Capítulo V






A porta do elevador abriu e quem olhasse de longe até iria achar que eu e Sirius éramos alguma coisa – se não um conquistador e uma vítima.

Literalmente.

Ele me segurava pela mão – e como eu não consegui soltar depois de meio minuto, desisti de uma vez – enquanto eu segurava na outra minha bolsa e a chave.


- Quarto número quatorze... – eu murmurei para mim mesma, vasculhando as placas dos quartos. – Quarto número quatorze...


Cheguei a porta do quarto quatorze e a abri, me deparando com um cômodo pequeno com uma cama de casal e um banheiro.


Quer dizer, chamam isso de cama de casal?


Ok, isso não é nem de longe tão grande quanto a minha cama de casal. Quando menor o espaço, mais Sirius tem perto de mim e menos autocontrole eu possuo.


Não liguei para o tamanho da cama e pulei nela, afundando meu rosto nos travesseiros macios e tentando esquecer a merda que foi o meu dia.


E que o Sirius estava atrás de mim, provavelmente vendo a minha bunda. Ok, meu vestido não deve ser tão curto assim.


Porque os vestidos são projetados para que as pessoas que estejam atrás de você tenham uma visão panorâmica da sua bunda? Isso é tão injusto!


- Posso te contar uma coisa? – ele disse, se sentando na cama perto do meu rosto e não da minha bunda, e eu só me virei, para encará-lo.


- Se eu dizer que não você vai deixar de me contar? – perguntei, esperançosa. Lá vinha coisa.


- Não – ele sorriu para mim. – Sabe, eu já imaginava nós dois dividindo um quarto, só que sob outras circunstâncias – e riu.


Semicerrei os olhos e me levantei. Fui direto para o banheiro.


- Que foi? – ele perguntou, divertido. Vasculhei o guarda-roupa em busca de uma toalha e entrei para o banheiro. Antes de fechar a porta eu ainda pude ver o sorriso dele quando eu disse:


- Hoje você não existe.




Depois de tomar banho fui a uma farmácia comprar duas escovas de dente – Sirius, ugh – e materiais para minha higiene pessoal.


Quando voltei mal pude expressar meu enorme descontentamento ao achar um Sirius Black só de samba-canção deitado na mesma cama que eu pretendia dormir.


- Você poderia, por favor, vestir alguma coisa? – resmunguei, indo para o banheiro escovar meus dentes. Pelo espelho eu ainda podia observar seu corpo escultural e seu sorriso encantador que insistiam em atrair os meus olhares.


- Te incomoda? – ele perguntou, entrando em baixo das cobertas. Ele se engana muito se pensar que eu vou dormir com ele neste estado.


- Profundamente – respondi, revirando os olhos.


Eu iria dormir de vestido – não importa o preço dele, minha dignidade valia mais – e esperava sinceramente que ele dormisse pelo menos com a calça que estava usando antes.


Parece que me enganei.


- Anda logo, Lene – ele resmungou, virando do lado oposto ao ‘meu’ – não é como se eu fosse abusar de você enquanto dorme. E nem vamos dormir tanto assim, que horas o Remus vai nos buscar? Daqui a seis, sete horas? Ande logo.


Deitei, cautelosa e me virei para o lado contrário. O meu celular estava na mesinha ao meu lado, então se Remus ligasse, eu atenderia rápido. Estava encarando o guarda-roupa, o meu celular e o banheiro e não percebi quando dormi.




Acordei com conversas ecoando no meu quarto. Dois homens que de alteravam sua voz de alto para baixo, agressivo para calmo, mas eu não prestei muita atenção nesta ordem.


Abri os olhos vagarosamente e olhei para o lado. Como eu previra, Sirius não estava ali – uma vez que eu estava deitada na diagonal e usando dois travesseiros.


Busquei meu celular com a mão na mesinha ao meu lado, para conferir as horas. Já era UMA HORA DA TARDE?


Me levantei num pulo, e as conversas pararam. Não precisei me olhar no espelho para saber que estava descabelada e meu vestido estava torto, então concertei tudo antes de olhar para de onde vinham as vozes.


No canto do quarto, sentados em duas cadeirinhas estavam Remus e Sirius. Ambos sorriram quando eu olhei para eles, mas me limitei a não me retribuir.


Não acredito que eles não me acordaram.


Não mesmo.


- O que foi, dona rabugenta? Dormiu mal? – Sirius riu, levantando e me cedendo o lugar.


- Desculpe, não lhe acordamos – Remus também levantou e eu decidi que seria melhor se eu ficasse em pé – você dorme tão bonitinho.


Revirei os olhos para eles.


- Se isso ajuda com a redenção, pegamos o café da manhã que serviram na pousada e trouxemos para você – Sirius disse, apontando com a cabeça para a mesinha.


