Capítulo Único
Mary’s Song
- E você, Lilian Evans? Aceita casar-se com Frederic O’Coweel? – perguntou-me o senhor sorridente trajando aquela túnica típica de padre. Sua vestimenta parecia ser composta por algodão puro. Além de ser a roupa mais alva dali, seus adornos bronzeados e dourados sobressaiam perante os olhos emocionados e em expectativa dos convidados.
A voz calma e quase sussurrada do Sr. Dominic não causou reação alguma em meus lábios, que deveriam proferir a tão aguardada palavra “Sim”. Eles simplesmente continuaram imóveis e colados um ao outro. Lily, o que está esperando? Não foi minha doce e querida mãe que deixou escapar tal pergunta. Nem os padrinhos, Sirius e Marlene. Nem, muito menos, meu noivo, Frederic. Não, claro que não. A igreja ainda permanecia naquele silêncio volumoso e incômodo. Fora eu mesma que proferi tal questionamento, mentalmente. Acho que estava tentando desesperadamente me afrontar. Ou ter a certeza de que era aquilo que eu queria. Era aquilo que eu queria? É mesmo, Lily? Tirei um cacho minuciosamente modelado de meus olhos céticos. Cale a boca, minha mente. Não atrapalhe tudo.
Marlene, com seu vestido violeta, colado em seu esguio corpo, sorriu para mim quando nossos olhos casualmente se encontraram. Ela não demonstrava estar ansiosa ou surpresa pela minha hesitação. Somente me olhou como sempre: amiga e verdadeira. Dorcas e Emmeline também estavam ali, mas nos bancos, juntamente com minha família. Elas igualmente faziam parte da família. Era inquestionável. Dorcas em seu lindo e curto vestido rosa com detalhes em minúsculas pedrinhas fervilhantes douradas achava que igreja era sagrada. Uma vez que se entra lá de branco, não há mais como quebrar o elo invisível e resistente. Casamento era sinônimo de amor. Claro que eu concordava e tinha um discurso para tal veemência. Eu era romântica. Isso era o suficiente. Emmeline, a loura fatal e mais desejada da época de escola, não era do tipo que ligava para alianças ou “rituais de purificação sentimental”, como ela se referia a casamentos. Com Emmy tudo era sentido e realizado no momento. E para que um só cara quando você pode aproveitar a vida até se cansar? Afinal, não existe homem ideal ou príncipe encantado do cavalo branco. Todos eles pensam iguais e agem da mesma forma. Seus objetivos eram semelhantes ao dela, e isso era fundamental.
Não importava com quem eu quisesse me comunicar com o olhar. Tudo voltaria. Eu colocaria o antes e o agora na balança que construíra no momento que Fred me propusera o matrimônio. Meus olhos, de repente, tornaram-se fora de foco. Imagens aleatórias passavam na frente deles, afundando minha mente...
~x~
Todas as mulheres que me viam descendo as escadas da pequena casa diziam que eu estava linda. Meu vestido longo, tomara-que-caia, de tecido brilhante e liso, cravejado de mini-pedrinhas cristalinas, arrastava no chão. Minha mãe e as meninas corriam afobadas para que a cauda não se sujasse. Ajeitei as grossas alças caídas em meus ombros nus. Segundo Dorcas, eu parecia uma princesa com aquele meu vestido com ar antigo e com meus cachos ruivos presos por presilhas fofas, verdes, mas com algumas mechas soltas, propositalmente. Eu não me importava com minha aparência. Meu vestido era o de menos. Tudo o que pensava ao deixar o jardim e entrar na Blue Girl (apelido carinhoso que eu tinha dado ao meu carrinho recém-adquirido, porque, sim, ele era azul-bebê) era: “Será que vou mesmo conseguir fazer isso?”. Tentava afastar a sensação que me afligia e me apreendia, mas tudo o que consegui foi ficar de olhos fechados até nosso destino final: a simples, mas encantadora, igreja. Fred não estava de acordo com a minha preferência. Ele queria a igreja que ficava perto do cemitério, somente porque seus detalhes eram em ouro e ostentava gigantescas colunas clássicas. Eu escolhera a casa de Dominic, não somente porque ele ainda mantinha uma amizade com meu pai, mas também pelo fato de que sempre, desde criança, fui apaixonada por aquelas paredes de pedra polida e cinza. Achava um dos monumentos mais belos de nossa pacata cidadezinha inglesa. Tinha muito orgulho dela.
