Tormento



Harry não estava acreditando. Um mundo de resoluções pareceu desmoronar aos seus pés como se tivesse pisado sem ver num castelo de areia.


Ele estava morto.


Harry queria de alguma forma dar um fim digno para o “seu” corpo, mas Voldemort ainda estava ali e iria notar qualquer coisa.


Diante disso, ele deu uma última olhada em Hogwarts, as inúmeras janelas já refletindo o sol nascente, assim como o lago e boa parte dos campos. E o corpo de “Harry” no chão, anônimo.


Antes que fosse demorar mais, ele desaparatou, sentindo que abandonava um pequeno pedaço de si mesmo.


 


CAPÍTULO 1 – TORMENTO


 


- Nós conseguimos! – a voz de Hermione chegou aos ouvidos de Harry tão logo ele desaparatou no observatório. Todos estavam ali.


- Agora é só uma questão de tempo até voltarmos, cara! – Rony deu um tapinha nas costas do amigo.


- É, é – ele concordava, sem ao menos sentir.


- O que houve? – perguntou Hermione, a sobrancelha arqueada em tom preocupante.


- Ele precisa de um tempo – disse Lavalle.


- Deixem ele respirar – concluiu Derose.


- Mas o que houve? – insistia Hermione.


- Ele... – suspirou Harry – ele…ele...morto.


- Como? – perguntou Rony, alarmado.


- Como? Ora, como Ronald Weasley?! – Hermione não agüentou a rompante de desatenção do amigo – como você acha que alguém morre?


- Não tem importância – suspirou Harry, jogando-se numa cadeira – nós vamos voltar, isso é o que conta.


- Sim – ambos disseram em uníssono.


- Nós vamos – completou Hermione.


- Não teria tanta certeza disso – Brandon entrou no recinto, foi como se a superfície de um lago congelado de repente rachasse.


Todos permaneceram em silêncio, de alguma forma haviam esquecido completamente dele.


- Sim, eu ainda estou aqui – ele abriu os braços, como se fosse o reencontro de um parente há muito ausente.


Harry teve realmente muita presença de espírito para não se atirar em cima de Brandon. Ninguém queria ser o primeiro a falar.


- Então, acabou dando tudo certo, não disse? – começou Brandon.


- Não – respondeu Hermione, ríspida.


- É claro, não teria graça nenhuma se eu tivesse contado o final dessa história pra todo mundo.


- Está tendo realmente muita graça agora – cortou Lavalle – faça o que veio fazer...


- É óbvio! – o raciocínio de Frederich interrompeu a discussão – teremos que adaptar o último diagrama para que a máquina possa funcionar!


- Não se pode entrar no mesmo rio duas vezes não é? – Brandon aproveitou a deixa – vocês não são as mesmas pessoas que há alguns meses. É preciso fazer algumas adaptações nas nossas notas – ele apontou para o trio.


- E nós vamos verificar tudo – tranqüilizou Lavalle.


- Mas então isso vai demorar mais alguns meses? – Rony estava ficando preocupado.


- Não, não! – Frederich se adiantou – eu tenho guardada comigo uma cópia do último diagrama, justamente caso houvesse algum erro.


- Ótimo! – disse Harry – poderemos ir embora cedo então.


- A propósito, Harry – começou Brandon – eu gostaria de pedir as minhas mais sinceras desculpas. Eu temi que contando o futuro para você as coisas ficassem mais complicadas e optei por fazer exatamente o oposto.


Eles foram se afastando até um local mais escuro.


- É mesmo? – desconfiou Harry – Então me diga quando o senhor iria sugerir que eu voltasse a ser um bebê e interferisse na morte dos meus pais, causando por fim mais dor e sofrimento do que qualquer outra coisa.


- Eu nunca iria sugerir isso para você, não depois de ter visto o fim que “Harry” levou. Eu só disse que nada do que você fizesse iria dar certo, e menti, porque eu não poderia dizer a verdade, dizer que tudo daria certo. Se eu o fizesse, você não encararia o problema com a mesma determinação. Sei que você não confia em mim, e fiz todo esse teatro para que você não optasse pelo que “Harry” optou.


“Sim, desde que botei os olhos nele eu soube quem ele era, pois quando projetei a viagem dele sabia que ele iria ficar com aquela fisionomia. Seria só uma questão de tempo até que ele lhe contasse o que fez, e conseqüentemente que você pensasse em fazer o mesmo. Todas as minhas atitudes foram premeditadas para que esse ciclo fosse quebrado, eu só quis o seu bem.”


