comemoraram com Rose.
– Ela deve estar fula da vida, já é a segunda vez que você a passa para trás. – disse Escórpio rindo.
– Não dou a mínima pra ela.
– O que importa é que você conseguiu e vai poder entrar na sala de Kassin e de lá para a sala de Slughorn.
– As coisas apareceram Alvo. – disse Rose com ar preocupado.
– Eu sei, mas quero provar que ele e Neff estão juntos em alguma coisa errada. Ah, minha encomenda das Gemialidades Weasley acabou de chegar. Vejam: duas doses de poção para dormir acordado Slater. Meu tio disse que é só colocar isso na bebida da pessoa que ela dorme, mas pensa que está acordada. Segundo ele é ideal para garotas que querem passar do horário em bailes dar para os pais.
– Você vai dar isso para Madame Pince e Filch dormirem enquanto levamos as coisas para nossa sala? – perguntou Rose.
– Certo! Guily e os outros fantasmas vão fazer uma ronda e nos avisar se aparecer alguém no nosso caminho.
– Alvo você é doido... – disse Rose.
– Falando em doidos. Os amigos fantasmas de Guily querem nos conhecer, então prometi que participaríamos de uma sessão do grupo de terapia. A sessão é a meia noite, mas vão abrir uma exceção e fazer uma mais cedo hoje aqui.
– Ele está brincado, certo? – Escórpio perguntou a Rose que começou a rir.
– Quem vai estar presente? – perguntou Rose.
– De corpo presente só nós três...
Rose e Escórpio caíram na gargalhada.
– Qual é pessoal? É o mínimo que podemos fazer por Guily. Ele tem nos ajudado muito...
– Está bem. – respondeu Escórpio. – Quem pode dizer que já participou de um grupo de terapia fantasma?!
Às oito horas os três se sentaram no chão da Sala Particular; sobre eles flutuavam sete fantasmas formando um circulo.
– Garotos este é Goliad o ex-bibliotecário de Hogwarts! – Guily o apresentou formalmente.
– Obrigada por nos mostrar a sala. – disse Rose.
– Guily me falou de vocês. É um prazer poder ajudá-los. Estes são nossos colegas em morte
Três fantasmas vestidos com ternos idênticos curtos e amassados acenaram. Eles formaram um grupo vocal dos anos 60; morreram num acidente de trem.
Uma mulher gorda num vestido enorme e fitas enroladas na cabeça também sorriu para as crianças.
– Mamah Cass.
Goliad não mencionou a causa da morte dela, mas Rose reparou em um enorme caroço no pescoço do fantasma; o que a fez pensar que talvez ela tivesse morrido engasgada com alguma coisa.
– Ali no canto temos a Murta! Vocês já devem ter ouvido falar dela.
– Sinto falta do Harry... – disse Murta chorosa.
– Ah, lá vai ela começar! – disse Mamah Cass impaciente.
– Calma pessoal! Estamos aqui pra ajudarmos uns aos outros! Não importa qual seja o problema. – disse Goliad.
– O problema é que Murta não se conforma que está morta. Você está morta garota! Morta! Morta! Morta!
– Muito bem. – interrompeu Goliad. – Sabemos, e a Murta também sabe, que está morta.
Os fantasmas pararam de se agitar; Goliad era uma espécie de líder entre eles.
– Na semana passada falávamos sobre o empresário de vocês. – continuou Goliad.
– O cara sobreviveu ao acidente relançou todos os nossos álbuns. Ele ficou milionário e eu estou morto!
– Que horrível. – disse Rose interessada.
– É gracinha... – respondeu o fantasma – queria vê-lo aqui! Nessa situação! Cara... os vivos são sujos! Nada pessoal crianças!
– Tudo bem, adultos são estranhos mesmo. – respondeu Alvo.
– Desejar a morte dos vivos não é sadio. – disse Goliad. – Seus colegas não pensam isso, pensam?
– Eu devia ter morrido antes Goliad. Gosto daqui.