- Querida, tenha certeza de que estou muito orgulhoso de você – papai, com seu terno elegante cinza chumbo, me disse. Ele parecia ser o mais ansioso de todos os presentes no carro. Mamãe pigarreou e olhou-o torto, como se ele a estivesse excluindo da família. – De que nós estamos muito orgulhosos – corrigiu ele, rapidinho - Não achei que a minha menininha fosse se casar tão cedo – seus cabelos grisalhos, que começavam a despontar nas raízes, se balançaram pesarosos.
- Pai, não faça assim. Vou começam a chorar antes mesmo de pisar na igreja! – reclamei, olhando para o teto solar, tentando minimizar o efeito das poucas lágrimas que começavam a se acumular em meus olhos fantástica e humildemente maquiados. A maquiagem era bem simples. Somente lápis negro, iluminador, delineador, sombra perolada, rímel e batom rosa-Penélope. Nunca fui de exagerar no make. Nunca fui como Petúnia.
- Se ela derramar uma lágrima sequer antes de estar ao lado do noivo, juro que vou deixá-la parecer uma panda na frente de todos! – ralhou a minha irmã, tão esplendorosamente encantadora naquele mini-vestido Valentino dourado fosco. Ela estava linda, como sempre esteve.
- Ah, Petúnia! – minha mãe exclamou, aparentemente sem dar muito crédito a ela.
- Não acredito que você vai se casar antes de mim. Com um cara louro de olhos azuis! O que vai sobrar para mim depois disso? Um nerd da faculdade? Eu nem ao menos gosto desses nerds! Você já prestou atenção no jeito esquisito que eles penteiam os cabelos? Ah meu Deus, e a falta de estilo? Eles nem sabem o que é um Blazer-Paletó! Não vou conseguir viver o resto dos meus dias... – era claro que Petúnia tinha que fazer seu décimo sétimo discurso do dia acerca de meu casamento. Ela vinha fazendo esses monólogos desde o dia em que Fred pedira a minha mão. Devo dizer que a ouvi demais prolatar tal assunto. Mas tudo bem, Petty sempre era assim. Sempre reclamava sobre tudo (sobre qualquer coisa) e sempre falava tudo o que queria e tudo o que ninguém queria ouvir.
- Petúnia, vá indo na frente, querida. Vá tranqüilizando os convidados – minha mãe disse a minha irmã, com o seu melhor tom. E se virou para Marlene, que tinha vindo conosco pela falta de espaço na camionete de Dorcas: - Marlene, Sirius deve já a estar esperando. Melhor não deixá-lo irritado.
- Ah, só eu sei como ele é esquentadinho com horários... – Marlene riu e olhando para mim, antes de sair da Blue Girl, disse-me: - Você é a noiva mais linda de todas, Lils. Não se esqueça de sorrir ao entrar no corredor, é sério.
- Vou me lembrar disso, pode deixar – agradeci com um aceno.
Petúnia e Marlene desapareceram dentro da enorme casa de pedra.
Eu, papai e mamãe fizemos um grande silêncio.
- Você vai se sair bem dessa. Você o ama e isso é o crucial. Você verá, serão muito felizes – olhei para os cachos louro-avermelhados modelados de minha mãe. Todos ainda pareciam perfeitamente naturais, exatamente como Petúnia nos dissera.
- E se tudo der errado, ou alguma coisa der errada, sempre existe o divórcio. Separação não é cafona – papai completou. Minha mãe o olhou, estufada.
- Derek! – ela exclamou chocada.
- O quê? – ele fez uma careta e pediu desculpas.
- Bem, só siga seu coração. Nada é mais intenso do que seguir as próprias intuições e os próprios extintos – finalizou minha mãe, suspirando.
- Certo, mãe. Eu também me lembrarei disso – sorri pequeno.
Eu não iria desistir. Era o meu casamento. Sonhava com isso desde que tinha dez anos, quando experimentei o primeiro amor. Mesmo doze anos depois, meu desejo não estava dilacerado. Eu iria realizá-lo. Precisava tê-lo nas mãos e não o deixar escapar. Era isso o que eu queria. Pelo menos, era isso que eu estava pensando ali, no carro.
- Muito bem – ela aprovou – Venha, vamos andando, ou Frederic vai achar que você desistiu dele – emendou, segurando minha mão.
Eu ri, somente por rir. Não havia nenhuma graça aparente.
Minha mãe entrou, e eu e meu pai tomamos fôlego para nos preparar para nossa entrada gloriosa.
