Hogwarts, sexto ano...



Hogwarts, sexto ano...






- Não – retorquiu Harry com a mesma confiança inabalável. – Vou ver o Hagrid. Tenho um bom pressentimento, algo me diz que devo ir até lá.


 


- Você tem um bom pressentimento em relação ao enterro de uma aranha gigante? – perguntou Rony, incrédulo.


 


- Tenho – respondeu Harry, tirando a capa da Invisibilidade do seu malão. – Sinto que é o lugar certo para estar esta noite. Entendem o que quero dizer?


 


- Não – responderam Rony e Hermione em uníssono, ambos alarmados.


 


- Ei Harry, isso é mesmo a Felix Felicis? – perguntou Hermione com uma expressão ansiosa, levantando o frasquinho contra a luz. – Será que você não tinha algum outro frasquinho cheio de… sei lá…


 


- Poção de insanidade? – sugeriu Rony, ao ver Harry colocar a capa sobre os ombros.


 


Harry gargalhou com gosto, o que deixou Rony e Hermione ainda mais assustados.


 


- Confiem em mim. Sei o que estou fazendo… ou, pelo menos… - avançou decididamente até a porta, concluindo - a Felix sabe.


 


Puxou a capa da Invisibilidade, cobrindo a cabeça e o corpo, e começou a descer a escada, sendo seguido por Rony e Hermione.


 


- O que você está fazendo lá em cima, SOZINHO, com ela? – guinchou Lilá Brown, olhando através de Harry para Rony e Hermione, que desciam as escadas do dormitório dos meninos juntos. Harry ouviu Rony dizer aparvalhado qualquer coisa atrás de si, enquanto atravessava a sala rápida e cautelosamente.


 


- Estou esperando uma resposta, Ronald Weasley! – intimou Lavender cada vez mais vermelha, perfurando intensamente Hermione com os olhos pequeninos.


 


Hermione moveu-se desconfortavelmente, não tinha a menor intenção de assistir a uma discussão dos “pombinhos”. Preparava-se para ir embora, quando Lavander a parou, segurando-a pelo braço. Fez tanta força, que Hermione retraiu-se de dor.


 


- O que está fazendo? Solte a Hermione – defendeu Rony, olhando zangado para a namorada.


 


Lilá lançou um olhar mordaz ao namorado, apertando ainda mais o braço de Hermione, que tentou se desvencilhar, evitando uma cena maior.


 


- Isso, Ronald, muito bem… defenda sua amiguinha! – esbravejou a loira, sua têmpora pulsando, evidenciando sua raiva.


 


- Lilá, não grite, está todo mundo olhando!  Solte Hermione, e vamos conversar lá em cima. – sugeriu Rony educadamente, porém visivelmente irritado. Suas orelhas cada vez mais vermelhas. Todos na sala comunal olhavam cheios de expectativas para os três.  


 


Lilá bateu o pé, parecendo uma criança mimada, largou Hermione a contragosto e subiu as escadas sendo seguida por Rony, sem dizer mais nenhuma palavra.  


 


Rony virou as costas, evitando olhar para Hermione que esfregava o braço, visivelmente chocada com a atitude da colega.


 


Andou lentamente, ignorando os olhares curiosos dos colegas de casa, até uma das poltronas e deixou-se cair levemente abatida pela situação.


 


- Hermione! – exclamou Gina que acabara de entrar na sala comunal. – Então, tudo bem?


 


Hermione olhou por cima do ombro para ver de onde viera a voz, apesar de já a ter reconhecido. Endireitou-se, fixando depois os olhos nas chamas da lareira.


 


- Gina… - exclamou sem ânimo.


 


- Hermione, o que aconteceu? – perguntou Gina um pouco preocupada. – Você está com uma cara…


 


Hermione suspirou profundamente - A Lilá me viu com o Rony…


 


Gina riu baixinho, provavelmente imaginando a cena.


