Salvação



Harry caminhava mais uma vez à esmo pelo corredor branco. Estava perdido, a mente em choque, o corpo em agonia. Não havia mais o que fazer, ele deveria se sacrificar. Deveria ter sido assim desde o princípio.


Vagando desnorteado por entre as portas idênticas, abria algumas, passando por outras ignorando o conteúdo das salas. Objetos, lugares, seres, nada mais importava. Mesmo assim aquela voz chegou inesperadamente acolhedora aos seus ouvidos:


- Harry! – ele abriu um lago sorriso – sabia que o senhor viria me procurar em breve! Sente-se – Brandon puxou uma cadeira.


- Bem – Harry suspirou – acho que o senhor já sabe o que eu vou perguntar...
 


CAPÍTULO 5 – SALVAÇÃO


 


- É seguro? – Harry perguntou pela milionésima vez. Ele queria ter certeza de que Rony e Hermione não sofreriam na sua ausência.


- Claro! Asseguro que nada vai acontecer à eles! – Brandon abriu outro largo sorriso – você sabe o que fazer, não sabe?


- Sim – Harry suspirou, várias imagens passaram por sua cabeça. Dele embarcando no Expresso de Hogwarts, a Copa Mundial de Quadribol, o sorriso de Gina...


Estava deixando tudo aquilo para trás, mas sabia que seria melhor se não houvesse uma despedida.


Girou a maçaneta pela última vez.


 


**********


 


Os dedos estavam deslizando pelas teclas do piano, mas Harry era incapaz de sentir a melodia. Ouvia com apuro à cada nota emitida, cada acorde, mas nada parecia suavizar a dor da sua perda, muito menos do que estava por fazer.


Matar a si mesmo é com certeza uma decisão extremamente difícil.


Mas seria melhor que viver naquela penumbra.


Tomar o seu lugar exigiria todo o seu intelecto, pois ele sabia que devia aliar-se àquele que sempre combateu. E Voldemort não costuma se aliar a pessoas que não esteja disposto a matar.




Seus pensamentos fluíam junto com a melodia, e ao contrário desta, aqueles não eram vazios, talvez fosse a única coisa que ainda possuía. Seu corpo não era mais seu, sua alma em cárcere devido ao seu último e desastroso feitiço: tentara reverter a obra daquele Professor que já nem lembrava o nome, e ele mesmo fora reduzido exatamente a isso: um nome.


O nome “Harry” carregou o peso de toda uma geração, mas agora parecia infinitesimal, infinitesimal num mundo onde as regras não existiam ou existiam para serem quebradas; onde a lógica parecia um simples monte de areia, onde cada batimento cardíaco, cada suspiro, era na verdade um insulto.


Ele precisava fazer aquilo. Paga-se um preço terrivelmente alto ao envolver-se com a dinâmica temporal, e só pensar em reverter aquilo já trazia os seus juros. Harry falhara das outras vezes, mas agora tinha todo o suprimento de energia da Europa ao seu dispor, que mal faria incriminar meia-dúzia de trouxas – os quais já estavam envolvidos com crimes do gênero – diante do que iria fazer? Invadir os sistemas de todas aquelas usinas foi tarefa fácil.


Sem cogitar desistir, ele reproduziu em modo reverso o feitiço que tanto praticara. Milhares de quilômetros dali, outro Harry acordava no meio da floresta.


 


*********


 


Repousou sua mão sobre as teclas do piano, elas produziram um som indevido, que chegou aos seus ouvidos na mesma medida em que os pensamentos eram reorganizados. Olhou para os desenhos bordados no mármore das paredes, seu reflexo no perfeito tão divinamente polido.


Ele se lembrara do nome do Professor que o enganara.


Do seu rosto.


E das suas palavras.


Brandon dissera que tudo ficaria bem, que não precisava se preocupar bastava seguir religiosamente às etapas do plano. E num primeiro momento aquilo havia dado certo, ele sabia que fizera sacrifícios e que algumas coisas não seriam como antes. De qualquer forma, se já havia feito o que Brandon dissera para fazer, poderia prosseguir com o seu plano por mais radical que parecesse.


No entanto, a presença de Brandon era um empecilho. Agora ele queria ajustar as coisas, dar o troco. Valeria a pena? Tudo dependeria do que o Especialista fosse fazer, e em se tratando de Brandon, é bom estar sempre preparado para o pior.


Falando no diabo, Brandon abriu a porta.


- Harry estava aqui, não estava?


- Estava sim, mas porque isso importa? – ele respondeu indiferente, não estava com nenhuma disposição de conversar com Brandon naquele momento – e o que o traz aqui?