– Procuro não pensar nisso e é só. – disso o outro virando o rosto.
– Muito bom. E quanto a você Guily?
O fantasma normalmente animado fez uma pausa e disse sombriamente:
– Não consigo esquecer como morri pelas mãos do...
– Não fale o nome dele Guily! – advertiu Mamah Cass.
– Tenho que dizer!
– Diga se o faz se sentir melhor. – disse Escórpio também envolvido na conversa.
– Obrigado Escórpio. Quem me matou foi... “o Critico”.
Os fantasmas se agitaram novamente; pareceu que mencionaram o nome do Lorde das Trevas.
– Não é um fantasma que assombrava Londres tempos atrás? – perguntou Alvo.
– Ele mesmo! Ele matou Guily após uma apresentação! – disse Mamah Cass.
– Foi um assassino cruel quando estava vivo e se tornou o pior fantasma de todos os tempos. Ele não se contenta em assustar os vivos ele os leva a loucura. – explicou Guily.
– Mas o que ele pode fazer com vocês? – perguntou Escórpio.
Os fantasmas não responderam, só murmuraram algumas palavras que os garotos não entenderam. Fosse quem fosse o tal fantasma devia ser mesmo muito mau.
– Agora nossos novos amigos! – disse Goliad tentando relaxar o ambiente. – Vocês têm alguma coisa a dizer sobre vivos ou mortos?
– Bem, Rose acaba de passar num teste aqui em Hogwarts. – Escórpio contou ao grupo.
– Parabéns Srta. Weasley. – os fantasmas bateram palmas, menos a Murta.
– Eu ainda não disse nada!
Mamah Cass recomeçou a gritar.
– Você só vai chorar Murta! Você está morta garota!
A sessão durou mais vinte minutos com relatos emocionantes da fase pré-morte de todos. Falaram das poucas coisas que se lembravam da vida que levaram. No final fizeram um juramento que garantia o sigilo das informações trocadas na sessão. Incluíram a localização da Sala Particular e por quem era usada. O que acontece a um fantasma que quebra um juramento Alvo não teve coragem de perguntar, mas ficou feliz em ter certeza que a sala e eles estavam seguros.
Depois que os fantasmas foram embora Escórpio comentou:
– Se me contassem eu não acreditaria.
– É foi uma experiência e tanto! – disse Alvo muito sério. – Eles vão nos ajudar com o plano. Amanha essa hora estaremos esticados nas nossas poltronas.
– Ou expulsos. – disse Rose ficando de pé.
– É, ou isso.
Naquela noite a diretora McGonagall chamou a frente todos que os alunos do primeiro ano que passaram no teste pra assistentes. Cinthia estava calada no centro; não parecia nada feliz em dividir com Rose as atenções do professor de Transfiguração.
– Sei que você trapaceou Weasley.
– Não, não trapaceie. E quer saber? Não tenho que me justificar a você.
– Certo, veremos. – disse Cinthia sorrindo ao ser cumprimentada pela profª Duggan. O sorriso mais falso que Rose vira na vida.
– Parabéns Srta. Weasley. – disse a professora.
– Obrigada. A revista que a senhora me indicou foi de grande ajuda. – disse Rose baixinho.
– Não foi nada. Tenho certeza que sua mãe deve ter ficado orgulhosa.
– Ah, eu acabei de mandar uma coruja para casa.
Kassin cumprimentou as duas garotas e Rose ficou decepcionada com maneira formal que ele se dirigiu a ela; muito diferente de como se comportava normalmente.
– Nem Filch e nem Madame Pince jantam aqui no Salão Principal. Os elfos mandam o jantar deles. – disse Alvo caminhando com Escórpio ao lado dela.
– Hã? – Rose perguntou distraída. – Ah, sim o plano.
– Guily e Mamah Cass vão assustar os elfos na cozinha e nos colocamos a poção no chá deles. Eles ficam uma hora fora do ar achando que estão atentos a tudo. Escórpio trouxe a lista.