 


- Ah Gina, por favor, não é nada disso que você está pensando. – explicou apressada e completamente sem graça. – Não estávamos sozinhos, Harry estava junto, mas com a capa da invisibilidade, por isso ela não o viu, e bem... pensou que estivéssemos sozinhos no dormitório…


 


- E por que Harry estava com a capa? Para onde é que ele foi?


 


- A casa do Hagrid. Você deve ter passado por ele.


 


Gina enrugou exageradamente a testa, esboçando uma expressão de compreensão sobre alguma coisa. Hermione pareceu não perceber e continuou falando.


 


 


- Pois, então a Lilá nos viu sozinhos e armou um escândalo! – terminou de contar, sem retirar os olhos do fogo.


 


- E onde eles estão agora? – quis saber Gina.


 


- No dormitório dos garotos.


 


Gina olhou por cima do ombro e tentou ouvir algum ruído que indicasse uma discussão.


 


- Esqueça, você não vai ouvir nada, Rony usou o Abaffiato. – anunciou Hermione baixinho, receosa de ser ouvida.


 


Gina virou-se para Hermione e suspirou.


 


- Que foi? – perguntou Hermione, focando-se agora em Gina, analisando sua face. A amiga parecia cansada, talvez um pouco abatida, mas, ao mesmo tempo, aliviada.


 


- Eu e o Dino terminamos!


 


Hermione engasgou-se.


 


- O quê? Por quê?


 


Gina virou-se para trás. Como era óbvio, Dino não podia entrar no dormitório naquele momento porque estava ocupado por Rony e Lavander, portanto estava a pouco mais de cinco metros dela, virado de costas, calado.


 


- Por uma idiotice! Ele pensa que eu sou uma criança e que preciso de ajuda para tudo. Quando estávamos entrando tropecei porque ele quis me ajudar a passar pelo retrato da Mulher Gorda!


 


- E o que ele disse? – perguntou Hermione, algo lhe ocorrendo.


 


- Jurou, como sempre, que não tinha me ajudado… Como se eu acreditasse!


 


“Harry”, concluiu Hermione em pensamento.


 


-… Começamos a discutir e... bem, disse que era melhor terminarmos de uma vez! – finalizou com um suspiro, aliviada.


 


- Hum... você não parece er... chateada. – notou Hermione perspicazmente.


 


- Bem... isso aconteceria cedo ou tarde! Dino e eu não temos muito em comum! Acho que ele não é o garoto certo para mim!– a ruiva deu de ombros, voltando a se acomodar em sua poltrona.


 


Hermione sorriu perante aquela informação. Claro que não. O garoto certo para a amiga tinha acabado de sair e provavelmente havia sido o causador do namoro dela com Dino ter chegado ao fim. Que ironia!


 


- Bem, Hermione, vou dormir. Boa noite! – desejou Gina, levantando-se e passando por Dino com uma atitude altiva e despreocupada.


 


Dino fingiu não reparar, mas quando ela entrou pela porta do dormitório das meninas, olhou para Hermione com um ar realmente abatido e triste. Hermione sorriu, encorajando-o desnecessariamente e virou-se novamente para as chamas que emanavam um calor abrasador.


 


Ficou ali durante um bom tempo, até toda a sala ficar completamente vazia. Chegou inclusive a adormecer. Acordou sobressaltada quando Lavander entrou pelo buraco do retrato, suprimindo um soluço. Passou pelas poltronas, subiu as escadas e entrou desabalada pela porta do dormitório. Rony entrou momentos depois, um pouco despenteado e corado.


 


- Quando é que vocês saíram do dormitório?


- Quando o pessoal quis ir para a cama! – respondeu baixo – Por alguma razão, o Abaffiato deixou de funcionar! Então nós tivemos de sair e fomos para uma sala de aula…


 


Hermione observou Rony. As marcas que ele tinha na rosto, o cabelo despenteado, sua expressão assustada.


 


- Vocês travaram alguma espécie de batalha? – perguntou alarmada, reparando o estado do amigo.