Tinha bolos de chocolate/cenoura, suco de laranja, biscoitos e uma omelete pronta e eu sorri com isso.


- Perdoados – sentei-me na mesa para comer.


Como Sirius já estava pronto, logo depois de tomar o café da manhã eu me arrumei para ir embora. Remus foi tirar o carro da garagem da pousada enquanto Sirius ficou para me acompanhar.


Ele sorria enquanto eu guardava as minhas coisas na minha pequena bolsa.


- O que foi? – perguntei, sem encará-lo. Colocar essa escova de dente aqui dentro era realmente trabalhoso considerando o tamanho da minha bolsa.


E que tinha alguém me olhando aqui atrás. É realmente trabalhoso fazer qualquer coisa quando se tem um indivíduo lhe olhando avidamente. Não importa o quão bem você faça alguma coisa, você sempre vai fará mal se tiver alguém olhando.


- O que é, Sirius? – me virei, com intuito de mostrá-lo o meu olhar mais mortal e intimidador.


Quase caí para trás quando reparei que a distância entre nós era mínima, o que realmente ressaltava a minha falta de tamanho perto dele.


- Esquece, eu não quero saber – respondi rapidamente, observando um sorriso brotar em seus lábios – vá arrumar qualquer coisa ou vá fazer o check-out. Já estou descendo – dei as costas outra vez.


- Hm... – ouvi ele dizer, antes de me puxar e me segurar no ar, me fazendo soltar um grito abafado.


- Sirius, mais que mer... – comecei, mas ele me interrompeu.


Com seu artifício infalível, de novo.


Por que, por que comigo?


Por reflexo, quando ele me pegou eu segurei em seu pescoço para não cair. Eu não queria cof cof que ele pensasse que, de alguma forma, eu estava correspondendo ou adorando o que ele estava fazendo.


Mas eu estava muito desesperada para interpretar isso.


Quando ele me beijou. Sirius é do estilo começou-não-dá-pra-largar, o que se aplica basicamente nestas situações. Como a carne é fraca e o efeito da ressaca ainda não estava me fazendo bem, não fiz o esforço de resistir.


Por mais que eu, do fundo do coração, quisesse.


Me apertou contra si, o que me fez questionar como ele conseguia me carregar como se eu fosse uma pluma – mesmo pesando cinqüenta quilos e tantos.


Cogitei por um momento ser fria, mas não dava pra ser fria com ele. Eu mal conseguia organizar os meus pensamentos!


- Sirius... – tentei falar. A voz saiu rouca e minha tentativa de dizer ‘Sirius, me solta!’ parecia mais como ‘Sirius, eu te amo’.


O que não foi nada inteligente.


- Quer terminar em outro lugar? – ele disse, me fazendo abrir os olhos e encará-lo, com raiva. Já que o que me desconcentrava cessou, eu podia pensar muito bem, obrigado.


Mesmo com o rosto dele os incríveis dois centímetros de mim.


E aquela boca perfeita tão perto que resistir estava começando a doer. Eu realmente preciso aprimorar o meu autocontrole.


- Não – resmunguei para ele, que me olhou divertido. – É sério, me solta.


- Você quem está me segurando – ele disse e fui perceber que eu estava em pé (alguém me conta quando isto aconteceu?) o enlaçando pelo pescoço, puxando seu rosto mais para perto.


- Você é um trapaceiro que não sabe jogar limpo – reclamei, o soltando.


- Você me ama. – ele retrucou, me fazendo revirar os olhos.


Eu revirava os olhos tantas vezes na presença dele que só faltava eles saltarem das órbitas com o esforço.


Peguei minha bolsa, calcei os sapatos e me dirigi à saída. O olhei feio por uma última vez antes de ir descendo as escadas.




Me arrependi cruelmente de sentar na parte de trás do carro de Remus, uma vez que Sirius veio se sentar comigo.


Não foi nada agradável, uma vez que ficávamos nos acotovelando – pelo menos eu fazia isso. Ele insistia em me puxar pela cintura para mais perto, fazendo com que eu voltasse para o meu lugar resmungando e usando meu sinto como escudo ou ele tentava fazer com que eu o encarasse, para sorrir pra mim e mandar um beijo sobrado, enquanto eu fingia ter náuseas.


- Entregue – disse Remus parando com o seu carro na porta da minha casa. – Juízo...


Revirei os olhos e saltei do carro;


- Não é algo que você deva pedir para mim – resmunguei, tentando arrumar o vestido amassado.


Entrei na minha casa que dividia com Emmeline recentemente. Ela, num surto psicótico, desistiu ‘daquele apartamento sujo – palavras dela’ e veio morar comigo temporariamente, de forma que ela estava sempre no café da manhã riscando os imóveis mais interessantes de caneta vermelha, no jornal.