– São três poltronas, um tapete e uma mesa. – respondeu Escórpio.
– Tudo está no terceiro andar; temos que subir um lance de escada carregando tudo isso!
– Não se preocupe Rose temos tudo sob controle. – disse Alvo confiante.
A cozinha de Hogwarts, no subsolo no castelo, era proibida aos alunos, mas não aos fantasmas. Os garotos percorreram o corredor até localizarem o quadro que Jorge mencionara várias vezes. Alvo fez cócegas na pêra que se transformou na maçaneta que dava acesso a cozinha. Assim que Guily localizou o elfo que separava a refeição para Madame Pince e Filch avisou os garotos.
– Fantasma! – gritou Escórpio e o elfos começaram a correr de um lado para o outro.
Mamah Cass e Guily voavam dizendo que iriam arrancar a cabeça de todos.
O elfo que arrumava as bandejas caprichosamente largou tudo e tentou se proteger. Alvo e Rose tocaram os vidros abertos das poções com as varinhas e os frasquinhos flutuaram até as bandejas; com um movimento da varinha viraram todo o conteúdo nas xícaras.
Escórpio fez sinal para que Guily e “Mama” Cass esperassem eles saírem da cozinha pra sumirem também.
– Agora vamos para a Sala Particular; Guily nos avisará quando Filch tomar o chá e nós ficaremos de olho em Madame Pince. – disse Alvo.
Demorou quase meia hora para o jantar de Madame Pince aparecer; a bibliotecária já estava bem zangada. Guily apareceu dois minutos depois dizendo que Filch já estava com o dele. Os garotos correram até onde estavam as poltronas, a mesa e o tapete que haviam separado e os enfeitiçaram deixando-os leves o bastante para serem transportados.
Estava tudo tranquilo até Guily aparecer na frente deles:
– Flitwick e McGonagall vem vindo daquela direção!
Ouviram as vozes do professor e da diretora.
– E agora? – perguntou Rose.
– Larguem as coisas e vamos nos esconder. – disse Escórpio puxando Rose para trás de uma enorme cortina.
– Você pode transfigurar essas coisas Rose? – perguntou Alvo.
– Não sei! Posso?
– Sabemos que você pode! – disse Escórpio. – Alguma coisa pequena, discreta; que não chame atenção deles!
Rose se concentrou e transformou a poltrona num piano.
– Isso e ser discreta pra você? – perguntou Alvo e Escórpio o cutucou.
– Não a pressione! Tente de novo Rose. – disse Escórpio calmamente.
As poltronas se transformaram em duas bicicletas. De olhos fechados Rose transfigurou todas as peças em bolinhas de gude.
– Por que não pensamos nisso antes? – disse Alvo incrédulo.
– Gostamos de viver perigosamente! – respondeu Escórpio rindo e colocando as bolinhas nos bolsos.
– Gastei sete galeões nessas poções!
– Fiquem quietos! – disse Rose nervosa.
Flitwick e McGonagall passaram sem notar o volume atrás da cortina.
– Por favor, as mantenha desse tamanho não quero que elas voltem a ser o que eram dentro das minhas calças. – disse Alvo.
Na biblioteca Madame Pince estava parada com os olhos abertos, mas bufava como uma chaleira. Guily estava com os braços em volta dos ombros dela posando para os outros fantasmas. Os garotos agradeceram a ajuda e entraram na Sala Particular. Rose fez as bolinhas voltarem ao normal; estendeu o tapete e arrumou as almofadas nas poltronas. Escórpio colocou as peças de xadrez em cima da mesa.
– Ficou ótimo! Valeu toda essa correria! – disse Alvo se jogando numa das poltronas. – Mas que cheiro é esse nessa poltrona? Parece xixi de gato!
– Ela é toda sua Alvo! – disse Escórpio iniciando uma partida de xadrez com Rose.
Comentários (1)
kkkkk..cara ri d+ com o final do capitulo, muito bom..kkkkk.. capitulo excelente..\0/
2012-07-30