Vingança



3 - Vingança



– Homens não prestam! – recitou Lily pela décima vez naquela manhã.


Kwon abruptamente largou com estrépito a colher com que comia uma tigela de ambrosia na mesa e fitou Lily com os olhos escuros ressaltados com rímel.


– A gente já entendeu, Lils. – disse ela, massageando as têmporas. – Mas Kyle Blake não é um único homem nesse mundo!


– Mas os homens não prestam e ponto! – afirmou Lily quebrando a cobertura do crème brulé com a colher. – Em primeiro lugar tem o Potter, que sempre me pede para sair com ele, mas todo mundo sabe que ele é um canalha.


– Ei! – protestou James do lado esquerdo de Kwon.


– Não se meta, Potter. – replicou Lily comendo uma colherada da sobremesa. – Depois teve o Dan, que terminou comigo porque a Shelby era mais bonita do que eu.


– Hmmm – fez Sirius apoiando o rosto na mão esquerda. – Shelby...


– Cala a boca, Sirius – replicou Kwon para ele, que estava sentado ao lado de James.


– E depois teve o Kyle, que me traiu com a Amanda e ainda tentou me bater. – finalizou Lily, pensativa. – Os homens simplesmente não prestam.


Todos os homens? – perguntou Remo, parecendo ofendido.


– Você não, Remo. – disse Lily monotonamente.


*


Enquanto Lily caminhava pelos corredores até a aula de Transfiguração, alguém a puxou pelo braço para uma sala escura. Lily sentiu um tremor lhe percorrer a espinha quando ouviu a porta se fechar.


– Você vai se arrepender, Evans. – disse a voz sibilante de Kyle.


– Lumus! – exclamou Lily e sua varinha acendeu, mas Kyle a arrancou de sua mão.


– Melhor não gritar, Evans. – sussurrou ele. – Vai ser pior para você.


Lily respirava rapidamente, mas parecia que o ar lhe faltava nos pulmões. Estava assustada, desarmada e terrivelmente perdida.


Kyle a empurrou contra a parede e levantou a saia dela, passando as mãos pelas coxas dela e tentando abaixar sua calcinha. Lily olhou para os lados, aflita, naquela escuridão apavorante. Quando ela percebeu que Kyle estava abaixando as próprias calças, ela gritou.


Então alguém abriu a porta com um estrondo.


– Petrificus totalus! – exclamou Severo Snape apontando a varinha para Kyle, que imediatamente ficou paralisado e caiu no chão com um baque surdo.


Severo segurou a mão de Lily e a puxou para fora daquela sala.


– Você está bem? – perguntou ele. – Ele fez alguma coisa com você?


– Sim, estou bem. – disse ela. – E não, ele não fez nada comigo. Graças a você.


Ela o abraçou com força, enterrando o rosto no peito dele e chorando nervosamente. Ele a envolveu com os braços, corando furiosamente.


– Eu fiquei com tanto medo. – chorou ela, soluçando.


– Está tudo bem, Lily. – garantiu Severo. – Você está segura agora.


Severo sugeriu que Lily faltasse às aulas naquele dia, já que ela não estava emocionalmente bem o suficiente para assistir às aulas. Ele a acompanhou até o Salão Comunal e ela se encolheu no sofá na frente da lareira. A voz e a expressão assustadoras de Kyle não deixavam sua mente em paz. Lágrimas quentes escorreram pelo seu rosto e ela as secou na manga do suéter. Se Severo não tivesse aparecido algo terrível teria acontecido. Lily enterrou o rosto nas mãos e chorou mais, sentindo-se terrivelmente humilhada.


De repente Kwon entrou correndo no Salão Comunal, seguida por Amelia e Alice.


– Você está bem, Lily? – perguntou Amelia, sentando-se ao lado dela.


– Snape nos contou tudo. – explicou Kwon, ajoelhando-se na frente de Lily.


Lily abraçou Amelia e fungou, tentando conter o choro.


– Como ele pôde fazer uma coisa dessas comigo? – disse Lily.


– Homens não prestam, lembra? – citou Kwon.


Lily forçou um sorriso, mas logo voltou a chorar.


– Amanhã nós não sairemos da sua cola, Lily. – prometeu Alice. – Se ele tentar alguma coisa ele vai se ver com a gente.


*


No almoço de quarta-feira Kwon contou a James todo o ocorrido.


– Que desgraçado! – urrou James socando a mesa. – Eu vou matar aquele maldito!