Emmeline não estava em casa e, apesar de ter tomado o café da manhã na pousada, eu já estava com fome.


Troquei de roupa, colocando uma bata branca e jeans escuros, com uma rasteirinha marrom, joguei minha carteira e meu celular na outra bolsa – cheia de coisa – e fui direto para porta da frente.


Eu estava realmente com muita preguiça de fazer esforço, então fui num restaurante do lado da minha casa que chamava ‘Montreal’.


Ele era canadense e os garçons eram amigáveis, de forma que desde que inaugurou eu não passo nem uma semana sem vir.


Sentei em uma mesa que tinha vista para o lado de fora e, sem nem ao menos olhar o cardápio pedi o meu prato.


Fui rápida e voltei para casa, curtir o meu sábado de paz e serenidade. Tirei os meus sapatos, pulei no sofá e liguei a TV.


E foi aí que ouvi meu celular tocando.


Lá no meu quarto.


Droga. Eu realmente tenho pânico de quando isto acontece, é simplesmente detestável. Eu tenho a vontade enorme e incontrolável de explodir o celular em nada menos do que mil pedacinhos. Mas como boa pessoa que sou, fui atender com nervos a flor da pele na maior boa vontade.


- Alô?


- FESTA PÓS-FESTA! – berrou Emmeline do outro lado da linha, e eu reparei que ela já tinha tomado algumas.


- Como é que é? – perguntei. Este povo não cansava de festa? – Onde? – ok, eu cedia fácil. Eu aposto que estava todo mundo lá e, mesmo com minhas poucas horas de sono, eu queria ir.


Além do mais, eu não podia confiar na explicação de Sirius – que com certeza estaria lá – para dizer o que aconteceu quando ficamos para trás.


Eu tinha que estar lá para desmentir cada linha.


Até as verdades – das quais sinceramente não me arrependo.


- Minha casa! – ela disse, feliz.


- Oi? – eu estou em casa e não estou vendo nenhum resquício de festa. Nem as conversas animadas do outro lado da linha e nem a música alta que atrapalha a minha linha de raciocínio.


- Minha casa, feiosa. Você ouviu. Eu já estou aqui e o mais divertido é que não tem absolutamente n-a-d-a, além de churrasqueira, geladeira e cadeiras/mesas de plástico. Melhor impossível, hein? Venha para cá, tem até um colchão no meu quarto que se você quiser...


- Emmeline, JÁ ENTENDI! Me passa logo o endereço – eu disse, já podendo ouvir as risadas tanto dela como das pessoas atrás dela.


Só humilhação nesta vida, ah, Deus.




“Bem vindos a festa de inauguração
da casa de Emmeline Vance!”


A faixa era enorme e ia de ponta a outra, na frente do prédio. Olhei torto, Emmeline deve ter achado que a faixa rosa não era o suficiente, a letra tinha que ser verde limão...


Ou será que isto tem dedo da Héstia?


Apresentei meu nome ao porteiro do prédio e subi até o último apartamento de escada do jeito mais devagar possível. Eu estava pensando em todas as explicações que eu tinha que dar e tentando estimar quantas vezes, mais ou menos, eu teria que repeti-las.


A porta estava aberta então fui logo entrando. No fundo do corredor eu pude avistar um cômodo com um colchão no chão, e fui largar a bolsa lá para depois subir as escadas para a cobertura.


Foi uma boa aquisição, sentirei falta de Emmeline lá em casa me importunando para comprar jornal para ela de manhã ou resmungando porque eu demoro no chuveiro.


A parte de cima era outra história. Estava lotada e eu mal podia distinguir os espaços e os cômodos. Parecia haver um cômodo com banheiro – que provavelmente será usado como escritório – e uma área aberta com churrasqueira, uma espécie de geladeira deitada enorme (provavelmente cheia) e várias cadeiras e mesas de plástico de cor vermelha.


Cumprimentava quem eu via na frente e não precisei procurar muito para identificar os mais conhecidos, Héstia, Edgar, Lílian, James, aquilo num canto devia ser Dorcas e Remus...


- Lene! – fui puxada pela cintura repentinamente e depois estava num círculo de pessoas do setor da economia, do jornal. – Eu estava falando para eles o que aconteceu com a gente ontem, que tivemos que dormir numa pousada e dividimos um quarto...


- E o que você mentiu para eles? – eu perguntei, fazendo uma careta de desgosto.


- Ele estava dizendo – falou alguém que eu não sabia o nome – que mesmo ficando no mesmo quarto não aconteceu nada. Sirius, nada? Realmente, essa foi a pior que ele conseguiu inventar! Pior de quando ele disse que saiu com a Jennifer Aniston quando foi para os EUA uma vez...