- Não tenha medo de desistir, Lily. Reconsiderar sonhos não é um ato de covardia – meu pai me disse antes de darmos o primeiro passo rumo ao altar.
- Obrigada, pai – pressionei os lábios e espantei todos os meus pensamentos medíocres.
Sabe, às vezes, quando seu pai é amigo de um padre, você pode ouvir a frase que vai mudar o caminho de suas escolhas.
~x~
Ainda confusa, voltei meus olhos para o altar. Padre Dominic cravou os seus em mim, bondosos como sempre me recordava, e sorriu.
Senti a mão esquerda, fria e nervosa, de Frederic se encostar na minha direita. Observei-o por meros segundos, obliquamente. Ah, meu Deus, o que eu estava fazendo? Frederic não merecia aquilo. Definitivamente não merecia! Ele não podia se casar com uma mulher imatura que mal sabia o que de fato queria. Você é uma vergonha, Lily Evans. Sim, eu sei que sou, obrigada por me recordar. E agora? O que iria acontecer? Qual era a probabilidade de tudo aquilo der errado? Uma em um milhão?
Agora Fred se virou para mim, totalmente. Entendi o desespero de seus olhinhos azuis tão invejados por Petty.
- Lily Evans, aceita casar-se com... – blábláblá. De novo aquela frase. Qual era a minha dificuldade em responder o que todos esperavam? Minha língua nem estava anestesiada, de modo que estava apta a se mover e produzir os sons certos das palavras. Sim era uma palavra fácil. E... impensada. Talvez equivocada, também.
Vamos, Lily. Responda. Somente responda.
Provavelmente a minha hipófise estava se contorcendo para fazer reverberar aquele sim. Mas não sei o que o resto do meu cérebro estava fazendo naquele exato momento. Dormindo poderia ser o certo.
Perdi o contato físico com o meu noivo. Ele estava decididamente entrando em pânico.
Ah, não. Coitadinho. Eu não poderia pensar na hipótese de fazer isso. Não podia. Frederic era o meu par perfeito, ou assim todos que nos conheciam imaginavam. Eu o conhecera no meu primeiro ano na faculdade. Quando me fez o pedido para eu estar ali na igreja, naquele lindo vestido, confesso que julguei seu desejo um tanto precipitado demais. Claro que eu acreditava no amor, e ainda mais em um casamento, ainda assim... Era precipitado. Quatro anos de relacionamento era pouco para o meu relogiozinho do amor. Sabe quando você quer que algo aconteça, sim, mas não está tão reparada quanto imaginava?
Senti-me culpada. Por que aceitei aquilo? Se não tivesse aceitado, não estaria imóvel na frente de toda aquela gente, fazendo com que Fred parecesse um idiota prestes a ser negado.
Inspirei mais uma vez. Ainda bem que ele não estava ali. Claro que o convidara, eu não era nenhuma esnobe. Mas era óbvio que não queria me ver em tal situação. Era triste para ele. E, sinceramente, ali, naquele momento, a situação também estava se tornando triste para mim. Eu o queria. Entretanto, do mesmo modo que não estava preparada para ter uma vida de casada, igualmente não estava preparada para dizer não, renunciar o futuro com aquele cara tão Kurt Cobain e tentar alcançar a felicidade com outro homem. O homem realmente da minha vida, que eu iria perder se dissesse aquele sim.
- Eu... Eu... – murmerei, gaguejando. Ah, não. Eu não podia fazer isso. Aquilo não era coisa minha. Eu nunca renunciara algo. Bem, exceto o homem da minha vida quando disse que era o Frederic que eu queria.
- Lily? – a voz doce de Fred era suplicante.
- Frederic, eu não consigo fazer isso. Não consigo. Me desculpe – foi o que eu lhe disse, segundos antes de me virar para a platéia extremamente chocada e surpresa por minha resposta e sair correndo porta afora. Antes de me ausentar de vez dali, dei uma inspecionada nos rostos dos meus pais. Nenhum deles, principalmente meu pai, estava desapontado ou com os olhos arregalados. Ouvi também a voz de Sirius:
- Foi a maldita maionese de ontem! Não chegue perto daquele negócio, Fred. Você também irá sair correndo para um banheiro próximo!
Sirius era genial. Somente ele para me salvar. Pude distinguir os passos apressados de Marlene o seguindo.
- Com licença, meus amores, mas eu preciso passar – ela dizia para os últimos convidados, da última fila.
Parei e me escorei no murinho de pedra ao lado de fora da igreja.
Ah, meu Deus, o que eu fiz?
