A Festa



Harry sentiu o ar ao seu redor. Era um vento estranhamente forte. Será que Gina havia aberto a janela? Harry abriu os olhos e o verde tomou conta da sua retina. Ele não se lembrava de uma janela tão grande, nem de que a sebe em frente ao Largo Grimnmauld fosse tão verde no inverno. E aquilo não era uma sebe.


Várias hipóteses absurdas passaram por sua cabeça: estaria ele sonhando? Fizera a si mesmo essa pergunta com muita freqüência nos últimos anos, e nunca tivera tanta convicção. Mas uma pinha golpeou o seu ombro com força e lhe disse que não.


Com toda certeza, ele não estava na sala de visitas.


Não estava no Largo Grinmauld.


Não estava em Londres.


E possivelmente não estava na Inglaterra.


Então, onde ele estava?


 


CAPÍTULO 1 – A FESTA


 


 


Harry olhou para uma pequena faixa de céu visível por entre as copas das árvores, tentando se localizar, mas ainda estava escurecendo e as estrelas não eram visíveis.


Os pássaros iam se aninhando nos galhos com muito alvoroço, e seus sons tornavam aquele ambiente estranhamente familiar. No entanto, aquilo não fazia a menor diferença, visto que ele já havia passado por inúmeras florestas. Mas nem todas tinham árvores tão grandes e altas, com as raízes tão grossas...


A descarga de adrenalina provocada por sua descoberta o fez querer pular e sair correndo, talvez Hagrid o pudesse ajudar. Mas, o que pareceu estranho – se é que algo pudesse parecer mais estranho – é que ele não conseguiu levantar-se, algo o prendia naquela posição esdrúxula.


Tão logo tomou consciência de que não conseguia levantar-se, lembrou de que deveria estar deitado... mas não no chão, aquilo era macio demais...


Tentou ajeitar sua posição, e no instante em que o fez, pôde sentir o hálito de Rony em sua nuca.


- Mas que m...


Desta vez o choque foi tão grande que ele conseguiu se levantar para, novamente, tomar outro susto:


Ele, Rony, Hermione, e o sofá com suas almofadas e todos os pertences que eles haviam visto na noite anterior, e que haviam ficado entre eles durante o sono, estavam ali, inclusive o tapete debaixo do sofá.


Rony rolou para fora do estofado e caiu de boca no chão repleto de folhas secas.


- Quem deixou a janela aber... – mas ele parou no ato, mudo pelo mesmo motivo que Harry.


Que diabos havia acontecido? Hein?


Os dois olhavam para os lados, esperando obter essas respostas de mais alguém que ali estivesse. Mas não havia ninguém.


Hermione foi a última a tomar ciência da situação, mas diferente dos rapazes, ela ficou estranhamente calma, como se alguém a houvesse avisado que aquilo ia acontecer.


- Onde é que nós estamos? – ela sentou no sofá abraçando uma almofada, bocejou.


- Eu acho que nós estamos em Hogwarts – disse Harry.


- Meio óbvio, não acha? – retrucou Hermione.


- Onde mais podemos estar? – concluiu Rony.


- Bem, parados nós não vamos descobrir nada – Hermione se levantou e pôs-se a guardar os objetos na sua bolsinha de contas. Harry começou a achar que aquela bolsa era uma espécie de ímã para confusões. Após encolher e guardar as almofadas e o sofá, os três começaram a explorar a floresta.


Indo sempre para o leste, pois se estivessem em Hogwarts iriam encontrar a cabana do Hagrid nessa direção, eles caminharam por mais ou menos uma hora e meia, até que o sol finalmente começou a se pôr.


Conforme as árvores iam ficando mais jovens, menores e mais espaçadas, Harry começou a erguer o pescoço, tentando divisar os contornos do castelo ou da cabana do Hagrid, que deveriam estar bem visíveis àquela hora, por causa das tochas acesas.


  E estavam.


Tamanha foi a excitação de Harry ao ver o castelo e a cabana que ele teve que se controlar para não sair correndo e gritando.


- Eu te disse! Eu te disse! – Harry sussurrava para Hermione, pois se falasse em voz normal, logo estaria gritando. Mas Hermione parecia não ouvir o que Harry dizia, ela estava querendo ouvir o que se passava dentro da cabana do Hagrid, que parecia estar com um movimento anormal.


- Isso não é bom – ela disse bem baixo, mais para si do que para os outros – Não, isso não é nada bom.


- O que não é bom? – Harry perguntou para a amiga, agitando a palma da mão em frente à sua face, pois Hermione parecia imersa em pensamentos – Hermione?


Como que respondendo a um comando automático, ela começou a andar na direção de uma das janelas da cabana. Muito sutilmente, ela espiou para dentro por uma fração de segundo.


Ela pareceu não ter gostado nada do que viu, pois colocou a mão na boca e deixou-se escorregar pela parede. Harry notou um único filete prateado escorrer pela face dela.