Só agora Harry percebeu a confusão daquilo tudo, e não era só o que Brandon estava dizendo, mas era claro que aquilo era um grande ciclo. De alguma forma, parecia que “Harry” havia feito a mesma viagem que ele fez quando foram “puxados” pelo feitiço do “Harry”. Então, ele teria visto naquilo que “Harry” fez, a única alternativa...


Harry não quis entender aquilo, estava mais preocupado com o fato das palavras de Brandon estarem fazendo sentido. Ele realmente parecia estar sendo honesto, dizendo a verdade, ou será que era só por saber exatamente o que Harry iria perguntar, para bolar uma resposta convincente? Isso era um fator que Harry não podia impedir. Ou será que era possível usar Oclumência?


Tentou não prestar tanta atenção no que o Especialista dizia, ao ponto de evitar que seu subconsciente formulasse perguntas a respeito. Assim, Brandon deveria parar de argumentar.


Mas ele não parava.


Harry prestava um mínimo de atenção, apenas distinguindo os murmúrios, o fino traço de uma voz distante.


Mesmo assim ele continuava.


Ou será que ele sabia que estava fazendo aquilo?


Ridículo, Harry não tinha com o que se preocupar, dentro de algumas horas estaria de volta à sala de visitas do número 12 do Largo Grimauld.


- ...por isso gostaria que você aceitasse as minhas mais sinceras desculpas – a voz de Brandon retornou aos ouvidos de Harry.


- Como? – ele tentou não parecer confuso.


- Para provar que sou uma pessoa confiável, quero fazer-lhe uma proposta.


- Que proposta?


- Vai ser apenas de um dia, e eu garanto que terá total liberdade se quiser voltar.


- Vai ser o que? – Harry estava ficando impaciente.


- Podemos, eu e os outros Especialistas, criar um diagrama para que você passe um dia com os seus pais.


Harry desmoronou. Um minuto atrás estava certo de que voltaria para casa em segurança, e que tudo havia acabado. Mas aquela era uma proposta que necessitava de um mínimo de raciocínio antes de se aceitar.


Precisava falar com Rony e Hermione.


Era seguro confiar em Brandon? Por mais que as palavras do Especialista fizessem algum sentido, era natural sentir receio. Harry estaria muito vulnerável. Contudo, foi sem discordar que todos voltaram para a sala de visitas onde fora servido o jantar – agora pelo meio mais rápido.


Os três engoliram a comida, por assim dizer. Apesar do caso já estar praticamente resolvido, pairava a impressão de que faltava alguma coisa. Foi sem reclamar que Harry se retirou com Rony e Hermione: eles precisavam conversar.


Desta vez o corredor branco-cegante pouco incomodou as retinas de Harry, enquanto eles caminhavam silenciosamente rumo a um destino ignorado. Abriram uma porta aleatória e entraram.


Era um novo ambiente.


Três paredes brancas e quadradas sustentavam um teto muito alto – devia ter uns trinta metros de altura. A quarta parede era uma imensa janela que cobria toda sua extensão. Através dela via-se o mar, o céu poente apesar da hora e um longínquo farol. O teto era uma abóboda cristalina fundida com a janela, e no chão a grama crescia por caminhos muito estreitos entre o granito, em padrões ondulados como um tapete excêntrico. Nas demais paredes não havia nada, exceto por onde entraram: uma porta em arco quase tão alta quanto o resto, e demasiado estreita para obedecer a uma proporção.


Os três deram o primeiro passo em simultâneo, e tão logo roçaram na grama um tronco surgiu no exato centro da sala, alto e robusto o suficiente para sustentar um balanço de aspecto muito romântico.


- Tá com você – Hermione encostou no ombro de Harry, e os outros dois começaram a correr pelo espaço, ziguizagueando ou seguindo os contornos da grama, desviando da árvore por uma meia hora, até que os três desistiram e deitaram na grama, contemplando a claridade do céu.


Estranhamente, não havia escurecido nem um pouco desde que entraram naquela sala. O sol permanecia poente.


Hermione sentou-se no balanço e Rony começou a empurrá-la. Harry olhou para os três: valeria a pena incomodá-los com aquilo? Valeria a pena arriscar tudo aquilo apenas para passar um dia com sua família? Afinal de contas, em quase vinte anos ele enxergava os dois amigos como sua família, nada mais, a não ser Gina.