Os raios fracos de um fim de tarde batiam em meu rosto e em meus cabelos. Meus olhos ardiam.
- Lily? Está tudo bem, amiga? – uma Marlene cautelosa colocou os dedos em meus ombros nus.
- E-eu realmente não sei, Mar. Não sei – falei, tentando esconder meus olhos úmidos.
Sirius nos alcançou em passos calmos.
- Mar, é melhor deixá-la. Eu sei qual é o remédio perfeito para ela – pela sua voz sinuosa, pude perceber que sorria.
Marlene riu baixo, concordando. Era claro que Sirius sabia. Marlene também sabia. Todos meus amigos sabiam qual era o meu remédio para qualquer coisa.
- Então? O que eu faço? Volto lá e digo que não tem mais casamento? – ela colocou os cabelos atrás das orelhas.
Olhei para Sirius.
- O quê? Não sou eu a noiva – ele se defendeu.
- E você acha que eu sei o que fazer? Eu acabei de deixar meu noivo no altar! Você acha que estou em condições para determinar o que alguém deve fazer? – disparei, reprimindo meus solucinhos.
- Tudo bem, tudo bem, calminha aí – Sirius colocou as palmas das mãos para fora e disse para a namorada: - Mar, você é ótima com uma multidão. Improvise, meu bem.
- Tá certo – ela mordeu o lábio inferior, deu meia volta e voltou para dentro da igreja.
Nem queria ver os rostos dos convidados. Muito menos o de Fred.
- Venha – Sirius me amparou e me guiou até seu carro esportivo.
Eu sabia para onde iríamos.
- Será que ele vai me odiar para sempre? – perguntei a Sirius, quando fazíamos a curva para pegar a estrada que levava à cidade.
- Depende do modo como você vai terminar tudo. Porque, sinceramente, se você não acabar com isso agora, pode ser tarde demais para tentar fazer qualquer outra coisa maluca – ele me aconselhou. Sirius queria que eu terminasse com Fred. Havia anos que ele estava me dizendo que eu estava fazendo a coisa errada, mas eu simplesmente não o ouvia. Sempre fui muito teimosa.
- Não quero fazer outra coisa maluca. Essa coisa maluca de hoje já valeu pela minha vida inteira – decretei.
- Provavelmente – Sirius ficou pensativo.
Ficamos calados. O trajeto era longo, mas não me importava com o silêncio. Nunca me importei com silêncios.
Maravilha, acabei com a minha vida.
O carro estacionou na frente do portão do prédio.
- Fique bem – Sirius me disse com um aceno, assim que soltei o cinto e ia colocar as mãos na maçaneta para sair dali.
- Tomara que eu fique – murmurei, batendo a porta.
Ergui a cabeça até o topo do prédio e suspirei. Dei o primeiro passo rumo ao interfone.
Apertei o número 5 duas vezes, rapidamente.
- Alô? – ouvi sua voz. Ah, quase me senti recuperada ao ouvi-lo.
- James?
- Lily? – ele estava confuso e surpreso.
- Posso subir?
- O que você está fazendo aqui? Você não tinha um casamento a comparecer?
- Tinha, mas... – as lágrimas me incomodavam de novo nos meus canais lacrimais.
- Suba – o portão deu um estalo e ao forçá-lo, eu o abri.
Já no lado de dentro, olhei para Sirius ainda parado com o carro. Assim que dei as costas a ele, ouvi-o partir.
Olhei meu reflexo no espelho do elevador. Não estava muito ruim. Só o rímel e o delineador que se desbotavam e tingiam minhas bochechas. Mas nada muito alarmante. James já me vira em situações bem piores.
Ao abrir a porta para o corredor, James já me esperava ao lado da sua com os braços cruzados e com expressão preocupada. E ficou ainda mais intensa quando me viu de vestido, véu e grinalda.
- Meu Deus. O que você está fazendo aqui assim? – sua voz subiu um tom e pude perceber que estava chocado.
- Não fale nada. Não em relação a isso – pedi, chegando mais perto dele.
- Tudo bem – murmurou ele, descruzando os braços.
Por motivos totalmente alheios e confusos, abracei-o. Ele me recebeu como sempre me recebia. Com amor e companheirismo. Aquele momento transcendeu tudo o que eu já tinha sentido até ali naquele dia. Meus olhos expeliram mais lágrimas, mas dessa vez, não as reprimi. Solucei em seu ombro como não tinha feito na frente da igreja. Ele sempre me reconfortava.