– Relaxe, Potter. – suspirou Lily com o rosto apoiado na mão. – Severo me salvou.


– E ainda foi o Ranhoso quem salvou você? – exclamou James.


– Pára com isso, James. – disse Kwon. – Se não fosse por ele alguma coisa podia ter acontecido com ela!


– Eu sei, eu sei. Me desculpe. –disse James. – Só estou meio alterado com tudo isso.


Meio? – ironizou Kwon com um sorrisinho.


Sirius apoiou o rosto na mão e se virou para Kwon, pousando a mão livro sobre a dela, mas ela rapidamente a afastou.


– Qual é a sua? – replicou Kwon.


– Quer sair comigo, K? – perguntou Sirius com um sorriso maroto.


Kwon apenas negou com a cabeça.


– E não me chame de K. – disse ela.


– Está bem, meu anjo. – disse ele piscando um olho para ela.


Argh! – resmungou ela enquanto se levantava e se afastava.


James deu um leve soco no braço de Sirius.


– O que deu em você? – perguntou James. – Dando em cima da Rainha de Gelo? Pirou de vez?


– Não sei o que me deu. – disse Sirius com um sorriso. – De repente senti uma vontade incontrolável de beijá-la.


– Ihhh – fez Remo. – Acho que o nosso amigo aqui está apaixonado.


– Apaixonado? – perguntou Sirius tentando fingir seriedade. – Claro que não.


Sirius mordeu o lábio inferior e sorriu consigo mesmo.


O que está acontecendo comigo?


*


Kwon, Amelia e Alice escoltaram Lily para todas as aulas, arriscando até mesmo chegarem atrasadas em suas próprias aulas para garantir a segurança da amiga. Kwon a encontrou na saída da aula de Runas Antigas e a acompanhou até a aula de Poções, porém Lily estava tão trêmula que acidentalmente derramou um frasco de poção no braço de Kwon e começaram a surgir tentáculos. Kwon foi levada para a ala hospitalar e Alice e Amelia acompanharam Lily até a aula de História da Magia. Depois Lily tinha mais um horário de Runas Antigas, mas nem Amelia nem Alice faziam essa matéria.


– Eu vou com você. – disse James saindo da sala de História da Magia. – Tudo bem, eu cuido dela. – acrescentou para Alice e Amelia.


Hesitante, Lily acompanhou James até a aula de Runas Antigas. James parecia preocupado, pois suas mãos estavam fechadas em punhos. Ele olhava fixamente para a frente e seus lábios estavam apertados.


– Você está bem? – perguntou Lily arriscando olhar para ele.


James pareceu despertar de uma espécie de transe. Ele ergueu as sobrancelhas, sobressaltado, e olhou de soslaio para ela.


– Estou – respondeu ele. – Por quê?


– Você parece tenso. – disse Lily apertando os livros contra o peito.


– Só estou preocupado. – explicou James.


– Com o quê? – perguntou Lily.


– Com você. – disse ele suavemente.


Lily sentiu-se estranha. Pela primeira vez estava conversando com James sem soltar nenhuma palavra áspera. Talvez estivesse assustada demais para raciocinar. Inesperadamente James passou o braço pelos ombros dela e a puxou para perto.


– Não vou deixar ele machucar você. – murmurou ele encostando a testa na têmpora dela.


*


Naquela noite Lily pensou nas palavras de James. Todos estavam preocupados com ela; James, Kwon, Amelia, Alice, Severo. Lily sentia-se indefesa, principalmente por saber que jamais conseguiria se defender de Kyle.


Kwon entrou no Salão Comunal, seguida por Amelia e Alice.


– Lily, contamos tudo à McGonagall. – disse Alice.


– Contaram o quê? – perguntou Lily.


– O que o Kyle fez com você. – explicou Alice.


– Vocês o quê? – exclamou Lily levando as mãos à cabeça e segurando os cabelos com força. – Ele vai me matar!


– Não vai. – disse Kwon. – Ele foi expulso.


– Por quê? – perguntou Lily.


– Contamos à McGonagall que ele a traiu e você terminou com ele, bateu nele e ele tentou bater em você, mas o James o estuporou antes. – contou Alice.


– E que ele tentou violentá-la. – completou Amelia.


– Vocês três foram contar? – perguntou Lily.


– Nós, James e Snape. – disse Kwon.


– Acabou, Lils. – disse Amelia com um sorriso. – Ele não vai mais incomodar você.

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