 


Rony olhou para ela…


 


- Bem… você não vai acreditar! Ela acalmou-se mal entramos no dormitório e propôs que resolvêssemos as coisas de forma adulta. E er... me ofereceu uma bebida…


 


- E? – instigou Hermione ansiosa.


 


Rony parecia travar uma batalha consigo mesmo para não dizer algo de extrema importância.


 


- E então, o que aconteceu? – impacientou-se Hermione.


 


- E… bem... ela começou a me fazer perguntas, e eu  não conseguia mentir, por mais que quisesse ou tentasse.


 


Hermione franziu o cenho, o entendimento a fazendo escancarar a boca. Veritaserum. “Como ela o conseguiu?” Perguntou-se alarmada.


 


- E o que perguntou ela? – quis saber, curiosa, aproveitando-se da vulnerabilidade de Rony.


 


O ruivo ficou muito vermelho, trincando os lábios até eles ficarem brancos. Parecia não querer dizer algo que sabia ser inevitável. A muito custo, levantou-se e se dirigiu cambaleando até as escadas. Bateu a porta do dormitório com força, deixando Hermione surpresa e admirada, sozinha na enorme sala comunal.


 


Olhou ao redor e sentiu frio. Não tinha reparado que já estava escuro. A lareira havia se apagado. O fogo se foi, levando consigo a única luz existente. Voltou a escorar a cabeça no encosto da poltrona e deixou-se adormecer.


 


Teve a sensação de estar sonhando com Lilá, a colega lhe puxava pelo braço. Hermione acordou sobressaltada, quando Lavander, no sonho, começou a beliscar seu braço.


 


Abriu os olhos na escuridão, e forçando-os enxergou uma pequena coruja a lhe bicar insistentemente o braço. Era Pichi, eufórica e ansiosa para lhe entregar a carta que trazia amarrada na pata. Desprendeu-a cuidadosamente, era uma carta… de Rony.


 


“Estou te esperando perto do lago, venha falar comigo, por favor!”


 


Aquele pedido não tinha nada de comum. Era rápido, esquisito, mesmo à moda de Rony. Contudo, a urgência que se notava naquela breve frase era claramente notória e facilmente identificável. Bastava ler o “por favor”… Assim, Hermione apressou-se a sair pelo retrato, atravessou os corredores da escola, tomando cuidado para não ser vista por Filch ou madame Nora. Suas pernas tremiam, estava nervosa, uma pontada de pânico a machucar-lhe a boca do estômago.


 


Quando, por fim, chegou ao lago, viu Rony sentado numa pedra enorme, achatada e não muito dura.


 


O luar refletido no lago dava uma enorme e bonita perspectiva da noite estrelada.


 


- Ron… - chamou tímida e cautelosamente. Muito nervosa, aproximou-se com passos hesitantes.


 


Rony, a princípio, não se moveu, continuou olhando fixamente para lago escuro. Depois, lentamente, ouviu-se sua voz, seu tom era baixo e receoso.


 


- Hermione!... Er... que bom que você veio… Estou… estou… realmente contente por isso!  Hum… er… - gaguejou parecendo atrapalhado.


 


- Rony… por que me pediu para vir até aqui e a essa hora, você que não temos permissão...


 


Ele a interrompeu apressado. – Bem é que… eu… tenho algo muito importante para dizer a você... digo, sobre o que me perguntou na sala comunal mais cedo. Eu tentei resistir... quer dizer, me controlar, sabe?! Mas não consegui… É que se alguma coisa me obrigasse a falar… - havia muito urgência na voz dele, e Hermione esforçou-se para entender tudo que ele dizia as pressas.


 


- Diga, então! – pediu ansiosamente Hermione.


 


Rony respirando fundo e tentou falar, mas a voz saiu-lhe aos tropeços.


 


- O quê você? Não entendi nada!


 


Mais uma vez ele aspirou profundamente, enchendo os pulmões de ar - Eu e a Lilá... bem... não acabamos só por que ela estava com ciúmes de você.