Hermione abriu os olhos e acenou, muito lentamente, na direção de Rony para que ele viesse ver.


- Her... – começou Rony, mas ela pôs o indicador nos lábios, pedindo silêncio. Depois, ela apontou para a janela e ele fez exatamente o mesmo que ela antes.


Não agüentando a expectativa, Harry caminhou no mais absoluto silêncio até onde os amigos estavam.


- Mantenha a calma – pediu Hermione, antes que Harry olhasse pela janela. Não entendendo muito bem, espiou por uma fração de segundo para dentro da cabana.


Todo aquele milésimo de segundo pareceu uma eternidade.


Quando Hermione o puxou para baixo do parapeito da janela, a cena ainda estava gravada na mente de Harry, mesmo que ele estivesse fazendo o maior esforço do mundo para apagá-la. Porque ele levara menos de um milésimo de segundo para entendê-la.


 


Ele podia deduzir aquilo pelo Neville cheio de cicatrizes, pela Gina abatida, pela Luna esperançosa, pelo Hagrid ferido, pelos outros membros da AD jogando Snap Explosivo, por Canino entristecido, por Dino e Simas e suas garrafas de cerveja amanteigada. E se isso não fosse suficiente, também poderia deduzir por Colin Crewler de volta à vida. E claro, também havia a faixa.


Apóie Harry Potter.


Realmente Harry precisava de apoio e, talvez por isso Hermione já o levasse para dentro da floresta antes que os Carrow chegassem e destruíssem tudo.


Apóie Harry Potter.


Harry certamente precisaria de apoio depois que Ludo Bagman saísse de dentro de uma moita e dissesse que aquilo era uma pegadinha. Se fosse pegadinha.


Apóie Harry Potter.


Com toda certeza ele precisaria de apoio para ver novamente seus amigos caindo mortos um a um num dominó macabro.


Apóie Harry Potter.


Quando ele fosse encontrar novamente os braços da Morte naquela floresta.


Apóie Harry Potter.


Quando ele fosse derrotar o Lord das Trevas mais uma vez.


Mais uma vez ele teria que ouvir, sentir, sofrer, morrer.


E vencer.


Harry se desvencilhou dos braços de Hermione e começou a correr como nunca correra em toda a sua vida. Suas pernas gritavam em protesto, mas a raiva que gritava em seu peito era um milhão de vezes maior. Harry nem sentia, mas as lágrimas lavavam seu rosto e escorriam até o seu peito, que parecia vazio, como que sugado por dentro.


Então a situação despencou sobre ele como uma rocha de muitas toneladas.


Harry agora entendeu que tudo aquilo que fizesse ali poderia ter conseqüências apocalípticas no futuro. Como ele poderia viver sabendo que cada batimento cardíaco seu era um insulto aos componentes daquele momento? Cada vez que piscasse ele se lembraria de que não poderia estar ali. Cada passo seu era na verdade um passo a mais em relação ao desastre.


Mesmo assim, ele não conseguia parar de chorar, e mesmo o tombo que levou ao tropeçar numa raiz pareceu suavizar a sua dor. Harry tentou se levantar, mas as pernas doloridas já não agüentavam mais.


Ele precisava voltar, ele precisava garantir sua mulher e o seu filho. Precisava voltar a ser feliz. Precisava voltar a ser normal. Ele não podia mais ter todo aquele sofrimento. Ele precisava voltar.


Como que se movimentar adiantasse alguma coisa, ele começou a rastejar, se apoiando nos gravetos e nos arbustos, sem se importar que ele estivesse ensangüentado ou que sua roupa estivesse rasgada.


Após alguns minutos de desespero, nem mesmo seus braços agüentavam mais. E ele ficou ali, com o rosto colado no chão, e o cheio ácido da terra inundando as suas narinas.


- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOO!!


Mesmo sabendo que não poderia gritar, ele não conseguiu evitar, tinha que expressar de alguma forma a dor que sentia. Então, num espasmo de fúria, ele começou a cavar a terra com tanta força que a jogava seis metros dali, como se cavando pudesse voltar para a sala de visitas do Largo Grinmauld, número 12.


Então, já sem nenhuma força dento de si, ele caiu de costas no chão e não produziu nenhum som. Só as lágrimas ainda saíam dos seus olhos e se misturavam à terra úmida de suor no seu corpo.

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Comentários (1)

  • Rosemare Vulchanov

    UAUU... No primeiro cap. eu comentei que você era bom. Agora eu falo que você é simplesmente espetacular!! Nos cap. passados eu ri, nesse eu me assustei, senti o que Harry estava sentindo, foi quase tão real como se eu estivesse lá. eu sou muito chata quando se trata de livros, porque eu gosto de entrar na historia e presenciar o momento... Você é um escritor que consegue fazer isso e por isso eu tiro o meu chapéu para você! Animada para os proximos capitulos e os segredos que eles guardam... Marina

    2011-07-07
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