- E-eu não sei o que fiz. Simplesmente perdi a cabeça e saí correndo! Não tive coragem de aceitar! – minha voz saiu entrecortada e misturada.
- Está tudo bem. Vamos entrar – ele me disse – Olá, senhora Kim, boa tarde – ele acenou para a sua vizinha gorda da porta da frente e me recolheu para dentro de seu apartamento.
Ajeitei-me em seu sofá pequeno. A TV estava ligada. Ele estava assistindo qualquer série que passava no Universal Channel. Logo me trouxe um copo de água fresca, que eu bebi avidamente.
- Eu acabei com tudo o que todos sonhavam para mim – fiz movimentos simplórios com a cabeça, deixando as lágrimas rolarem por meu nariz.
- Mas e o que você sonha para você, Lily? Isso não importa? – ele me questionou, acomodando-se ao meu lado.
Olhei-o. Ele sabia o que eu sonhava para mim.
- Você sabe que tudo o que quero é somente você. É isso o que me importa – falei.
- E...?
- E o quê? – franzi a testa.
Ele não respondeu. Somente sorriu com seu jeito máster fofo de sempre, que eu era terminantemente apaixonada.
James me puxou com delicadeza para seu colo. A cauda do vestido não ajudou muito, mas totalmente fiquei sentada e encolhida ali, com meus braços em torno de seu tronco, respirando ridiculamente, fungando e tentando cessar o choro. Eu era tão estúpida. Tão covarde.
Por que eu não falava a ele que era com ele que queria entrar na igreja e dizer sim? Não me importava se viveríamos ali, naquele minúsculo e quente apartamento. Não me importava se ainda não tínhamos terminado a faculdade. Não me importava se ele fazia Jornalismo quando eu nunca soube escrever uma só linha com coerência. Não me importava se minha irmã preferia o Fred a ele. Fred totalmente poderia ficar com ela, depois dessa.
James acariciava meus falsos cachos por baixo daquele incômodo véu. Tirei-o e me grudei ainda mais em seu corpo.
Ele me fazia um bem danado. Somente sua voz e eu já me sentia feliz. E o que falar de seu cheiro? Eu pirava todas as vezes que aspirava aquele aroma tão entorpecente. Eu poderia dormir e acordar com ele todos os dias da minha vida. Era tão... normal e ao mesmo tempo tão... seguro. Eu me sentia cuidada por ele sempre. James nunca se esqueceu de dizer um sequer dia o quanto me amava ou o quanto precisava de mim. E, bem, meninas românticas são conquistadas facilmente, é verdade. Mas sabe quando você tem a completa certeza de que aquela história é diferente das que já viveu? Que se estivesse em qualquer outro lugar do mundo não seria tão feliz se não estivesse ali, naquela prezada história? Com James ao meu lado era assim. Eu sentia que nossa história era diferente. Que ele era diferente dos outros caras. E James eu não podia – não conseguia – renunciar. Era como tentar apagar metade da minha própria vida.
Só me dei conta que James me beijava quando sequei completamente minhas lágrimas incessantes. Ele distribuía beijos castos pelo meu pescoço e eu já estava me sentindo arrepiada, mesmo que vagamente.
- Eu amo você – eu lhe disse e percebi que nada mais importava.
O casamento? Aquele era meu casamento. Eu queria viver ao lado de James. Queria ouvir os sininhos tocando ao lado de James. Que se dane. Eu iria buscar a minha própria felicidade. Não, espera. Eu já a tinha achado, com toda a minha certeza. Minha felicidade estava com James.
- Você é minha, para sempre, Lily – ele sussurrou em meu ouvido.
Acho que foi bem nesse ponto que recomecei a chorar. Mas silenciosamente e sem exagero. Eram lágrimas de alívio.
James capturou meus lábios pela primeira vez naquela tarde e selou-os aos dele de forma gentil e apaixonada. Minha cabeça girou e girou. Era a minha sensação preferida quando estava com ele. O beijo foi parando devagar e sorrimos ao nos afastarmos por centímetros.
- Você é a minha vida, James – confessei, tirando definitivamente todo o peso da minha consciência.
Eu tinha certeza: eu não era covarde. Eu era a menina apaixonada pelo melhor garoto do mundo.
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N/A: Oi, gente! (:
Escrevi esta pequena fic há algum tempo e a achei tão fofa que não me detive ao postá-la. Espero que a apreciem do mesmo modo que eu.
Quem quiser acompanhar mais o meu trabalho, passe lá: http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=37122
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