Dane-se o corno!
Dane-se o corno
As horas? Já não sabia ao certo. Mas tinha a certeza de que praticamente todo o mundo bruxo estava dormindo a essa hora. O que ele invejava. Essa insônia iria deixá-lo louco, não agüentava mais essa angustia de deitar no conforto de sua cama e não conseguir pregar o olho. Ele ouvia ao som da chuva batendo violentamente nas vidraças de sua janela. Queria ele ser tão prático como ela – a chuva. Ela simplesmente se forma e vai caindo, deixando a critério dos ventos e do destino onde ela irá parar. Ela apenas deixa fluir. Por que ele não conseguia fazer isso? Ele estava a ponto de enlouquecer.
Sua cabeça vagava longe, muito longe... Próximo a uma ruiva que ele preferia esquecer. Assim como preferia esquecer o que sentia a cada toque dela, a cada risada travessa que chegava aos seus ouvidos em forma de música, esquecer o quão bom era quando seus lábios se encontravam de uma forma inexplicavelmente perfeita, como se tivessem sido feitos somente para aquilo. Mas o que ele podia fazer? Ou melhor, como fazer? Em seu coração não cabia ninguém além dela.
Ginny estava deitada em sua cama, sem sono. Mas não culpava o barulho da chuva. Muito pelo contrário, ela amava a sensação de paz que esse som transmitia. Então por que agora ela não se sentia bem? Por que esse sentimento de que algo falta, de que algo não está certo?
Tentando espantar pensamentos tão importunos – afinal, ele havia derrotado Voldemort e não retornará para ela como havia prometido. Ele não era digno de seus pensamentos e, muito menos, de seu amor – passou a repetir de forma doentia: “Eu não amo Harry Potter! Eu namoro Michael e estou muito feliz com ele”. Mas, a cada vez que ouvia o som de suas próprias palavras, percebia a tamanha mentira que estava falando. Então decidiu que só havia uma maneira de arrancá-lo do seu coração e, consequentemente, de sua cabeça. E essa maneira era enfrentá-lo cara a cara e dizer que não o ama mais, pedir para que abandone de uma vez a sua vida. Pedir para que fique longe, que não abuse. Por mais que doesse e fosse uma mentira impudente, estava decidida a não sofrer por ele. Não mais. Já sofrera demais esperando que ele voltasse; derrotasse Voldemort e retornasse para seus braços como havia prometido. Promessa essa que ele não cumpriu. E a tinha deixado sofrendo, esperando o dia em que ele chegaria. Passaram-se um, dois, três meses quando ela finalmente resolveu ceder aos constantes pedidos de Michael Corner para que voltasse com ele. Pensava que assim iria esquecê-lo.
Estava redondamente enganada.
Já havia tentado isso antes, lembrara a si mesma, e recordava, também, nitidamente dos resultados, aquilo só a deprimia cada vez mais, a fazia ver que, por mais bonito e educado que Michael fosse, faltava algo; o detalhe mais importante: ele não era Harry. Não tinha aqueles cabelos sempre em revolta que ela tanto amava bagunçar, os olhos verdes e tão cheios de emoções que falavam até mais que o próprio Harry, aquele jeito tímido e misterioso.
Foi pensando nisso que recolheu tudo o que a fazia lembrar de Harry em seu quarto – desde bilhetes e fotos à antigas cartas e presentes – e pôs em uma sacola. Desceu as escadas silenciosamente, da forma mais cautelosa que conseguiu e tomando muito cuidado para não acordar seus pais ou até mesmo um de seus irmãos.
A chuva havia se intensificado ao lado de fora da casa, mas sem isso tirava a sua vontade de dizer a ele o que precisava. Buscou fundo o ar em seus pulmões, repassou mentalmente todo o discurso de despedida que havia preparado se utilizando do seu mais profundo rancor e abriu a porta da casa.
Harry Potter, após buscar maneiras de esquecer Ginny, - e não conseguir nenhuma que valesse a pena – resolveu que, se não podia esquecê-la, a teria de volta. Era a única alternativa para acabar com a fúria do monstro em seu peito, que urrava em seu peito a cada tentativa inútil de tirá-la da sua cabeça. Iria até Toca dizer a ela tudo o que sentia. Pouco lhe importava se ela estava namorando, Michael Corner – era esse o nome do infeliz, não?! – poderia ser ministro da magia, mas ele iria enfrentá-lo se o prêmio dessa batalha fosse o amor da sua – sim, sua – ruiva.