Encarei ele incrédula, mas... mas... era verdade!


- EI! É verdade – Sirius replicou – eu peguei a Jennifer Aniston e até tinha o número dela...


- Para de show, Sirius – disse economista 2.


- Ei, mas é verdade! – disse, tentando retomar o assunto antes de chegar na Jennifer Aniston.


- Você o viu com a Jennifer Aniston? – perguntou economista 3 e eu revirei os olhos, tentando fazer a maior cara de desprezo possível.


Só que eu nunca fui boa em passar o que eu estou sentindo para as outras pessoas.


- Não – idiota, eu quis dizer, mas segurei. – Sobre eu e ele...


O grupinho irrompeu em risadas e eu tive que conferir se não estava usando um nariz de palhaço. Era tudo tramóia de Sirius, ele tem um lance psicológico muito bom e fez todo mundo crer que estava mentindo quando estava dizendo a verdade...


Maldito.


Tratei de sair dali o mais rápido possível, me trombando com algo incrivelmente alto e loiro.


Não precisei de muito tempo para adivinhar que era Emmeline.


- Mas que... MARLENE! – ela gritou, abrindo um sorriso de orelha à orelha. Ela segurava um copo de vinho na mão e estava deslumbrante em um vestido preto com meia calça preta e sandálias de salto alto – E então? O que achou?


- Vou sentir saudades de você lá em casa, coisa loira – eu disse, puxando-a para geladeira e me servindo de um copo de vinho também.


Conversamos animadamente dos nossos episódios dividindo apartamento, de todas as vezes que eu peguei ela na minha cama com outra pessoa e que fiz ela jogar os lençóis fora e de como ela argumentou comigo... Que me deixou sinceramente traumatizada e eu prefiro não falar.


- Mas me diga – ela interrompeu enquanto eu falava da vez que atendemos a porta só com um short super curto e uma camiseta justa (pois estávamos arrumando a casa) e só faltou o carteiro começar a babar – o que rolou com o Sirius? Hein? Você não deve ter pedido a hora a toa...


Ela tinha me pegado. Emmeline sabia melhor do que ninguém – e ouviu mais do que ninguém – o efeito que Sirius me causava.


Olhei para os lados, averiguando se ninguém estava olhando e falei quase num murmúrio:


- OK, nós beijamos algumas vezes...


- Só? – ela perguntou, arqueando a sua sobrancelha, menosprezando os fatos.


- Como só? Isso já é muita coisa. Você sabe que eu perco a noção do tempo e foi isso que aconteceu quando fui chamá-lo para ir embora – fiz uma carranca – além do mais eu ainda tive que dividir uma cama com ele dormindo só de samba...


- PERA! Não termina – ela tapou o rosto com as mãos – você não desperdiçou esta chance de ouro dormindo de vestido, fale que você não fez isso...


Meu rosto ficou rubro. A Emmeline sempre me conheceu mais do que eu gostaria, o que era realmente engraçado.


- Não é como se tivesse sido uma ‘oportunidade’... – eu disse, em minha defesa.


- Tá louca? Já viu o CORPO daquele homem? – ela disse, se abanando e eu só pude rir diante da cena.


- Já vi sim e vi muito bem, melhor do que gostaria – eu fiz uma careta para ela.


- Não minta, morena. Eu sei mais do que você – o que é realmente assustador – que você ama o Sírius, da ponta dos seus pés até o último fio de cabelo. Também, como não amar? – ela sorriu para mim e eu não concordei.


Nem neguei.




n/a: oi, galere. Capítulo cinco para vocês, own. Todo mundo que leu o cinco falou que a Marlene é boba, hahaha. Vamos só ver.
Só isto, hoje eu não tenho nada a declarar sobre o capítulo, estou com uma preguiça avassaladora.
Só isto, beijos beijos.


ps; como brinde, temos a capa de capítulo linda da Vanessa, own. *-*


beijos beijos


Chel Prongs


n/nessão: NEM DÁ PRA NEGAR! Fala sério, essa Marlene é muito boba mesmo, MUITO BOBA! Não estou me conformando em como essa Marlene é boba. Rachel, que fique aqui bem claro que eu ainda vou te fazer sofrer em uma das minhas fics porque você fez a Marlene da minha fic (?) sofrer, hum! Mas tirando isso, eu achei digníssimo esse capítulo. O melhor até agora, só fica atrás do da figurinha (?). Eu realmente gosto dessa fala e nunca vou me esquecer dela. Enfim, to falando demais. Chel faz um capítulo pro niver da Lene porque o meu niver ta chegando quem sabe avisando a gente ganha presentes Q Quero todo mundo comentando (:


Beijos, Vanessa.


 

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