De qualquer modo, eles precisavam saber.


- Brandon me fez uma proposta – disse Harry, repentinamente, interrompendo o balanço dos amigos.


- E qual foi? – perguntou Rony, o ar sério.


- Ele disse que eu posso passar um dia com os meus pais em Godric’s Hollow.


Rony e Hermione se entreolharam, ela fitou a abóbada brilhante, e em seguida o fundo dos olhos verdes de Harry.


- A escolha é sua – ela afirmou com simplicidade. Seus olhos transmitiam a compreensão daquelas palavras que não foram ditas.


É claro que todos sabiam o que estava em jogo.


Muita coisa a perder.


E aquilo não havia ajudado em nada a Harry.


- Os outros não vão deixar que nada de ruim aconteça a você – Hermione chegou mais perto do amigo, ajoelhando-se ao seu lado. Harry sabia que “os outros” queria na verdade dizer “Lavalle, Derose e Frederich”.


- Converse sobre isso com Frederich – sugeriu Rony.


- Isso! – concordou Hermione – ele pode explicar mais detalhadamente como a máquina funciona, e se Brandon pode fazer alguma coisa para boicotar sua viagem.


Harry não tinha pensado nisso: Frederich havia projetado a máquina, com certeza sabia das coisas!


- Isso me deixa mais tranqüilo – Harry sorriu – falta pouco então!


E os três saíram da sala, voltando para o corredor infinito.


 


- Então? – perguntou Brandon algum tempo depois – já tomou sua decisão?


- Sim – Harry respirou profundamente – eu aceito.


- Ótimo! – Brandon sorriu – venha por aqui.


Eles foram andando pelo imenso corredor, e chegaram em uma sala.


Uma sala escura que parecia uma masmorra, com três portas em ferro fundido. Brandon retirou mais uma vez uma minúscula chave dourada e testou em cada uma das portas: a da direita abriu.


- E Rony e Hermione? – perguntou o Especialista.


- Estão dormindo, não quis preocupá-los.


- Certo – ele abriu a porta e o que se apresentou em seguida foi idêntico à uma torre, com várias portas em arco ao redor, e com vários níveis.


No centro do cômodo, acima de um espesso tapete vermelho estava a máquina de Frederich, e o mesmo estava acabando de ler um pequeno pergaminho.


- Tudo ok? – Harry perguntou – Queria ter o seu aval...


- Não vejo nada de errado, não se preocupe – ele dobrou o papel –Lavalle e Derose já revisaram o diagrama ontem à noite. Agora escute


Harry prestou atenção.


- Você vai passar um dia lá – continuou Nadal – e acredito que você saiba o que pode, e principalmente o que não pode fazer. Você vai passar um dia lá, mas quando retornar para cá vão ter se passado apenas alguns segundos.


- Eu presumi que isso fosse acontecer, por isso não acordei Rony e Hermione.


- Sei – o professor ligou alguns dispositivos na energia – mas há algo que você precisa atentar. Da última vez foi projetada para você uma viagem “só de ida”, mas desta vez ela é de “ida e volta”, portanto lhe será fornecida uma chave.


- Chave?


- Chave, como outra qualquer – ele deu de ombros – e basta que ao final do prazo de vinte e quatro horas você a use em qualquer maçaneta, que um portal semelhante irá se formar para seu retorno. De acordo?


- De acordo – Harry acentiu, e subiu na plataforma.


Frederich passou o pergaminho pelo vão de cartas e do outro lado caiu uma chave. Harry a pegou, era pequena mais muito pesada.


- Tome cuidado – sugeriu o Professor – nunca é demais.


Então ele girou a maçaneta.


E tudo aconteceu muito rápido.


Num segundo se viu entre ele mesmo e Voldemort, quis desviar da luz verde que vinha certeira em sua direção, mas já era tarde.


Harry foi atingido por uma Maldição da Morte.


E tombou inerte no chão, que pareceu muito mais macio e aconchegante do que realmente era.

 

 


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Olá,
Precisei fazer essa postagem mais cedo já que amanhã não poderei. Como estou bem adiantado, posso me dar esse luxo.
Peço a vocês que comentem, pois isso ajuda muito, assim como os votos!
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A fic está na sua reta final! E desde já agradeço á todos os leitores.
Até breve! 

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