Trocou de roupa e, sentindo que ela ainda estava acordada, aparatou.
Ginny mal conseguia enxergar um palmo a sua frente com a chuva, agora, piorada pelo vento e pela escuridão. Seu vestido de verão antes soltinho, agora grudava, provavelmente transparente, em sua pele alva. O vento também não ajudava muito, castigava seus cabelos embaraçados e encharcados. A sacola que carregava estava, felizmente, protegida por um Impervius lançado por ela antes de deixar a casa.
Correu para chegar mais rápido aos limites da propriedade, onde poderia aparatar sem o perigo de acordar alguém com o barulho, mas parou abruptamente ao ouvir o estalo característico – e alto – de alguém aparatando (o mesmo que tentava evitar). Segurou firme a varinha e espremeu os olhos tentando distinguir alguma silhueta em meio ao toró. Viu, então, encharcado por pingos que pareciam lágrimas de amor caídos do céu, o que pensou ser uma ilusão.
Era ele, com seus lindos olhos verdes brilhando a luz da lua...
Ele também pôde ver o vulto parado a poucos metros de si, observando-o. E imediatamente percebeu que, por mais que vasculhasse o céu em busca da mais bela constelação, não a encontraria, pois a mesma se localizava bem ali, a uma distância fácil de ser vencida, nos olhos de Ginny Weasley.
Nenhum dos dois de se mexeu por alguns segundos. Tudo o que Ginny havia planejado dizer a ele, esquecera; sabia que não valia apena mentir, tentar enganar seu coração. Que podia fazer? Já não mandava mais em seu coração desde que tinha onze anos e vira seu herói, Harry Potter, na estação de trem King’s Cross. Se fora por aquele garoto (agora homem) magro, de olhos incrivelmente verdes e cabelos desalinhados por quem se apaixonara, era por ele que iria lutar.
Ele deu alguns passos em direção a ela. As palavras que tanto ensaiara dizer ficaram perdidas na confusão em que sua cabeça se encontrava no momento. O único pensamento que lhe ocorria era que precisava abraçá-la, sentir o perfume adocicado e floral do cabelo dela que tanto o lembrava de um lar e, principalmente, beijá-la. Não sentia frio, fome, nem sono. Estar perto dela lhe tirava todas as preocupações que um dia já teve. Era como se só existissem eles no mudo, o que ocorria ao seu redor pouco importava.
Ela ficou parada enquanto o via se aproximar devagar, como se pedisse permissão para continuar. Ela ansiava pelo momento em que ele chegaria perto dela e envolveria naquele tão conhecido e esperado abraço forte, a deixaria sentir o que a entorpecia, a deixaria matar a saudade daquele emaranhado de cabelos rebeldes em sua nunca. Não pensava corretamente, não raciocinava. Tinha certeza apenas de uma coisa. Largou a sacola na lama e, sem pensar duas vezes, gritou:
- DANE-SE O CORNO, EU QUERO VOCÊ, HARRY! – e correu até os braços que tanto almejava sentir... Harry envolveu sua pequena cintura com os braços fortes e a ergueu do chão, beijando-a. Tudo parecia certo novamente.
Ao amanhecer, a única coisa que Molly Weasley encontrou em seu quintal que provasse que algo ocorrera durante a madrugada, era uma sacola jogada na lama e uma bilhete pregado na porta por um feitiço dizendo que Ginny estaria fora quando acordassem, mas que não se preocupassem. Molly apenas sorriu ao ler a inconfundível assinatura: Harry Potter.
N/A: Gostaria de explicar, antes de tudo, que essa foi a primeira fic que eu escrevi e que eu não a fiz sozinha. Eu e uma de minhas melhores amigas, – leitora ativa de fanfics, como uma potteriana que se preze – Maria Eduarda Serejo. Escrevemos no final de 2008, após uma aula muito chata geografia. Haha
Enfim, é uma short, mas eu tenho um carinho muito especial por ela por ser a primeira. E estou aqui dividindo com vocês. Espero verdadeiramente que gostem e que comentem , é muito importante. Se vocês gostarem quem sabe eu não faço outras shorts, não é?
Beijos. Atenciosamente,
Gabriela Safieh.
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