 


- Não? – perguntou Hermione sentindo uma contração engraçada no estômago.


 


- Não, na verdade... foi porque…


 


- Sim? – insistiu Hermione fervorosamente, aproximando-se alguns passos.


 


- Foi porque… talvez ela, a Lilá, tenha razão para dizer o que diz!


 


Hermione engoliu em seco, sentindo suas mãos começarem a suar. Onde estava o Rony que ela conhecia? Certamente ainda estava sob o efeito da poção, mas isso realmente não importava.


 


- Ron, você quis dizer o que acho que disse? Ou disse o que acho que não queria dizer, mas que eu queria que dissesse? – perguntou Hermione de uma vez só, não se perdendo pela pergunta confusa.


 


Obviamente, Ron perdera-se logo na primeira parte.


 


- Hum? – Rony a encarou parecendo extremamente confuso


 


- Rony… Por que razão me chamou aqui? – simplificou Hermione.


 


- Bem… Hermione…


 


- Sim… desembucha…


 


- Hum… Bem… A Lilá acabou comigo…


 


- Sim… isso eu já sei…


 


- Ela acabou comigo porque…


 


- Sim…


 


- Bem… er…


 


- Ron… desembucha de uma vez! – pediu Hermione zangada.


 


- Ela terminou comigo porque gosta do Dino – mentiu Ron, suspirando infeliz. Obviamente, a poção deixara de fazer efeito.


 


- O quê? – perguntou Hermione sem querer acreditar no que os seus ouvidos ouviam.


 


- Sim, é isso… - reforçou a mentira, aliviado por conseguir mentir. No entanto, apesar de aliviado, odiou-se por não lhe contar a verdade. Não ia admitir aquilo perante Hermione. Mas, Merlin, então a quem admitiria algo que só a Hermione dizia respeito?


 


- Rony… - gaguejou Hermione, terrivelmente decepcionada – Rony… você está mentindo. – disparou magoada e irritada.


 


- Não, não estou!


 


- Então porque suas orelhas estão vermelhas como tomates maduros? Como você consegue ser sempre tão insensível e idiota? – disparou furiosa, virando de costas e caminhando a passos duros de volta para a escola.


 


- Você tem razão! – apressou-se Rony a dizer – Mas há uma razão para isso…


 


- Há? – perguntou Hermione, parando a meio caminho – E qual é?


 


- A razão… - começou Rony, aproximando-se cautelosamente – A razão é simples! Bem... eu...er... realmente menti! Mas... não menti quando disse que Lilá tinha razão em sentir ciúmes...hum... de você... – Hermione olhou para Rony em busca de alguma insegurança, mas não encontrou.


 


- E...e por que ela er... teria razão para isso? – perguntou sentindo Rony cada vez mais próximo. A respiração quente dele batendo contra seu rosto, a deixando tonta e desorientada.


 


- Oh, Hermione você não entende?


 


- Não, me explica…- Hermione sentia as pontadas na boca do estômago cada vez mais intensas.


 


- A Lilá …acabou comigo... Ela acabou comigo porque eu gosto de você! – Rony quase gritou as últimas palavras, seu rosto queimando num vermelho intenso, mas ele não desviou os olhos dos castanhos.


 


Hermione arregalou os olhos, admirada, mas sorridente.


 


- Ron…


 


- E ela tinha medo que eu…


 


Hermione suspendeu a respiração, seus olhos brilhando intensamente.


 


- Ela tinha medo que eu fizesse isso…


 


Rony aproximou-se ainda mais, unindo seus lábios aos dela. O primeiro beijo. Hermione com os olhos ainda abertos conseguiu ver as sardas de Rony… Tão perto, tão bonitas, tão perfeitas. Abraçou-o com força enquanto as mãos dele deslizavam por suas costas. Os lábios se buscando, conhecendo o sabor um do outro... Nada mais importava....


 


 

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