- Só queria deixar-lhe a par da situação – Brandon sorriu, como fazia toda vez que queria implantar uma idéia na cabeça de alguém.


- E?


- Acredito que a essa altura você já saiba o que fez com que Harry viesse parar aqui.


“Harry” não pode deixar de transparecer a surpresa.


- Como você sabe que eu e ele somos a mesma pessoa? E sim, eu tenho um palpite sobre isso.


- Eu sei por que você acabou de me contar – ele sorriu – mesmo que eu não possa decifrar você, é inevitável que seja influenciado por mim a dizer aquilo que eu preciso saber. Aliás, você sabe o que vai acontecer ao senhor caso...


No fundo, “Harry” já sabia o que estava reservado para ele num futuro não muito distante. Qualquer Professor saberia, não era preciso que ninguém explicasse; e o melhor que “Harry” poderia fazer era aceitar aquele fardo, até porque, ele estava em visível vantagem.


- Tenho uma proposta para fazer a você...


- Eu não aceito mais nenhuma proposta sua! – ele dobrou a tampa sobre as teclas do piano com violência e levantou-se. Ele não aceitaria, não importasse o que Brandon dissesse, no entanto, também havia outro Harry, e sabia que o Especialista não ficaria de baixos cruzados diante dessa oportunidade. Ao “Harry” cabia impedir que o outro caísse na armadilha de Brandon, mesmo que lhe restasse pouco tempo.


O outro Harry abriu a porta, e, para sua surpresa, Brandon não estava mais ali quando perguntou:


- O que fazem aqui?


 


***********


 


A casa estava vazia, Brandon sentia. Mesmo que eles conseguissem derrotar Voldemort mais uma vez, o destino de Harry estava condenado. Condenado por Brandon desde a primeira vez que o vira.


Ele surgira em sua porta buscando o Especialista do Futuro.


Ele ficou desesperado diante de sua derrota eminente contra o Lorde das Trevas. Brandon já havia previsto aquilo e ofereceu ajuda, no fundo sabia que Harry iria virar um Professor e que mais cedo ou mais tarde chegaria até ele.


Mas nos seus planos não envolviam aquele outro Harry, nem seus dois amigos. No fundo não importava, pois já estava planejando o que fazer com ele. Olhou uma última vez de relance para o livro “Achados Históricos de C. Lawliet”.


Daquela vez vinha tomando todos os cuidados, até lera um livro que já sabia o final só para ter certeza. “Não custa usar uma luva”, ele pensou ao desaparatar. Agora só precisava distrair o jovem Harry por alguns dias e tudo estaria consumado.


 


**********


 


A casa agora estava quase vazia, não fosse pelos outros dois Professores, por mais que tentassem nada poderiam fazer.


O chá estava esfriando. A leitura daqueles últimos dias repousava em suas mãos. Páginas ásperas, cheiro de papel e tinta. Podia sentir que seu plano estava se concretizando: não haveria como Harry escapar das suas mãos, nem que tentasse.


Brandon havia planejado até o último detalhe, tomado todas as precauções. Havia feito todas as coisas por si mesmo, não confiara nada a ninguém, nem mesmo em suas próprias previsões. Qualquer Professor iria saber que Harry não teria chance, fosse por bem ou por mal.


Frederich e Derose continuavam a trabalhar naquela máquina, apesar de seus avisos. Brandon tinha certeza do sucesso, nunca fora tão grande, mesmo assim, era irresistível que pregasse mais uma peça.


Olhou para o outro pedaço de papel em suas mãos, rabiscado às pressas por três pessoas. Pensou em rasgá-lo, talvez atirá-lo no fogo, não.


“Sei de algo mais divertido.”

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Comentários (1)

  • AUGUSTO.

    Este capítulo é o antepenúltimo . Desculpem por não postá-lo antes, acho que todos já estão à par dos meus compromissos, enfim, vou finalizar esta fic o quanto antes, mas não posso postar vários capítulos de uma vez só porque as coisas mudam muito rápido deste ponto em diante na história - e por incrível que pareça não quero deixar os meus leitores confusos! Graças à Deus consegui enxugar este da melhor forma possível - tinha mais que o dobro desse tamanho - espero que não tenha ficado confuso desse jeito, mas da outra forma iria cansar demais para ler. Agradeço aos comentários, aos votos e à PACIÊNCIA de vários de vocês, qualquer dúvida pode ser mandada via e-mail. Até mais, e, um abraço AUGUSTO

    2011-03-11
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